Jaqueline riu friamente: — Você acha que isso é justo com a Ângela? Ela está no hospital esperando que você se divorcie. Você prometeu a ela várias vezes e quebrou a promessa todas as vezes. Já pensou nos sentimentos dela? Se você não se divorciar de mim, como vai ficar com ela? — Fique tranquila, vou resolver tudo com a Ângela. — Roberto ajeitou os punhos da camisa calmamente e respondeu, com indiferença. — Mesmo que eu não me divorcie de você, ainda assim posso me casar com a Ângela. Entre nós dois, só há uma relação de fachada. Você pode continuar sozinha, enquanto eu e Ângela seguimos nossas vidas como sempre. — Roberto, você é desprezível demais! — George explodiu de raiva, o rosto dele ardia de indignação. — Agindo assim, você está sendo injusto tanto com a Jaqueline quanto com a Ângela. Está machucando os dois lados. Você é um completo canalha! — Eu sou mesmo um canalha! — Roberto encarou George com um olhar frio e zombeteiro. — Já que as coisas chegaram a esse ponto, qu
Jaqueline caminhava lentamente em direção ao carro esportivo de Roberto. Sem hesitar, abriu a porta do passageiro e se sentou. Roberto virou a cabeça em sua direção, lançando a ela um olhar frio e distante, rígido, com uma expressão glacial que parecia cortar o ar. — Coloque o cinto de segurança. — Ele ordenou, com a voz carregada de indiferença. Antes, ele mesmo teria estendido a mão para ajudá-la com o cinto, mas dessa vez, se limitou a emitir a instrução. O relacionamento entre eles já havia, pouco a pouco, despencado para o fundo de um abismo sem retorno. Jaqueline, atônita, obedeceu, ajustando o cinto enquanto se encostava, desamparada, no banco. Olhou para o retrovisor e viu uma figura solitária parada na escuridão da noite. A pessoa parecia preocupada, mas permaneceu imóvel. Fechando os olhos com dor, Jaqueline virou o rosto, tentando afastar seus pensamentos. George ficou parado, observando o carro partir até que as luzes desapareceram ao longe. Atrás dele, o so
Jaqueline viu Roberto com uma expressão sombria, como se estivesse prestes a jogá-la escada abaixo. Se fosse antes, ela teria certeza de que Roberto nunca faria algo assim. Mas agora a situação era diferente. Aquele homem parecia capaz de qualquer coisa. Ele realmente poderia jogá-la escada abaixo. "Ele parou aqui de repente. Será que não é exatamente isso que está pensando? Por que mais ele pararia aqui?", ela pensou. Roberto a encarou em silêncio por um longo momento. Seus olhos negros eram tão profundos que não deixavam transparecer nenhuma emoção, como um mar escuro, frio e sem fim. Jaqueline engoliu em seco, com o coração batendo descompassado. Ela estava realmente com medo. Seus olhos lançaram um olhar furtivo para as escadas, degrau por degrau. Se ele a jogasse dali, ela provavelmente perderia metade da vida, e o bebê em seu ventre também. Comparada a Roberto, ela era frágil demais. Não tinha a menor chance de competir com a força dele. Se ele quisesse jogá-la, faria
A resistência física dele sempre foi muito boa. Jaqueline, em seus braços, já estava se sentindo um pouco exausta, mas não havia nenhum sinal de cansaço no rosto do homem. Depois de um longo tempo, Roberto desviou o olhar do rosto dela e, segurando ela, saiu dali. Ele a carregou durante todo o caminho de volta para o quarto e a colocou diretamente na cama. Seus movimentos eram um tanto bruscos, mas a cama era tão macia que ela não sentiu nenhum desconforto. No entanto, as ações dele deixavam claro que estava muito irritado. Roberto ainda vestia o terno, mas sem gravata. Ele desabotoou alguns botões da camisa na altura do peito, revelando seu tórax musculoso que subia e descia de forma perceptível. Com as mãos apoiadas na cintura, ele encarou a mulher na cama com um olhar frio. Ele parecia prestes a dizer algo, mas, ao ver a expressão de susto de Jaqueline, que estava agarrada ao cobertor, hesitou. Cerrando os dentes, abaixou as mãos e tirou o paletó com um gesto impaciente, o
Jaqueline virou rapidamente o corpo para o lado, se afastando dele com uma expressão de alerta. — O que você está fazendo? — Você não disse para eu descansar? Este é o meu quarto, a minha cama, é claro que eu vou deitar! O homem, normalmente sério, naquele momento parecia um completo malandro, sem o menor pudor. Ainda assim, havia algo em sua atitude desleixada que carregava um toque de charme irresistível. — Você... — Jaqueline sentiu vontade de repreendê-lo, mas, para sua frustração, não conseguiu encontrar razões plausíveis para contradizê-lo. Afinal, aquela realmente era a casa dele. Assim que se divorciassem, ela sairia dali. — Ok, já que este é o seu quarto, então fique aqui e durma. Eu vou embora. Ela decidiu passar a noite no quarto de hóspedes. Para ela, tanto fazia onde dormir naquela última noite. Jaqueline e Roberto já estavam em pé de guerra há tempos, e nada mais importava. Quando estava prestes a sair da cama, sentiu uma mão firme segurando seu pulso.
Ela deslizou os dedos suavemente sobre aquela cicatriz superficial, e uma pontada atravessou seu coração. A cena caótica invadiu sua mente de forma involuntária: ele tinha avançado sem hesitar. Ela não conseguia esquecer o mal que Roberto lhe fez, mas também não conseguia esquecer o bem. Essa mistura de bondade e crueldade era, sem dúvida, um tormento doloroso e conflituoso. Ela preferia ser desprovida de consciência, se lembrar apenas das coisas boas e esquecer as ruins. Ou, então, se lembrar apenas das coisas ruins, esquecer as boas e se transformar em alguém extremamente furiosa. Mas, ironicamente, ela não conseguia ser tão simples, nem tão extrema. Ela permanecia no meio-termo, se lembrando tanto das coisas boas quanto das ruins. Por isso, oscilava entre um lado e outro, sem um posicionamento firme. No fim, quem mais acabava machucada era ela mesma. Roberto segurou a mão dela. Ao notar a tristeza nos olhos daquela mulher, sentiu uma pontada no peito, como se uma sen
Ela simplesmente não entendeu por que Roberto, de repente, fez aquela pergunta. Mesmo que ela tivesse tido esse tipo de pensamento, o que isso importava para ele? Ele, afinal, também não havia tido pensamentos equivocados sobre ela, acreditando que fosse uma mulher cheia de maldade? Roberto, de repente, sorriu, mas o sorriso dele era extremamente sarcástico. — É verdade. Eu queria mesmo te jogar lá de cima, te deixar em pedaços. Já que ela pensava assim, ele não tinha mais nada a explicar. A distância entre eles era muito maior do que qualquer explicação poderia reduzir. Quando o divórcio finalmente acontecesse, tudo estaria terminado. Essas situações confusas e emaranhadas nunca mais ocorreriam. Ela não podia enfrentá-lo, mas ao menos poderia se afastar dele, não era? Jaqueline se virou de lado na cama, mordendo o dedo enquanto grossas lágrimas escorriam de seus olhos, caindo uma a uma. ... No dia seguinte. Era o dia do divórcio. Os dois levantaram cedo e tomaram c
O que deve terminar sempre termina. Não importa quantas reviravoltas ou surpresas aconteçam antes, nada disso pode mudar o desfecho.Finalmente, ela não era mais a Sra. Santana, não era mais a esposa de Roberto. Roberto se tornaria o marido de Ângela. Jaqueline permaneceu em silêncio por um longo tempo, incapaz de expressar seus sentimentos naquele momento. Era difícil descrever o que sentia, como se algo dentro dela tivesse sido arrancado. Chamar isso de dor parecia exagerado, mas dizer que não doía seria uma mentira. Ela sentia como se sua alma tivesse desaparecido. Talvez isso também fosse uma forma de dor. Uma dor tão profunda que parecia extinguir sua alma, a ponto de a própria sensação de dor desaparecer. Roberto estendeu a mão. — Você pode me dar a sua certidão de casamento? Jaqueline despertou de seu estado de letargia. — O quê? — A certidão de casamento já está invalidada. De qualquer forma, será descartada. Me entregue, vou mostrá-la para Ângela. Jaqueline