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CAPÍTULO - 1 ANASTÁSIA

Novamente saio atrasada de casa, sem tempo para tomar café. Olho para o celular e já são quase oito e meia.

Ultimamente dormir tem sido uma das partes mais difíceis e raras, para mim.

Sabe aquela sensação de que tem alguém te observando? Pois bem, eu estou com essas frescuras a dois meses, cheguei até benzer a casa para expulsar qualquer tipo de energia negativa e... nada adiantou.

Minha amiga Helena já havia me chamado várias vezes para passar um tempo na casa dela, mas recusei. Quero ser mais independente, mostrar para meus pais que posso cuidar do meu próprio nariz muito bem.

Quando morava com minha família, no acampamento de férias perto da floresta aqui em Nova York, minha mãe me humilhava demais, dizendo que se eu não conseguia cuidar nem de uma criança do acampamento, quem dirá de mim mesma, vivendo sozinha por Nova York. Isso me machucou e foi o empurrão que precisava para ir embora do acampamento deles.

Faz um ano que estou morando sozinha e há oito meses que trabalho em uma livraria, fazendo de tudo um pouco. No começo não foi fácil, mas aos poucos fiz amizade com a Helena, que trabalha na lanchonete Fast Burguer em frente a livraria Book Store, onde eu trabalho.

Em todas as vezes que estava desanimada ela se aproximava para conversar comigo, e assim fomos criando laços. Admito que eu no começo fiquei meio recuada, mas depois me senti mais à vontade com o jeito "maluquinha" dela.

O táxi chega no local e eu desço apurada, deixando o taxista com o troco sem me importar. Hoje não consegui pegar o ônibus de sempre, já era tarde demais. Dona Safira vai me dar uma bronca daquelas com certeza. Vou com os passos apurados até a porta giratória, segurando firme minha bolsa preta, pensando qual vai ser o sermão de hoje.

Guardo meus pertences e tranco meu armário, indo em direção a parte principal da biblioteca, a área de administração online. Assim que chego, dona Safira aparece com os braços cruzados, me olhando com cara de poucos amigos.

— Bom dia, senhora Safira! — Digo em tom alegre, para disfarçar.

— Não... não é um bom dia! Anastásia, é a terceira vez essa semana que a senhorita chega atrasada. — Ela me encara irritada, e com razão.

— Eu juro que não estou fazendo por querer, senhora Safira, mas ...

— Já basta! Hoje mais uma escola desmarcou o encontro de leituras conosco, tudo por que estávamos sem uma responsável para organizar, no caso você! Olha eu compreendo que está acontecendo alguma coisa na sua vida pessoal, mas precisa saber separar da vida profissional, caso contrário terei que demitir você. — Safira aperta os lábios me olhando com pena, enquanto alguns colegas observam.

— Me desculpe, farei de tudo para não chegar atrasada amanhã. — Abaixo a cabeça deixando a tristeza tomar conta.

— Anastásia, você é uma ótima profissional, não quero demitir você, apenas quero que cumpra com os horários deste estabelecimento, minha querida. E hoje não precisa ficar aqui na frente, não temos muito serviço, pode ir na sala dos fundos para organizar algumas coleções. — Safira dá dois tapinhas no meu ombro e sai logo em seguida.

Pego um bloco de notas e uma caneta e sigo até os fundos, ouvindo alguns colegas sussurrar enquanto passo. Já estou acostumada com isso desde quando cheguei é assim, mas não posso fraquejar agora, preciso desse emprego e não quero voltar a morar com os meus pais.

Entro na sala e fecho a porta ficando apenas eu e os livros, vou até as janelas e abro, depois abro a porta dos fundos que dá para o jardim da biblioteca, deixando aquele ar perfumado entrar.

Começo a limpar e empilhar as trilogias para depois levar até as estantes. Estava tranquila sentada de costas para a porta, quando me veio aquela sensação de que havia alguém me observando, novamente.

— Que droga! Até aqui!? — Pergunto irritada, ao olhar para trás.

Coloco as mãos na cabeça segurando a vontade de chorar que me envolvia desesperadamente e suspiro, deixando a angústia sair. Mais relaxada, volto a focar nos livros, porém, sem deixar de pensar no que está acontecendo comigo.

Na hora do almoço, eu fui a primeira a sair e ansiava para encontrar Helena. Normalmente tenho 20 minutos de almoço junto com ela antes de dar o horário dela entrar na lanchonete novamente, mas hoje saí cinco minutinhos antes. Não aguento mais ficar sozinha sem saber o que fazer, isso está me sufocando, deixando-me louca.

Cheguei na praça e ela estava na mesinha perto da fonte. Me aproximei e ela me olhou, sorrindo.

— Olha quem surgiu, pensei que não havia vindo trabalhar, não te vi antes, está tudo bem? — Ela pergunta me dando espaço para sentar.

— Na verdade não, precisava ver você, não aguento mais essas sensações estranhas. — Falo, passando as mãos no cabelo angustiada.

— Aí Ana, de novo isso? — Helena me encara com angústia.

— É, ontem não consegui dormir parecia que tinha alguém no meu quarto e o pior é que quando eu estava de olhos fechados senti uma... mão, deslizar na minha bochecha e um ar gelado como se alguém estivesse assoprando perto da minha boca, na hora abri os olhos e o vento abriu a janela, me apavorei e corri para a sala, liguei tv e o rádio fiquei assistindo até que dormi no sofá.

Acordei quase oito e meia e claro mais uma vez levei bronca da dona Safira, mas hoje ela estava mais boazinha. E agora quando eu estava lá na sala dos fundos e senti novamente aquela sensação! — Conto recapitulando tudo desde a noite passada, vendo minha amiga me olhar espantada.

— Ai amiga que tenso, se quiser pode posar lá em casa, não vou ter nada para fazer mesmo... — Helena me olha e coloca as mãos no queixo.

— Agradeço o convite, mas vou deixar para outro dia, vou ficar um pouco mais na livraria para compensar meu atraso e não quero fazer você ficar acordada até tarde por minha culpa. — Digo desanimada e angustiada.

— Bom já que é assim tudo bem, mas se quiser pode aparecer, sabe disso. Bom, mudando de assunto, um cara me convidou para ir ao Spacemusic amanhã à noite, vai ter uns DJs novos e ele vai levar um amigo também.... vai ser divertido, o que acha de ir com a gente?

— Anwww não sei Lena.... esses problemas estão me deixando muito cansada e a única coisa que consigo pensar quando saio do trabalho é em um bom banho e dormir, se eu conseguir é claro. — Desvio o olhar pegando meu lanche que eu trouxe de casa, enquanto ela acena concordando e revirando os olhos.

— Anwww amiga, você falando assim parece até aquelas garotas perturbadas de filme de terror, credo. Só espero que não seja nenhuma entidade maligna te perseguindo. Qualquer coisa vai ao médico, explica uma coisa meio lógica e provavelmente ele te dará alguns calmantes ou remédios para dormir. — Helena sugere.

— Pode ser, vou pensar e qualquer coisa vou ao médico. Já estou de saco cheio disso. E sobre seu convite, vou pensar também, ok?

Ela sorri de orelha a orelha e me abraça.

— Faz isso! Depois me liga, quero muito te levar pra sair pela cidade, tem tanta coisa que você precisa conhecer...

— Eu? ou você? Por quê pela animação, parece que é você que está louca para sair. — Tiro sarro ao me afastar e dar mais uma mordida no meu lanche.

— Tudo bem me rendo, eu estou louca para sair, não aguento mais o Richard, ele é um pé no saco, mas não é só por mim, também quero te levar para nos divertimos juntas, nunca saímos, esqueceu?

Ela estava certa, precisava de diversão o quanto antes, caso contrário, eu poderia dar entrada em um manicômio de segurança máxima, de preferência.

Depois de um tempo conversando e acertando algumas coisas, Helena voltou para a lanchonete e eu para a sala dos fundos, um pouco mais confiante e esperando poder trabalhar em paz. Pensando em sair amanhã, sexta feira. Falei que pensaria e vou, pela minha amiga.

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