Capítulo 06 - Caelan

— Caelan?

Alguém muito distante chamava seu nome.

Era aquele então seu nome, ele se lembrava.

Quando seu pai disse o que significava seu nome, Caelan nunca esqueceu.

“Guardião”, na língua dos lobos.

Cada vez que o escutava, se lembrava do porquê havia sido escolhido, do porquê seu pai agora estava morto.

— Caelan!

Tornaram a chamar, e ele rosnou em resposta, mas, quando sacudiram seu ombro, entendeu onde estava.

Na Floresta de Espinhos.

Dylan o olhava assustado, o peito subindo e descendo como se tivesse se esforçado para acordá-lo. Seus olhos castanhos o circundavam, procurando algo em seu corpo. Os cabelos loiros estavam caídos na face, embolados, como se Dylan tivesse corrido o caminho todo até o encontrar. Caelan o encarava ainda absorto nas próprias sensações, sem conseguir discernir se aquele era outro sonho ou realidade.

— Caelan, por favor.

Dylan implorou e foi a primeira vez que viu seu melhor amigo implorar.

Eles haviam se conhecido na primeira brincadeira de batalha em que Malthus havia intercedido. Dylan o jogou no chão com tanta força, sem temer que ele fosse o filho do alfa, que aquilo conquistou o respeito de Caelan.

A mulher ao seu lado rosnou e empurrou-o para longe, e Caelan sentiu quando o tapa ardeu em seu rosto.

Alina era sempre enérgica. Os cabelos loiros, tão iguais aos de Dylan, se avolumavam ao seu redor, como se ela mesma fosse uma leoa que entraria na briga por qualquer membro de sua família.

— Caelan, se você morrer…

Mas foi o rosnado do lobo negro de Caelan que respondeu. Alina baixou a cabeça e se ajoelhou aos seus pés, assim como Dylan. Uma resposta ao alfa deles. A escolha que haviam feito há muito tempo.

— Não vou escolher Alexander. É você o meu alfa — Alina havia dito, e Dylan concordou enquanto encaravam Caelan sem desviar os olhos.

Caelan torceu o nariz.

— Se Malthus o escolher como seu herdeiro, vocês deverão escolhê-lo como seu alfa.

— Pois prefiro ser expulsa dos Fúrias — Alina disse de forma dura, e Dylan começou a rir.

— E vai viver onde? — Seu irmão deu um puxão de orelha na irmã.

— Não me importo se vai se deserdar do clã, Alina — Caelan disse e continuou de forma séria. — Só quero que aceite a minha decisão se Malthus escolher Alexander. Se sou o seu alfa, essa é a primeira regra que deve respeitar.

Alina abriu a boca para refutar, mas foi Dylan quem se ajoelhou, colocou a mão sobre o coração e fez o símbolo de quem reconhecia Caelan como seu alfa. Alina então fez o mesmo, e Caelan sorriu para ambos.

— Alfa — disseram ambos, e Caelan os fez levantar em um abraço conjunto.

Eles o haviam escolhido e estavam ali, como haviam dito que estariam.

Sua voz saiu embolada quando perguntou:

— Onde está Alexander?

Caelan disse devagar, ainda se acostumando com as palavras na boca, sentindo a língua grossa e os sentidos retornarem gradualmente. Sua visão ainda estava dupla, mas a febre que antes dominava seu corpo havia desaparecido.

Ele tocou o ferimento na barriga e só havia o sangue seco.

Há quanto tempo havia ficado apagado?

Foi só então que se lembrou da loba.

Seu corpo tremeu, o coração veio à garganta.

Caelan sentiu seus músculos retesarem, a ereção crescendo novamente quando a viu sentada sobre seu colo em suas lembranças.

Pelos clãs!

Ela era mesmo real?

Não sabia dizer, só lembrava de seu cheiro, que oprimia seu corpo. De como a queria, ainda que apenas por aquelas breves lembranças.

Caelan queria tomar seu nome para si, seu corpo e todo o seu espírito. Queria-a mais do que tudo.

Dylan o observava, vendo a reação de seu corpo aceso em instinto. O lobo negro de Caelan se agitava dentro de seu âmago, revirando-se como se quisesse caçá-la e dominar a loba que despertara a fúria em seu corpo.

— É um milagre você estar vivo.

A loba o havia curado.

Caelan sabia disso depois de tê-la feito sua.

Ele inspecionou ao redor, procurando-a, tentando encontrar seu cheiro, mas não havia nada. Como se a lembrança fosse apenas uma miragem que se esvaía rapidamente de sua mente.

— Alguém me curou.

— Não seja idiota. Não tem ninguém aqui — Alina retrucou.

— Uma loba — Caelan reagiu em discordância e viu Alina se retesar.

— Será que a deusa o escolheu? — Dylan perguntou, e Caelan apenas o ignorou.

Ele ergueu o corpo devagar do chão. A dor ainda percorria cada parte de seu corpo pela surra, e o wolfsbane parecia adormecido mesmo com o antídoto.

— Onde está Alexander? — Tornou a perguntar, e foi Alina quem respondeu, carrancuda.

— Você está vivo e ainda quer lutar contra seu irmão?

— O Fúria ainda é meu clã — Caelan respondeu seco, e Alina se encolheu. Mas foi Dylan quem chamou sua atenção com suas palavras.

— Alexander invadiu o clã das sacerdotisas. — Fez uma pausa, sem conseguir olhar para Caelan. — Mas tem algo pior.

— O quê? — Caelan perguntou, virando o rosto na direção do riacho, na direção de um odor característico de uma batalha.

Fogo.

— Helena está doente.

Seu mundo oscilou com as palavras de Dylan. Caelan jamais gostaria de ter ouvido aquelas palavras.

Helena era sua irmã, apenas sua. Filha de sua mãe antes de se casar com Malthus. Filha de um lobo errante que não pertencia a qualquer clã. Helena era sangue do seu sangue, não de Alexander.

— Alexander a deixou presa em uma cabana — Dylan continuou. — Disse a todos que sua doença é incurável e que é melhor que ela não se misture com os outros.

Seus dentes rangeram; a dor e a raiva borbulhavam e cresciam no peito de Caelan. Alexander havia envenenado Helena, quebrado a última parte de seu espírito, a última parte de Malthus, que havia acolhido Helena como sua filha também.

— Ele a envenenou — Caelan cuspiu as palavras e socou o tronco da árvore até ver os nós dos dedos ficarem vermelhos, e Alina o parou.

— Não adianta nada, Caelan. Ela vai morrer.

— Não — Caelan rebateu e então a empurrou para longe.

— Não vou deixar Helena morrer. Não vou deixar que Alexander machuque mais ninguém.

— O que você vai fazer? — Foi Dylan quem interrompeu suas palavras.

— Vou me ajoelhar diante do meu irmão por Helena.

— Ele vai matá-lo desta vez — A voz de Alina subiu uma oitava de angústia.

— Alexander não conseguiu me matar. Sempre serei uma pedra em seu caminho. Por isso, ele não vai tentar me matar outra vez, se eu me ajoelhar perante ele e aceitá-lo como o líder dos Fúrias.

— Mas você ficará marcado como o alfa que desistiu. Não aceitarão um líder que se ajoelhou a outro alfa — Alina disse.

— Aceitarão aquele que foi tocado pela mão de Seraphire. Vou encontrar a loba predestinada, aquela que me curou.

Caelan ainda sentia o toque da loba, o calor de seu corpo contra o dele. Ele sabia qual escolha a loba havia feito ao curá-lo. Ele iria encontrá-la, nem que precisasse ir até o fim do mundo apenas para tê-la.

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