Os amplos degraus de pedra se estendiam desde a entrada da casa até a porta da frente, flanqueados por sebes altas e quadradas, enquanto árvores e arbustos meticulosamente podados decoravam o caminho. Atrás de mim, o vasto gramado parecia se estender até o horizonte.— O que acha da sua nova casa? — Gojou pousou uma mão pesada no meu ombro, e eu me esforcei para não demonstrar desconforto. Mais uma vez, ofereci-lhe apenas um sorriso de lábios apertados e um aceno breve.Enquanto ele desaparecia no interior da mansão, permaneci onde estava, hesitante. Não sabia ao certo por que não o segui. Fugir era impossível. Eventualmente, eu teria que entrar, mas prolongar esse momento parecia um pequeno ato de rebeldia contra o destino.— Vai entrar ou não? — A voz rouca de Ryuu ao meu lado me tirou dos pensamentos. Ele me lançou um olhar impaciente, bufando quando não respondi de imediato. — Tenho trabalho a fazer.Senti meu humor azedar instantaneamente.— Estou te atrasando? — respondi, um toq
&Beatrice&Suniza não nos deu atenção quando entramos na cozinha. Ela estava absorta em uma revista aberta sobre a mesa, o que me deu uma sensação momentânea de alívio.— Nitta — cumprimentou ela, a voz suave, mas carregada de autoridade —, conhece as regras do seu pai. Nada de prostitutas em casa.O forte sotaque italiano de Suniza me atingiu como um golpe, mais poderoso do que o de qualquer outro Morunaga. Depois de quatro anos em Palermo, era estranho ouvir um sotaque tão carregado. A diferença entre o italiano imponente de Suniza e o japonês sutil dos outros Morunagas era impressionante. Pela primeira vez, senti a distância cultural que me separava daquela família.Engoli em seco, recusando-me a reagir ao insulto que acabara de me lançar. Não lhe daria essa satisfação. Mas a sensação de afundamento no meu estômago era inegável. Eu ainda não havia conhecido a mãe do meu marido e já estava sendo rotulada como uma prostituta.— Mãe… — Nitta gemeu, claramente mortificado, enquanto um
&Ryuu&— Ela realmente não faz nenhum favor a si mesma às vezes. Fica cada vez mais difícil defendê-la quando seu argumento enfraquece dia após dia — Nitta suspirou, lançando-me um olhar carregado de dúvida.Cruzei os braços, já sentindo a irritação crescente.— Então não a defenda.Ele se inclinou para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, e continuou a me encarar como se estivesse buscando uma resposta que eu não tinha a intenção de oferecer.— Ela é minha mãe, Ryuu. Tenho que estar do lado dela.— Mesmo quando isso vai contra nosso pai? — Minha voz saiu mais cortante do que eu pretendia, e vi a tensão se espalhar pelo corpo dele, enquanto se levantava, esticando as pernas como se tentasse se livrar de um peso invisível. Nitta sempre fora o protegido de nossa mãe; sua lealdade a ela nunca deveria me surpreender, mas ainda assim, incomodava.— Você sabe que, se ela continuar assim, nosso pai não vai tolerar por muito mais tempo. E se ela continuar a insultar minha esposa, vou in
Ele continuava a se despir, mas agora seus movimentos eram mais lentos, quase calculados. Cada botão da camisa que ele desfazia revelava a pele pálida e lisa de suas costas, adornada por uma intricada tatuagem de dragão. A camisa branca escorregou de seus ombros, e eu me vi incapaz de desviar os olhos. Cada músculo que se flexionava sob sua pele me prendia em um estranho fascínio. O som metálico do cinto sendo desafivelado ecoou nos meus ouvidos, e meu estômago se contorceu em uma mistura de ansiedade e uma incômoda admiração.O que estava fazendo? Por que não conseguia parar de olhar para ele como se estivesse… atraída? Aquela sensação súbita e inapropriada me tomou de surpresa. Ryuu não era um homem comum. Era perigoso, alguém que chegou ao topo através de meios questionáveis, e que nunca hesitara em usar sua força para conseguir o que queria. Como poderia estar me sentindo seduzida por alguém assim? Por que ele estava se despindo no quarto quando havia um banheiro ao lado? Será qu
&Beatrice&Seria um erro. Eu sabia disso. E, no entanto, o pensamento de beijá-lo novamente queimava brilhante na minha mente, como uma chama que eu não conseguia apagar.Ryuu se afastou, seus olhos sombrios refletindo uma irritação que ele não se preocupou em disfarçar. Ele deu cinco passos lentos em direção à porta, mantendo o olhar longe do meu. Cada passo ressoava como um martelo contra meu autocontrole.— Não ficarei aqui esta noite — disse, a voz tão áspera quanto uma lâmina que corta ao passar.Pisquei várias vezes, boquiaberta, tentando encontrar algo para dizer, mas as palavras se recusavam a sair. Um calor invadiu meu rosto, queimando minhas bochechas com a vergonha que me consumia. Ele parou por um breve segundo à porta, como se estivesse reconsiderando, mas então se foi, deixando-me sozinha, mais uma vez, nesta casa estranha, cercada por uma família que eu mal conhecia. E o vazio da ausência da minha casa em Palermo se expandiu dentro de mim, sufocando qualquer sentimento
Ryuu não voltou para o quarto naquela noite. Quando acordei na manhã seguinte, ele já havia saído. Nitta mencionara que Ryuu costumava começar o dia cedo, mas saber que ele já estava fora de casa, enquanto eu ainda tentava me acostumar a essa nova realidade, me deixou inquieta. Eu não sabia por que isso me incomodava tanto, mas a sensação de solidão era esmagadora.Deveria me sentir aliviada, certo? Pelo menos não precisaria encará-lo tão cedo, depois do espetáculo embaraçoso da noite passada. O que me perturbava, porém, era a forma como meus desejos por ele se manifestaram de maneira tão descarada, como se, de um momento para o outro, o desprezo tivesse se transformado em algo muito mais perigoso. Sentia-me mortificada ao pensar no quanto havia demonstrado.Estava sentada sozinha na cozinha, mal mordiscando um pedaço de pão com geleia, quando uma voz divertida interrompeu meus devaneios.— Temos uma sala de jantar, sabia? — Fukui falou devagar, entrando na cozinha com a elegância que
Eu me senti aliviada ao conversar com Mena, tanto que consegui convencê-la a me deixar ajudar a secar a louça. Ela não pareceu muito contente com isso e me fez prometer que não contaria ao senhor Morunaga. Concordei com um sorriso que ela não conseguiu resistir. Em um casamento, segredos podem ser perigosos, mas eu sabia que esse era inofensivo. Afinal, não era como se eu pudesse simplesmente ficar ali, observando Mena trabalhar, quando não faz muito tempo eu estaria fazendo exatamente o mesmo no restaurante da minha tia.— Devo esperar ver Suniza ou Gojou hoje? — perguntei enquanto terminávamos a limpeza. Mena estava varrendo o chão da cozinha, e eu limpava os balcões, tentando não sorrir toda vez que ela disfarçava seu desconforto com a minha ajuda.— O senhor Gojou não fica muito aqui. Ele está em Kobe, no Japão, agora que não está mais no comando. — Franzi as sobrancelhas ao ouvir isso. Eu não sabia que Gojou tinha uma casa em Kobe ou que passava tanto tempo lá.Eu queria pergunta
— Vamos ver… — murmurei, o amargor evidente em minha voz. — Andar pelos jardins pela milésima vez ou ficar trancada aqui dentro… Ou, quem sabe, podemos ficar trancados aqui dentro. A escolha é sua.Nitta me cutucou levemente, um toque que parecia irresistível para ele.— Ah, Bel, não seja assim — disse, com aquele sorriso despreocupado. — Você não gosta da minha companhia?Suspirei, sentindo a frustração crescer dentro de mim.— Quero sair, Nitta — gemi, quase ao ponto de bater o pé como uma criança irritada. — Não há muito o que fazer aqui. Sinto como se estivesse sendo punida e não entendo o porquê. É isso mesmo? Esta é a minha vida agora?— Sei que é um pouco chato…— É mais do que um pouco chato! — interrompi, minha voz subindo em tom. — Eu me sinto presa. Estou acostumada a trabalhar todos os dias, a socializar com as pessoas, a fazer algo produtivo com o meu tempo, não a ficar trancafiada em casa com uma babá! E por quanto tempo Ryuu vai continuar me evitando? — O som da minha v