**Elena**Liguei para o Cristhian, desesperada, pela milésima vez. Mil vezes! E o idiota não atendia. Desliguei o telefone com tanta raiva que quase quebro a tela. Respirei fundo, tentando me acalmar, mas foi inútil. O pior não era ele não atender; o pior era saber onde ele estava, e isso me deixava ainda mais louca. Abri o aplicativo que usava para rastrear o celular dele. Sim, eu o rastreava, e daí? Cristhian não podia ter segredos comigo. O telefone mostrava a localização exata dele, e ele estava longe, muito longe.O apartamento estava em completo silêncio, só se ouvia o eco dos meus saltos no piso de mármore. Apesar de toda a sua elegância, aquele lugar sempre me pareceu vazio, impessoal. Glamurosos, sim, como tudo o que ele tinha, mas frios. As cortinas de veludo vermelho, as obras de arte que ele nunca olhava, o sofá de couro italiano onde ninguém se sentava. Era como se cada canto daquele apartamento gritasse o que eu sentia por dentro: solidão. Mas não uma solidão triste, não
**Elena**A porta continuava fechada, e a paciência que eu nunca tive estava se esgotando. O ar úmido entrava por baixo da minha jaqueta, mas eu ignorei. Isso não importava. O que não dava para ignorar era a imagem do Cristhian lá dentro, com ela. Eu sabia que ele estava com alguém, sentia isso nos meus ossos, e se ele não abrisse aquela maldita porta logo, eu ia arrombá-la eu mesma.Bati mais forte, dessa vez.—¡Cristhian! ¡Abre essa maldita porta!O vento ria de mim, me fazendo me sentir estúpida por estar ali, batendo como uma louca, mas não me importava. Eu não era a louca. Ele era o idiota.Finalmente, a porta se abriu. E claro, tinha que ser ela. Rubí, com aquela cara de "estou acima de tudo" que me fazia ferver de raiva. O que ela pensava que era? Nem tentou disfarçar, ficou ali na porta, sorrindo. Sorrindo.—¿Elena? —ela disse com uma voz que me deu vontade de arrancar da garganta. Ela sorria como se não fosse a razão de tudo na minha vida estar desmoronando. Como se fosse tão
**Sarah**O ar frio me atingiu quando saí da cabana, e a chuva escorria pelos vidros da janela, como se o mundo exterior sentisse pena do meu tormento interno. O motorista havia deixado o carro e pegado um táxi, me deixando sozinha com meus pensamentos. Cada curva do volante parecia me afastar mais da cabana, e de Cristhian, mas também me aproximava mais das minhas lembranças.Enquanto dirigia, o telefone vibrou no banco do passageiro. Uma ligação de Xavier. Sua voz, sempre firme e controlada, ecoou nos meus ouvidos.— Tive que voltar mais cedo, Rubí. Tem algumas coisas que preciso resolver.A palavra "coisas" me deu um calafrio. Era assim que ele costumava falar, como se o mundo girasse em torno dele e todos nós tivéssemos que nos ajustar à sua agenda. Mesmo assim, tentei manter a calma.— Tudo bem. Te espero em casa.Desliguei, sentindo que cada palavra dita se afastava de mim, como se cada vez que falava com ele, uma parte de mim desaparecesse. Quando cheguei em casa, a solidão me
*Xavier**O silêncio do escritório é perfeito, tão impecável quanto o tapete de lã tibetana sob meus pés, uma peça que custou mais do que alguém do meu passado poderia imaginar. As paredes estão adornadas com obras de arte exclusivas, mas há uma em particular, uma pintura do Renascimento, que ocupa um lugar especial. Eu a comprei em um leilão privado, depois de uma feroz competição com colecionadores que claramente não sabiam com quem estavam lidando. O couro italiano da minha cadeira estala sob meu peso enquanto observo a cidade pela janela. Tudo o que vejo daqui, eu conquistei, peça por peça.— Feito, senhor Xanders — a voz de Julius me tira dos meus pensamentos.Não levanto os olhos da pequena escultura de bronze na minha mesa, uma daquelas edições limitadas que alguns chamariam de "minimalista". Mas o preço dela seria suficiente para alimentar uma família por meses. É irônico.— Feito, senhor Xanders — diz Julius, meu empregado mais leal, depois de desligar o telefone.Assinto, ma
**Xavier**O telefone tocava enquanto eu esperava pacientemente, mas, na minha mente, já contava os segundos. Três toques até Rubí atender. Ela costumava ser mais rápida, mais eficiente nisso. O que estava demorando tanto?— Alô, Xavier — disse, finalmente, com a voz tranquila de sempre, embora não o suficiente para me enganar. Havia algo... uma tensão. Achava que eu não perceberia?— Olá, Rubí — respondi, deixando minha voz soar amigável, como se fosse uma conversa qualquer. Mas não era. — Como vão as coisas?Houve uma pausa. Isso não era comum nela. Nada dramático, mas era o tipo de coisa que sempre percebia. Finalmente, ela falou:— Está tudo bem. — O tom dela estava tão natural, tão perfeitamente ensaiado, que quase podia acreditar. — Acabei de sair da reunião de pais... e, bom, me escolheram presidente da comissão da festa de fim de ano.Ouvi sua risada, leve, encantadora. A mesma risada que enganava todo mundo, menos a mim. Porque eu sabia o que ela não dizia.— Claro que te esc
*Ryan**A manhã tinha passado como um sussurro entre meus pensamentos, e eu me encontrava em um hotel, me refugiando da tensão familiar que tinha explodido desde que enviei o vídeo. Desde então, todos em casa se tornaram sombras, me evitando com uma destreza que me fazia sentir como um estranho na minha própria família. Então, decidi me afastar, procurar inspiração para a próxima aventura que estava planejando e, quem sabe, encontrar um novo lugar onde escrever.A cafeteria era um cantinho aconchegante, cheio de aromas de café recém-feito e doces. Me sentei em uma mesa no canto, abrindo meu laptop enquanto observava as pessoas passarem. O som das conversas se misturava com a música suave, criando uma atmosfera perfeita para deixar a imaginação voar. Mas aquela tranquilidade foi quebrada quando eu o vi.Um homem entrou, vestido de maneira elegante, com um casaco preto e gravata. Ele não se encaixava no ambiente relaxado da cafeteria. Seus movimentos eram muito precisos, como se estives
***Sarah***O dia começou com uma ansiedade que me envolvia, como se o universo inteiro estivesse prendendo a respiração ao meu redor. Xavier não tinha voltado para o jantar na noite anterior, como prometeu, e essa incerteza me deixava inquieta. Eu tinha que enfrentar a rotina, mas hoje era diferente: era o dia da primeira reunião da comissão de pais. Sentia a necessidade de me agarrar ao meu papel, de ser forte.Ao chegar à escola, deixei Addy com a auxiliar na entrada, sentindo o nó no meu estômago se apertar. Caminhei até a secretaria com um objetivo claro, embora minhas mãos estivessem tremendo um pouco.— Você poderia me dizer em qual sala será a reunião da comissão de fim de ano? — perguntei, me esforçando para manter a voz firme.A secretária levantou o olhar, sorrindo com compreensão.— Sala B7.Não fazia ideia de onde ficava essa sala, mas vi que faltava uma hora para a reunião e decidi aproveitar o tempo. Minha mente se concentrou imediatamente em Zacky. Eu precisava vê-lo,
*** Ryan ***Eu tinha esquecido que o Julius estava usando um fone de ouvido, então, quando a ligação entrou, ele ouviu o som da chamada. Não demorou muito para ele voltar à cafeteria; parecia bem agitado, como se sua vida dependesse de recuperar aquele telefone. Por um momento, pensei em esconder o aparelho, mas já era tarde; ele me viu e, mesmo que não tivesse notado que o telefone estava nas minhas mãos, um movimento brusco me daria a certeza de que eu estava escondendo algo. Em vez disso, fiz um sinal levantando o telefone.— Você esqueceu o seu celular — falei, me levantando enquanto ele se aproximava —. Eu estava quase saindo correndo para te levar.Uma camada de suor brilhava na testa dele, e não pude evitar sentir um pouco de empatia pela situação dele. Eu entendia o quanto era irritante perder um celular: os contatos, as fotos, os documentos. Todo um mundo digital, em risco num piscar de olhos, se não tivesse feito um backup. Mas a preocupação dele parecia ir além de perder a