LIS- Vai fazer tudo que eu mandar, não vai? - O Gledson me abraçou por trás, distribuindo beijos pelo meu pescoço enquanto eu pegava minhas roupas sobre o velho colchão em cima da cama de alvenaria.- Tudo que você quer eu também quero. Não irei te decepcionar - Falei e logo virei para o mesmo, tomando sua boca em um beijo lento.- Só não esquece que a PM é minha - Parou o beijo e com uma das mãos segurou o meu rosto com força, e logo sorriu quando eu assenti.- Não vou esquecer - Afirmei.- Boa menina! - Deixou um selinho em minha boca e um tapa estalado em minha bunda, enquanto me olhava nos olhos.O beijei mais uma vez e ele puxou o meu cabelo, aprofundando mais o beijo até que...- Bora GD, seu tempo acabou! - O carcereiro falou encostado na parede ao lado sem nos olhar.Saí de seus braços e comecei a me vestir rapidamente. Eu ainda tinha muitas coisas a fazer teria que ir ao Santa Marta falar com os meninos.Ter um outro plano e conseguir executa-lo, era a prioridade no momento.
LUCAS- Solta o verbo - Mandei e sem dar muita importância, estiquei minhas pernas sobre a mesinha de centro.- Como sabem, o Gledson vai sair daqui à três semanas do presídio. Até lá, vamos deixar tudo como está - Jogou a bolsa em cima do sofá e prendeu o cabelo - Talvez já tenham um novo esquema de segurança, e não vai ser fácil de descobrir algo ou eu entrar no morro. Soube que proibiram a entrada de pessoas que não são do morro - Suspirou - Farei o possível para conseguir entrar lá e seguir todos os passos da Clarissa. E eu quero todos preparados para quando o Gledson sair. A invasão irá acontecer no mesmo dia e eu farei um mapa para vocês - Terminou enrolando a blusa, deixando a barriga a mostra e logo foi para a cozinha.- Isso é um plano? - O 99 questionou baixo e eu dei de ombros - Tão simples e sem graça. Vindo dela, eu esperava mais - Debochou e eu ri.Vi ela voltar da cozinha com um copo de água em sua mão e parar na janela.- Alguma dúvida? - Perguntou virando para nos enc
RAEL- Você não dormiu, né? - A Aninha entrou na cozinha com o Rian nos braços.Eu tinha apenas cochilado. Mesmo cansado, não consegui dormir direito. Tudo o que vinha acontecendo até a Lis ser uma suspeita, nada disso saía da minha cabeça.- Pouco só - Coloquei o café na garrafa - Fica com a Rita hoje? Vou levar a Clara pra fazer o exame aí - Falei e ela assentiu colocando o Rian no chão.- Tá feliz? - Ela perguntou divertida e eu sorri, por um momento esquecendo todos os problemas que rodeavam a minha mente.- Papo reto? E como! Tenho nem palavras para descrever, pô. Só que Deus ta me devolvendo tudo que eu perdi, tá ligada?! - Respondi com um sorriso no rosto e ela assentiu sorrindo - Mas bate aquela insegurança, de ser alarme falso sabe? Ou que por ela ser muito nova, possa per... - Não consegui terminar, formou um nó na minha garganta.Meu medo de passar por tudo de novo era grande demais.- Rael, para! - Me olhou - Você não vai passar por tudo de novo! Você mesmo que acabou de d
SORRISOEu sempre tive uma vida maneira, tá ligado? Eu tinha pai, mãe. Eu era feliz pra caralho. Mas a vida é uma filha da puta e sempre arruma um jeito de foder com tudo.Meu pai era o Thales, melhor amigo do Talibã e braço direito no comando do morro. Minha mãe, era uma garota simples aqui do morro mesmo que sempre corria atrás do dela mas acabou se apaixonando pelo traficante, e aí o clichê começa.Brigas, traições e as merdas todas. Mas chegou a notícia que eu tava a caminho e os dois tomaram um rumo certo e ficaram juntos até onde Deus permitiu. E eu fui crescendo né, um menorzinho sagaz e todo risonho.Um dia aí, na mesma invasão que a mulher do Rael morreu o meu pai foi de ralo também. Morreu com tiro certeiro na cabeça.Minha mãe ficou arrasadona pô, e eu? Queria ter morrido junto com ele. Se pá, até no lugar dele. Fiquei malzão mesmo. Quase caí numa depressão fodida, tá ligado? Mas o Talibã não deixou, fortaleceu eu e minha coroa como pude. E com a companhia dele e dos moleq
SORRISONão era nem meio-dia, mas o sol já tava dando moca bonito pô. Nem teve como eu subir de moto com todas as malas, tive que deixar minha moto na boca e ajudar a subir a pé mesmo.- Coloco onde? - Perguntei das malas e o Neguinho colocou a garotinha no chão e deixou uma mochila em cima do sofá.- A Emanuelly vai escolher o quarto dela e da Sofia, e tu leva as malas mais pesadas pra lá - Falou e eu desviei meu olhar para a morena, que já subia as escadas acompanhada da mãe do Neguinho e da garotinha.- Tranquilo, Alípio - Falei e ouvi ele me xingar. Ri e segui elas até a escada logo subindo com duas malas, uma na mão e outra com a alça no ombro.A senhora foi pro último quarto no fim do corredor, e a morena ficou com o quarto do meio. O primeiro da ponta era do Neguinho.Ela abriu a porta e entrou primeiro com a garotinha, e eu entrei logo em seguida colocando as duas malas no chão.- Vou subir pra casa do Rael! Sofia quer ir comigo não? Lá tem criança pra tu brincar - O Neguinho
RAELA Clara fez o exame, e porra, nunca vi alguém mais medrosa que ela. Cheia de medo de agulha pô. Na hora só faltou tirar sangue do meu braço com aquelas unhas dela.- Se foder viu! Maior empata foda tu, Rl! - O Sorriso chegou bolado, parando a moto perto do meio-fio onde eu estava sentado.Levantei batendo a poeira da bermuda.- Porra, sou adivinho não! - Disse e ri. Ele negou cruzando os braços e me encarou.- Fala aí, quando que sai o resultado do exame? - Perguntou enquanto eu subia na garupa.- Daqui à cinco dias - Suspirei - Vou nem dormir nessa espera. Bagulho público é uma merda! - Reclamei.Segurei nos ferinhos e ele acelerou indo pra entrada do morro.- Foda! Mas falar pra tu, se não dormir como vai tirar o plantão? Tem que ficar esperto pô, ainda mais agora - Alertou e eu assenti, enquanto ele enrolou em direção a rua 20.Nessa madrugada nas horas que eu não dormi, aluguei o Sorriso. Contei pra ele o que eu tinha em mente e que ele iria comigo na casa da Lis, pra ver o m
RAEL- Vou ir no banheiro - Eu disse passando por eles e a Lis já tava cheia de sorrisos pro lado cria.- Leva o tempo que for preciso - O Sorriso soltou dessa, mas para a Lis soou como um flerte.Passei pela porta da cozinha e andei pelo pequeno corredor alí indo até o banheiro. Fechei a porta e peguei meu celular no bolso, desbloqueando o mesmo e logo fui na agenda procurar o número da Ana. No terceiro toque ela atendeu.- Oi Rael, aconteceu alguma coisa? - Perguntou e eu pude ouvir a voz da Rita e de outra criança do outro lado da linha.Não questionei nada, não era o momento. Eu precisava manter o foco.- Nada não, cunhada! Cadê a Rita? Quero falar com ela - Eu disse e andei até a porta, me escorando nela.- Tá aqui brincando com a sobrinha do Neguinho, espera que vou chamar ela - Falou e a linha ficou muda por alguns segundos, até a minha filha falar.- Oi papai, onde você tá? - Perguntou com aquela voz meiguinha dela.- Tô trabalhando, gatinha - Menti - Quero que tu me diga uma
2 horas atrás.NEGUINHOSempre fui muito transparente com o Talibã sobre a minha família. Ele sabia que minha mãe e toda a minha família morava no morro rival, e sabia também que meu primo era de uma outra facção.A uns dois meses atrás, quando ele soube que o Ll tinha tirado o Santa Marta da lama, ficou interessado no moleque e me convenceu a fazer uma proposta.- Trouxe a resposta daquele papo lá, chefe - Falei entrando na endola. O Talibã supervisionava os crias enquanto eles faziam as misturas das drogas e preparavam os saquinhos para a venda.Ele deu uma última olhada nos bagulhos e descruzou os braços seguindo pelo corredor até a sala dele, e eu fui seguindo junto. Abriu a porta e entrou, entrei logo em seguida fechando a porta.- Solta o verbo! - Falou sentando em sua cadeira, colocando o rádio sobre a mesa abaixando o volume. Tirou um cigarro comum da carteira em seu bolso e ascendeu, soprando a fumaça.- O Ll mandou o papo. Disse que vai pular, mas pediu um favor também - Fa