Entrei engolindo o choro eu nunca antes havia derramado uma lágrima por homem e Pierre não seria o primeiro. Fui até Ulisses, eu não iria mais esperar para ter com ele a conversa que eu já queria ter a muito tempo.
— Ulisses! Tu acha que a gente podia conversar agora?
— Desculpa, Lis… — disse ele apressadamente e de saída — Eu vou precisar dar uma saída, você acha que a gente poderia conversar depois?
— É sobre eu e Pierre.
— Então… Eu acho que vamos precisar adiar nossa conversa porque eu preciso resolver uma coisa urgente.
— Mas o q
— Lis?... — Aaahhh!!!... — Shhh… Que isso menina? Tu vai acordar Florzinha desse jeito. — Também mainha a essa hora da madrugada… Eu fecho a porta da geladeira e dou de cara com a senhora me encarando. Pensei que fosse Cumade Fulôzinha! — Tá repreendido, menina! O sangue de Jesus Cristo tem poder! — A senhora tá deixando de enxergar no claro pra enxergar no escuro agora, é? Que nem vampiro? — Menina, Deus tenha misericórdia da tua vida. Sabe o que é isso? Desde que a gente chegou aqui em São Paulo, tu não quer conversa com igreja. Te agarra com Jesus não, visse?
O primeiro dia foi intenso. À primeira vista, aquela parecia uma cafeteria normal, mas detrás daquele balcão, especialmente com o grupo que lá se reunia, eu me sentia em um verdadeiro laboratório.Era diferente de ver Maria Flor aprender a andar, ler ou ter o seu primeiro dia de aula. Diferente de estar em um relacionamento novo, dividir a vida ou a casa com alguém. Dessa vez era por mim. O meu curso e a minha carreira.Eu já estava feliz pela SB Koffee, através de Ulisses, além de investir na minha formação como barista, também me liberar para fazer as aulas no meu período de expediente. A única coisa que me incomodava com tudo isso era saber que nada
Meu curso de barista estava acontecendo à tarde, eu tinha aula de segunda a sexta. De primeira eu pensei em não aceitar, pois seria um mês trabalhando apenas pela manhã. Mas Ulisses garantiu que não seria problema, ele daria um jeito e realmente deu. Quando o fluxo aumentava na minha ausência, ele entrava para o atendimento.Saber disso me deixava grata mas também incomodada, eu não via a hora de terminar o curso e voltar para o atendimento, pois não aguentava mais as gracinhas de Laura. Principalmente hoje, que Ulisses não estava presente, como de costume ele a deixava no comando e ela mostrava quem realmente era na ausência dele.— Trabalha bem muito pra compensar a tarde toda que você passa fora. — O que é que esse cara tá fazendo aqui? — questionou-me Ulisses. — Ele tá lá todo prosa comendo o cupcake de morango dele como se nada tivesse acontecido.— Pois é Ulisses eu já disse pra ela que não era pra esse cara pisar mais aqui. — intrometeu-se Laura.— Ah, pode ficar tranquilo que eu me acertei com ele.— Tem certeza que esse cara não vai aprontar mais nenhuma?— Longe de mim querer me meter… Até porque você que é o gerente, mas você acha que pega bem pra comissão das franquias o envolvimento dos atendentes dos clientes?... Assim… Eu sei que no coraç&at44. O Mundo Dá Voltas
Era sábado fim de expediente, pré folga. Todos na cafeteria estavam entre o cansaço de uma semana de trabalho, a animação pelo restinho de fim de semana e a folga do dia seguinte.— Eu não vejo a hora de largar! — disse Suzy com as mãos levantadas para o alto — Acho que essa foi a semana mais agitada dessa cafeteria.— E com a equipe reduzida fica tudo mais difícil. — falou Laura em tom de ironia.— Pior do que a equipe reduzida é uma cobra entre a gente brincando de ser chefe. — respondeu Suzy.— Toma Laura! Podia ter dormido sem essa. — debochei. Depois de termos batido e chamado bastante, pensei que Ulisses não fosse conseguir abrir aquela porta à força mas em algum momento a guarnição, que provavelmente nunca havia sido trocada, cedeu. Chamamos várias vezes e ele não respondeu, então entramos. As luzes estavam apagadas, mas a televisão em volume baixo iluminava a sala. Tropecei em alguma coisa mas Ulisses me segurou me impedindo de cair, olhei para baixo e vi garrafas de bebidas alcoólicas. — Pierre? — Chamamos Ulisses e eu várias vezes. — Vamo ficar perto um do outro, tá bom? — sussurrou Ulisses ao meu lado. — Tá bom. Sentimos um cheiro ruim que vinha da cozinha e lá nos deparamos46. Todos Por Um
— Por que vocês não me falaram? — perguntou Suzy — Eu com certeza teria ido com vocês. — Você já tinha saído e disse que o Paulo tava te esperando e que tava muito cansada. — explicou Ulisses. — O importante é que deu tudo certo e que a primeira consulta dele com psiquiatra já tá marcada. Eu e o Ulisses vamos com ele. — Vocês têm certeza que vão junto com ele? Os dois? — Qual o problema de a gente ir os dois? — perguntei. — Não corre o risco de vocês dois serem expulsos junto com Pierre, não? — Oxente! E por que a gente seria expulso? O piso era claro, as cadeiras acolchoadas, brancas; Na parede um único quadro minimalista com desenhos de folhas em preto e branco, era nele onde eu tentava manter minha atenção, até conseguia exceto quando sentia o aperto mais forte em minha mão. Estávamos os três na recepção do consultório do doutor Pedro Lopes. Eu sabia que Pierre estava nervoso pelo jeito como olhava para baixo e segurava forte a minha mão. Era uma quarta-feira e pelo visto eu perderia todo o dia de trabalho, pois além de acompanhar Pierre no psiquiatra pela manhã, à tarde eu estaria no curso. Em qualquer outro ambiente de trabalho eu já teria sido demitida a muito tempo, mas Ulisses sentado ao meu lado não parecia se importar com isso, pelo contrário ele parecia tão preocupado com Pierre quanto eu, a julgar por suas sobrancelhas levemente franzidas e o48. Nova Cláusula