O som suave de um piano ressoava pela grande sala, onde o brilho das luzes refletia no rosto atento dos convidados da gala de arrecadação de fundos para a companhia de balé. A noite estava fria lá fora, mas dentro do teatro, a atmosfera era aquecida pela vibração do evento e pela energia do público, que aguardava ansiosamente pela apresentação.
Em cima do palco, Axel, o bailarino principal, se preparava para a última apresentação daquela noite. Seu corpo magro, mas musculoso, se movia com uma graça quase etérea, como se as leis da física não se aplicassem a ele. Seus olhos estavam focados em cada movimento, cada giro, enquanto ele se concentrava na dança. A tensão dos ensaios havia dado lugar à confiança, mas uma ansiedade sutil ainda o acompanhava. Era sua primeira grande performance como bailarino principal e, para ele, isso significava muito mais do que uma simples exibição. No entanto, seus pensamentos não estavam apenas no palco. À medida que se preparava para o ato final, ele notou a presença de Vincent Moretti na plateia, um homem que jamais imaginaria encontrar ali. O CEO de uma das maiores corporações de tecnologia do país, conhecido pela sua presença de comando e seu charme enigmático. Ele estava ali, em meio aos convidados de elite, com um olhar fixo, quase hipnotizado, voltado para Axel. Não era a primeira vez que o via entre entre a multidão. Mas naquela noite, algo parecia diferente, os olhares pareciam mais intensos. Vincent não era um homem facilmente impressionado. Tinha uma rotina cercada de reuniões, decisões financeiras e estratégias de mercado. O mundo das artes, especialmente o balé, parecia distante, quase irrelevante, para alguém como ele. Mas isso há alguns meses atrás, antes de descobrir Axel por meio de um amigo em comum. Ele havia o trago para esse mundo e o fez notar a presença daquele rapaz. Estava determinado a ignorar e seguir a vida mas... naquela noite, algo o havia atraído para aquela gala. Algo que ele não conseguia definir, mas que parecia ter a ver com a intensidade da dança e a figura imponente de Axel no palco. A apresentação continuou, e o olhar de Vincent nunca se afastou do rapaz. Ele podia perceber a paixão e a entrega do bailarino em cada movimento. Era como se cada gesto fosse uma conversa, uma história contada sem palavras. Ele sentiu algo dentro de si se mover, uma sensação estranha e desconcertante. Depois do espetáculo, durante o coquetel que seguia nos bastidores, Vincent foi convidado a fazer um tour pelos camarins. Ele estava prestes a se dirigir ao bar, onde a maioria dos convidados estava reunida, quando uma figura familiar apareceu diante dele. Era Axel, agora com o cabelo bagunçado após a apresentação, vestindo uma camisa simples e calças, mas ainda exalando a elegância que tinha no palco.Vincent se aproximou, hesitante, tentando disfarçar o fato de que o observava há algum tempo. Quando Axel o notou, ele sorriu timidamente, mas com uma confiança que imediatamente atraiu o olhar de Vincent. ── Você foi incrível no palco. ── Vincent disse, a voz grave, mas com um tom de admiração genuína. ── Eu... eu não esperava algo tão... intenso. Axel levantou uma sobrancelha, surpreso pela sinceridade na voz de Vincent. Ele estava acostumado a receber elogios vazios, mas havia algo diferente naquele. ── Obrigado ── respondeu, tentando manter a postura profissional, embora seu coração estivesse acelerado. ── É difícil, sabe? Nem todo mundo entende o trabalho por trás da arte. ── Vincent fez uma pausa, observando-o com mais atenção. ── Eu não sou exatamente um entusiasta do balé, ── admitiu, ── mas algo em você... em sua performance, me prendeu. Parece que você não está apenas dançando. Está... vivendo a dança. Axel sentiu um calor repentino tomar conta de seu peito. Não sabia o que era, mas estava claro que algo estava acontecendo. Ele não costumava se abrir para as pessoas, muito menos para figuras como Vincent Moretti, mas havia algo naquela troca de olhares que fazia com que ele se sentisse... vulnerável. ── Eu... agradeço de novo. ── disse Axel, tentando desviar a conversa para algo mais confortável. ── É difícil, às vezes, fazer as pessoas perceberem o que estamos tentando transmitir. Vincent, então, deu um passo à frente, como se algo o estivesse puxando para mais perto de Axel. ── Você tem algo que ninguém mais tem, sabia disso? ── Axel sentiu o impacto daquelas palavras, e por um momento, ficou sem palavras. Ele não sabia o que dizer, e sentiu a tensão entre eles crescer, como uma corrente elétrica que os conectava de maneira invisível. A energia entre eles era palpável. ── Eu... não sei o que você quer dizer... ── disse Axel, tentando manter a compostura, embora sentisse um calor crescente em sua face. Vincent sorriu, mas havia algo de provocador em seu sorriso. ── Eu estou tentando dizer que você tem um jeito de fazer tudo parecer... pessoal. Eu gostaria de entender mais sobre isso. Talvez depois da gala, você tenha tempo para conversar? Tomarmos uns drinks ou até mesmo... quem sabe... Axel olhou para ele, tentando decidir o que fazer. Ele sabia que, em sua posição, uma reação, seja ela qual fosse, com alguém como Vincent não era uma boa ideia. A diferença de mundos entre eles, o status, as responsabilidades, tudo isso era um obstáculo evidente. Mas ao mesmo tempo, algo em Vincent, algo no jeito como ele olhava, fazia Axel querer quebrar todas as regras. ── Talvez... ── respondeu ele, o tom de sua voz mais suave do que gostaria. ── Mas eu... não costumo sair com patrocinadores, senhor Moretti. Vincent deu um sorriso de canto, como se gostasse da resistência de Axel. ── Eu entendo. Mas às vezes, as melhores histórias começam com um pouco de resistência, não é? Axel, sem saber como reagir, olhou para ele por um momento, antes de se afastar lentamente. ── Nos vemos, então. ── E com isso, ele se retirou, mas não pôde deixar de sentir uma estranha mistura de excitação e receio ao pensar em Vincent, que ainda permanecia parado, observando-o com um olhar carregado de intenções não ditas. Enquanto caminhava pelos corredores do teatro, Axel sabia que o que acabara de começar entre ele e Vincent era mais complicado do que qualquer balé que já havia dançado. Era um passo em direção a um romance proibido, algo que ele não podia prever, mas que, de alguma forma, já sentia que não poderia evitar. [•••]Os dias haviam se passado, quase quatro semanas e nada da aparição do homem de presença forte entre a plateia desde aquele dia. Axel chegando a deduzir que era somente "mais um" dentre muitos com palavras bonitas e apenas isso. Talvez tivesse se equivocado ao pensar que ele fosse diferente, que as palavras lhe soassem diferentes naqueles lábios. Mas a questão era: "Por que estou me importando com isso?" Era apenas um de muitos pensamentos que sondavam a cabeça do bailarino. Ele já havia deixado bem claro que não saía com patrocinadores, era um limite a qual ele mesmo não queria ultrapassar. Então, porquê?Axel estava no palco, seu corpo moldado pelo movimento da dança, suas pernas e braços descrevendo formas perfeitas no ar. Mesmo rodeado de pensamentos ele se entregava com intensidade à coreografia, seus músculos tensos e, ao mesmo tempo, fluidos, como se ele fosse uma extensão da música. Cada salto, cada giro, cada gesto parecia ser parte de um único organismo, onde ele e a músic
Depois daquele dia, passou a ser comum os encontros entre o bailarino e o CEO para que tomassem café e conversassem depois das apresentações de Axel, mas nesse dia, o bailarino havia chegado primeiro. Era um dia de folga, pelo menos durante parte do dia e Vincent havia mandado mensagem pra que pudessem se encontrar mais cedo. O café estava quente e aconchegante, o aroma envolvia Axel enquanto ele se acomodava em uma mesa discreta no fundo do pequeno bistrô. Era uma noite fria, e a cidade ainda estava vestida com os últimos vestígios do outono, suas folhas caindo suavemente nas ruas. O ambiente era intimista, com luzes baixas e móveis de madeira que faziam a sensação de conforto invadir até os cantos mais distantes. Tudo parecia calmo, tranquilo... até que Vincent entrou, e o ar ao seu redor se tornou eletrificado.Axel estava sentado, nervoso. Ele não entendia muito bem o que estava acontecendo. Desde que haviam trocado palavras após a apresentação, após aquele primeiro café juntos,
O som suave da chuva batendo nas janelas do apartamento de Axel parecia coincidir com a inquietação que tomava conta de seu peito. Depois do encontro no bistrô, ele havia tentado se distrair com a rotina. Mas, de alguma forma, aquele momento com Vincent continuava martelando em sua mente. Cada palavra dita, cada olhar trocado, fazia com que o desejo se confundisse com o medo, a insegurança. E isso o fez "sumir", já não mais estava indo as apresentações e sempre rejeitava os convites do belo homem de negócios. Ele não sabia mais se estava pronto para aquilo, mas também não conseguia afastar a ideia de que talvez fosse a única chance de se entender, de se libertar das próprias amarras. Às 10 da manhã, o celular de Axel vibrou na mesa. Ele hesitou antes de olhar. O número desconhecido fez seu coração acelerar de forma inexplicável. Com um movimento rápido, ele desbloqueou a tela e leu a mensagem."Axel... Você está em casa?"Vincent, só podiam ser dele. A mensagem simples, sem grandes e
Os dias que se seguiram ao beijo de Vincent ainda estavam frescos na memória de Axel, os olhares curiosos recaíam sobre seu semblante mais iluminado, mais alegre do que costumavam ser. E mesmo sentindo um friozinho na barriga e uma inquietação com todo aquele cochichar, de alguma forma, ele já não sentia tanto o peso da dúvida. A inquietação que o havia consumido durante semanas, entre desejo e medo, entre a promessa de liberdade e o receio do desconhecido e do julgamento, começava a se dissipar. Ele não sabia ao certo o que o esperava, mas algo em seu interior já não se sentia mais preso. Aquelas palavras de Vincent, aquelas promessas silenciosas, haviam tocado algo dentro dele, algo que ele ainda não entendia completamente, mas que sentia se tornar cada vez mais forte para descobrir junto do belo rapaz.A mensagem que ele recebera naquela manhã, tão direta e simples — "Quero te ver. Estou com saudades." — não havia deixado espaço para mais hesitação, pelo contrario, algo dentro de
O dia seguinte àquela noite mágica parecia um sopro de realidade após o turbilhão de sentimentos que Axel e Vincent haviam compartilhado. O bailarino acordou primeiro, lentamente, como se ainda estivesse imerso na névoa de prazeres da noite passada. O quarto estava em um silêncio quase absoluto, a única luz vindo do brilho suave da manhã que filtrava pelas cortinas, iluminando a cama de maneira difusa. Ele estava deitado de lado, com o rosto virado para o travesseiro, e a sensação de ter algo ou alguém ao seu lado ainda permanecia, como uma memória vívida.Quando virou a cabeça, foi então que percebeu: Vincent ainda estava ali. Deitado ao seu lado, sem se mover, com os cabelos bagunçados e a respiração profunda e calma. Havia algo tão tranquilo na imagem dele dormindo, uma aura de poder adormecido e vulnerabilidade que Axel jamais imaginara que veria. O que parecia tão intenso e urgente durante a noite agora parecia suavizado, como se a bruma de desejo tivesse dado lugar a uma paz q