Depois daquele dia, passou a ser comum os encontros entre o bailarino e o CEO para que tomassem café e conversassem depois das apresentações de Axel, mas nesse dia, o bailarino havia chegado primeiro. Era um dia de folga, pelo menos durante parte do dia e Vincent havia mandado mensagem pra que pudessem se encontrar mais cedo.
O café estava quente e aconchegante, o aroma envolvia Axel enquanto ele se acomodava em uma mesa discreta no fundo do pequeno bistrô. Era uma noite fria, e a cidade ainda estava vestida com os últimos vestígios do outono, suas folhas caindo suavemente nas ruas. O ambiente era intimista, com luzes baixas e móveis de madeira que faziam a sensação de conforto invadir até os cantos mais distantes. Tudo parecia calmo, tranquilo... até que Vincent entrou, e o ar ao seu redor se tornou eletrificado. Axel estava sentado, nervoso. Ele não entendia muito bem o que estava acontecendo. Desde que haviam trocado palavras após a apresentação, após aquele primeiro café juntos, algo em seu interior mudara. Vincent estava... diferente. Ele parecia estar em busca de algo, de uma conexão, talvez, mas Axel não sabia como corresponder. Havia uma linha invisível que se formava entre eles, uma linha tênue que se arrastava na conversa, nos olhares, nos silêncios. Vincent o encontrou sem dificuldade, o olhar fixo em Axel enquanto atravessava o salão. Aquele homem, tão imponente e seguro, tinha algo de sedutor na maneira como se movia. Ele usava um casaco de lã escura, que parecia ter sido feito sob medida para ele, e seus cabelos escuros estavam ligeiramente bagunçados, como se o vento da rua tivesse sido um reflexo do que ele sentia por dentro. ── Desculpe a demora… ── Vincent disse, com um sorriso casual enquanto se sentava à mesa. Seu tom era suave, mas havia uma intensidade em sua voz que Axel não conseguia ignorar. ── A cidade nunca é tão fácil de se atravessar, não é? Axel sorriu, tentando parecer à vontade, mas sentia sua respiração acelerar. ── Não tem problema. Eu também cheguei tem pouco tempo, e estava apenas... pensando. ── Pensando no quê? ── Vincent perguntou, seus olhos azuis penetrando nos dele com uma intensidade desconcertante. ── Na apresentação de hoje. ── Axel se ajeitou na cadeira, tentando desviar o olhar. ── No que você falou... outro dia… sobre como eu me entrego, como se fosse mais do que apenas uma dança. ── Ele fez uma pausa. ── Eu não sei, talvez você tenha me entendido errado. O balé... é o meu refúgio. Mas não sei se sou o que você está imaginando. Vincent inclinou a cabeça ligeiramente, observando-o com mais atenção. ── Eu não sei o que você quer dizer com isso. Eu não imagino nada, Axel. O que vi foi um homem... se entregando ao que ama. Não é difícil ver que há algo mais em você do que só um bailarino. Você carrega uma paixão, uma energia que transborda do palco, mas ao mesmo tempo... parece que você se esconde, como se tivesse medo de ser visto… de ser tocado. Axel olhou para as mãos, sentindo um nó se formar em seu peito. Aquela verdade que Vincent havia exposto tão facilmente fez seus pensamentos se embaralharem. Ele nunca se sentira à vontade com a atenção que recebia, mas Vincent... Vincent parecia vê-lo de uma maneira que ninguém mais jamais fizera. ── Eu não me escondo… ── disse Axel, com um leve sorriso. ── Eu só... não sei lidar com isso. Não sei lidar com olhares que me atravessam como o seu. Vincent não desviou o olhar, permanecendo firme, mas suavemente atento. ── Eu não sou um estranho. Eu... apenas vejo você. E talvez, por mais estranho que pareça, eu gostaria que você me visse também. Havia algo na maneira como ele falava que fez Axel se sentir exposto, como se não houvesse escapatória. Era como se ele estivesse dizendo sem palavras o que ambos sabiam ser verdade. O que os unia era mais profundo do que uma simples atração; era um reconhecimento silencioso, quase doloroso, de algo que estava além do que os olhos podiam ver. ── Eu não sei o que você espera de mim, Vincent, ── Axel sussurrou, olhando para os lados, se certificando que ninguém mais os via ou ouvia e ainda assim sentindo-se vulnerável. ── eu... sou um homem comum. E você, você tem um mundo inteiro ao seu redor. Eu sou só um bailarino sem futuro... ── E por que você acha que você não tem um futuro? ── Vincent interrompeu, sua voz suave, mas firme. Ele se aproximou um pouco mais, de maneira quase imperceptível. ── O futuro, meu doce e adorável Axel, é algo que construímos. Não é dado. Você pode ser o que quiser. Se você... se permitir. E eu confio no seu potencial. Axel olhou para ele, perdido naquelas palavras. A insegurança que ele sempre carregou como um peso parecia, por um momento, ser desafiada por aquela presença tão segura, tão inquebrantável. Mas ao mesmo tempo, havia o medo — o medo de não ser suficiente, de ser engolido por um mundo que não tinha nada a ver com o dele. ── Você não entende… ── disse Axel, quase com raiva de si mesmo por ser tão frágil. ── Eu não posso ser alguém que eu não sou. Eu não posso... ── Ele olhou para Vincent, sentindo os lábios se secarem. Suas íris indo de encontro com as dele, trilhando um caminho invisível até aqueles lábios e tão logo os direcionando novamente para aquela imensidão azul. ── Eu não posso ser o que você está esperando. Vincent finalmente sorriu, mas não era um sorriso de superioridade. Era algo mais gentil, mais humano. Ele se inclinou um pouco para frente, abaixando a voz. ── Pensei que já tivesse respondido isso… mas… Eu não espero nada, Axel. Não do jeito que você está pensando. Eu só estou... te oferecendo uma chance de se ver como eu te vejo. De se permitir algo mais… A tensão entre eles estava crescendo. Aquelas palavras, carregadas de algo indefinido, estavam começando a criar um abismo entre o que Axel era e o que ele desejava ser. O medo de se perder no desconhecido, de se entregar a um homem que parecia ser tudo o que ele não podia ser, fez seu coração bater mais rápido. ── E-então… o que você espera de mim? ── Axel perguntou, finalmente encarando Vincent com olhos penetrantes. Vincent não respondeu de imediato. Ele apenas permaneceu em silêncio por alguns segundos, como se estivesse ponderando as palavras que usaria. Então, com a mesma suavidade, ele disse: ── Eu espero que você me deixe ver quem você realmente é, sem máscaras. Eu não sou como os outros. Eu vejo você, Axel, e eu quero mais do que sua dança. Quero tudo. Axel sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Aquelas palavras... era o que ele temia e, ao mesmo tempo, o que ele mais desejava ouvir. Mas ele sabia que o que estava prestes a começar entre eles não seria simples. Era um jogo perigoso, onde qualquer passo em falso poderia significar a destruição de tudo o que ele havia construído para se proteger. ── Eu... não sei se posso fazer isso. ── disse Axel, quase em um sussurro, sem saber se estava falando para Vincent ou para si mesmo. Vincent sorriu mais uma vez, com uma expressão que misturava compreensão e desejo. ── Não precisa saber agora, querido Axel. Só precisa dar o primeiro passo. Estarei esperando pacientemente até que esse dia chegue. Até lá… ── ele pegou uma das xícaras já ali postas e servidas e então a ergueu com aquele sorriso ainda nos lábios ── aprecie o momento, hm? Ainda hoje você tem um grande show pela frente. E, com essas palavras, o primeiro passo estava dado. O que aconteceria a seguir? Axel não sabia. Mas, ao olhar para Vincent, ele sentia que as linhas entre eles estavam cada vez mais tênues, e a distância entre o que ele temia e o que ele queria se estreitavam a cada palavra, a cada olhar. [•••]O som suave da chuva batendo nas janelas do apartamento de Axel parecia coincidir com a inquietação que tomava conta de seu peito. Depois do encontro no bistrô, ele havia tentado se distrair com a rotina. Mas, de alguma forma, aquele momento com Vincent continuava martelando em sua mente. Cada palavra dita, cada olhar trocado, fazia com que o desejo se confundisse com o medo, a insegurança. E isso o fez "sumir", já não mais estava indo as apresentações e sempre rejeitava os convites do belo homem de negócios. Ele não sabia mais se estava pronto para aquilo, mas também não conseguia afastar a ideia de que talvez fosse a única chance de se entender, de se libertar das próprias amarras. Às 10 da manhã, o celular de Axel vibrou na mesa. Ele hesitou antes de olhar. O número desconhecido fez seu coração acelerar de forma inexplicável. Com um movimento rápido, ele desbloqueou a tela e leu a mensagem."Axel... Você está em casa?"Vincent, só podiam ser dele. A mensagem simples, sem grandes e
Os dias que se seguiram ao beijo de Vincent ainda estavam frescos na memória de Axel, os olhares curiosos recaíam sobre seu semblante mais iluminado, mais alegre do que costumavam ser. E mesmo sentindo um friozinho na barriga e uma inquietação com todo aquele cochichar, de alguma forma, ele já não sentia tanto o peso da dúvida. A inquietação que o havia consumido durante semanas, entre desejo e medo, entre a promessa de liberdade e o receio do desconhecido e do julgamento, começava a se dissipar. Ele não sabia ao certo o que o esperava, mas algo em seu interior já não se sentia mais preso. Aquelas palavras de Vincent, aquelas promessas silenciosas, haviam tocado algo dentro dele, algo que ele ainda não entendia completamente, mas que sentia se tornar cada vez mais forte para descobrir junto do belo rapaz.A mensagem que ele recebera naquela manhã, tão direta e simples — "Quero te ver. Estou com saudades." — não havia deixado espaço para mais hesitação, pelo contrario, algo dentro de
O dia seguinte àquela noite mágica parecia um sopro de realidade após o turbilhão de sentimentos que Axel e Vincent haviam compartilhado. O bailarino acordou primeiro, lentamente, como se ainda estivesse imerso na névoa de prazeres da noite passada. O quarto estava em um silêncio quase absoluto, a única luz vindo do brilho suave da manhã que filtrava pelas cortinas, iluminando a cama de maneira difusa. Ele estava deitado de lado, com o rosto virado para o travesseiro, e a sensação de ter algo ou alguém ao seu lado ainda permanecia, como uma memória vívida.Quando virou a cabeça, foi então que percebeu: Vincent ainda estava ali. Deitado ao seu lado, sem se mover, com os cabelos bagunçados e a respiração profunda e calma. Havia algo tão tranquilo na imagem dele dormindo, uma aura de poder adormecido e vulnerabilidade que Axel jamais imaginara que veria. O que parecia tão intenso e urgente durante a noite agora parecia suavizado, como se a bruma de desejo tivesse dado lugar a uma paz q
O som suave de um piano ressoava pela grande sala, onde o brilho das luzes refletia no rosto atento dos convidados da gala de arrecadação de fundos para a companhia de balé. A noite estava fria lá fora, mas dentro do teatro, a atmosfera era aquecida pela vibração do evento e pela energia do público, que aguardava ansiosamente pela apresentação. Em cima do palco, Axel, o bailarino principal, se preparava para a última apresentação daquela noite. Seu corpo magro, mas musculoso, se movia com uma graça quase etérea, como se as leis da física não se aplicassem a ele. Seus olhos estavam focados em cada movimento, cada giro, enquanto ele se concentrava na dança. A tensão dos ensaios havia dado lugar à confiança, mas uma ansiedade sutil ainda o acompanhava. Era sua primeira grande performance como bailarino principal e, para ele, isso significava muito mais do que uma simples exibição. No entanto, seus pensamentos não estavam apenas no palco. À medida que se preparava para o ato final, ele
Os dias haviam se passado, quase quatro semanas e nada da aparição do homem de presença forte entre a plateia desde aquele dia. Axel chegando a deduzir que era somente "mais um" dentre muitos com palavras bonitas e apenas isso. Talvez tivesse se equivocado ao pensar que ele fosse diferente, que as palavras lhe soassem diferentes naqueles lábios. Mas a questão era: "Por que estou me importando com isso?" Era apenas um de muitos pensamentos que sondavam a cabeça do bailarino. Ele já havia deixado bem claro que não saía com patrocinadores, era um limite a qual ele mesmo não queria ultrapassar. Então, porquê?Axel estava no palco, seu corpo moldado pelo movimento da dança, suas pernas e braços descrevendo formas perfeitas no ar. Mesmo rodeado de pensamentos ele se entregava com intensidade à coreografia, seus músculos tensos e, ao mesmo tempo, fluidos, como se ele fosse uma extensão da música. Cada salto, cada giro, cada gesto parecia ser parte de um único organismo, onde ele e a músic