Mikael estava animado para a realização do evento. Ele passou dias preparando tudo, desde a escolha da praça pública até a contratação de uma equipe para decorar e organizar a área. Eu o ajudava no que podia, mas principalmente o apoiava e o motivava, afinal, era algo muito importante para ele e para a comunidade.No dia do evento, acordei cedo para ajudar nos últimos preparativos. Quando chegamos à praça, fiquei impressionada com a quantidade de pessoas que já estavam lá, todas curiosas e ansiosas para ouvir o que Mikael tinha a dizer. Ele subiu ao palco, falou sobre sua história de vida, como ele chegou onde estava e como a mudança do nome do morro para Cidade dos Anjos era uma forma de homenagear seus antepassados e a comunidade.As pessoas ficaram emocionadas e começaram a aplaudir e gritar de alegria. Eu olhava para Mikael com tanto orgulho e admiração, sabendo que aquele momento era muito importante para ele e para todos nós. Depois da fala de Mikael, começaram as apresentações
Eu sabia que Mikael era contra o uso de armas por parte dos moradores, mas eu não podia ignorar a realidade em que vivíamos. Não era seguro andar pelas ruas sem proteção adequada. Eu já havia presenciado situações perigosas e sabia que poderia ser a próxima vítima.Fui até Mikael e tentei argumentar a favor da minha ideia, mas ele foi firme em sua posição. Ele não queria expor os moradores a mais violência e estava determinado a manter a paz no morro.Eu entendia sua preocupação, mas não conseguia deixar de lado a sensação de vulnerabilidade. Eu precisava me sentir segura para poder assumir a minha posição de primeira-dama do morro.Decidi que precisava de uma outra estratégia. Talvez eu pudesse procurar outros meios de defesa, como aulas de autodefesa ou algo do tipo.Enquanto isso, eu também estava determinada a ajudar Mikael no que fosse necessário. Eu queria provar que era mais do que apenas uma contadora, que eu era capaz de liderar ao seu lado.Ainda havia muito a ser feito no m
Cidade de Deus – Rio de Janeiro – Brasil Como de costume em todas as sextas feiras, o baile funk começava a todo vapor e muitas pessoas se reuniam naquela quadra no pico mais alto do morro da Cidade de Deus. Muitas pessoas vinham de longe apenas para essa ocasião, muitos funkeiros famosos compareciam, assim como muitos dos traficantes mais perigosos daquela comunidade. E não só os moradores compareciam, muitas pessoas de outros morros e até do asfalto subiam o morro para curtirem. Era uma festa com muita bebida, musica, drogas e sexo para todos os gostos. E lá vinha ele em seu carro preto rebaixado, Mikael dos Anjos, o recém auto intitulado o patrão da quebrada, o dono do morro, e o traficante mais perigoso e sangue frio da Cidade de Deus e de todos as comunidades da mesma facção. O carro estacionou na frente da quadra e Mikael saiu todo imponente, duas pistolas prateadas enfeitavam a cintura de sua calça jeans e mostrava-se junto ao seu abdômen negro todo definido. Usava uma blusa
Cidade de Deus – Rio de Janeiro – BrasilJá passavam das cinco da manha e o baile ainda não tinha terminado, pelo contrário, não só dentro, mas também ao lado de fora, muitas pessoas ainda dançavam, se pegavam e bebiam, além de usarem drogas como de costume.Dentro de um carro preto próximo dali, Mikael transava com duas mulheres que conhecera nessa madrugada, e ambas se preparavam para sair do veiculo ainda colocando suas roupas.Mikael diferente dos que lhe cercavam, não usava drogas, falava perfeitamente bem, e com poucas gírias. Era um homem estudado e nem sempre fora um homem mal ou do crime, muitos fatores de um passado não tão distante o fizerem se tornar o homem frio e cruel que é hoje.O dono do morro terminou de vestir suas calças e colocar sua blusa branca social e desceu do carro, onde um homem armado com um fuzil e com uma aparência bastante amedrontadora o aguardava. Mas ele era apenas um dos homens que serviam a Mikael, e tinha algo bastante importante para lhe dizer.-
Cidade de Deus – Rio de Janeiro – BrasilMikael andava de um lado para o outro, estava bastante agoniado, algo que não se via muito naquele homem frio que era um dos traficantes mais perigosos do Rio de Janeiro.A princípio, ele tinha achado que a menina tinha sido sequestrada, mas ao saber que fora dada por seu pai como tempo de espera e garantia para receber o pagamento que o deputado lhe devia, já era demais – até para ele.Mikael administrava um puteiro ali na comunidade, e um de seus homens sugeriu que usassem aquela menina para ganhar um pouco de grana. Era novinha, bonita, parecia uma princesa, e possivelmente era virgem. Os playboys e os quebradas iriam fazer fila para se aproveitarem dela, e certeza que iria gerar muito lucro. Além de que poderia ser uma mula maravilhosa para aumentar ainda mais o lucro do tráfico de drogas.Mikael estava pensando muito no que iria fazer com aquela menina, e disse que ninguém mais poderia saber do que tinha acontecido, e nem que aquela garota
Cidade de Deus – Rio de Janeiro – BrasilO dia já amanhecia e Mikael mal tinha conseguido pregar os olhos, muito menos pensar com clareza sobre os últimos acontecimentos. Algo estava acontecendo com ele, e o mesmo não conseguia entender o que era na verdade.Já haviam se passado pouco mais de uma semana desde que Angelina tinha sido entregue a ele como garantia de pagamento por seu pai, e ele ainda não tinha decidido o que fazer com ela. Não gostava de sequestros, por que na sua cabeça não tinha nada pior do que ficar de babá para marmanjos velhos, ainda mais uma garota irritante, chata, chorona e escandalosa como Angel.Mas não era apenas isso que estava tirando a sua paz. Haviam relatos de um infiltrado seu em uma das comunidades rivais a sua, que dizia que estavam tramando uma guerra, que a Cidade de Deus estava para ser invadida, mas não haviam confirmações claras e muito menos como e quando.Para piorar, os únicos dois homens de sua confiança que sabiam sobre a Angel, o estavam c
Cidade de Deus – Rio de JaneiroA vida de Angel não poderia estar pior, além de ter sido dada como forma de garantia de pagamento pelo seu pai ao dono do morro, agora tinha o terrível destino de ser uma das putas particulares de um dos puteiros de Mikael.Angel passou a manhã inteira em prantos, aquele quarto escuro e úmido lhe servia como uma tumba ou tumulo para suas angustias e lamentos hora após hora.Ela já havia desistido de clamar e gritar por socorro, ninguém a poderia lhe ouvir, apenas aqueles dois homens que lhe vigiavam vinte e quatro horas por dia.Mikael já estava a horas sem dar as caras, e ela não conseguia imaginar o que iria acontecer quando o mesmo voltasse. Queria implorar e clamar pela sua liberdade, mas isso iria colocar a vida de seus pais em cheque, melhor dizendo, seria a pena de morte par aqueles que lhe cuidaram com todo amor e carinho desde seu nascimento.Ela não conseguia mais imaginar como seu pai poderia ter descido tão baixo, além do fundo do poço mais
Rio de Janeiro – Cidade de DeusHá alguns anos.Mikael sempre foi um rapaz tranquilo, trabalhador e amava muito sua família – sua mãe e seu irmão mais novo, Rafael. Mikael era bastante ambicioso e sonhava um dia ter seu próprio negócio, ser patrão como ele mesmo dizia, pois não queria ficar se rebaixando a chefe nenhum para ganhar menos que um salário mínimo.Ele e sua família sempre viveram na Cidade de Deus e eram bem humildes, moravam em uma pequena e simples casa que não tinha azulejo e muito mal acabamento de concreto nas paredes. Ele dividia um quarto bastante pequeno com seu irmão mais novo e dormiam em um beliche – uma cama em cima e outra embaixo. Mas eram bastante felizes.Desde cedo Mikael aprendeu a viver sozinho, sem apoio das pessoas que mais amava, já que sua mãe só tinha olhos e parecia mais gostar de Rafael. Mas também pudera, o rapaz estava sempre metido em confusão com gente errada e por diversas vezes chegou em casa bastante machucado ao se envolver em brigas por c