Cidade de Deus – Rio de Janeiro – Brasil
O dia já amanhecia e Mikael mal tinha conseguido pregar os olhos, muito menos pensar com clareza sobre os últimos acontecimentos. Algo estava acontecendo com ele, e o mesmo não conseguia entender o que era na verdade.
Já haviam se passado pouco mais de uma semana desde que Angelina tinha sido entregue a ele como garantia de pagamento por seu pai, e ele ainda não tinha decidido o que fazer com ela. Não gostava de sequestros, por que na sua cabeça não tinha nada pior do que ficar de babá para marmanjos velhos, ainda mais uma garota irritante, chata, chorona e escandalosa como Angel.
Mas não era apenas isso que estava tirando a sua paz. Haviam relatos de um infiltrado seu em uma das comunidades rivais a sua, que dizia que estavam tramando uma guerra, que a Cidade de Deus estava para ser invadida, mas não haviam confirmações claras e muito menos como e quando.
Para piorar, os únicos dois homens de sua confiança que sabiam sobre a Angel, o estavam cobrando sobre o que iria acontecer com ela, e sugeriam sem parar que a mandassem para um dos puteiros administrado por Mikael.
A maioria das meninas que trabalhavam para Mikael como prostitutas, eram na verdade em sua maioria, mulheres que eram forçadas a tal coisa. Muitas tiveram esse destino traçado despois de traições com membros importantes de seu morro e facção, ou mesmo eram viciadas que não puderam arcar com seus vícios e acabaram por ficarem devendo muito dinheiro para o tráfico.
Muitas eram feias e fora do gosto da maioria e não rendiam o lucro que se esperava, mas em sua grande parte, eram meninas e mulheres muito lindas que ganhavam uma fortuna todas as noites, onde seus clientes eram na maioria das vezes, playboys e velhos ricos do asfalto.
E Angel de longe era a mais bonita a ser considerada para ir trabalhar dessa forma. Muitos homens iriam fazer fila para ter a pequena patricinha do asfalto, mas não era isso que Mikael queria, por alguma razão se sentia mal pela menina. Uma pobre garota dada ao chefe do morro por irresponsabilidade de um político corrupto, pior, um pai corrupto.
Mas algo havia de ser feito, já estava ouvindo cochichos de seus homens que Mikael estria se envolvendo com a menina, e isso poderia de uma forma ou outra ser vazado na comunidade e iria pegar muito mal para o Malvadão da quebrada. Mikael precisa agir.
- Quem está aí? – Perguntou Angel ao ouvir alguém abrindo a porta de onde era mantida em cativeiro.
Angel se levantou apressada e amedrontada e correu para o canto mais ao fundo como de costume em todas as vezes que entrava alguém, mesmo nunca mais tendo sido vitimas de tentativas de assedio como nos primeiros dias.
- Trouxe seu café da manhã e almoço de mais tarde. – Mikael entrou com umas sacolas, uma garrafa de coca cola e fechou a porta ao entrar.
Desde o incidente com um de seus homens, Mikael passou todos os dias a levar desde o café da manha até a janta para Angel. E quando não podia fazer, mandava apenas um de seus homens, que era o que ele mais confiava. Não poderia ter nenhuma tentativa mais de estupro em seu morro, ainda mais envolvendo seus homens. Isso era imperdoável.
- Não mate eles, por favor. Eu já aceitei o meu destino em ter que permanecer por mais alguns dias aqui, mas por favor, não faça mal nenhum a minha família. – Angel se esforçava ao máximo para não chorar, mas suas lagrimas teimavam em permanecer somente sem seus olhos.
- Do que está falando patricinha? – Perguntou Mikael enquanto colocava seu almoço e alguns pães próximo a ela.
- Naquele dia em que me salvou de ser violentada, você me perguntou se eu queria a liberdade em troca de matar meu pai que lhe devia dinheiro. Eu decido permanecer aqui, mais cedo ou mais tarde eu sei que ele vai quitar sua divida e me levar embora. – Angel não se aguentou e começou chorar copiosamente.
Mikael nada disse. Pelo contrário, apenas a ficou observando a menina e ameaçou lhe tocar os cabelos, mas Angel logo se encolheu ainda mais em seu canto escuro com aversão ao toque que poderia receber daquele homem.
- Então parceira, eu não queria fazer isso, mas não tenho outra escolha. – Mikael pigarreou como se não quisesse terminar o que tinha para dizer. – Essa tarde você sai daqui...
E antes mesmo que ele pudesse terminar, Angel pulou em seus braços bastante feliz e começou a lhe agradecer pela liberdade que estaria por vir, mas não era nada do que a pobre e ingênua patricinha loira dos olhos azuis imaginava.
- Calma aí porra, qual foi? Segura a emoção aí. Já é? – Mikael se levantou após perder o equilíbrio devido o ato de Angel e prosseguiu uma sentença cruel, que para a doce e imaculada Angel seria pior do que a própria morte.
- Não se anime, não sou anjo da guarda de ninguém e muito menos vou te devolver aos seus pais. – Mikael era duro e frio com as palavras, e antes de fechar a porta recém aberta para sair do quarto, terminou o que nenhuma mulher gostaria de ouvir e fazer contra sua própria vontade.
- Mas como assim.... – Angel clamava resposta em meio ao silencio repentino do dono do morro.
- Vai dando adeus a sua virgindade patricinha. A partir dessa noite você será apenas uma puta sem vontade ou vida própria. – Mikael fechou a porta e ao lado de fora finalizou. – Agradeça o porco do seu pai por isso.
Do lado de dentro apenas dois segundos de silencio tomou conta daquele recinto, para depois, ser completamente alterado por gritos de choro e desespero da menina Angel. Ela gritava, pedia socorro e arrotava uma infinidade de maldições e palavrões contra Mikael, que nada o fez, apenas acendeu seu cigarro e voltava para seu escritório.
"Eram duas da manhã e cai chuva, e o pesadelo ainda continua".
- Facção Central.
Cidade de Deus – Rio de JaneiroA vida de Angel não poderia estar pior, além de ter sido dada como forma de garantia de pagamento pelo seu pai ao dono do morro, agora tinha o terrível destino de ser uma das putas particulares de um dos puteiros de Mikael.Angel passou a manhã inteira em prantos, aquele quarto escuro e úmido lhe servia como uma tumba ou tumulo para suas angustias e lamentos hora após hora.Ela já havia desistido de clamar e gritar por socorro, ninguém a poderia lhe ouvir, apenas aqueles dois homens que lhe vigiavam vinte e quatro horas por dia.Mikael já estava a horas sem dar as caras, e ela não conseguia imaginar o que iria acontecer quando o mesmo voltasse. Queria implorar e clamar pela sua liberdade, mas isso iria colocar a vida de seus pais em cheque, melhor dizendo, seria a pena de morte par aqueles que lhe cuidaram com todo amor e carinho desde seu nascimento.Ela não conseguia mais imaginar como seu pai poderia ter descido tão baixo, além do fundo do poço mais
Rio de Janeiro – Cidade de DeusHá alguns anos.Mikael sempre foi um rapaz tranquilo, trabalhador e amava muito sua família – sua mãe e seu irmão mais novo, Rafael. Mikael era bastante ambicioso e sonhava um dia ter seu próprio negócio, ser patrão como ele mesmo dizia, pois não queria ficar se rebaixando a chefe nenhum para ganhar menos que um salário mínimo.Ele e sua família sempre viveram na Cidade de Deus e eram bem humildes, moravam em uma pequena e simples casa que não tinha azulejo e muito mal acabamento de concreto nas paredes. Ele dividia um quarto bastante pequeno com seu irmão mais novo e dormiam em um beliche – uma cama em cima e outra embaixo. Mas eram bastante felizes.Desde cedo Mikael aprendeu a viver sozinho, sem apoio das pessoas que mais amava, já que sua mãe só tinha olhos e parecia mais gostar de Rafael. Mas também pudera, o rapaz estava sempre metido em confusão com gente errada e por diversas vezes chegou em casa bastante machucado ao se envolver em brigas por c
Rio de Janeiro – Cidade de DeusHá alguns anos.Já era madrugada e Rafael mal conseguia pregar os olhos, deitado em seu beliche na cama de baixo, ele só pensava nas ultimas palavras de sua namorada Viviane. A noticia em certa parte era algo maravilhoso, mas ambos eram novos e nenhum deles tinham emprego, e isso lhe perturbava a mente e lhe preocupava em demasia.Rafael estava bastante inquieto e sentou-se em sua cama, estava pensativo e não sabia como iria lidar ao certo com aquela situação inusitada, e muito menos como iria contar para sua mãe, ou para os pais da menina.Algumas semanas se passaram e finalmente chegara o dia de se alistar no exercito brasileiro. Mas não somente ele, mas muitos jovens até vinte e cinco anos que haviam sobrado no serviço militar, teriam que se alistarem obrigatoriamente. Essa seria a chance que tanto disse a Viviane, uma chance para conquistar uma carreira sólida nas forças armadas e dar uma vida digna para ela e sua futura criança.Refletindo em tal a
Rio de Janeiro – Cidade de Deus~ Mikael P. O. V. ~Hoje irei contar a vocês uma história nenhum pouco feliz e que possa vir a servir de exemplo para quaisquer pessoas. Então porque eu fiz tudo o que vocês estão prestes a testemunhar em minhas palavras? Porque a vida nem sempre é justa e nem sempre aquilo que fazemos é realmente o que deveria ser feito, mas como eu disse antes, A VIDA NÃO É JUSTA. Então a partir de hoje eu também não seria.Já tinham se passado três dias desde que meu irmão, eu e Adilsinho tínhamos ido nos alistar. Meu irmão que era o que mais queria tal compromisso, a ele lhe foi negado, assim como para Adilsinho. Agora eu que não queria nem de longe entrar naquela merda de exército, fui condenado a esse fardo. Perder o tempo da minha vida tendo que abaixar a cabeça para aqueles ratos fardados para ganhar uma miséria de salário.Era uma sexta feira a noite e estávamos em um barzinho ali perto de nossa casa como sempre fazíamos. Eu estava bebendo um pouco junto de uns
Rio de Janeiro – Cidade de Deus~ Mikael P. O. V. ~Muitas pessoas costumam falar que as pessoas entravam na vida do crime por falta de vergonha na cara ou por querer dinheiro e bens de forma facilidade e rápida. Mas nem sempre as coisas são exatamente dessa forma. A vida é traiçoeira e não somos nós que controlamos nosso destino, o destino que nos controla.Aquela noite eu não consegui por um segundo pregar meus olhos. Eu estava deveras preocupado com meu irmão Rafael, ele não era do crime, e muito menos tinha culhão para um assalto, ainda mais armado.Assim que ele chegasse em casa eu iria ter uma conversa muito séria com ele, eu iria ajuda-los nessa gravidez. Eu estava trabalhando, ia dar tudo certo. Seria bem difícil, mas pelo menos não ia precisar conviver com o meu irmão mais novo enfiado nessa vida nojenta do crime.Tentei me manter acordado, mas o álcool permanecia forte agredindo meu estomago e minha cabeça. Eu não conseguia mais resistir ao sono e a bebida e acabei cedendo a
Cidade de Deus – Rio de Janeiro“Mikael – P. O. V.”Mais um dia comum no quartel. Um dia chato, entediante e cansativo, mas eu tinha uma ideia, algo que eu iria levar adiante independente dos rumos que viesse a tomar. Estava tudo certo e eu não iria mais voltar atras.Comentei com meu amigo que era responsável pela arrumação das armas que eu iria precisar retirar alguns desses itens para um proposito particular. Ele ficou meio nervoso com isso de início, mas consegui convence-lo que seria para um bem maior, e que ninguém iria desconfiar dele.- Mano, se liga. Você vai ficar normalmente como sempre fica arrumando e limpando as armas. E se alguém perguntar depois – porque irão, você diz que foi golpeado e não sabe o que aconteceu depois.- Mas calma aí? Ser golpeado? – Perguntou ele ajeitando os seus óculos com o dedo indicador direito e o semblante cheio de dúvidas.- É o jeito meu amigo. Eu vou lhe golpear o rosto e fazer com que fique desacordado. Pegarei as armas e sairei com o veíc
Cidade de Deus – Rio de Janeiro“Mikael – P. O. V.”Eu estava me tornando uma pessoa diferente, alguém diferente e eu sentia que seria um caminho sem volta, mas eu não poderia mais voltar atras. Eu era agora um desertor do exército brasileiro, além de ter em cima de mim também o crime de roubo de armamento oficial. E isso tudo não estava nem um pouco me abalando. Eu fazia tudo isso para poder vingar a morte de meu irmão pelas mãos sujas daqueles policiais corruptos de merda.De eu estava, bem do alto, mas próximo do ponto de encontro, eu via Adilsinho já recebendo os policiais. Eles conversavam e meu amigo fazia de tudo para ganhar tempo. Tinham três policiais no total, e eram os mesmos de sempre, os mesmos que cobravam o arrego para deixar o trafico fluindo normalmente em nosso morro.***********“Adilsinho P. O. V.”- Aí senhor, tá tudo aqui como falamos anteriormente. Quatro fuzis novinhos e oficiais direto do exército nacional. – Abri o porta malas do carro e apresentei o material
Cidade de Deus – Rio de Janeiro – BrasilDias atuaisMikael já fora um homem bom, de princípios cristãos e bastante calmo, mas fatos trágicos ocorridos contra o seu irmão no passado, o fez mudar drasticamente, tanto seus pensamentos, sentimentos e modo de agir.Após Mikael desertar do exercito brasileiro e ainda por cima ter roubado todas aquelas armas, ele passou atuar como um dos homens de Robinho na linha de frente com o tráfico. Mikael era bastante inteligente e estava bem acima da média de todos os traficantes atuais daquele morro e organização criminosa.Em pouco tempo Mikael foi ganhando não só a confiança de Robin, mas também do grande chefão daquela facção que atuava em todo o estado do Rio de Janeiro.Mikael foi submetido a diversos testes e tarefas, onde se saiu muito bem em todos eles, e se sobressaindo além das expectativas de Robin e do líder da facção.E as gratificações não tardaram para chegar, e Mikael em poucos meses acabou herdando o controle do tráfico da Cidade d