O som suave da chuva batendo nas janelas do apartamento de Axel parecia coincidir com a inquietação que tomava conta de seu peito. Depois do encontro no bistrô, ele havia tentado se distrair com a rotina. Mas, de alguma forma, aquele momento com Vincent continuava martelando em sua mente. Cada palavra dita, cada olhar trocado, fazia com que o desejo se confundisse com o medo, a insegurança. E isso o fez "sumir", já não mais estava indo as apresentações e sempre rejeitava os convites do belo homem de negócios. Ele não sabia mais se estava pronto para aquilo, mas também não conseguia afastar a ideia de que talvez fosse a única chance de se entender, de se libertar das próprias amarras.
Às 10 da manhã, o celular de Axel vibrou na mesa. Ele hesitou antes de olhar. O número desconhecido fez seu coração acelerar de forma inexplicável. Com um movimento rápido, ele desbloqueou a tela e leu a mensagem. "Axel... Você está em casa?" Vincent, só podiam ser dele. A mensagem simples, sem grandes explicações, mesmo depois de tantos outros números bloqueados ele ainda insistia. Axel sentiu um frio na barriga, uma mistura de excitação e ansiedade. Estaria ele realmente pronto para aquilo? Para seguir em frente, para dar o próximo passo? Ou estaria se entregando a algo que não podia controlar? Ele não respondeu imediatamente, mas ao olhar pela janela e ver as gotas de chuva caindo, algo dentro dele se acendeu. A chuva, o ambiente silencioso e íntimo... Talvez fosse a hora. Axel mesmo confuso, mesmo dividido entre o querer e "não poder" não queria mais se esconder. Não queria mais ter medo do que era, do que poderia ser, do que desejava. "Sim, estou. Por que?" Axel finalmente digitou, sentindo o peso das palavras. Em menos de um minuto, a resposta de Vincent apareceu na tela. "Eu quero te ver. Estou preocupado. Precisamos conversar. Podemos?" O simples fato de saber que Vincent queria encontrá-lo fez com que a ansiedade aumentasse. Axel estava imerso em uma tempestade interna, como se as nuvens dentro de sua mente estivessem mais densas do que a chuva do lado de fora. O que Vincent queria? Uma conversa, ele sabia. Mas ele também já sabia que conversas com Vincent nunca eram simples. Eles estavam sempre atravessando linhas, rompendo limites. Sem mais demora, Axel o respondeu passando o endereço e assim seguiu para o quarto onde vestiu uma camiseta preta e calças escuras, optando por algo simples, como se tentasse se esconder por trás da normalidade. Quando o interfone tocou, seu coração quase parou. ── Sim? ── Ele atendeu, tentando controlar a respiração. ── Axel... ── a voz de Vincent soou no outro lado da linha, suave, mas carregada de uma certeza que fez o estômago de Alexandre revirar. ── Posso subir? ── o bailarino hesitou por um segundo, mas não teve coragem de recusar. ── Claro... Te espero. A porta do apartamento se abriu alguns minutos depois, e o cheiro da chuva ainda estava no ar, misturado ao perfume inconfundível de Vincent. Axel se virou quando ouviu o som dos passos firmes do homem entrando na sala. O CEO estava usando uma jaqueta de couro escura, o cabelo um pouco mais bagunçado do que o normal, como se tivesse passado a mão por ele repetidas vezes, tentando se acalmar. Mas seus olhos... seus olhos estavam mais intensos do que nunca. ── Você não precisa pedir desculpas... Vincent começou, sua voz tranquila. Ele se aproximou devagar, observando Axel, como se estivesse aguardando uma reação. ── Pedir desculpas? ── Axel perguntou, confuso. Ele ainda não entendia exatamente o que Vincent estava fazendo ali, embora, no fundo compreendesse o que de fato ele estava comentando. ── O que você quer de mim, Vincent? ── Não, realmente não há o porquê de desculpas... mas... você sumiu! você não apareceu, de novo... e de novo... está tudo bem? Não... não é isso... está me evitando, Axel, e porquê? Você sabe muito bem o que eu quero. Eu quero você. ── A resposta veio direta, sem rodeios. ── Quero entender quem você é. Sem máscaras. Sem fugas. Quero que pare de me expulsar como se eu fosse um monstro. Axel não conseguiu evitar o choque que tomou conta de seu corpo. Ele queria entender... quem ele era? Essa era uma pergunta que ele ainda não tinha resposta. ── Não é tão simples assim... ── Axel disse, a voz mais fraca do que ele gostaria. Ele deu um passo para trás, sentindo o frio do ambiente se misturar com o calor crescente entre eles. ── Eu não sei quem eu sou. Eu sou só um bailarino. Não sou... eu não sou como você, eu já disse. Eu não tenho o seu mundo, a sua vida, o seu poder. Vincent se aproximou, um movimento preciso e controlado, e parou a apenas um passo do bailarino. Ele olhou para ele com uma intensidade que fez o corpo de Axel tremer, mas, ao mesmo tempo, o atraía. ── Você não é como eu, e isso é exatamente o que me interessa. Eu não quero que você seja como eu, Axel. Eu quero que você seja quem você realmente é. Axel fechou os olhos por um momento, tentando controlar a sensação que estava crescendo dentro dele. Era uma mistura de medo e desejo, perto de Vincent sempre era. Ele não sabia se estava pronto para se entregar a isso, mas também não conseguia resistir ao que Vincent oferecia. A promessa de liberdade, de algo além da sua própria solidão. ── E se eu me perder? ── o bailarino sussurrou, as palavras saindo sem querer. Ele olhou para Vincent com uma vulnerabilidade que raramente mostrava. ── E se me perder nesse desejo, nessa... atração por você? Vincent sorriu suavemente e, com um movimento delicado, tocou a mão de Axel. ── Então se deixe perder. Se permita isso. Às vezes, se perder é a única maneira de encontrar o que realmente importa. Você tem medo de se perder, mas, ao meu ver é o medo que está te segurando. Eu posso ser a sua segurança, Axel. Eu quero ser. Aquelas palavras ficaram pairando no ar como uma promessa, uma promessa que parecia tanto atraente quanto aterradora. Axel olhou nos olhos de Vincent e, por um breve instante, tudo o que ele sentia desapareceu. Ele não tinha mais dúvidas. Ele sabia que estava em um caminho sem volta. Mas queria isso. ── Eu não sei o que vai acontecer... ── Axel disse, sua voz quase inaudível, mas cheia de uma decisão que ele não sabia de onde vinha. ── Mas quero tentar. Mesmo com medo... Quero... tentar entender o que é isso. Mesmo que seja difícil pra mim… no fundo eu realmente quero. Vincent não respondeu imediatamente. Ele apenas se inclinou e, com um movimento suave, tocou os lábios de Axel com os seus. O beijo não foi apressado, mas sim algo profundo, como se ambos estivessem descobrindo algo novo, algo verdadeiro. Quando se separaram, o bailarino sentiu que algo havia mudado dentro dele. O medo ainda estava ali, mas não dominava mais. Ele havia dado o primeiro passo para fora de sua zona de conforto, e, por mais aterrador que fosse, também era libertador. ── Agora, você está pronto. ── Vincent sussurrou contra os lábios de Axel. E, pela primeira vez, o bailarino acreditou que talvez estivesse.Os dias que se seguiram ao beijo de Vincent ainda estavam frescos na memória de Axel, os olhares curiosos recaíam sobre seu semblante mais iluminado, mais alegre do que costumavam ser. E mesmo sentindo um friozinho na barriga e uma inquietação com todo aquele cochichar, de alguma forma, ele já não sentia tanto o peso da dúvida. A inquietação que o havia consumido durante semanas, entre desejo e medo, entre a promessa de liberdade e o receio do desconhecido e do julgamento, começava a se dissipar. Ele não sabia ao certo o que o esperava, mas algo em seu interior já não se sentia mais preso. Aquelas palavras de Vincent, aquelas promessas silenciosas, haviam tocado algo dentro dele, algo que ele ainda não entendia completamente, mas que sentia se tornar cada vez mais forte para descobrir junto do belo rapaz.A mensagem que ele recebera naquela manhã, tão direta e simples — "Quero te ver. Estou com saudades." — não havia deixado espaço para mais hesitação, pelo contrario, algo dentro de
O dia seguinte àquela noite mágica parecia um sopro de realidade após o turbilhão de sentimentos que Axel e Vincent haviam compartilhado. O bailarino acordou primeiro, lentamente, como se ainda estivesse imerso na névoa de prazeres da noite passada. O quarto estava em um silêncio quase absoluto, a única luz vindo do brilho suave da manhã que filtrava pelas cortinas, iluminando a cama de maneira difusa. Ele estava deitado de lado, com o rosto virado para o travesseiro, e a sensação de ter algo ou alguém ao seu lado ainda permanecia, como uma memória vívida.Quando virou a cabeça, foi então que percebeu: Vincent ainda estava ali. Deitado ao seu lado, sem se mover, com os cabelos bagunçados e a respiração profunda e calma. Havia algo tão tranquilo na imagem dele dormindo, uma aura de poder adormecido e vulnerabilidade que Axel jamais imaginara que veria. O que parecia tão intenso e urgente durante a noite agora parecia suavizado, como se a bruma de desejo tivesse dado lugar a uma paz q
O som suave de um piano ressoava pela grande sala, onde o brilho das luzes refletia no rosto atento dos convidados da gala de arrecadação de fundos para a companhia de balé. A noite estava fria lá fora, mas dentro do teatro, a atmosfera era aquecida pela vibração do evento e pela energia do público, que aguardava ansiosamente pela apresentação. Em cima do palco, Axel, o bailarino principal, se preparava para a última apresentação daquela noite. Seu corpo magro, mas musculoso, se movia com uma graça quase etérea, como se as leis da física não se aplicassem a ele. Seus olhos estavam focados em cada movimento, cada giro, enquanto ele se concentrava na dança. A tensão dos ensaios havia dado lugar à confiança, mas uma ansiedade sutil ainda o acompanhava. Era sua primeira grande performance como bailarino principal e, para ele, isso significava muito mais do que uma simples exibição. No entanto, seus pensamentos não estavam apenas no palco. À medida que se preparava para o ato final, ele
Os dias haviam se passado, quase quatro semanas e nada da aparição do homem de presença forte entre a plateia desde aquele dia. Axel chegando a deduzir que era somente "mais um" dentre muitos com palavras bonitas e apenas isso. Talvez tivesse se equivocado ao pensar que ele fosse diferente, que as palavras lhe soassem diferentes naqueles lábios. Mas a questão era: "Por que estou me importando com isso?" Era apenas um de muitos pensamentos que sondavam a cabeça do bailarino. Ele já havia deixado bem claro que não saía com patrocinadores, era um limite a qual ele mesmo não queria ultrapassar. Então, porquê?Axel estava no palco, seu corpo moldado pelo movimento da dança, suas pernas e braços descrevendo formas perfeitas no ar. Mesmo rodeado de pensamentos ele se entregava com intensidade à coreografia, seus músculos tensos e, ao mesmo tempo, fluidos, como se ele fosse uma extensão da música. Cada salto, cada giro, cada gesto parecia ser parte de um único organismo, onde ele e a músic
Depois daquele dia, passou a ser comum os encontros entre o bailarino e o CEO para que tomassem café e conversassem depois das apresentações de Axel, mas nesse dia, o bailarino havia chegado primeiro. Era um dia de folga, pelo menos durante parte do dia e Vincent havia mandado mensagem pra que pudessem se encontrar mais cedo. O café estava quente e aconchegante, o aroma envolvia Axel enquanto ele se acomodava em uma mesa discreta no fundo do pequeno bistrô. Era uma noite fria, e a cidade ainda estava vestida com os últimos vestígios do outono, suas folhas caindo suavemente nas ruas. O ambiente era intimista, com luzes baixas e móveis de madeira que faziam a sensação de conforto invadir até os cantos mais distantes. Tudo parecia calmo, tranquilo... até que Vincent entrou, e o ar ao seu redor se tornou eletrificado.Axel estava sentado, nervoso. Ele não entendia muito bem o que estava acontecendo. Desde que haviam trocado palavras após a apresentação, após aquele primeiro café juntos,