Aprisionada

Cidade de Deus – Rio de Janeiro – Brasil

Mikael andava de um lado para o outro, estava bastante agoniado, algo que não se via muito naquele homem frio que era um dos traficantes mais perigosos do Rio de Janeiro.

A princípio, ele tinha achado que a menina tinha sido sequestrada, mas ao saber que fora dada por seu pai como tempo de espera e garantia para receber o pagamento que o deputado lhe devia, já era demais – até para ele.

Mikael administrava um puteiro ali na comunidade, e um de seus homens sugeriu que usassem aquela menina para ganhar um pouco de grana. Era novinha, bonita, parecia uma princesa, e possivelmente era virgem. Os playboys e os quebradas iriam fazer fila para se aproveitarem dela, e certeza que iria gerar muito lucro. Além de que poderia ser uma mula maravilhosa para aumentar ainda mais o lucro do tráfico de drogas.

Mikael estava pensando muito no que iria fazer com aquela menina, e disse que ninguém mais poderia saber do que tinha acontecido, e nem que aquela garota estava sendo mantida em cativeiro. Isso era completamente contra sua criminalidade, que segundo a ele: “um bom criminoso também tinha que possuir um código de ética”

Um som na porta lhe chamou atenção, alguém batia para ser atendido.

- Pode entrar, ta aberta. – Respondeu Mikael.

- E aí patrão, da licença. – Um homem branco de um metro e noventa entrava, era um dos homens que tinham trazido Angelina até ele.

- Fala aí cachorro, qual a fita? – Perguntou Mikael.

- Vai deixar a patricinha lá com fome? Vou levar algo para ela bater um rango já é? Ela já está dois dias sem bater um prato tá ligado? – Aquele homem tinha toda uma aparência de malvadão, mas parecia se preocupar de verdade com a menina.

- Caralho mano, vocês têm merda na porra da cabeça? Dois dias sem comer é de fuder hein parsa. Leva logo alguma coisa pra ela comer cacete.

- Já é chefe, vou pedir umas duas quentinhas pra ela. Levo água ou refrigerante? – Perguntou com suposta preocupação.

- Puta que me pariu, eu to fodido com essa porra. Isso aqui agora virou hotel de luxo caralho? – Reclamou Mikael com extrema raiva. – Ah, sei la. Leve uma coca cola pelo menos.

- Sim, sim, Mika. – Comentou o sujeito reparando a mudança drástica de opinião de Mikael.

Angelina já estava em poder dos criminosos faziam três dias, e era mantida em cativeiro em um quartinho ali nos fundos de onde Mikael tinha seu pequeno escritório do crime, mas o mesmo ainda não tinha ido uma vez ver Angelina, ou mesmo tentar algum dialogo. Só mandava ver se ela estava bem e se não poderia ter fugido ou até se matado, e também para lhe mandar calar a boca, já que nos dois primeiros dias era um escândalo sem proporções causados pela pequena Angel.

Mikael voltou a se sentar em sua mesa e pegou seu celular, deslizou o dedo por algumas vezes e finalmente achou o contato na qual queria fazer a ligação.

- E aí braço, tranquilidade? Como ta as fitas aí? Fiquei sabendo que teve um engraçadinho que comeu umas putas e não quis pagar. Que porra ta acontecendo aí caralho? – Mikael parecia não se ver livres de problemas e estava mais irritado hoje do que o normal.

- Tranquilidade patrão, já foi tudo resolvido. O noia era freguês da casa tá ligado? Mas esse final de semana tava pancadão de pó mano, ta doido.

- E aí, o que foi feito? Que fita levou essa parada aí? – Perguntou Mikael curioso e menos estressado que no início da ligação.

- Passamos o playboy. Tava criando muita confusão e ainda quebrou o braço de uma das meninas.

- Ah, beleza. Já sabe o que fazer com o corpo né? Esquarteja e desova essa porra logo. Não quero policia subindo meu morro atras de playboyzinho de merda não já é? – E assim finalizou a ligação.

Porém mais confusão o aguardava.

Mikael era alertado com mais e mais gritos de Angelina, que gritava em demasia, pedia socorro e clamava piedade. Mas não eram gritos comuns, Angelina gritava como se tivesse sendo vítima de abuso sexual, ou quase isso.

Mikael gritou por alguns de seus homens, mas ninguém o respondia. Foi então que ele se armou com uma de suas pistolas e foi ver o que estava acontecendo.

Quanto mais Mikael se aproximava do quarto onde Angelina era mantida, mais altos se tornavam seus gritos de agonia, e ele não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo. Poderia ser um truque dela, ou não.

Mikael finalmente chegara no corredor que dava acesso ao quarto e viu que a porta estava semi aberta e os gritos continuavam. Angelina gritava que era virgem, pedia para não ser violentada, gritava socorro e chorava em demasia.

- Que porra ta acontecendo aqui caralho? – Mikael abriu a porta com violência e entrava rápido com sua arma em punho. Mas então ele teve uma surpresa.

- Calma aí patrão, não é nada disso que você está pensando? – Aquele mesmo homem que viria trazer sua comida, era o mesmo que estava completamente sem roupa em cima do corpo frágil e indefeso de Angelina.

- Caralho porra. Tu ta maluco cuzão? Põe a porra da roupa agora filho da puta. Anda logo caralho. – Mikael babava enquanto falava e engatilhava sua pistola, ainda mirando para seu soldado.

- Porra patrão, essa filha da puta é maluca... – Angelina o cortou com diversos insultos e ainda chorando bastante. Ela estava com os punhos e tornozelos amarrados com corda e com suas roupas rasgadas jogadas no chão.

- Cala a boca vadia. – Ele lhe deu um tapa com as costas da mão e Angelina se encolheu abraçando seus próprios joelhos. – Essa filha da puta me seduziu, perguntou se eu não queria passar o tempo com ela e os caralho mano. Ai do nada começou a gritar essa maluca. Porra patrão....

Mas antes mesmo que o homem pudesse finalizar suas explicações, Mikael lhe acertou em cheio com um tiro no meio da testa. Seu corpo caiu pesado ao lado de Angelina, que voltou a gritar ainda mais assustada e com medo. O fluído vermelho e vital daquele homem espirrou pela parede e pelo corpo já totalmente despido da pequena menina.

- Estuprador do caralho. Vai dar o cu pro diabo agora filho da puta. – Mikael limpava o rosto onde havia espirrado um pouco do sangue daquele homem. Guardou sua pistola em sua cintura e se aproximou de Angelina

- Não me mata por favor, por favor....por favor. – Angelina se arrastou para um canto do quarto longe do cadáver e de Mikael e chorava ainda mais. Estava tremendo e bastante assustada.

- Relaxa aí caralho, ta maluca? – Mikael se agachou perto dela e lhe estendeu a mão. – Você tá bem? Ele chegou a te comer? – Ele era frio, mas suas palavras de preocupação pareciam ser verdadeiras. Se tinha algo que Mikael mesmo sendo criminoso não tolerava, era o estupro.

- Seu viado, traficante de merda. É tudo culpa sua...culpa sua.... – Angelina tirou forças de seu interior e avançou sobre Mikael e ambos tombaram deitados no chão.

Angelina montou sobre ele e começou lhe desferir t***s, que Mikael bloqueava sem nenhuma dificuldade. Ele então lhe segurou os punhos e ela finalmente parou de reagir, apenas chorava copiosamente enquanto Mikael saia debaixo dela e se levantava.

- Não pense que lhe ajudei ou gosto de você patricinha, eu só não suporto estupradores, ainda mais no meu morro e com minha propriedade. – Mikael saiu para em poucos segundos estar de volta.

Angelina permanecia encolhida segurando seus joelhos em um canto mais afastado do cadáver e chorava baixinho de forma tímida e amedrontada. Ela observava Mikael entrando novamente e nada fez ou falou. Estava completamente abalada com o estupro da qual quase fora vitima e pelo assassinato do homem que lhe assediara.

- Aí parceiro, dá um pulo aqui no escritório e traz um saco preto. Tem um presunto aqui, já é? – Mikael falava pelo seu rádio de comunicação e soltou no botão que segurava para falar para dar a palavra ao homem com quem se comunicava.

- Já é patrão, mas ta de boas aí? – O homem passou a vez para Mikael.

- Suave parceiro, demora não já é? – Respondeu Mikael sem muitos detalhes.

Mikael finalizou e olhou para Angelina.

- Aí relaxa aí que tão vindo tirar esse merda daqui ta beleza? – Comentou Mikael a tentando acalmar.

- Deixa eu ir embora moço, por favor? – Angelina tentava falar sem chorar, mas suas palavras eram cortadas com diversos soluços incontroláveis.

- Olha só patricinha, seu pai está me devendo muita grana tá ligada, e ele me deu você como garantia de pagamento sacou? Ninguém aqui te sequestrou parceira. Ou você prefere que eu mande meus homens matarem ele e sua mãe? Você que escolhe, aí eu te solto já é? – Mikael se agachava perto dela e verificava o pente de munição de sua pistola recém retirada de sua cintura.

- Qual seu nome? – Perguntou Angelina ainda chorando.

- Mikael...Mikael dos Anjos. – Respondeu o dono do morro com um meio sorriso em sua face negra e suada. E você, como se chama patricinha?

- Angelina, mas muitos me chamam de Angel. – Respondeu agora um pouco mais calma.

- Olha isso menor, “Mikael dos anjos” e “angel”, tá ligada que é o destino né? E ainda na Cidade de Deus? Porra. – Mikael sorria como ninguém jamais o viu em público, era um sorriso puro e verdadeiro.

- Não entendi o que o senhor quis dizer... – Angel se sentou e encarava Mikael com curiosidade. E reparava que ele apesar de tudo não tinha a aparência de bandido como ela imaginava e via nos outros.

- Tá tudo em casa patricinha, tudo no sagrado tá ligada? – Mikael segurou seu cordão que tinha um pingente de cruz e levou a sua boca lhe dando um beijo e fazendo o sinal da cruz logo em seguida. Mikael era bastante religioso, da sua maneira, mas era.

- “To ligada”, eu acho. – Angel deixou um sorriso timido se formar em sua face branca e jovial e voltou a se deitar um pouco mais calma. – To com fome. – Comentou em forma de suplica com uma voz meiga e chorosa.

Mikael saiu assim que seu parceiro chegou para retirada do corpo e entregou a ele a chave do cativeiro, ordenando para que fechasse em seguida e levasse algo para ela comer e beber, além de lhe dar roupas novas e limpas para usar.

- Caralho, a filha da puta é bonita, vai se fuder mano. – Sorria ao comentar consigo mesmo.

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