Donatella Romanova Eu nunca imaginei que minha presença em uma sala pudesse causar tanto impacto, mas, ao entrar na sala de reuniões do Conselho da Bratva, percebi que meu simples ato de atravessar aquelas portas ressoava como um trovão silencioso. Cada rosto virava-se na minha direção. Homens poderosos, donos de impérios ilegais, desviavam seus olhares para mim, e o desconforto era palpável. Alguns franziram o cenho, outros cochicharam entre si, mas ninguém ousou se levantar. Eu era um elemento fora de lugar naquele ambiente, uma intrusa no centro de um círculo fechado. Minhas botas de couro preto ecoavam contra o mármore enquanto eu caminhava, o vestido ajustado de seda azul-marinho que usava moldava meu corpo com perfeição. Uma echarpe de caxemira negra cobria meus ombros, e meu cabelo loiro platinado estava preso em um coque baixo impecável. Minha maquiagem era discreta, mas feita para intimidar; delineador perfeitamente traçado e lábios tingidos de um tom profundo de vinho. Eu
Donatella Roman se aproximou da sala de armas, pegando um rifle com a precisão de quem havia feito isso inúmeras vezes antes. Ele voltou-se para os Capitães, a arma pesada equilibrada em suas mãos como uma extensão de seu próprio corpo. — Este é o momento de provarem quem vocês realmente são. Quem quiser lutar comigo, venha agora. Mostrem a lealdade que juraram à Bratva. Pela Bratva e pelo sangue! Os homens trocaram olhares, e lentamente, um a um, começaram a se levantar. A hesitação ainda pairava no ar, mas a liderança de Roman era inquestionável. Ele caminhou até a porta, pronto para liderar a batalha, mas eu não podia simplesmente ficar para trás. — Eu vou com você — declarei, dando um passo em direção à sala de armas para pegar minha própria pistola. Roman virou-se imediatamente, seu olhar me detendo antes que eu pudesse avançar. Ele estava a poucos passos de mim em um instante, a tensão em seus ombros claramente visível. — Não, doçura. A única pistola que eu quero que segu
Roman Ostrov O som dos tiros do lado de fora parecia um lembrete constante da guerra que se desenrolava. O caos reinava, e eu sentia o peso de cada decisão sobre meus ombros. Dentro da sala blindada, os homens ao meu redor estavam tensos, suas respirações pesadas enquanto ajustavam suas armas. Dmitry estava ao meu lado, como sempre, o olhar firme e cheio de preocupação. — Bóris, lidere os homens. Quero que segurem o perímetro e eliminem qualquer um que tente entrar. Não poupem ninguém. — Minha voz cortou o ar como uma ordem que não admitia discussão. Bóris não hesitou. Ele assentiu, pegando um rifle e comandando os outros Capitães para se posicionarem. Mas Dmitry permaneceu imóvel, o maxilar travado enquanto seus olhos encontravam os meus. Ele deu um passo à frente, contrariando o silêncio na sala. — Roman, você deveria ficar aqui, com Donatella. Esta sala foi projetada para proteger você e ela. É o lugar mais seguro. — Ele aconselhou, a voz carregada de preocupação. — Dmit
PARTE I - PODERMoscou | Mansão Ostrov Roman Ostrov - 12 anos — Roman, concentre-se — a voz de minha professora ecoava como um som distante, abafado, enquanto meus olhos permaneciam fixos na janela. Lá fora, as árvores altas se curvavam suavemente ao toque do vento, mas meu coração batia acelerado por outro motivo. Meu pai estava em casa. A expectativa me consumia, como sempre fazia quando ele retornava. Eu não tinha tempo para as palavras rabiscadas no caderno à minha frente. Nada importava além de vê-lo. Num movimento abrupto, empurrei a cadeira para trás, o som das pernas arranhando o mármore polido da sala fez a professora saltar. Antes que ela pudesse me conter, eu já estava de pé, marchando em direção ao escritório. — Roman! — A voz dela, mais incisiva agora, me seguiu pela sala. — Seu pai está ocupado! Por favor, volte para sua cadeira. Ignorei. A ideia de recuar me causava um mal-estar que eu odiava sentir, um frio que gelava o estômago. Quando alcancei a porta maciça do
Roman Ostrov - 12 anos A sensação de puxar o gatilho sempre fora algo familiar para mim. O leve recuo da arma, o som seco do disparo ecoando na floresta enevoada, tudo isso fazia parte do que eu era. O primeiro pássaro caiu quase no instante seguinte, uma mancha escura contra o céu cinzento e nebuloso. O segundo logo o seguiu, um tiro limpo, preciso. Não havia hesitação. Não podia haver. No mundo de meu pai, o erro era um luxo que não se podia cometer. Mais um disparo. O terceiro pássaro despencou, seus últimos momentos interrompidos no ar. Não desviei o olhar enquanto os corpos das pequenas aves caíam, imóveis, em meio à vegetação densa. O silêncio que se seguiu era tão denso quanto a neblina que nos cercava, sufocante. Olhei para meu pai, esperando, quase ansiando por algum sinal de aprovação. Seus olhos, duros e calculistas, fixaram-se em mim por um momento que pareceu durar uma eternidade. Mesmo sem palavras, eu sabia. Ele estava satisfeito. Ele não precisava dizer, o brilho
Roman Ostrov – 18 anos Sicília | Máfia Italiana O homem que me encarava do outro lado do espelho não era mais o garoto que deixara a Rússia seis anos atrás. Aos 12 anos, quando Ivan me trouxe para a Sicília, eu era moldado por promessas, preparado para ser uma arma letal, o orgulho da Bratva. Mas aquele menino tinha desaparecido. O reflexo à minha frente agora era algo muito mais perigoso, mais frio, mais implacável. Meus olhos, que antes vibravam com curiosidade e fervor juvenil, agora estavam calmos, gélidos. O semblante sereno que eu exibia poderia facilmente enganar qualquer um que não entendesse o verdadeiro peso do mundo em que eu vivia. A superficialidade da juventude ainda me cercava, mas apenas na aparência. A profundidade das sombras que me moldaram estavam impressas em minha alma. Aos olhos dos outros, eu era jovem demais para ser uma figura tão envolvida nos jogos de poder e sangue. Mas isso era apenas a superfície. A máfia italiana tinha me quebrado, me destruído e
Donatella Romanova - 8 anos Moscou | Mansão Romanov Aos oito anos, eu ainda era uma criança, inocente em muitos aspectos, mas a mansão onde cresci não permitia que essa inocência durasse muito. Enquanto brincava no corredor com minha boneca, os ecos de vozes abafadas vieram do escritório. Não era incomum ouvir conversas entre minha mãe, Anastacia, e os homens de confiança de meu pai. Mas havia algo diferente naquele tom, algo que me fez parar. Curiosa, me aproximei da porta entreaberta, sabendo que deveria ficar longe. Eu já tinha ouvido tantas vezes que espiar assuntos dos adultos traria problemas, mas algo na tensão na voz de minha mãe me puxou irresistivelmente. — Eu não aguento mais esperar, Nikolai! — a voz dela estava ríspida, carregada de uma impaciência que eu não costumava ouvir. — Já faz anos. Quanto mais tempo isso vai levar? Houve uma pausa. A resposta de Nikolai veio calma, metódica, como sempre. — Já lhe expliquei, Anastacia. Isso deve ser feito com cautela. —
Roman Ostrov - 18 anos São Petersburgo O frio de São Petersburgo não era apenas uma presença física; ele cortava como lâminas invisíveis, entrando por cada poro, se infiltrando nos ossos. Mas aquilo não me incomodava. Estar de volta à Rússia era mais que uma mudança geográfica, era um retorno ao meu destino inevitável. Durante os anos que passei na Sicília, fui moldado, endurecido pela Cosa Nostra, e agora estava pronto para cumprir o papel que a Bratva exigia de mim. A hora de provar minha lealdade havia chegado. A reunião seria o primeiro passo. Esperava encontrar o Conselho da Bratva, onde seria formalmente apresentado como o filho de Ivan Ostrov, o Capitão, e finalmente fazer o juramento que eu já havia ensaiado tantas vezes em minha mente: Pelo Sangue e Pela Bratva. Mas o que me esperava não era o Conselho, e sim duas figuras isoladas na penumbra da sala. O local era uma construção antiga, suas paredes de pedra tão velhas quanto os segredos que guardavam. Ao entrar, senti