— Tu vais fazer ou não?— Yahya disparou, os passos dele iam e vinham pela sala como se cada volta carregasse a sua impaciência. As mãos passavam pelo cabelo, a ansiedade tomava cada centímetro de seu rosto, e não era para ter Fátima de volta, mas sim para ter a fortuna da mulher de volta. Ele não aceitaria sair daquele casamento sem nada, mesmo que ela tivesse mais direito sobre os bens dele do que ele sobre os dela; Ele não a aturou por tanto tempo para sair sem nada. Fátima, sentada no sofá, tentava acalmar a respiração. O peito parecia pequeno demais para conter tudo o que sentia. Medo, vergonha, raiva, um amor mal resolvido — ou talvez apenas o que restava da lembrança dele.— Farei. Calma.— Respondeu, mesmo desconfortável. Só de imaginar-se entregue a um desconhecido, num casamento forçado, tudo pago, tudo frio, tudo errado, Mil coisas passam por sua cabeça. Tudo que podia dar errado.— Como calma? Não vejo a hora de voltarmos a estar juntos.— Yahya tentou suavizar a fala, com a
—Yahya estava aqui!— Ala exclamou surpresa, os olhos arregalados. Ela entrou sem pedir permissão, já olhando em volta, como se ele ainda pudesse estar escondido em algum canto.—Não,— Fátima respondeu rápido demais, desviando o olhar, nervosa.—Eu me cruzei com ele lá embaixo,— disse Ala, cruzando os braços. O olhar dela era de cobrança, mas também de preocupação.—Não… ele só passou.— Fátima tentou inventar algo. Mentir tinha se tornado um habito, mas ela não foi feita apara aquilo. Desistiu, baixou seu olhar envergonhada antes de se aproximar Ala e segurar em suas mão num gesto de súplica.—Por favor, não conte para ninguém,— Fátima pediu, quase suplicando.—Vocês voltaram?—Fátima ficou em silêncio por alguns segundos antes de finalmente murmurar:—Não... mas estamos a tentar. Nós nos amamos. Quem ama, perdoa.— Justificou o absurdo.—Mas depois do talaq... já era, Fáti.— Ala balançou a cabeça, confusa. —Isso é irreversível.——Eu vou te contar algo, mas tens que prometer que vai fica
HalaláÉ um esquema para fazer dinheiro fácil.Uma prática proibida, pecaminosa.É adultério, é prostituição.É Haram, é proibido.Ele é um gigolô.Mas foi a unica opção que Fátima teve após receber aquela mensagem de seu marido, dizendo que a divorcia três vezes; era terceira vez que a divorciava, mas ela o amava. E queria voltar para ele. Nem que para isso, tivesse que comprar um divórcio; casando-se denovo com um estranho, consumar o casamento e divorciar-se.Elias vivia uma vida boa. Dormir com mulheres em troca de muito dinheiro. Ele sabia que sabia dar prazer... aquela que por sua mão passou nunca mais se recuperou de sua perda.Na sua página está escrito "Vende-se divórcios.", pois essa é a área que dá mais dinheiro do que nunca, e Fátima está disposta a pagar o preço que for.Isenção de ResponsabilidadeHalalá é uma prática que muitos dizem pertencer a religião muçulmana, mas que não tem base na sharia, por isso é refutada, mesmo assim praticada por muitos. Esta prática é apl
A temperatura caiu de forma abrupta, uma anomalia imprevista em meio ao verão. O céu, antes azul e ensolarado, deixou-se encobrir de nuvens pesadas e escuras, e lá se foram os últimos vestígios do dia. Uma escuridão opressora engolfa o dia, e as ruas movimentadas ficaram logo desertas. O uivar do vento cortante empurra as folhas secas e detritos pelos passeios da metrópole. Antes mesmo das primeiras gotas de chuva se fazerem sentir, o cheiro de terra molhada já envadira as entranhas dos moradores. Duma vez as gotas de chuva caem com força, tamborilando contra vidraças, telhados e postes. A tempestade que chegara sem aviso, não vinha surpreender somente o mundo lá fora.Dentro da cobertura do aranhaceu mais alto da cidade, Fátima sentava-se no chão frio, pernas dobradas contra o peito, seu corpo comprimido como se procurasse refúgio dentro de si mesma. O vento que se infiltrava sorrateiramente pelas frestas das janelas, fazia seus fios de cabelo desfrizado dançarem suavemente.Mas ela
Estava tudo um silêncio ensurdecedor e uma escuridão tão amarga como sua tristeza envolvia o ambiente. Já haviam se passado algumas noites, e ela se confinara em sua própria casa. Tudo o que desejava que a morte a abraçasse a qualquer momento. Não tinha nada porque viver. Ele era sua vida, e agora seria a sua morte.No meio daquele silêncio opressor, um ru´do sutil se fez presente. Um barulho que vinha da porta. Seu coração falhou uma batida. Alguém estava alí. Será que ele voltou?Seus instintos despertaram, e , num impuslo, ela se levantou. Passou a mão pelo seu cabelo que por falta de cuidado já estava desengrenhado e opaco. Olheiras profundas por debaixo de seus olhos marcaram seu rosto abatido, e seu corpo debilitado por falta de alimentação, tremia levemente.Mesmo assim reuniu forças para descer as escadas da cobertura e se fazer a sala quanto antes. Cada movimento exigia esforço monumental e seus passos eram pesados.A porta se abriu devagar e lá estava uma silhueta esguia de
Fátima sentia-se afundar num abismo sem fim. Ninguem parecia perceber a gravidade de sua situação.−Está todo mundo preocupado” disse Selsabil cruzando os braços, sua expressão exasperada de quem se repetia deyenas de vezes. −Apesar de teres tomado o lado desse gigolô do teu marido, ele continua sendo teu pai, Fátima binti Ali Zacaria.−Fátima conseguia sentir ainda a irritação na voz de sua amiga, mas não se deu trabalho de responder.No que adianta, se ninguém parecia compreender.Selsabil abanou a cabeça, e suspirando saiu para atender a porta.A figura de Ali Zacaria, o magnata que a revista Forbes tantas veyes mencionara, surgiu. Mas ali não estava o homem poderoso que o mundo conhecia, ali estava um pai. Cansado, desapontado, mas incapaz de esconder tanto amor por sua filha mais nova.−Assalam alleikum, tio.− Cumprimentou o senhor que era um pouco mais baixo que ela, vestia uma roupa simples, mesmo sendo um empresário renomado, e a mesma simplicidade dera a sua filha; que não se
−Eu vou subir para o meu quarto.− Fátima anunciou, saindo o mais rápido possível. Virou as costas antes que alguém visse o véu de lágrimas que se formava nos seus olhos.Logo que fechou a porta do quarto atrás de si, deixou-se cair na cama. Ia se lamentar sozinha; pensar no que fez de errado para não merecer compaixão dele. Ela tinha feito tudo por ele, menos nada. Deu tudo. Sua lealdade, o seu corpo, a sua paz.Fátima olhava sem ler para o livro que tinha em sua mão. Coletânea de poemas de Rumi, tão profundos e emocionates, uma pêssima ideia ler enquanto com coração partido. Largou o livro no colo e passou os dedos pelo rosto, tentando conter a tempestade interior.Uma batida suave a fey erguer os olhos.−Oi...− Selsabil cumprimentou espionando através pela fresta da porta, um sorriso irreverent nos lábios. −Uau, estás com uma aura maravilhosa, a ler um livro.− Tentou soar optimista ao fechar a porta.−Oi, Selsa.− Fátima força um sorriso, mesmo tão cansada de fingir.−E então?− pergu
−Como consegues gastar tanto dinheiro numa única noite!− perguntou Salman, visivelmente irritado, enquanto atravessava a rua, vindo do Yatch Club. Postura sempre impecável, agora manchada pelo ar exasperado de uma pessoa impaciente. Trajava um fato escuro costurado para sim a medida, e no seu olhar muito desprezo.Yahya se mostrou despreocupado, dando de ombros, tira o telemóvel do bolso ignorando Salman por completo. Os dois entraram no mercedes classe S que encontrava estacionado ali perto.−Isso não vem ao caso. Bloquearam todos os meus cartões. Estou sem nem um tostão.− Yahya reclamou a injustiça, enquanto se acostava no acento do carro. − Estou a ser tratado como um criminoso. Uma injustiça, é o que é.Salman não se mostrava nada satisfeito, pois pensara que a imaturidade de Yahya ficara nos anos de faculdade. Apertou os dedos no volante, e olhou pelo canto dos olhos, batalhando a vontade de o expulsar do carro.−Está a ser investigado e se dá o luxo de gastar o que não tem?− O a