— Vamos ver… — murmurei, o amargor evidente em minha voz. — Andar pelos jardins pela milésima vez ou ficar trancada aqui dentro… Ou, quem sabe, podemos ficar trancados aqui dentro. A escolha é sua.Nitta me cutucou levemente, um toque que parecia irresistível para ele.— Ah, Bel, não seja assim — disse, com aquele sorriso despreocupado. — Você não gosta da minha companhia?Suspirei, sentindo a frustração crescer dentro de mim.— Quero sair, Nitta — gemi, quase ao ponto de bater o pé como uma criança irritada. — Não há muito o que fazer aqui. Sinto como se estivesse sendo punida e não entendo o porquê. É isso mesmo? Esta é a minha vida agora?— Sei que é um pouco chato…— É mais do que um pouco chato! — interrompi, minha voz subindo em tom. — Eu me sinto presa. Estou acostumada a trabalhar todos os dias, a socializar com as pessoas, a fazer algo produtivo com o meu tempo, não a ficar trancafiada em casa com uma babá! E por quanto tempo Ryuu vai continuar me evitando? — O som da minha v
&Beatrice&Nitta manteve os olhos fixos nos meus, desafiando a minha firmeza com aquele mesmo olhar de sempre, um misto de provocação e crueldade que me irritava profundamente. Eu sabia que ele adorava essa minha postura implacável, como se eu fosse uma cobra venenosa prestes a atacar. E, ao perceber meu veneno contido, um sorriso sádico se formou em seus lábios. Era como se ele tirasse prazer em me testar, mesmo sabendo que eu estava à beira de perder a paciência.Empurrei seu ombro com força, decidida a me levantar e encerrar aquela interação desgastante. Mas, ao fazer isso, minha perna se enroscou na colcha, fazendo-me perder o equilíbrio. Despencando em direção à mesinha de centro, senti o pânico tomar conta de mim por um breve instante, até que Nitta, com uma agilidade surpreendente, me puxou para si, protegendo minha queda. No entanto, ele acabou machucando a mão no processo, e agora estávamos ambos no chão, ele sobre mim, numa posição embaraçosamente íntima, como se estivéssemo
Eu não sabia o que fazer comigo mesma. Desde o incidente na sala, Ryuu mal havia me dirigido duas palavras antes de desaparecer novamente, e Nitta também não permaneceu por muito tempo. Ele parecia assustado, provavelmente temendo as consequências do que havia acontecido, mesmo que a situação não fosse exatamente como parecia. Afinal, ele havia avançado sobre a esposa do irmão mafioso. Ele deveria estar com medo.O medo foi exatamente o que me manteve paralisada naquele salão por mais tempo do que deveria, tentando processar como tudo tinha saído tão errado. A imagem de nós dois caídos no chão, tão próximos, com a mão dele nos meus cabelos e outra na minha cintura, era incriminadora demais. Mas eu não fiz nada de errado. Pelo contrário, tentei afastar os avanços de Nitta, e agora me encontrava nessa situação horrível.Meu estômago estava em um nó tão apertado que parecia impossível desfazer. A culpa pesava sobre mim como uma tonelada, mesmo sabendo que não devia nada a Ryuu. Nosso cas
As malas estavam no saguão quando passei, bagagem cara que eu não reconheci de imediato. Meu coração apertou por um instante, temendo que Ryuu pudesse me expulsar de casa — o que, para ser honesta, não seria tão ruim, se eu ao menos tivesse para onde ir. Nem sabia se meu pai estava em Los Angeles ou se tinha viajado para Palermo com o resto da família. Mas, ainda que estivesse por perto, viver com ele era tão pouco desejável quanto continuar com Ryuu.Quando entrei na cozinha, deparei-me com uma mulher desconhecida, que cantarolava distraidamente enquanto preparava a refeição da noite. Era uma das cozinheiras dos Morunaga, isso eu sabia desde a segunda noite na casa, quando compartilhei uma refeição desconfortável com Fukui e Nitta. O silêncio naquela ocasião foi opressivo, e eu mal consegui comer, retirando-me o mais rápido possível.— Senhora Morunaga — cumprimentou a cozinheira, sem precisar de apresentações, tal como Mena havia feito na minha primeira manhã ali. — Gostaria de jant
&Ryuu&Quase joguei o peso de papel na cabeça de Nitta no instante em que ele entrou no meu escritório. O álcool que havia consumido mais cedo ainda circulava em minhas veias, mas me forcei a engolir o impulso violento.— Você tem muita coragem de aparecer aqui agora — rosnei, sentindo meu rosto endurecer.O rosto de Nitta estava corado, e seus lábios se curvaram em um rosnado enquanto ele se aproximava, desafiando-me.— Não se faça de vítima — ele cuspiu, inclinando-se sobre minha mesa, os antebraços tensos como se estivesse pronto para explodir. — O que você esperava ao mantê-la trancada por tanto tempo e ignorá-la completamente?O sangue subiu à minha cabeça, e me levantei, minha voz saindo como um rugido.— Está testando minha paciência, Nitta! — Não me deixaria abalar, não me deixaria recuar. — Ela é minha esposa!Nitta soltou uma risada cortante, aquele som agudo que sempre me irritou. Fechei os punhos, tentando conter a raiva que crescia dentro de mim.— Você parece uma criança
Essa não era a punição que eu esperava. Não era uma punição de forma alguma. Será que Ryuu acreditava que nada havia acontecido entre mim e Nitta?Não me importava com o que havia levado Ryuu a tomar essa decisão. Tudo o que importava era que eu finalmente poderia experimentar um pouco de liberdade, mesmo sob vigilância constante. Estava acostumada a guarda-costas e à ameaça de perigo, mas nunca precisei mudar minha vida por causa disso até voltar à América. Esse pequeno resquício de normalidade era mais do que bem-vindo.A diversão que brilhava nos olhos de Fukui me deixava em alerta. Eu não podia baixar a guarda perto dele; não depois do que aconteceu com Nitta. Embora Nitta fosse extrovertido e provocador, havia algo em Fukui que me dizia para ser ainda mais cautelosa. Sua quietude era uma armadilha, e confiar nele seria um erro fatal.— Então, Hime, para onde vamos? — Fukui perguntou, um sorriso discreto curvando seus lábios, embora seus olhos mantivessem a cautela.Permiti que um
— Não sabia que você apreciava tanto a minha personalidade encantadora e minhas habilidades de conversação, Hime — Fukui murmurou, a voz grave, carregada de sarcasmo.— Você está sendo um escroto! — retruquei, sentindo minhas bochechas esquentarem. — Eu não tive ninguém para conversar além de Nitta e os funcionários durante toda a semana. Desculpe se estou um pouco desesperada por uma conversa. E, além disso, não tenho dinheiro, então você vai ter que pagar.Fukui zombou, mas logo sua expressão se transformou num sorriso radiante quando o atendente do café nos cumprimentou e anotou o pedido. Apesar de sua evidente exasperação, ele entregou algumas notas com a mesma eficiência de sempre.— Posso pegar seu número? — perguntei, observando que sua atenção ainda estava completamente presa ao celular.— Você quer meu número de telefone? — Fukui levantou uma sobrancelha, visivelmente divertido.— Não tenho o número de nenhum de vocês. Não parece muito inteligente não ter.— Nem mesmo o de Ry
&Ryuu& Inclinei a cabeça e sorri, observando o homem amarrado diante de mim. O porão ao nosso redor era vazio e frio, o concreto das paredes, do chão e do teto apenas amplificava a sensação de isolamento. O suor escorria das têmporas dele, e seus olhos, frenéticos, saltavam entre mim e Nitta. Meu irmão segurava um taco de metal manchado de sangue, com uma expressão entediada que contrastava com a tensão no ar.A adrenalina pulsava em minhas veias, me inundando com aquela sensação perigosa de poder que eu conhecia tão bem. Era um vício doentio, o tipo de satisfação que só vinha quando eu resolvia os problemas pessoalmente, em vez de delegar para Nitta ou os outros homens. Como chefe mafioso, eu raramente sujava as mãos. Mas, em momentos como aquele, percebia o quanto apreciava fazer isso.— Eu não sei de nada — ele implorou, a voz trêmula e distorcida pela dor que vazava de sua mandíbula ferida. A pele pálida destacava o sangue que escorria, tornando o medo em seus olhos quase palpáve