Ele continuava a se despir, mas agora seus movimentos eram mais lentos, quase calculados. Cada botão da camisa que ele desfazia revelava a pele pálida e lisa de suas costas, adornada por uma intricada tatuagem de dragão. A camisa branca escorregou de seus ombros, e eu me vi incapaz de desviar os olhos. Cada músculo que se flexionava sob sua pele me prendia em um estranho fascínio. O som metálico do cinto sendo desafivelado ecoou nos meus ouvidos, e meu estômago se contorceu em uma mistura de ansiedade e uma incômoda admiração.O que estava fazendo? Por que não conseguia parar de olhar para ele como se estivesse… atraída? Aquela sensação súbita e inapropriada me tomou de surpresa. Ryuu não era um homem comum. Era perigoso, alguém que chegou ao topo através de meios questionáveis, e que nunca hesitara em usar sua força para conseguir o que queria. Como poderia estar me sentindo seduzida por alguém assim? Por que ele estava se despindo no quarto quando havia um banheiro ao lado? Será qu
&Beatrice&Seria um erro. Eu sabia disso. E, no entanto, o pensamento de beijá-lo novamente queimava brilhante na minha mente, como uma chama que eu não conseguia apagar.Ryuu se afastou, seus olhos sombrios refletindo uma irritação que ele não se preocupou em disfarçar. Ele deu cinco passos lentos em direção à porta, mantendo o olhar longe do meu. Cada passo ressoava como um martelo contra meu autocontrole.— Não ficarei aqui esta noite — disse, a voz tão áspera quanto uma lâmina que corta ao passar.Pisquei várias vezes, boquiaberta, tentando encontrar algo para dizer, mas as palavras se recusavam a sair. Um calor invadiu meu rosto, queimando minhas bochechas com a vergonha que me consumia. Ele parou por um breve segundo à porta, como se estivesse reconsiderando, mas então se foi, deixando-me sozinha, mais uma vez, nesta casa estranha, cercada por uma família que eu mal conhecia. E o vazio da ausência da minha casa em Palermo se expandiu dentro de mim, sufocando qualquer sentimento
Ryuu não voltou para o quarto naquela noite. Quando acordei na manhã seguinte, ele já havia saído. Nitta mencionara que Ryuu costumava começar o dia cedo, mas saber que ele já estava fora de casa, enquanto eu ainda tentava me acostumar a essa nova realidade, me deixou inquieta. Eu não sabia por que isso me incomodava tanto, mas a sensação de solidão era esmagadora.Deveria me sentir aliviada, certo? Pelo menos não precisaria encará-lo tão cedo, depois do espetáculo embaraçoso da noite passada. O que me perturbava, porém, era a forma como meus desejos por ele se manifestaram de maneira tão descarada, como se, de um momento para o outro, o desprezo tivesse se transformado em algo muito mais perigoso. Sentia-me mortificada ao pensar no quanto havia demonstrado.Estava sentada sozinha na cozinha, mal mordiscando um pedaço de pão com geleia, quando uma voz divertida interrompeu meus devaneios.— Temos uma sala de jantar, sabia? — Fukui falou devagar, entrando na cozinha com a elegância que
Eu me senti aliviada ao conversar com Mena, tanto que consegui convencê-la a me deixar ajudar a secar a louça. Ela não pareceu muito contente com isso e me fez prometer que não contaria ao senhor Morunaga. Concordei com um sorriso que ela não conseguiu resistir. Em um casamento, segredos podem ser perigosos, mas eu sabia que esse era inofensivo. Afinal, não era como se eu pudesse simplesmente ficar ali, observando Mena trabalhar, quando não faz muito tempo eu estaria fazendo exatamente o mesmo no restaurante da minha tia.— Devo esperar ver Suniza ou Gojou hoje? — perguntei enquanto terminávamos a limpeza. Mena estava varrendo o chão da cozinha, e eu limpava os balcões, tentando não sorrir toda vez que ela disfarçava seu desconforto com a minha ajuda.— O senhor Gojou não fica muito aqui. Ele está em Kobe, no Japão, agora que não está mais no comando. — Franzi as sobrancelhas ao ouvir isso. Eu não sabia que Gojou tinha uma casa em Kobe ou que passava tanto tempo lá.Eu queria pergunta
— Vamos ver… — murmurei, o amargor evidente em minha voz. — Andar pelos jardins pela milésima vez ou ficar trancada aqui dentro… Ou, quem sabe, podemos ficar trancados aqui dentro. A escolha é sua.Nitta me cutucou levemente, um toque que parecia irresistível para ele.— Ah, Bel, não seja assim — disse, com aquele sorriso despreocupado. — Você não gosta da minha companhia?Suspirei, sentindo a frustração crescer dentro de mim.— Quero sair, Nitta — gemi, quase ao ponto de bater o pé como uma criança irritada. — Não há muito o que fazer aqui. Sinto como se estivesse sendo punida e não entendo o porquê. É isso mesmo? Esta é a minha vida agora?— Sei que é um pouco chato…— É mais do que um pouco chato! — interrompi, minha voz subindo em tom. — Eu me sinto presa. Estou acostumada a trabalhar todos os dias, a socializar com as pessoas, a fazer algo produtivo com o meu tempo, não a ficar trancafiada em casa com uma babá! E por quanto tempo Ryuu vai continuar me evitando? — O som da minha v
&Beatrice&Nitta manteve os olhos fixos nos meus, desafiando a minha firmeza com aquele mesmo olhar de sempre, um misto de provocação e crueldade que me irritava profundamente. Eu sabia que ele adorava essa minha postura implacável, como se eu fosse uma cobra venenosa prestes a atacar. E, ao perceber meu veneno contido, um sorriso sádico se formou em seus lábios. Era como se ele tirasse prazer em me testar, mesmo sabendo que eu estava à beira de perder a paciência.Empurrei seu ombro com força, decidida a me levantar e encerrar aquela interação desgastante. Mas, ao fazer isso, minha perna se enroscou na colcha, fazendo-me perder o equilíbrio. Despencando em direção à mesinha de centro, senti o pânico tomar conta de mim por um breve instante, até que Nitta, com uma agilidade surpreendente, me puxou para si, protegendo minha queda. No entanto, ele acabou machucando a mão no processo, e agora estávamos ambos no chão, ele sobre mim, numa posição embaraçosamente íntima, como se estivéssemo
Eu não sabia o que fazer comigo mesma. Desde o incidente na sala, Ryuu mal havia me dirigido duas palavras antes de desaparecer novamente, e Nitta também não permaneceu por muito tempo. Ele parecia assustado, provavelmente temendo as consequências do que havia acontecido, mesmo que a situação não fosse exatamente como parecia. Afinal, ele havia avançado sobre a esposa do irmão mafioso. Ele deveria estar com medo.O medo foi exatamente o que me manteve paralisada naquele salão por mais tempo do que deveria, tentando processar como tudo tinha saído tão errado. A imagem de nós dois caídos no chão, tão próximos, com a mão dele nos meus cabelos e outra na minha cintura, era incriminadora demais. Mas eu não fiz nada de errado. Pelo contrário, tentei afastar os avanços de Nitta, e agora me encontrava nessa situação horrível.Meu estômago estava em um nó tão apertado que parecia impossível desfazer. A culpa pesava sobre mim como uma tonelada, mesmo sabendo que não devia nada a Ryuu. Nosso cas
As malas estavam no saguão quando passei, bagagem cara que eu não reconheci de imediato. Meu coração apertou por um instante, temendo que Ryuu pudesse me expulsar de casa — o que, para ser honesta, não seria tão ruim, se eu ao menos tivesse para onde ir. Nem sabia se meu pai estava em Los Angeles ou se tinha viajado para Palermo com o resto da família. Mas, ainda que estivesse por perto, viver com ele era tão pouco desejável quanto continuar com Ryuu.Quando entrei na cozinha, deparei-me com uma mulher desconhecida, que cantarolava distraidamente enquanto preparava a refeição da noite. Era uma das cozinheiras dos Morunaga, isso eu sabia desde a segunda noite na casa, quando compartilhei uma refeição desconfortável com Fukui e Nitta. O silêncio naquela ocasião foi opressivo, e eu mal consegui comer, retirando-me o mais rápido possível.— Senhora Morunaga — cumprimentou a cozinheira, sem precisar de apresentações, tal como Mena havia feito na minha primeira manhã ali. — Gostaria de jant