“Tenho permissão para matá-la” — essas são as únicas palavras que os ouvidos de Pedro captam.
A verdade desce sobre ele com um peso esmagador. Ele está prestes a perder sua filha de uma maneira indescritivelmente cruel, um destino que jamais quis para ela. As lágrimas caem, desesperadas, de seus olhos, e ele cai de joelhos, a humilhação pesando sobre ele. Sem permissão, a senhora invade a casa, decidida a ir atrás da garota, mas tem a barra de seu vestido segurada por Pedro. — Qual é o seu nome? — Luciana — a senhora responde e puxa o pano de seu vestido, soltando-se do agarro de Pedro. — Por favor... — ele soluça, implorando com a cabeça baixa. — Por favor, não leve minha filha. Eu não devia ter feito isso. Não deveria ter apostado ela. Eu imploro, por favor, não a leve, leve a mim, deixe a minha pobre menina, diferente de mim, ela nunca fez nada de errado. — Não irei desobedecer às ordens do senhor Miguel — a senhora diz sem brechas, sua voz fria e decidida. — Eu não deveria tê-la colocado nisso. Ela não merece isso. Por favor, não conte a ela... — Pedro ergue a cabeça, seus olhos brilham pelas lágrimas que não param de cair. — Diga-lhe que você a está levando para ser uma ajudante, um emprego, qualquer coisa. Ela é inteligente, esforçada, meiga e gentil, não merece se tornar escrava... Por favor, poupe-a disso, tenha piedade. Luciana hesita, vendo o homem a seus pés, implorando por sua filha. Seu coração endurecido amolece um pouco diante da angústia de Pedro. Luciana pensa por um momento, sua mente recorda do acordo dos deuses sobre os humanos, e mesmo não sendo a favor de seu Genuíno Alfa tomar uma humana como escrava, ele é quem tem as ordens, ela só pode obedecer. Sua mente vagueia para o tempo em que os antigos genuínos Alfas ainda eram vivos, de uma pequena loba que chegou na matilha, toda assustada e amedrontada. Seu coração se doeu por ela, e agora, está diante de uma fêmea de outra espécie que também teve seu destino tomado por terceiros, igual aquela pequena loba Luciana respira fundo, tomando sua decisão: — Vou fazer o que posso — ela diz, sua voz finalmente suaviza um pouco, mesmo sabendo que não pode manter a mentira por muito tempo. — Mas você sabe que não está em minhas mãos o que a espera lá. Pedro olha para Luciana, a dor e o desespero claramente visíveis em seus olhos. Ele sabe que não tem escolha, sua filha está fadada ao sofrimento pelas mãos do próprio pai. — Por favor, poupe-a o quanto puder, até que a verdade seja inevitável — Pedro implora. — Vou dar um jeito de buscá-la. Luciana apenas assente, não acreditando que esse humano um dia conseguirá reparar o que fez. ~ Sasha acorda com o som de seu pai a chamando. Pedro engole o nó na garganta e se aproxima de Sasha com passos hesitantes. — Bom dia, papai — Sasha diz com voz sonolenta, mas sorri para o pai. Pedro sente um aperto no peito ao ver o sorriso dela, sua inocência contrastando com o peso de sua própria situação. Ele não consegue olhá-la nos olhos enquanto mente. — Sasha, eu... eu arranjei um emprego para você — ele diz, forçando um sorriso. Os olhos de Sasha se iluminam de surpresa e alegria. — Mesmo? Isso é incrível, papai! Fui demitida da cafeteria ontem e estava preocupada. Obrigada por conseguir um emprego para mim — ela agradece sinceramente de coração. Desde que sua mãe, Helena, faleceu, ela tem sido a adulta da casa. A alegria de Sasha perfura o coração de Pedro como uma lança afiada. Ele está mentindo para ela e sabe que o que está fazendo é terrível. Ontem, enquanto ele estava apostando-a em uma mesa, ela estava sendo despedida. Ele engole as lágrimas e força outro sorriso. — Só quero o melhor para você, minha pequena — ele murmura, lutando contra emoções avassaladoras. Pedro se afunda ainda mais em sua própria miséria. Ele sente o peso de suas decisões irresponsáveis. — Vamos — Pedro chama, indicando o caminho para fora do quarto. Ao chegarem na sala, os olhos de Sasha pousam na mulher idosa. — Acredito que você deve ser a Sasha — a senhora diz, levantando-se do sofá e estendendo a mão para a jovem. — Sasha, esta é Luciana — Pedro apresenta com uma voz um pouco tensa. Sasha aperta a mão da mais velha com um sorriso nervoso. — Vim para buscá-la, Sasha — Luciana diz, olhando nos olhos da jovem com seriedade, escolhendo cuidadosamente suas palavras. Ela havia concordado com o pai de não revelar imediatamente que Sasha seria uma escrava, mas sim que trabalharia. — Você trabalhará como assistente geral na mansão do meu patrão. Sasha franze a testa, confusa. — Mansão? — Sim, a mansão do meu patrão fica em outro país onde o sol raramente aparece, e é muito frio. Você será responsável por ajudar nas tarefas domésticas e manter a mansão organizada. — Eu... Eu não posso aceitar isso; não posso ir trabalhar em um lugar tão distante — Sasha diz em choque. Ela então se imagina em um lugar tão diferente, onde o sol é escasso e o frio permeia o ambiente. Ela não gosta disso. Ela gosta do calor. — Eu não posso simplesmente ir para outro país e deixar meu pai sozinho — Sasha olha para o pai, a situação deles é precária, mas juntos podem superar qualquer coisa. Luciana abre a boca para falar, mas antes que possa continuar, Pedro é mais rápido. — Filha, conseguir esse emprego foi muito... difícil. É uma oportunidade que não podemos perder — ele diz, a culpa o corroendo a cada palavra. — Não se preocupe comigo, é uma chance única para você. E eu já sou adulto, posso cuidar de mim mesmo — termina de falar, a ameaça da morte de sua filha ecoando em seus ouvidos enquanto lembra-se de todas as vezes que havia falhado como pai. Mas dessa vez, ele sabe que não poderá haver perdão. Sasha tenta argumentar, mas as palavras ficam presas na garganta. Seu pai está certo. — Eu... Eu não tenho roupas de frio — Sasha diz, sua voz é quase um sussurro. — Isso já foi cuidado. Eu já providenciei roupas adequadas para você — diz Luciana. Sasha vê suas últimas objeções desaparecerem. Ela concorda, uma mistura de emoções a inundando. A incerteza do que a aguarda, a tristeza de deixar seu pai e a curiosidade sobre o que a espera, tudo se mistura dentro dela. — Quando irei? — Sasha pergunta. — Agora — a resposta de Luciana faz Sasha arregalar os olhos incrédula.— Agora? Assim do nada? Eu nem tenho passaporte... Eu... Eu acabei de acordar... Eu... — Sasha balbucia, sua mente correndo para acompanhar a torrente de informações. — Não se preocupe com isso; eu cuidei de tudo. Apenas arrume suas coisas — Luciana diz, tentando sorrir para a garota, uma expressão que mistura simpatia e urgência. — Está bem — Sasha cede, ainda perplexa com a rapidez com que as coisas estão acontecendo. Sasha se levanta e volta para o quarto. Ela arruma uma pequena mochila com seus pertences pessoais, cada item colocado com cuidado, representando uma parte de sua vida que ela está prestes a deixar para trás. Ela olha para seu quarto uma última vez, sentindo uma onda de nostalgia. — Ligarei todos os dias para o senhor — Sasha se despede do pai. Após um curto abraço, Sasha segue Luciana para fora da casa, seu coração pesado com a incerteza do que está por vir. Pedro observa em silêncio, suas lágrimas caindo enquanto vê sua filha ser levada embora para cumprir com
No dia seguinte, Luciana vai ao quarto de Sasha. Ela entra no quarto e diz bom dia, fazendo a jovem se assustar e se virar rapidamente para a senhora idosa com o coração acelerado. — Oh, é você — diz Sasha, aliviada ao reconhecer a sra. Luciana, então, continua pegando as roupas de frio dentro do pequeno guarda-roupa. — Por que você não fechou a porta? — Luciana pergunta. Sasha dá de ombros, parecendo distraída: — A porta é muito pesada. Eu não tenho força para fechá-la. A resposta de Sasha faz Luciana olhar para a porta e lembrar de seu verdadeiro propósito. Ela é destinada a impedir que os escravos escapem, e nenhum humano teria força para movê-la. Depois de se vestir com várias camadas de roupas para se proteger do frio, Sasha segue Luciana até a cozinha da mansão. Enquanto caminham, Sasha percebe que não estão indo para a cozinha principal, mas continuam andando. Antes que ela possa perguntar para onde estão indo, Luciana explica que a cozinha principal é para o chefe da
5 horas antes do amanhecer:A lua agora brilha em seu ponto mais alto; o relógio bate meia-noite. Miguel retorna para a mansão, como sempre, sem avisar ninguém. Enquanto sobe as escadas para o corredor de sua toca, ele vai afrouxando o nó da sua gravata de seu terno.Ao retornar para seu território, ele deixou Lukan para resolver as pendências do cassino.Miguel tira toda a sua roupa e se deita na cama, sua mente divaga sobre sua nova escrava, que está em seu porão, acreditando ele que ela está acorrentada, apenas esperando-o para saciar seus desejos. Mesmo podendo puxar a ficha dela, ele não fez; tudo o que sabe é de quem é filha. Miguel voltou porque está ansioso para conhecer sua propriedade, para descobrir como é estar acoplado em uma fêmea de outra espécie."Isso se ela conseguir me deixar duro" - ele murmura, lembrando-se o porquê se mantém longe dos humanos. Já tem duas horas que o dia amanheceu, mas o céu continua cinza por causa das densas nuvens. Miguel foi acordado por lem
Enquanto investe brutalmente contra a loira em seu banheiro, Miguel sente algo estranho. Uma sensação de desconforto começa a invadir sua mente, algo está fora do lugar. Ele olha para Lovetta, mas seus pensamentos são interrompidos por um cheiro sutil, um aroma doce, e que logo se faz familiar, penetra suas narinas. É o cheiro de sua destinada. Virando o rosto na direção de onde vem o cheiro, Miguel vê que a porta está aberta apenas uma fresta. Apesar de ver apenas uma pequena parte da mulher espiando, o encontro de seus olhos é suficiente para ele ter certeza. É a sua destinada. Ele a encontrou. Depois de 40 anos. Ele está acasalando com outra... O último pensamento, o enojou de um jeito que ele nunca imaginou ser capaz de sentir por um fêmea, ainda mais uma que estava quase fazendo-o gozar. Miguel consegue sentir um cheiro suave, como o cheiro de orvalho caindo sobre a terra no amanhecer que emana da fêmea humana. "Não, isso não!" — A mente de Miguel grita. Sasha, que es
Sentindo medo em cada fibra do seu ser, Sasha mal consegue respirar, sua mente está em uma bagunça de confusão e choque enquanto suas pernas correm com toda a sua força. — Sasha, eu esqueci de... — Luciana para de falar ao ver uma luz prateada emanando do pescoço de Sasha. Lágrimas escorrem pelo rosto da menina, tão rápido quanto a luz surgiu, ela desaparece. Sasha sequer nota algo de diferente acontecendo. — Senhora Luciana — Sasha chama por Luciana com a voz chorosa. Os olhos da senhora passam pelo pescoço da mais jovem e ela vê, gravado como tatuagem, logo abaixo da orelha, a pequena letra M. Ela arregala os olhos. “Como isso foi parar no pescoço de uma humana? E o único cujo nome começa com a letra M é o de Miguel, então isso não pode ser possível. Miguel nem está aqui” — ela pensa. — Venha, querida — Luciana segura os ombros de Sasha e vai com ela para o quarto no porão. — Eu estou com calor — Sasha diz ofegante. Assim que entram em seu quarto, ela começa a tirar o casaco, d
Com passos apressados, Luciana sobe as escadas do porão e, praticamente correndo, trilha o corredor. Ela para de frente à porta da toca do Genuíno, seu coração martelando forte em seu peito enquanto observa a porta aberta.“Se Sasha realmente for a destinada dele, como Miguel reagirá daqui para frente?” — Luciana questiona mentalmente. Ela hesita em falar com ele, conhecendo-o bem demais para esperar algo de bom.— Entre! — A voz grave de Miguel ressoa de dentro da toca, pegando Luciana de surpresa. Por um instante, ela esqueceu que o olfato e a audição de um Genuíno Alfa são muito superiores aos dela e muito dificilmente ela conseguiria se esconder dele.Respirando fundo, Luciana entra na toca. O ambiente está carregado com a presença dominante de Miguel.Os olhos de Luciana recaem sobre a figura de Miguel, que está de pé, com uma camisa de mangas longas e gola alta, um cotovelo apoiado na janela e a outra mão dentro dos bolsos da calça moletom.— Eu estava mesmo querendo te ver, Lun
— Por que desobedeceu a minha ordem, Lunae Luciana? — Miguel endurece a face, sua voz carregada de perigo, nesse momento, Luciana se arrepende de ter atendido ao pedido daquele humano bêbado que se diz pai.— Eu... eu achei que seria mais fácil para ela se adaptar à situação se pensasse que estava apenas começando um novo trabalho. Ela é jovem e já passou por tanta coisa — Luciana tenta explicar, sua voz tremendo levemente sob o olhar furioso de Miguel.Miguel dá um passo à frente, sua presença dominante esmagadora fazendo-a recuar instintivamente, até que suas costas tocam a parede.— Eu... perdão, Genuíno. O pai da menina me pediu para poupá-la da verdade o máximo que conseguisse, e eu fiquei com pena ao ver o brilho nos olhos dela por pensar que seria contratada e poderia dar uma vida melhor ao pai — as palavras saem depressa de Luciana, que sente que a sua existência está em perigo por ousar desobedecer a seu Genuíno Alfa. — No jato, ela me disse que iria juntar dinheiro para pode
Luciana passa a próxima hora dentro de sua própria toca, esperando pacientemente seu ferimento se curar. A dor é intensa, mas ela sabe que não pode ir falar com Sasha nesse estado. Cada segundo parece se arrastar, e a queimadura na mão lembra-a constantemente do preço de sua desobediência. Finalmente, após o que parece uma eternidade, a dor começa a diminuir e o ferimento começa a cicatrizar, deixando apenas uma cicatriz como lembrança.Com a mão finalmente curada, Luciana se dirige até o quarto no porão onde Sasha está descansando. Ela aproxima-se da jovem adormecida, com gentileza e balança os ombros de Sasha.— Sasha, acorde — Luciana sussurra, balançando-a levemente.Sasha acorda lentamente, sua voz rouca pelo sono. — A senhora já voltou — ela diz, esfregando os olhos. A dor em seu peito finalmente sumiu, deixando apenas um cansaço profundo em seu lugar.Enquanto Sasha se senta na cama, ela olha para o rosto de Luciana, notando o semblante triste e cansado da mulher mais velha. A