Ela usava uma calça jeans, um coque, pois não tivera tempo de lavar os cabelos, e dar um jeitinho para os cachinhos ficarem viçosos. Estrela colocou o tênis, uma camiseta, um brinco somente com uma pedra e, batom clarinho. Ainda nos tempos da época sem maquiagem, de quando ia ser freira faziam por vezes parte dela.
Ah, se houvesse Deus lhe entregado um script do que iria acontecer naquele final de tarde que ela resolveu descer uma rua de terra, na Avenida Rio Branco, para contemplar o rio. Os olhos mais lindos e brilhantes que havia visto e, um sorriso um pouco tímido, mas tão belo e doce.
A voz grossa e firme veio de trás.
− Com licença, senhorita!
Ela havia ouvido isso mesmo? Senhorita?!
Estrela terminou de responder a prova e, sentiu que havia ido bem, apesar daquele domingo que ela havia reservado para estudar, ela não havia pego no livro, porque foi passear com o estrangeiro. Vez ou outra, enquanto todos os seus colegas conversavam, ela recordava-se das conversas com James e, de como ele tocava nas suas mãos. Era como se a faculdade, nada, fosse mais importante do que as conversas simples com ele. Seus pensamentos voaram naquele dia. Quatro dias se passaram e, Estrela ficou imaginando que James provavelmente já teria ido embora de Corumbá. Ele poderia pelo menos ter dito um “tchau” por mensagem no celular antes de partir. No entanto, ele era europeu, e ela não sabia exatamente como as despedidas ocorriam entre os britânicos. Aliás até entre os brasileiros, dependendo, não havia despedidas. Ah, mas que importava, pen
Era sábado, mais um final de semana quente e seco, em que o município se movimentava calmamente, ônibus fugazes passando pelas ruas aleatoriamente, pessoas em frente as suas casas bebendo tereré. Estrela acordou cedo, desmarcou seus compromissos, pois tinha um convite mais que especial. Ficou duas vezes com vergonha: a primeira por ter que dizer que contava moedas e, depois por aceitar que ele pagasse tudo, desde o passeio pelo rio, até o almoço. Um ambiente mais seu, porque afinal ela era a brasileira ali, todavia, James sentia-se mais à vontade que ela, provavelmente porque quase todos que estavam dentro do barco a passeio, eram homens, sejam brasileiros ou estrangeiros, muitos para pescar no Pantanal sul-mato grossense. Estrela sem querer disfarçar, de imediato notou que ele a observava. Estrela usava uma bermuda, uma blusa branca de renda, uma rasteira, e uma mochila nas costas, Estrela abaixou a cabeça, e, sor
Debaixo do Lençol Evelyn e Tiago tinham dezoito anos quando uma catástrofe os tirou o alicerce. Gêmeos, a transição da adolescência não foi nada tranquila devido o acidente de carro de seus pais. Evelyn chorava toda sexta-feira quando se recordava dos pais. A sexta-feira, porque foi nesse dia da semana, quando Tiago e ela estavam na faculdade, que seus pais faleceram tão tragicamente. Além dos diversos pesadelos que a consumiam todas as noites, havia uma dor oculta que tinha a aniquilado durante quatro anos da sua vida. Contudo, aos poucos ela vinha superando, com ajudas de psicólogos e principalmente de Ana e Paulo, melhores amigos dos seus pais, que foi quem lhes deram suporte para quando não sab
E a dor em Evelyn não deixou de existir, mas não mais como antes, que a fazia chorar tanto, e tão bem ela e Tiago conseguiam agora encarar a pintura de família na sala, sem que seus corações sangrassem pelas lembranças. James a fitava, com o olhar vago, e Estrela pensou naquele momento se ele havia prestado atenção ao final da história. Talvez para James, ela não fosse exatamente uma boa contadora de história.− Você gostou da história? Perguntou Estrela meio encolhida.James alteou as sobrancelhas. − Se eu gostei?! Já são quase meia-noite. É claro que eu gostei.&
Ametista e Orquídea foram passar um final de semana com Estrela em Corumbá. Ametista foi dirigindo na estrada, morrendo de medo. E quando faziam isso, aproveitavam para rever os amigos. Geralmente, então, Estrela dormia num colchão inflável no chão, a sua mãe em outro colchão inflável e Orquídea que já era idosa na cama de Estrela. A sua mãe já chegou reclamando que Estrela precisava limpar a casa. − Mãe, eu limpo. Só não limpo todo dia como a senhora. − Meu Deus, você gosta de viver na sujeira. Dizia Ametista. − Nem parece que morou com freiras. Dizia a avó.
O cansaço nos olhos de James era evidente. − Você é um cara disciplinado realmente. − Por que? James perguntou como se estivesse se esforçando para estar inteiro na conversa com Estrela. − Ainda arruma tempo para malhar, mesmo trabalhando muito. − Sim, mas amo esportes... me exercitar. Isso ajuda eu manter uma disciplina. − É mesmo. James estava tão sério, cada sorriso parecia ser forçado. − Estou te atrapalhando. − Oh, não diga, você sabe como eu me sinto quando converso com você. − É que você está mais sério do que de costu
O Mistério do Tempo Há algcos aventureiros. Rudolf costumava dizer que queria estar entre os primeiros navegadores durante o povoamento das Américas pelos europeus. Já Alan dizia querer ter sido um cavaleiro medieval. uns anos atrás, por volta de 1980, dois amigos aventureiros, Rudolf e Alan, vieram para o Pantanal para explorá-lo. Rudolf era holandês e Alan era brasileiro. Ambos haviam se conhecido em um curso de intercâmbio na Inglaterra. E ambos também estavam acostumados a fazer trilhas, saltar de asa delta e paraquedas, escalar e descer morros e montanhas. Eram realmente os clássicos aventureiros. Rudolf costumava dizer que queria estar entre os primeiros navegadores durante o povoamento das Américas pelos europeus. Já Alan dizia querer ter sido um
Estrela gritou de alegria quando soube que finalmente iria fazer intercâmbio na Inglaterra. Iria ficar hospedada na casa dos seus tios Alberto e Mariana. Segundo Ametista, sua tia estava feliz em ter uma parente próxima deles e, mais feliz estava Estrela porque iria ficar próximo de James. Na verdade, eles haviam conseguido o curso de graça para Estrela com alguns amigos brasileiros proprietários da escola de idiomas, deram a Estrela o curso mais uma bolsa para transporte público, que fazia parte de um programa estudantil governamental, onde o estudadente só deveriam arcar com os custos da viagem e de situações extras no país. Depois de tantas reclamações de Estrela, para Ametista essa era uma oportunidade de Estrela possuir uma boa formação que com certeza lhe seria útil no futuro, além de ser o tempo para pensar o que realmente iria fazer da vida. E Estrela mais do que nunca gostava daquele rapaz, não podia ser ironia do acaso, justamente ter surgido es