Caminhava alguns passos atrás de Cristhian. De longe, vi Ryan acenando com a mão para que o víssemos onde estava, ou pelo menos para que Cristhian o visse. Eu não devia estar ali, percebi isso no instante em que Ryan me olhou. Seu rosto mostrava surpresa, o que era normal, mas também frustração. Na hora, soube que ele queria falar a sós com o irmão. Comecei a caminhar devagar, quase sem perceber, arrependida de ter ido a esse encontro. —Como vai, Rubí? —ele me perguntou depois de cumprimentar Cristhian. Algo no jeito como ele me olhou e falou comigo estava diferente desde a última vez que nos vimos. Seus olhos verdes estavam cheios de suspeita e curiosidade. Lembrei que Xavier queria que nos aproximássemos de Ryan, por isso eu aceitei o convite de Cristhian para almoçarmos juntos. Mas algo dentro de mim sabia que Ryan estava me encarando de outro jeito. Por quê? Eu não sabia. E se fosse ele? E se era ele a pessoa que me ligou dizendo que sabia o meu segredo? E se ele tinha chamado C
Melissa Eu não via o Richard desde a festa de aniversário do Ryan. Naquele momento, eu queria não ter organizado nenhuma festa, ou talvez tê-la feito, mas com o Ryan, como nos anos anteriores, decidindo não aparecer. Meu coração ficaria um pouco triste com sua ausência, é claro, mas já tinha me acostumado com essa dor. Só que, naquele ano, Ryan decidiu ir. Fiquei tão feliz de ter meu filho de volta em casa! Era como a história do filho pródigo: meu menino, que escolheu explorar o mundo, tinha retornado. Mas a que custo? Ryan tinha feito o que era certo, ele sempre teve um senso de justiça bem apurado. Mas, às vezes, ele não entendia que fazer a coisa certa ou dizer a verdade podia machucar mais do que uma mentira ou um segredo. Ele precisava aprender que nem tudo é preto no branco; existem tons de cinza, zonas que a gente não entende, mas que precisam existir para manter o equilíbrio. — Richard. — Dei algumas batidas leves na porta do escritório dele. Nenhuma resposta. Desde q
A porta se abriu com um rangido leve e, assim que dei um passo para fora, esbarrei de frente com alguém.Melissa Vandervert.Meu estômago deu um nó imediato.—Merda! —murmurei entre os dentes, sentindo meu coração disparar.Lá estava ela, bem na minha frente, impecável como sempre, com o cabelo perfeitamente arrumado e aquele olhar duro. Os olhos de Melissa perfuravam os meus, indo do meu rosto até a porta atrás de mim, a porta do escritório do marido dela, Richard. Tudo aconteceu em um segundo, mas pareceu uma eternidade.—Elena. —A voz dela cortou o ar como gelo, cheia de tensão, me fazendo arrepiar dos pés à cabeça.Minha boca secou. Engoli em seco, tentando recuperar o controle. O momento perfeito, claro! De todos os dias e horários possíveis, Melissa tinha que aparecer justo agora, no exato minuto em que eu saía do escritório do marido dela. Que sorte a minha!—Melissa... —tentei dizer o nome dela com calma, mas foi impossível disfarçar o nervosismo. Tentei sorrir, mas sabia que
**Sara** O celular do Cristhian tocou, quebrando o silêncio tenso que, pra mim, parecia ter durado uma eternidade. — Diz logo, o que você quer de mim? — soube na hora que era a Elena. Ela devia estar ligando pra ele sem parar desde o momento em que saímos daqui. — Me dá um minuto — ele sussurrou pra gente, se afastando. Eu soltei um suspiro aliviado; seja lá o que o Ryan estivesse prestes a contar pro Cristhian, agora tinha sido interrompido. Isso me dava mais um pouco de tempo antes que tudo fosse descoberto. Ryan seguiu Cristhian com o olhar, esperando ele se afastar o suficiente, e então virou pra mim. Naquele momento, senti um calafrio correr por todo o meu corpo. — Não vai perguntar o que eu ia contar pro Cristhian sobre o seu marido? — ele disparou, com aquele olhar cheio de curiosidade maliciosa. — Acho que, seja lá o que for, você devia esperar o Cristhian voltar pra falar disso — respondi, tentando parecer calma, mesmo com o coração disparado. — Você realmente não
CristhianNunca soube lidar com minhas emoções. Sempre foi mais fácil construir uma muralha entre o mundo e eu, um escudo de frieza que me mantinha longe de tudo que realmente importava. Mas agora, dirigindo sem rumo pelas ruas desertas, com o peito esmagado por uma angústia sufocante, me perguntava se essa muralha tinha desmoronado.Elena tinha ligado mais uma vez. Por semanas, ignorei todas as tentativas dela de entrar em contato, mas naquela tarde, enquanto estava sentado no restaurante com a Rubí e o Ryan, algo me fez atender. O nome dela apareceu na tela do celular, e uma parte de mim, que eu achava que tinha morrido, decidiu que precisava ouvir o que ela tinha a dizer.A voz dela, trêmula e suplicante, me atravessou como uma faca. —Cristhian, por favor... me perdoa. Não consigo viver com isso—. Enquanto falava, as palavras dela viraram um redemoinho de desespero. Eu a rejeitava, mas não conseguia evitar sentir o peso daquela dor me atingindo do outro lado da linha, apertando meu
—Te garanto, isso é só mais uma cena dramática da Elena —disse Ryan com um tom de exasperação, enquanto via Cristhian se afastar.—Você acha mesmo que ela faria algo assim só pra chamar atenção? —perguntei, e Ryan se recostou na cadeira.—Com certeza. Você não faz ideia de quantas vezes ela já fez isso. A Elena é instável, sabe? —as palavras dele eram duras, mas tinham um tom de resignação—. Mas sei lá, não acho que ela seja uma pessoa ruim. Vamos pedir uma garrafa de vinho? —sugeriu, e eu concordei.Ryan pegou a garrafa e serviu duas taças. O líquido vermelho escorria devagar, enquanto eu tentava afastar da mente a expressão de Cristhian ao receber a notícia sobre Elena. Aquela cena tinha sido perfeita para desviar o foco da conversa, mas sabia que não ia durar muito. Ryan não era fácil de distrair.Assenti, olhando para o vinho na minha taça, sem coragem de encará-lo. Instável. Aquela palavra ecoava na minha cabeça. Apesar de tudo, eu não conseguia odiar Elena. Não ela. Ela não era
Ao sair da trattoria, fiquei surpresa ao ver o sol se pondo. Tinha perdido totalmente a noção do tempo enquanto bebia vinho e ria das histórias engraçadas do Ryan. Olhei o horário, assustada. Eram só cinco da tarde, que alívio! Ainda dava tempo de buscar a Addy. Liguei para a babá e pedi que fosse buscá-la. Eu devia um monte de favores para aquela pobre garota, embora ela provavelmente estivesse bem satisfeita com os cheques gordos que recebia pelas horas e favores extras.Fiquei esperando o Ryan dentro de uma padaria com janelas enormes, que me davam uma visão estratégica da rua. Quando o vi saindo, senti uma pontada de pena. O Xavier tinha colocado os olhos nele, e Ryan tinha conseguido se defender. Isso não era algo que Xavier deixava passar. Quem cruzava o caminho dele acabava pagando caro.Segui Ryan a uma distância segura, o suficiente para não perdê-lo de vista. Não consegui evitar um sorriso ao vê-lo cambalear enquanto andava. Seus passos desajeitados pareciam os de uma crianç
*Elena*Eu nunca fui boa em pedir desculpas, mas ali estava eu, presa nesse quarto de hospital frio e estéril, onde o cheiro de desinfetante me dava vontade de vomitar. A luz branca iluminava cada canto, destacando as imperfeições da minha pele, e o barulho monótono das máquinas me lembrava que ainda estava viva. Mas a verdade era que eu me sentia mais morta do que nunca. Olhei para Cristhian, parado ao lado da janela, com o olhar perdido no horizonte. Ele era como um desastre lindo, e eu estava ali, pronta para estragar tudo ainda mais.— Cris, preciso que você me escute — eu disse, com a voz saindo mais firme do que eu realmente me sentia. Apesar de tudo que tinha acontecido, estava pronta para que ele me mandasse para o inferno. Ele virou a cabeça, os olhos duros, mas havia algo em sua expressão que me dizia que ele estava disposto a ouvir, mesmo que não quisesse admitir. Respirei fundo e decidi que não dava mais para esconder nada. — O que aconteceu entre o Richard e eu... tud