Sasha caminha pelo corredor, o som de seus passos ecoando suavemente contra as paredes, tentando se concentrar nas tarefas que ainda precisa terminar.Mas seus pensamentos sempre voltam para Miguel, como se tivesse vida própria, os dedos de Sasha tocam levemente os lábios, ainda inchados e sensíveis do beijo que Miguel lhe deu após ela falar sobre sua mãe. A intensidade daquele momento ainda a acompanha, deixando-a distraída e com o coração acelerado, foi o beijo mais significativo que já trocaram.Enquanto avança pelo corredor, para terminar o que começou, seus pensamentos são interrompidos por vozes alteradas que ecoam de uma porta entreaberta. O tom das vozes é tenso, deixando claro que a conversa não era nada civilizada.Sasha para, mesmo sabendo que é errado espionar a vida alheia, a fofoqueira...Curiosa — Sasha corrige seus pensamentos.A curiosa dentro de si fala mais alto, e ela se aproxima da porta, espionando pela pequena fresta.Ela reconhece Lovetta imediatamente, a postu
Sasha encara o homem à sua frente, seu coração batendo rápido, mas sua determinação mais forte. Ela sente o peso do momento, mas não recua. Em vez disso, endireita os ombros, sua postura ereta e não curva.— Sasha, eu sou Sasha Thompson — ela o responde, a voz firme e atrevida, ela sabe bem que o que ele queria ouvir era sua voz vacilante dizendo que era nada mais do que uma escrava. — Mas, você pode me chamar apenas de senhorita Thompson.Em resposta, o rosnado do lycan ecoa pelo quarto, seus olhos brilham com uma fúria contida o som reverberando com tom de ameaça que faria qualquer –de posição inferior– recuar, mas Sasha não se move.Mas ela não sabe dizer se é por despeito ao lycan, ou se seu corpo simplesmente congelou, as mãos do homem agora têm garras.Os dedos de Sasha tremem, traindo sua falsa coragem, ela os fecha em punhos. O lycan a sua frente sorrir, o cheiro do medo da humana exalando.Mas, para sua surpresa, ela apenas ergue ainda mais o queixo, a criatura baixa, cheia d
Enquanto as lágrimas ameaçam voltar, Lovetta tenta se recompor, olhando para o chão por um momento antes de erguer os olhos novamente. A fúria de seus pais ainda é palpável, e o silêncio é quase insuportável.Sasha, por outro lado, não recua. Sua presença é uma barreira entre Lovetta e os pais, uma barreira que Lovetta nunca pensou que alguém ergueria por ela.Não gosto disso — ela repete em seus pensamentos.— Ponha-se vocês em seus lugares — Sasha diz. — Aqui vocês não têm permissão para agirem como bem querem, existem regras e consequências, estão prontos para enfrenta-las?— Não ouse nos ameaçar, criatura ridícula! — A mãe de Lovetta esbraveja, a voz carregada de uma raiva. Ela dá um passo a frente, demonstrando sua dominância, mas Sasha não demonstrar nada, sua dominância não pode subjuga-la.Sasha revira os olhos, a expressão mostrando o desprezo que sente, aumentando ainda mais o odeio na mulher, que por um instante esqueceu que os humanos agora são insertos dos poderes dos lyc
— Seu covarde! — Sasha murmura, sua voz entrecortada pelo aperto sufocante em sua garganta. Cada palavra é um esforço, uma luta contra a pressão esmagadora. Pelo canto do olho, ela vê o corpo de Lovetta caído no chão, imóvel.Droga! — O pensamento ecoa em sua mente, fazendo o desespero crescer ainda mais dentro dela.— Uns merdas como vocês ainda se chamam de pais? — Sasha tenta elevar a voz, mas a dor em sua garganta torna cada palavra um desafio monumental. — Não passam de monstros!As palavras saem em um berro rouco, carregadas de desprezo e raiva. O pai de Lovetta, não esconde sua expressão de fúria pela ousadia de Sasha, e rosna em resposta.— Cale-se, escrava! — O pai de Lovetta grita, empurrando Sasha com brutalidade contra a parede. O impacto reverbera pelo corpo dela, e o ar é expulso de seus pulmões com um gemido de dor, e sem querer Sasha morde a língua.Suas costas latejam com o choque, enquanto um filete de sangue escorre pelo canto de sua boca. Por um breve momento, o mu
— Cuide dela, Lunae Luciana, enquanto eu estiver fora, ela não fará nenhum trabalho — Miguel ordena, enquanto termina de tira as roupas e as entrega a senhora Luciana, que guarda dentro de uma bolsa.— Claro, Genuíno — Luciana responde com um sorriso, satisfeita por vê-lo tão cuidado com quem ele queria apenas destruir no início.— Tem certeza de que não quer ir? — Miguel pergunta, seus olhos fixos na filha. — Espero que não haja outra oportunidade tão cedo para que veja o ritual de perto.Kesha sorri.— Não, quero descansar mais um pouco, para poder voltar ao mundo humano e continuar com os meus...— Você não irá voltar, Kesha — Miguel a interrompe.— O quê? — Kesha pergunta, o choque evidente em sua voz.Ela busca nos olhos do pai algum sinal de que ele está brincando, mas a expressão de Miguel permanece séria.— Você ouviu o que eu disse — Miguel responde, sua voz fria e implacável.Kesha encara o pai, seu rosto se contorcendo em uma mistura de frustração e incredulidade. Ela não c
O céu cinza se estende até onde as vistas alcançam, encobrindo completamente o sol. Sentada nua sobre uma pedra, a lycan não se incomoda nem um pouco com o frio, e até está contente com o contraste para poder espairecer a cabeça.Ela observa os flocos de neve caindo e se desmanchando ao tocar o chão, seus olhos geralmente tão duros e intimidadores estão perdidos. O silêncio da floresta é interrompido apenas pelo som distante do vento, no chão, ao lado da pedra em que está sentada, o cervo morto descansa sobre a neve, a presa que ela abateu sozinha. Ela não sente orgulho, apenas um vazio crescente que a consome por dentro.O som de passos na neve interrompe seus pensamentos, e Lovetta suspira, seus ombros caindo pesadamente. Ela já sabe quem é.— Virou mania, Lukan? — Lovetta pergunta, sem desviar o olhar da neve à sua frente. — Ficar me perseguindo por aí?Lukan se aproxima com um sorriso de canto, suas pegadas profundas na neve revelando seu peso e força.— Só queria ver se você esta
O som de rosnado e latinos são carregados pelo vento, junto com o som das patas batendo contra o solo coberto de neve reverberando nos ouvidos do Genuíno Alfa. O cheiro de medo e sangue fresco preenche o ar, e Miguel percebe imediatamente que algo está terrivelmente errado.Suas patas enormes e poderosas batem contra o chão coberto de neve enquanto ele corre, forçando-se a ir cada vez mais rápido, antes que seja tarde demais. O ar frio cortando seu focinho, os sentidos aguçados, captando a tensão, medo e desespero.Quando finalmente chega, seus olhos avistam uma cena que faz o seu sangue ferver.Um grupo de lobas correm em um frenesi desenfreado, seus uivos de caça ressoando pela floresta. No centro da perseguição, uma única fêmea –prenha, é a companheira do alfa derrotado. Ela tenta desesperadamente lutar, suas patas traseiras arrastando-se na neve enquanto tenta escapar das garras que a cercam.Mas são muitas contra uma, e o desespero é evidente em seus olhos enquanto ela tenta, inu
— A Velut... começou a uivar pela perda do alfa — a fêmea diz, a voz vacilando ligeiramente sob o olhar penetrante de Miguel. — Então entendemos que nosso alfa foi derrotado no combate e que o senhor o matou... Então, entramos em acordo que deveríamos pôr um fim ao sofrimento da ex-Velut Luna...Miguel rosna, o som ressoando pelas paredes do salão, silenciando a Lunae instantaneamente. O poder em sua voz faz com que todas as fêmeas presentes abaixem a cabeça, incapazes de sustentar o olhar furioso do Genuíno Alfa.— Ela só será ex Velut Luna quando um novo alfa ascender entre os betas — Miguel rosna, sua voz firme e cortante. — Até lá, ela é a Velut dessa alcateia, e nenhum de vocês tem o direito de tocar nela.As fêmeas abaixam ainda mais as cabeças, o medo e a submissão gravados em cada movimento. Elas sabem que Miguel não faz ameaças em vão. Nesses cinquentas anos que ele assumiu a liderança como o novo Genuíno, ele fez sua reputação, ele não hesita em punir, muito menos em matar.