Estrela precisava decidir.
A cada dia que transcorria como postulante, parecia ser tão duro para Estrela. Ela sentia-se presa como um passarinho numa gaiola. Estrela percebeu que não queria mais adiar a ideia de fazer uma faculdade, talvez até quisesse formar uma família. Numa tarde, depois do almoço, ela rezava e, veio-lhe uma imagem a sua mente: ela, o marido, filhos…
Certo dia, ela disse para uma das irmãs quanto queria cursar uma faculdade, então, esta a indagou:
− O que mais você encontra no mundo, Estrela? Alguém com muita ciência ou alguém voltado para Deus?
Estrela apenas abaixou a cabeça, pensando o por que não poderia te
Estrela estava com vinte anos, estudava Psicologia e, pensou por que havia submetido os seus sonhos em nome daquilo que não acreditava. A ideia havia partido dos seus pais que acreditavam que era melhor primeiramente fazer uma faculdade que lhe desse futuro e, submeter a viver os seus sonhos numa outra ocasião, ou seja, cursar primeiramente uma faculdade segura, depois estudar aquilo que de fato lhe faria feliz, “para que não passasse fome”, era o que diziam. E aos poucos, Estrela foi perdendo o desejo de ser Arquiteta ou Veterinária. Desde criança ela costumava imaginar como seria a sua casa, por dentro e, por fora; gostava de assistir programas que mostravam casas de celebridades ou de pessoas anônimas estrangeiras que realizavam o sonho de ter a casa própria. Ela sempre gostou de desenhar como seria a sua futura casa, n&atild
Ela usava uma calça jeans, um coque, pois não tivera tempo de lavar os cabelos, e dar um jeitinho para os cachinhos ficarem viçosos. Estrela colocou o tênis, uma camiseta, um brinco somente com uma pedra e, batom clarinho. Ainda nos tempos da época sem maquiagem, de quando ia ser freira faziam por vezes parte dela. Ah, se houvesse Deus lhe entregado um script do que iria acontecer naquele final de tarde que ela resolveu descer uma rua de terra, na Avenida Rio Branco, para contemplar o rio. Os olhos mais lindos e brilhantes que havia visto e, um sorriso um pouco tímido, mas tão belo e doce. A voz grossa e firme veio de trás. − Com licença, senhorita! Ela havia ouvido isso mesmo? Senhorita?!
Estrela terminou de responder a prova e, sentiu que havia ido bem, apesar daquele domingo que ela havia reservado para estudar, ela não havia pego no livro, porque foi passear com o estrangeiro. Vez ou outra, enquanto todos os seus colegas conversavam, ela recordava-se das conversas com James e, de como ele tocava nas suas mãos. Era como se a faculdade, nada, fosse mais importante do que as conversas simples com ele. Seus pensamentos voaram naquele dia. Quatro dias se passaram e, Estrela ficou imaginando que James provavelmente já teria ido embora de Corumbá. Ele poderia pelo menos ter dito um “tchau” por mensagem no celular antes de partir. No entanto, ele era europeu, e ela não sabia exatamente como as despedidas ocorriam entre os britânicos. Aliás até entre os brasileiros, dependendo, não havia despedidas. Ah, mas que importava, pen
Era sábado, mais um final de semana quente e seco, em que o município se movimentava calmamente, ônibus fugazes passando pelas ruas aleatoriamente, pessoas em frente as suas casas bebendo tereré. Estrela acordou cedo, desmarcou seus compromissos, pois tinha um convite mais que especial. Ficou duas vezes com vergonha: a primeira por ter que dizer que contava moedas e, depois por aceitar que ele pagasse tudo, desde o passeio pelo rio, até o almoço. Um ambiente mais seu, porque afinal ela era a brasileira ali, todavia, James sentia-se mais à vontade que ela, provavelmente porque quase todos que estavam dentro do barco a passeio, eram homens, sejam brasileiros ou estrangeiros, muitos para pescar no Pantanal sul-mato grossense. Estrela sem querer disfarçar, de imediato notou que ele a observava. Estrela usava uma bermuda, uma blusa branca de renda, uma rasteira, e uma mochila nas costas, Estrela abaixou a cabeça, e, sor
Debaixo do Lençol Evelyn e Tiago tinham dezoito anos quando uma catástrofe os tirou o alicerce. Gêmeos, a transição da adolescência não foi nada tranquila devido o acidente de carro de seus pais. Evelyn chorava toda sexta-feira quando se recordava dos pais. A sexta-feira, porque foi nesse dia da semana, quando Tiago e ela estavam na faculdade, que seus pais faleceram tão tragicamente. Além dos diversos pesadelos que a consumiam todas as noites, havia uma dor oculta que tinha a aniquilado durante quatro anos da sua vida. Contudo, aos poucos ela vinha superando, com ajudas de psicólogos e principalmente de Ana e Paulo, melhores amigos dos seus pais, que foi quem lhes deram suporte para quando não sab
E a dor em Evelyn não deixou de existir, mas não mais como antes, que a fazia chorar tanto, e tão bem ela e Tiago conseguiam agora encarar a pintura de família na sala, sem que seus corações sangrassem pelas lembranças. James a fitava, com o olhar vago, e Estrela pensou naquele momento se ele havia prestado atenção ao final da história. Talvez para James, ela não fosse exatamente uma boa contadora de história.− Você gostou da história? Perguntou Estrela meio encolhida.James alteou as sobrancelhas. − Se eu gostei?! Já são quase meia-noite. É claro que eu gostei.&
Ametista e Orquídea foram passar um final de semana com Estrela em Corumbá. Ametista foi dirigindo na estrada, morrendo de medo. E quando faziam isso, aproveitavam para rever os amigos. Geralmente, então, Estrela dormia num colchão inflável no chão, a sua mãe em outro colchão inflável e Orquídea que já era idosa na cama de Estrela. A sua mãe já chegou reclamando que Estrela precisava limpar a casa. − Mãe, eu limpo. Só não limpo todo dia como a senhora. − Meu Deus, você gosta de viver na sujeira. Dizia Ametista. − Nem parece que morou com freiras. Dizia a avó.
O cansaço nos olhos de James era evidente. − Você é um cara disciplinado realmente. − Por que? James perguntou como se estivesse se esforçando para estar inteiro na conversa com Estrela. − Ainda arruma tempo para malhar, mesmo trabalhando muito. − Sim, mas amo esportes... me exercitar. Isso ajuda eu manter uma disciplina. − É mesmo. James estava tão sério, cada sorriso parecia ser forçado. − Estou te atrapalhando. − Oh, não diga, você sabe como eu me sinto quando converso com você. − É que você está mais sério do que de costu