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• 3 • Linhas tênues

Depois daquele dia, passou a ser comum os encontros entre o bailarino e o CEO para que tomassem café e conversassem depois das apresentações de Axel, mas nesse dia, o bailarino havia chegado primeiro. Era um dia de folga, pelo menos durante parte do dia e Vincent havia mandado mensagem pra que pudessem se encontrar mais cedo.

O café estava quente e aconchegante, o aroma envolvia Axel enquanto ele se acomodava em uma mesa discreta no fundo do pequeno bistrô. Era uma noite fria, e a cidade ainda estava vestida com os últimos vestígios do outono, suas folhas caindo suavemente nas ruas. O ambiente era intimista, com luzes baixas e móveis de madeira que faziam a sensação de conforto invadir até os cantos mais distantes. Tudo parecia calmo, tranquilo... até que Vincent entrou, e o ar ao seu redor se tornou eletrificado.

Axel estava sentado, nervoso. Ele não entendia muito bem o que estava acontecendo. Desde que haviam trocado palavras após a apresentação, após aquele primeiro café juntos, algo em seu interior mudara. Vincent estava... diferente. Ele parecia estar em busca de algo, de uma conexão, talvez, mas Axel não sabia como corresponder. Havia uma linha invisível que se formava entre eles, uma linha tênue que se arrastava na conversa, nos olhares, nos silêncios.

Vincent o encontrou sem dificuldade, o olhar fixo em Axel enquanto atravessava o salão. Aquele homem, tão imponente e seguro, tinha algo de sedutor na maneira como se movia. Ele usava um casaco de lã escura, que parecia ter sido feito sob medida para ele, e seus cabelos escuros estavam ligeiramente bagunçados, como se o vento da rua tivesse sido um reflexo do que ele sentia por dentro.

── Desculpe a demora… ── Vincent disse, com um sorriso casual enquanto se sentava à mesa. Seu tom era suave, mas havia uma intensidade em sua voz que Axel não conseguia ignorar. ── A cidade nunca é tão fácil de se atravessar, não é?

Axel sorriu, tentando parecer à vontade, mas sentia sua respiração acelerar.

── Não tem problema. Eu também cheguei tem pouco tempo, e estava apenas... pensando.

── Pensando no quê? ── Vincent perguntou, seus olhos azuis penetrando nos dele com uma intensidade desconcertante.

── Na apresentação de hoje. ── Axel se ajeitou na cadeira, tentando desviar o olhar. ── No que você falou... outro dia… sobre como eu me entrego, como se fosse mais do que apenas uma dança. ── Ele fez uma pausa. ── Eu não sei, talvez você tenha me entendido errado. O balé... é o meu refúgio. Mas não sei se sou o que você está imaginando.

Vincent inclinou a cabeça ligeiramente, observando-o com mais atenção.

── Eu não sei o que você quer dizer com isso. Eu não imagino nada, Axel. O que vi foi um homem... se entregando ao que ama. Não é difícil ver que há algo mais em você do que só um bailarino. Você carrega uma paixão, uma energia que transborda do palco, mas ao mesmo tempo... parece que você se esconde, como se tivesse medo de ser visto… de ser tocado.

Axel olhou para as mãos, sentindo um nó se formar em seu peito. Aquela verdade que Vincent havia exposto tão facilmente fez seus pensamentos se embaralharem. Ele nunca se sentira à vontade com a atenção que recebia, mas Vincent... Vincent parecia vê-lo de uma maneira que ninguém mais jamais fizera.

── Eu não me escondo… ── disse Axel, com um leve sorriso. ── Eu só... não sei lidar com isso. Não sei lidar com olhares que me atravessam como o seu.

Vincent não desviou o olhar, permanecendo firme, mas suavemente atento.

── Eu não sou um estranho. Eu... apenas vejo você. E talvez, por mais estranho que pareça, eu gostaria que você me visse também.

Havia algo na maneira como ele falava que fez Axel se sentir exposto, como se não houvesse escapatória. Era como se ele estivesse dizendo sem palavras o que ambos sabiam ser verdade. O que os unia era mais profundo do que uma simples atração; era um reconhecimento silencioso, quase doloroso, de algo que estava além do que os olhos podiam ver.

── Eu não sei o que você espera de mim, Vincent, ── Axel sussurrou, olhando para os lados, se certificando que ninguém mais os via ou ouvia e ainda assim sentindo-se vulnerável. ── eu... sou um homem comum. E você, você tem um mundo inteiro ao seu redor. Eu sou só um bailarino sem futuro...

── E por que você acha que você não tem um futuro? ── Vincent interrompeu, sua voz suave, mas firme. Ele se aproximou um pouco mais, de maneira quase imperceptível. ── O futuro, meu doce e adorável Axel, é algo que construímos. Não é dado. Você pode ser o que quiser. Se você... se permitir. E eu confio no seu potencial.

Axel olhou para ele, perdido naquelas palavras. A insegurança que ele sempre carregou como um peso parecia, por um momento, ser desafiada por aquela presença tão segura, tão inquebrantável. Mas ao mesmo tempo, havia o medo — o medo de não ser suficiente, de ser engolido por um mundo que não tinha nada a ver com o dele.

── Você não entende… ── disse Axel, quase com raiva de si mesmo por ser tão frágil. ── Eu não posso ser alguém que eu não sou. Eu não posso... ── Ele olhou para Vincent, sentindo os lábios se secarem. Suas íris indo de encontro com as dele, trilhando um caminho invisível até aqueles lábios e tão logo os direcionando novamente para aquela imensidão azul. ── Eu não posso ser o que você está esperando.

Vincent finalmente sorriu, mas não era um sorriso de superioridade. Era algo mais gentil, mais humano. Ele se inclinou um pouco para frente, abaixando a voz.

── Pensei que já tivesse respondido isso… mas… Eu não espero nada, Axel. Não do jeito que você está pensando. Eu só estou... te oferecendo uma chance de se ver como eu te vejo. De se permitir algo mais…

A tensão entre eles estava crescendo. Aquelas palavras, carregadas de algo indefinido, estavam começando a criar um abismo entre o que Axel era e o que ele desejava ser. O medo de se perder no desconhecido, de se entregar a um homem que parecia ser tudo o que ele não podia ser, fez seu coração bater mais rápido.

── E-então… o que você espera de mim? ── Axel perguntou, finalmente encarando Vincent com olhos penetrantes.

Vincent não respondeu de imediato. Ele apenas permaneceu em silêncio por alguns segundos, como se estivesse ponderando as palavras que usaria. Então, com a mesma suavidade, ele disse:

── Eu espero que você me deixe ver quem você realmente é, sem máscaras. Eu não sou como os outros. Eu vejo você, Axel, e eu quero mais do que sua dança. Quero tudo.

Axel sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Aquelas palavras... era o que ele temia e, ao mesmo tempo, o que ele mais desejava ouvir. Mas ele sabia que o que estava prestes a começar entre eles não seria simples. Era um jogo perigoso, onde qualquer passo em falso poderia significar a destruição de tudo o que ele havia construído para se proteger.

── Eu... não sei se posso fazer isso. ── disse Axel, quase em um sussurro, sem saber se estava falando para Vincent ou para si mesmo.

Vincent sorriu mais uma vez, com uma expressão que misturava compreensão e desejo.

── Não precisa saber agora, querido Axel. Só precisa dar o primeiro passo. Estarei esperando pacientemente até que esse dia chegue. Até lá… ── ele pegou uma das xícaras já ali postas e servidas e então a ergueu com aquele sorriso ainda nos lábios ── aprecie o momento, hm? Ainda hoje você tem um grande show pela frente.

E, com essas palavras, o primeiro passo estava dado. O que aconteceria a seguir? Axel não sabia. Mas, ao olhar para Vincent, ele sentia que as linhas entre eles estavam cada vez mais tênues, e a distância entre o que ele temia e o que ele queria se estreitavam a cada palavra, a cada olhar.

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