&Ryuu&Com um suspiro exausto, rolei para fora da cama e fui até onde minha esposa agora dormia, encolhida no pequeno sofá. A expressão amarga em seu rosto, mesmo adormecida, deixava claro que aquele sofá não era, de forma alguma, confortável para ela. Pequeno demais para acomodá-la adequadamente, parecia uma prisão em vez de um refúgio.Abaixei-me e, com cuidado, passei os braços sob seus ombros e joelhos, erguendo-a do sofá. Ela era leve, mas ainda assim senti um leve esforço ao levantá-la. Sua cabeça repousou contra meu ombro, e a respiração quente dela roçou minha mandíbula, provocando uma sensação inesperada. Mesmo dormindo, Beatrice parecia uma pequena fera, a carranca ainda visível em suas feições. Era quase cômico como ela mantinha essa expressão de fúria, mesmo em seu sono.Lembrei-me de suas explosões de raiva, das palavras afiadas e das mãos que gesticulavam freneticamente, como se o ar ao redor dela pudesse ser moldado pela força de sua indignação. Qualquer outra mulher, e
Fechei os dedos em um punho tão apertado que minhas unhas cravaram na palma da mão, e me forcei a manter o silêncio. Se abrisse a boca, só conseguiriam sair insultos. Sabia que Ryuu estava se controlando até aquele momento, e, apesar da raiva que queimava em meu peito, não podia ignorar o perigo que sua fúria representava. Mordi os lábios, evitando olhar para ele durante toda a viagem até Los Angeles, cada fibra do meu ser concentrada em manter uma fachada de tranquilidade.Quando finalmente desembarcamos do avião particular, Ryuu quebrou o silêncio com uma voz baixa, quase num sussurro.— Tente manter sua raiva para si mesma — murmurou, enquanto pegava meu braço com firmeza, conduzindo-me pela pista. Para qualquer observador distante, aquilo poderia parecer um gesto íntimo entre recém-casados. — Não quero que ninguém perceba o quanto você me despreza.Cerrei os dentes, engolindo as palavras que lutavam para escapar. À distância, avistei um carro preto esperando por nós, com a figura
Os amplos degraus de pedra se estendiam desde a entrada da casa até a porta da frente, flanqueados por sebes altas e quadradas, enquanto árvores e arbustos meticulosamente podados decoravam o caminho. Atrás de mim, o vasto gramado parecia se estender até o horizonte.— O que acha da sua nova casa? — Gojou pousou uma mão pesada no meu ombro, e eu me esforcei para não demonstrar desconforto. Mais uma vez, ofereci-lhe apenas um sorriso de lábios apertados e um aceno breve.Enquanto ele desaparecia no interior da mansão, permaneci onde estava, hesitante. Não sabia ao certo por que não o segui. Fugir era impossível. Eventualmente, eu teria que entrar, mas prolongar esse momento parecia um pequeno ato de rebeldia contra o destino.— Vai entrar ou não? — A voz rouca de Ryuu ao meu lado me tirou dos pensamentos. Ele me lançou um olhar impaciente, bufando quando não respondi de imediato. — Tenho trabalho a fazer.Senti meu humor azedar instantaneamente.— Estou te atrasando? — respondi, um toq
&Beatrice&Suniza não nos deu atenção quando entramos na cozinha. Ela estava absorta em uma revista aberta sobre a mesa, o que me deu uma sensação momentânea de alívio.— Nitta — cumprimentou ela, a voz suave, mas carregada de autoridade —, conhece as regras do seu pai. Nada de prostitutas em casa.O forte sotaque italiano de Suniza me atingiu como um golpe, mais poderoso do que o de qualquer outro Morunaga. Depois de quatro anos em Palermo, era estranho ouvir um sotaque tão carregado. A diferença entre o italiano imponente de Suniza e o japonês sutil dos outros Morunagas era impressionante. Pela primeira vez, senti a distância cultural que me separava daquela família.Engoli em seco, recusando-me a reagir ao insulto que acabara de me lançar. Não lhe daria essa satisfação. Mas a sensação de afundamento no meu estômago era inegável. Eu ainda não havia conhecido a mãe do meu marido e já estava sendo rotulada como uma prostituta.— Mãe… — Nitta gemeu, claramente mortificado, enquanto um
&Ryuu&— Ela realmente não faz nenhum favor a si mesma às vezes. Fica cada vez mais difícil defendê-la quando seu argumento enfraquece dia após dia — Nitta suspirou, lançando-me um olhar carregado de dúvida.Cruzei os braços, já sentindo a irritação crescente.— Então não a defenda.Ele se inclinou para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, e continuou a me encarar como se estivesse buscando uma resposta que eu não tinha a intenção de oferecer.— Ela é minha mãe, Ryuu. Tenho que estar do lado dela.— Mesmo quando isso vai contra nosso pai? — Minha voz saiu mais cortante do que eu pretendia, e vi a tensão se espalhar pelo corpo dele, enquanto se levantava, esticando as pernas como se tentasse se livrar de um peso invisível. Nitta sempre fora o protegido de nossa mãe; sua lealdade a ela nunca deveria me surpreender, mas ainda assim, incomodava.— Você sabe que, se ela continuar assim, nosso pai não vai tolerar por muito mais tempo. E se ela continuar a insultar minha esposa, vou in
Ele continuava a se despir, mas agora seus movimentos eram mais lentos, quase calculados. Cada botão da camisa que ele desfazia revelava a pele pálida e lisa de suas costas, adornada por uma intricada tatuagem de dragão. A camisa branca escorregou de seus ombros, e eu me vi incapaz de desviar os olhos. Cada músculo que se flexionava sob sua pele me prendia em um estranho fascínio. O som metálico do cinto sendo desafivelado ecoou nos meus ouvidos, e meu estômago se contorceu em uma mistura de ansiedade e uma incômoda admiração.O que estava fazendo? Por que não conseguia parar de olhar para ele como se estivesse… atraída? Aquela sensação súbita e inapropriada me tomou de surpresa. Ryuu não era um homem comum. Era perigoso, alguém que chegou ao topo através de meios questionáveis, e que nunca hesitara em usar sua força para conseguir o que queria. Como poderia estar me sentindo seduzida por alguém assim? Por que ele estava se despindo no quarto quando havia um banheiro ao lado? Será qu
&Beatrice&Seria um erro. Eu sabia disso. E, no entanto, o pensamento de beijá-lo novamente queimava brilhante na minha mente, como uma chama que eu não conseguia apagar.Ryuu se afastou, seus olhos sombrios refletindo uma irritação que ele não se preocupou em disfarçar. Ele deu cinco passos lentos em direção à porta, mantendo o olhar longe do meu. Cada passo ressoava como um martelo contra meu autocontrole.— Não ficarei aqui esta noite — disse, a voz tão áspera quanto uma lâmina que corta ao passar.Pisquei várias vezes, boquiaberta, tentando encontrar algo para dizer, mas as palavras se recusavam a sair. Um calor invadiu meu rosto, queimando minhas bochechas com a vergonha que me consumia. Ele parou por um breve segundo à porta, como se estivesse reconsiderando, mas então se foi, deixando-me sozinha, mais uma vez, nesta casa estranha, cercada por uma família que eu mal conhecia. E o vazio da ausência da minha casa em Palermo se expandiu dentro de mim, sufocando qualquer sentimento
Ryuu não voltou para o quarto naquela noite. Quando acordei na manhã seguinte, ele já havia saído. Nitta mencionara que Ryuu costumava começar o dia cedo, mas saber que ele já estava fora de casa, enquanto eu ainda tentava me acostumar a essa nova realidade, me deixou inquieta. Eu não sabia por que isso me incomodava tanto, mas a sensação de solidão era esmagadora.Deveria me sentir aliviada, certo? Pelo menos não precisaria encará-lo tão cedo, depois do espetáculo embaraçoso da noite passada. O que me perturbava, porém, era a forma como meus desejos por ele se manifestaram de maneira tão descarada, como se, de um momento para o outro, o desprezo tivesse se transformado em algo muito mais perigoso. Sentia-me mortificada ao pensar no quanto havia demonstrado.Estava sentada sozinha na cozinha, mal mordiscando um pedaço de pão com geleia, quando uma voz divertida interrompeu meus devaneios.— Temos uma sala de jantar, sabia? — Fukui falou devagar, entrando na cozinha com a elegância que