*Ryan**A manhã tinha passado como um sussurro entre meus pensamentos, e eu me encontrava em um hotel, me refugiando da tensão familiar que tinha explodido desde que enviei o vídeo. Desde então, todos em casa se tornaram sombras, me evitando com uma destreza que me fazia sentir como um estranho na minha própria família. Então, decidi me afastar, procurar inspiração para a próxima aventura que estava planejando e, quem sabe, encontrar um novo lugar onde escrever.A cafeteria era um cantinho aconchegante, cheio de aromas de café recém-feito e doces. Me sentei em uma mesa no canto, abrindo meu laptop enquanto observava as pessoas passarem. O som das conversas se misturava com a música suave, criando uma atmosfera perfeita para deixar a imaginação voar. Mas aquela tranquilidade foi quebrada quando eu o vi.Um homem entrou, vestido de maneira elegante, com um casaco preto e gravata. Ele não se encaixava no ambiente relaxado da cafeteria. Seus movimentos eram muito precisos, como se estives
***Sarah***O dia começou com uma ansiedade que me envolvia, como se o universo inteiro estivesse prendendo a respiração ao meu redor. Xavier não tinha voltado para o jantar na noite anterior, como prometeu, e essa incerteza me deixava inquieta. Eu tinha que enfrentar a rotina, mas hoje era diferente: era o dia da primeira reunião da comissão de pais. Sentia a necessidade de me agarrar ao meu papel, de ser forte.Ao chegar à escola, deixei Addy com a auxiliar na entrada, sentindo o nó no meu estômago se apertar. Caminhei até a secretaria com um objetivo claro, embora minhas mãos estivessem tremendo um pouco.— Você poderia me dizer em qual sala será a reunião da comissão de fim de ano? — perguntei, me esforçando para manter a voz firme.A secretária levantou o olhar, sorrindo com compreensão.— Sala B7.Não fazia ideia de onde ficava essa sala, mas vi que faltava uma hora para a reunião e decidi aproveitar o tempo. Minha mente se concentrou imediatamente em Zacky. Eu precisava vê-lo,
*** Ryan ***Eu tinha esquecido que o Julius estava usando um fone de ouvido, então, quando a ligação entrou, ele ouviu o som da chamada. Não demorou muito para ele voltar à cafeteria; parecia bem agitado, como se sua vida dependesse de recuperar aquele telefone. Por um momento, pensei em esconder o aparelho, mas já era tarde; ele me viu e, mesmo que não tivesse notado que o telefone estava nas minhas mãos, um movimento brusco me daria a certeza de que eu estava escondendo algo. Em vez disso, fiz um sinal levantando o telefone.— Você esqueceu o seu celular — falei, me levantando enquanto ele se aproximava —. Eu estava quase saindo correndo para te levar.Uma camada de suor brilhava na testa dele, e não pude evitar sentir um pouco de empatia pela situação dele. Eu entendia o quanto era irritante perder um celular: os contatos, as fotos, os documentos. Todo um mundo digital, em risco num piscar de olhos, se não tivesse feito um backup. Mas a preocupação dele parecia ir além de perder a
Sarah é RubíRubí e SarahNa penumbra da cabana, estou perdida nos meus pensamentos, a chuva batendo no telhado como um batimento ansioso. Me sinto presa entre dois mundos: o da mulher que fui e o da mulher que desejo ser. Mas, de repente, é como se um espírito que coexiste no meu corpo saísse dele. É uma mulher com cicatrizes no rosto, cabelo bagunçado, os olhos rodeados de olheiras. Faz tanto tempo que não via esse rosto no reflexo do espelho. É Sarah, a parte de mim que ficou oculta, ali, expectante, esperando para ouvir o que tenho a dizer. E é como conversar com uma pessoa diferente de mim, mas ao mesmo tempo sendo dona de um eco de lembranças e emoções que são tanto dela quanto minhas e que não desapareceram.Sarah, você sempre desejou vingança, ela diz, minha voz quase um sussurro. Mas eu... não tenho certeza de que é isso que realmente quero. Às vezes, sinto que todo esse ódio está me consumindo. Será que realmente precisamos machucá-los?Por que duvida, Rubí? pergunta Sarah,
Caminhava alguns passos atrás de Cristhian. De longe, vi Ryan acenando com a mão para que o víssemos onde estava, ou pelo menos para que Cristhian o visse. Eu não devia estar ali, percebi isso no instante em que Ryan me olhou. Seu rosto mostrava surpresa, o que era normal, mas também frustração. Na hora, soube que ele queria falar a sós com o irmão. Comecei a caminhar devagar, quase sem perceber, arrependida de ter ido a esse encontro. —Como vai, Rubí? —ele me perguntou depois de cumprimentar Cristhian. Algo no jeito como ele me olhou e falou comigo estava diferente desde a última vez que nos vimos. Seus olhos verdes estavam cheios de suspeita e curiosidade. Lembrei que Xavier queria que nos aproximássemos de Ryan, por isso eu aceitei o convite de Cristhian para almoçarmos juntos. Mas algo dentro de mim sabia que Ryan estava me encarando de outro jeito. Por quê? Eu não sabia. E se fosse ele? E se era ele a pessoa que me ligou dizendo que sabia o meu segredo? E se ele tinha chamado C
Melissa Eu não via o Richard desde a festa de aniversário do Ryan. Naquele momento, eu queria não ter organizado nenhuma festa, ou talvez tê-la feito, mas com o Ryan, como nos anos anteriores, decidindo não aparecer. Meu coração ficaria um pouco triste com sua ausência, é claro, mas já tinha me acostumado com essa dor. Só que, naquele ano, Ryan decidiu ir. Fiquei tão feliz de ter meu filho de volta em casa! Era como a história do filho pródigo: meu menino, que escolheu explorar o mundo, tinha retornado. Mas a que custo? Ryan tinha feito o que era certo, ele sempre teve um senso de justiça bem apurado. Mas, às vezes, ele não entendia que fazer a coisa certa ou dizer a verdade podia machucar mais do que uma mentira ou um segredo. Ele precisava aprender que nem tudo é preto no branco; existem tons de cinza, zonas que a gente não entende, mas que precisam existir para manter o equilíbrio. — Richard. — Dei algumas batidas leves na porta do escritório dele. Nenhuma resposta. Desde q
A porta se abriu com um rangido leve e, assim que dei um passo para fora, esbarrei de frente com alguém.Melissa Vandervert.Meu estômago deu um nó imediato.—Merda! —murmurei entre os dentes, sentindo meu coração disparar.Lá estava ela, bem na minha frente, impecável como sempre, com o cabelo perfeitamente arrumado e aquele olhar duro. Os olhos de Melissa perfuravam os meus, indo do meu rosto até a porta atrás de mim, a porta do escritório do marido dela, Richard. Tudo aconteceu em um segundo, mas pareceu uma eternidade.—Elena. —A voz dela cortou o ar como gelo, cheia de tensão, me fazendo arrepiar dos pés à cabeça.Minha boca secou. Engoli em seco, tentando recuperar o controle. O momento perfeito, claro! De todos os dias e horários possíveis, Melissa tinha que aparecer justo agora, no exato minuto em que eu saía do escritório do marido dela. Que sorte a minha!—Melissa... —tentei dizer o nome dela com calma, mas foi impossível disfarçar o nervosismo. Tentei sorrir, mas sabia que
**Sara** O celular do Cristhian tocou, quebrando o silêncio tenso que, pra mim, parecia ter durado uma eternidade. — Diz logo, o que você quer de mim? — soube na hora que era a Elena. Ela devia estar ligando pra ele sem parar desde o momento em que saímos daqui. — Me dá um minuto — ele sussurrou pra gente, se afastando. Eu soltei um suspiro aliviado; seja lá o que o Ryan estivesse prestes a contar pro Cristhian, agora tinha sido interrompido. Isso me dava mais um pouco de tempo antes que tudo fosse descoberto. Ryan seguiu Cristhian com o olhar, esperando ele se afastar o suficiente, e então virou pra mim. Naquele momento, senti um calafrio correr por todo o meu corpo. — Não vai perguntar o que eu ia contar pro Cristhian sobre o seu marido? — ele disparou, com aquele olhar cheio de curiosidade maliciosa. — Acho que, seja lá o que for, você devia esperar o Cristhian voltar pra falar disso — respondi, tentando parecer calma, mesmo com o coração disparado. — Você realmente não