Um Novo AcordarO quarto estava mergulhado na penumbra, a quietude era cortada apenas pelo som do relógio marcando as horas. Miguel abriu os olhos abruptamente, o peito subindo e descendo em ritmo frenético, as lágrimas ainda correndo quentes pelo rosto. Aquele sonho, tão nítido e avassalador, havia deixado marcas profundas em sua alma. Ele passou as mãos pelo rosto, tentando assimilar tudo o que sentia, enquanto um turbilhão de emoções rodopiava dentro dele. Mas, ao mesmo tempo, uma certeza inabalável começava a se formar.Ele respirou fundo, buscando uma calma que parecia inatingível, enquanto a sensação de dor e saudade pulsava em cada célula de seu corpo. As imagens daquele sonho eram tão vívidas que, por um momento, ele se sentiu transportado para outro tempo, um tempo onde ele conhecia a verdadeira felicidade. Em meio ao desespero que ainda apertava seu peito, uma nova convicção começou a surgir, crescendo até se transformar em uma força tão potente que ele quase se assustou.Fo
O Jantar que Marca um Novo ComeçoApós um dia de altos e baixos, Cecília ajudou Miguel a sair do carro, conduzindo sua cadeira de rodas pela entrada da casa dele. Isabel estava esperando ansiosamente, e um misto de alívio e apreensão marcou seu rosto ao ver o filho em casa novamente. Ela sabia que algo nele havia mudado, mas ainda não conseguia entender completamente o que.— Então, Miguel... — Cecília se aproximou, com um sorriso encantador. — O que acha de jantar lá em casa hoje? Posso preparar algo especial para nós dois.Miguel olhou para a mãe, querendo uma aprovação silenciosa. Isabel, que observava tudo, forçou um sorriso, tentando ao máximo apoiar as escolhas do filho, embora sentisse um aperto no coração.— O que acha, mãe? — Miguel perguntou, ainda mantendo o disfarce e ocultando suas verdadeiras intenções.Isabel assentiu, escondendo o desconforto. — Eu acho ótimo, meu filho. Aproveite e divirta-se. Vocês merecem um bom jantar juntos. Estarei aqui, descansando e esperando v
Em Busca do PassadoMiguel retornou da fisioterapia naquela manhã com um ar diferente, mas ninguém além dele poderia captar a intensidade de suas emoções. Ainda na cadeira de rodas, foi recebido pela mãe com um sorriso suave, que mal escondia a preocupação estampada em seus olhos. Isabel se aproximou, tocando o ombro do filho com carinho.— Precisa de ajuda para subir, meu filho? — ela perguntou, mantendo a voz baixa e acolhedora.Ele balançou a cabeça em negativa, mas com uma expressão gentil que mostrava que ele sabia do zelo dela.— Não, mãe, só preciso descansar um pouco. Vou para o quarto e fico bem — disse, tentando soar convincente, enquanto Isabel o acompanhava até a porta do quarto.Com um suspiro de despedida, Isabel tocou a mão dele por mais um instante antes de se afastar. Assim que a porta fechou, Miguel respirou fundo, deixando escapar a tensão que segurava firme. Agora, ele estava sozinho, livre para assumir o controle que apenas ele sabia possuir. Levantando-se com fir
O Reencontro com a PromessaMiguel reafirma seu juramento em busca do pedaço que falta.Miguel: “Não posso acreditar que você está aqui…”Clara: “Eu sempre soube que era você viria! E mesmo com a dor da saudade e esperei você voltar pra mim!Gentilmente, ele a puxou para mais perto, até que seus lábios se encontraram em um beijo cheio de ternura e de um desejo profundo. Foi um beijo calmo, mas ao mesmo tempo avassalador, e parecia que, naquele simples toque, todas as palavras não ditas entre eles foram reveladas. Miguel sentiu o coração de Clara batendo acelerado, mas ela não se afastou; pelo contrário, aproximou-se ainda mais, como se estivesse decidida a entregar-lhe cada pedaço de si.Com a delicadeza de quem segura algo precioso, Miguel a envolveu em seus braços, acariciando seus cabelos e sentindo o perfume suave que parecia fazer parte dela. Eles se deitaram lado a lado sobre o lençol, ainda em silêncio, como se as palavras fossem desnecessárias naquele momento. Cada movimento e
Às vezes, o silêncio revela mais do que palavras.Na manhã seguinte, Miguel, ainda na cadeira de rodas e mantendo a fachada de fragilidade, entrou na sala de reuniões onde Henrique o aguardava. Com o olhar frio e analisador, ele absorveu cada detalhe, pronto para usar essa reunião como mais uma peça em seu quebra-cabeça para desvendar o paradeiro de Clara.Henrique parecia de bom humor, orgulhoso dos números que preenchiam os relatórios à sua frente. Depois de algumas trocas protocolares e atualizações de rotina sobre os negócios, Henrique esboçou um sorriso de satisfação e então, como quem não quer nada, questionou Miguel de forma casual:— E aí, Miguel, conseguiu achar a sua enfermeira Clara que desapareceu?Miguel manteve a expressão serena, mas controlou o impulso que seu corpo sentiu ao ouvir o nome de Clara. Com uma postura neutra, fingiu não entender a pergunta.— Como assim, Clara? — Ele franziu a testa. — Que enfermeira? Não sei do que você está falando.Henrique disfarçou a
Unidos em Nome da VerdadeMiguel aguardava em sua sala, observando o relógio com certa impaciência. Sabia que aquele encontro era crucial, uma peça fundamental no plano para encontrar Clara e desvendar os segredos que Henrique e Cecília escondiam. Ele mal conseguia disfarçar o misto de ansiedade e determinação que o consumia. Poucos minutos depois, ouviu passos no corredor e então a porta se abriu, revelando Ana e Valentina.— Miguel — cumprimentou Valentina, entrando com seu característico ar de segurança. Ela observou atentamente o semblante dele, buscando entender o peso da responsabilidade que ele estava carregando.— Valentina, Ana, obrigado por virem. Precisamos alinhar tudo e garantir que nossos passos sejam precisos. — Miguel falou com firmeza, gesticulando para que ambas se sentassem.Ana sentou-se ao lado de Valentina, com um caderno e uma caneta em mãos, pronta para anotar cada detalhe. Valentina cruzou os braços, aguardando com seriedade o que Miguel tinha a dizer.— Depoi
Onde Nasce a AmizadeO pátio da escola estava cheio naquele final de manhã, como de costume. Crianças e pré-adolescentes corriam de um lado para o outro, rindo, brincando, ou simplesmente tentando sobreviver ao caos do recreio. Miguel Alencar, com 13 anos, observava tudo de longe, sentado em um dos bancos de concreto perto da quadra. Ele era um garoto quieto, nunca se envolvia em confusão. Preferia os livros de história e os jogos de estratégia aos campeonatos de futebol que dominavam as conversas dos colegas.Foi quando ele ouviu. As vozes.— Ei, Moretti! Você acha que é melhor que a gente, é? — um dos garotos gritou.Miguel virou a cabeça na direção do tumulto. No meio da roda de meninos maiores, estava Clara Moretti, com seus cabelos castanhos escorridos sobre os ombros, vestindo o uniforme da escola e com a testa franzida em desafio. Ela segurava com força a alça da mochila, apertando-a contra o corpo, enquanto três garotos a cercavam.— Acha que pode mandar na gente só porque é f
Ecos do PassadoMiguel levantou-se da cama lentamente, os músculos ainda pesados da agitação da noite anterior. O suor escorria pela testa, e ele sentia o pijama úmido colado ao corpo. Com um suspiro cansado, caminhou até o banheiro e ligou o chuveiro, deixando a água fria bater em seu rosto.Ele ficou ali por alguns minutos, tentando organizar os pensamentos. Aquele sonho o atormentava há meses, sempre voltando de forma quase idêntica. Era como se estivesse preso em uma memória distante, mas que ele não conseguia acessar totalmente.Depois do banho, Miguel saiu do banheiro, secando o cabelo com uma toalha. Abriu o armário e escolheu um belo paletó azul-escuro, acompanhado de uma camisa branca impecável e uma gravata cinza clara. Vestiu-se com a precisão que a rotina havia lhe ensinado, mas sua mente ainda estava distraída, presa na sensação que o sonho havia deixado.Pegou a chave do carro e a pasta com documentos importantes sobre a reunião que teria mais tarde. Ao descer as escada