Roman Ostrov O caos ainda pairava no ar, mesmo com o som dos tiros se dissipando na distância. A fumaça das explosões recentes irritava minha garganta, mas eu não parava. Minha mão segurava firmemente a de Donatella enquanto corríamos entre os destroços e escombros do ataque. O sangue quente de um corte na minha testa escorria lentamente, mas eu não me importava. O importante era tirá-la dali. Quando avistamos o carro à frente, Dmitry e Bóris já estavam esperando, armas em punho, alertas como cães de guarda. O motor estava ligado, e os dois homens pareciam prontos para me seguir até o inferno, como sempre. — Chefe, para onde vamos? — Bóris perguntou, sua respiração pesada. — Vocês não vão a lugar nenhum. — Minha voz era firme, autoritária. Bóris franziu o cenho, confuso. — Roman, não é seguro. Você precisa de proteção. — Eu não estou pedindo permissão. — Olhei para ele com a expressão fria que raramente precisava usar com meus homens. — Cuide do perímetro, organize os sobrevive
Roman A volta para casa era silenciosa, mas o peso no ar entre mim e Donatella falava mais alto que qualquer palavra. A estrada coberta pela neve parecia interminável, e a tensão entre nós preenchia cada centímetro do carro. Eu havia sido moldado pelo fogo. Aos doze anos, fui iniciado na máfia italiana, a Cosa Nostra. Aos dezoito, conheci o inferno das prisões russas. E aos vinte e oito, tornei-me chefe da Bratva. Sempre pensei que não havia escolha. Assim como o casamento com Donatella. Tudo o que fizera até agora era porque precisava ser feito. O treinamento de um soldado na Bratva ou na Cosa Nostra não é fácil. É brutal, muitas vezes desumano. Mas para os herdeiros, aqueles com o peso do legado da família nas costas, é ainda pior. Sempre carregamos mais. Sempre esperamos mais de nós mesmos. A tradição da Bratva incentivava nossas mulheres a aprenderem defesa pessoal, a saberem proteger a si mesmas e aos filhos. Mas Donatella não queria isso. Ela não queria simplesmente saber lu
Donatella A mansão Volkova era um lugar imponente, mas acolhedor. No centro do salão privado, um grande lustre de cristal lançava uma luz quente que dançava sobre o piso de mármore polido. A lareira crepitava suavemente, aquecendo o ambiente e dando uma aura de tranquilidade à reunião que estava prestes a acontecer. Victoria estava em pé próxima à janela, olhando para o jardim coberto pela neve. Seus olhos, atentos, acompanharam o som dos meus passos quando entrei na sala. Ela virou-se com um pequeno sorriso, um gesto que trazia confiança e cumplicidade. — Donatella. — Sua voz era suave, mas havia um tom de alívio. — Eu sabia que você viria. Fechei a porta atrás de mim, o clique da tranca soando mais alto do que o normal no silêncio. Caminhei até ela, tirando o casaco e pendurando-o na cadeira próxima antes de responder. — Você sabia que eu não teria outra escolha. — Respondi, com um pequeno sorriso também. Victoria fez um gesto para que eu me sentasse no sofá de veludo a
Roman OstrovO amanhecer trouxe consigo uma névoa densa que parecia envolver a cidade em um manto cinzento. A mansão estava silenciosa, mas meu instinto me dizia que algo não estava certo. Donatella. Ela estava escondendo algo de mim, e a noite anterior apenas confirmou isso. Suas habilidades em me distrair eram impecáveis, mas as voltas que sua língua deu no meu pau não foram suficientes para apagar a desconfiança que queimava em minha mente.Levantei-me da cama com cuidado para não acordá-la. Ela dormia profundamente, seu corpo pequeno aninhado entre os lençóis. Por um momento, observei-a. Havia uma vulnerabilidade em Donatella que poucas pessoas viam, mas eu conhecia bem. Ela era ao mesmo tempo a mulher mais forte e mais frágil que eu já conheci. Ainda assim, minha confiança nela tinha limites, especialmente quando ela começava a agir pelas minhas costas.Peguei o celular e liguei para Bóris, meu Sub-chefe, que atendeu no segundo toque.— Bóris, quero que substitua toda a equipe de
Roman OstrovA manhã ainda estava nascendo, mas a névoa gelada que envolvia a propriedade parecia imutável. Donatella estava parada no centro da sala de estar quando entrei. Ela estava vestida de preto, uma escolha que combinava com seu humor, adequada para o treinamento que a aguardava. Um moletom ajustado e calças de tecido elástico moldavam seu corpo pequeno e ágil, enquanto botas de couro davam um toque prático e perigoso à sua presença. Um casaco longo pendia de seus ombros, os fios loiros platinados caindo em desalinho ao redor do rosto.Havia algo nela que me tirava o fôlego, mesmo agora. Talvez fosse a determinação evidente na forma como segurava as luvas de couro entre os dedos, ou o brilho teimoso nos olhos azuis. Ela estava nervosa. Não precisava dizer. Eu conhecia aquele olhar. Mas o que mais me impressionava era sua coragem de não desviar os olhos quando nossos olhares se encontravam.— Está pronta? — perguntei, minha voz ecoando baixa e carregada pela tensão no ar.Ela e
Donatella RomanovaAcordei com o som de passos firmes acima de mim. O ar da manhã ainda estava frio, e uma luz pálida passava pelas cortinas do quarto. Olhei para o relógio ao lado da cama; ainda era cedo, mas Roman já estava ativo. Ele não descansava, nem permitia que eu descansasse.Levantei-me, o corpo ainda cansado da tensão dos últimos dias. O peso do que estava por vir pairava sobre mim como uma sombra, mas eu me recusei a deixá-lo me esmagar. Vesti algo prático — calças elásticas e uma blusa justa — e prendi o cabelo em um rabo de cavalo. Se Roman pretendia me levar ao limite hoje, eu estava pronta.Quando cheguei ao porão, ele já estava lá. Sua postura era rígida, com os braços cruzados sobre o peito e um olhar gélido que não deixava margem para distrações. Ele estava vestido de preto, como sempre, mas sua expressão era ainda mais sombria. Não havia nada do amante na forma como me olhava agora. Apenas o chefe da Bratva, frio, cruel e implacável.Ele não perdeu tempo com formal
Donatella Romanova O terceiro dia do treinamento começou com o mesmo frio cortante que parecia ter se infiltrado nos ossos desde o primeiro dia. O porão da mansão não oferecia nenhuma trégua — a luz fluorescente acima criava sombras duras nas paredes de concreto, e o cheiro de ferro e suor era constante. Meu corpo inteiro doía, cada músculo latejando como se estivesse em fogo. Mas eu não reclamaria. Não na frente dele.Roman estava parado no centro do espaço, vestido de preto, como sempre. Ele parecia imune à fadiga, ao frio, à humanidade. Seus olhos verdes, tão intensos quanto o inverno russo, estavam fixos em mim enquanto eu descia as escadas.— Você está andando como uma velha. — Ele disse, o tom carregado de desdém.Endireitei-me imediatamente, ignorando a pontada na base das costas.— Não estou.Ele riu, uma risada fria que fez o ar ao meu redor parecer ainda mais gelado.— Veremos. — Roman apontou para o centro da sala, onde um boneco de madeira com múltiplos braços projetados
Roman OstrovO porão estava frio naquela manhã, e eu preferia assim. O frio tem uma maneira de despertar a mente, de arrancar as pessoas de sua zona de conforto. A Bratva não perdoa fraquezas, e hoje, Donatella aprenderia isso. Não com palavras, mas com silêncio, pressão e dor — as ferramentas que moldam um soldado.Ouvi seus passos descendo as escadas, suaves, mas determinados. Ela já estava mudando. Havia menos hesitação nos movimentos dela, menos dúvida. No entanto, o que eu precisava ensinar hoje não era algo que o corpo pudesse suportar. Era algo que a mente dela precisaria enfrentar e, mais importante, superar.Ela entrou no porão usando roupas de treino simples: uma calça preta ajustada e uma blusa de mangas compridas cinza. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo alto, e o cansaço dos últimos dias era evidente nas olheiras abaixo de seus olhos. Mas ela ainda sustentava aquele olhar desafiador, a cabeça erguida como se quisesse me provar algo. Eu admirei isso, mas não demo