Amie aproximava-se dele sorrindo, os braços estendidos, pés descalços, uma coroa de flores adornava sua cabeça. Havia um padre presente, e muitas pessoas também. O sol brilhava e pássaros cantavam ao fundo... Amie começou a sacudi-lo pelos ombros, mas a voz que o chamava era a de seu irmão.
—Connor, acorde! – era Raymond, seu semblante preocupado terminou de despertar o sonolento conde. – Onde você esteve? Temos visitantes. Você precisa recebê-los.
—Visitantes? Quem poderia ser?
Connor ergueu-se da cama, esfregando os olhos e ajeitando os cabelos em desalinho.
—Lucca e Cecília Bianucci. Disseram serem amigos de Amie, e como chegaram na sua carruagem...
—Lucca e Cecília? – O jovem casal não poderia ter escolhido um momento pior! Ou talvez não... – Diga-lhes que desço em cinco minutos, Raymond, p
Connor caminhou devagar, puxando Dante pelas rédeas. O cavalo pareceu notar a tristeza de seu dono, pois se aproximou e encostou o focinho em seu ombro. Connor acariciou a testa do animal, sorrindo triste.Raymond correu na direção do irmão assim que este entrou no hall.—Por onde andou, homem? Ethnee precisa de você! Agora!—Ethnee? O que houve?—Ela está com febre de novo! Das fortes!Connor correu até o quarto da sobrinha que parecia ainda mais fraca que das últimas vezes. Ela delirava e se remexia na cama, inquieta, chamando por Amie.—Rápido, Ray! Vá buscá-la!Raymond já saíra quando Connor sentou-se à cabeceira da cama e aninhou a sobrinha no colo.—Estou aqui, borboleta. Tudo vai ficar bem.Vinte minutos depois, Amie entrava pela porta, sem fôlego.—Amie!A
—Como foi que eu deixei vocês me convencerem a fazer isso? – Totalmente esgotada física e mentalmente, Amie deixou-se cair em uma das poltronas do salão vermelho.O Bispo havia chegado no dia anterior e elas estavam atrasadas com os preparativos. Para completar, a Sra. Hakim havia mandado uma mensagem dizendo que não poderia comparecer.—Você está cansada, querida! – Eeve respondeu, com um sorriso indulgente. – Não percebeu quanto progresso fizemos hoje...—Não é o que parece. Eu nem mesmo tenho um vestido branco para usar!—Precisa mesmo ser branco?—Eu gostaria. Como uma pequena homenagem à Rainha Vitória, que foi tão generosa com meu pai...—Então branco ele será!Naquele momento, Meredith Hakim abriu as duas portas do salão com o sorriso mais luminoso nos lábios.<
Cavalgando pela estrada poeirenta, Connor pensava em seu casamento e em sua esposa. Amie estava tão linda! Jamais se esqueceria da visão dela subindo a trilha para o lago, escoltada por seu séquito de damas de honra.O sol parecia focar todo seu brilho nela, e o vento soprava gentilmente nas saias do vestido branco. O dragão de rubis que ele lhe dera brilhava em contraste ao colo branco. Ela havia deixado os magníficos cabelos castanhos soltos e estes desciam até a cintura, balançando ao vento. Uma fada, a sua fada!Doía tanto deixá-la daquele jeito! Mentir para Amie destruía-lhe o coração, mas se ele lhe contasse que Nathanael lhe enviara uma mensagem, ela, com toda a certeza iria querer acompanhá-lo, expondo-se a perigos que nem ele mesmo conhecia.Quando Jesus entregara-lhe a mensagem, logo após a festa de casamento, Connor decidira ir sozinho. Sabia o perigo que
O perfume do lugar parecia-lhe familiar, mas Amie não ousava abrir os olhos para verificar onde estava, pois sua cabeça latejava de forma excruciante. Por fim, vozes abafadas estimularam-na a abrir os olhos.Connor estava parado ao pé da cama, apoiado em algo, e conversava com um homem de suíças brancas, vestido com um uniforme militar.Seus movimentos acabaram por chamar a atenção dos homens, que pararam de conversar e se voltaram para a cama.—Ah! Seja bem-vinda de volta ao mundo dos vivos, condessa! – disse o Almirante, sorrindo.Connor sentou-se ao seu lado na cama e tomou-lhe a mão do braço sadio.—Connor, o que aconteceu? Oh! Agora me lembro. Eu... Eu atirei em Nath! Mon Dieu! Como ele está?—Não, não! Não tente se levantar. Fique deitada, meu amor. Você perdeu muito sangue e ficou inconsciente...&md
A noite do tão esperado jantar de gala na mansão St James Hall foi estrelada e com uma linda lua crescente. Uma brisa suave de verão brincava com as toalhas e cortinas do salão, cujas portas francesas abriam-se para o jardim, magnificamente iluminado com pequenas lanternas chinesas penduradas nas árvores.Cada um dos convites enviados foi aceito imediatamente. Nada menos que a nata da sociedade britânica estaria ali naquela noite para prestigiar a primeira recepção da nova condessa de Hallen. Os Hakim, Raymond e Evelyn estavam presentes, assim como lorde e lady Siems.Amie foi cumprimentada e elogiada por todos.Pouco antes do jantar, Connor tocava para seus convidados quando, passeando os olhos pela plateia embevecida, parou abruptamente, levantou-se e curvou-se apoiando um joelho no chão. Entendendo o que aquele gesto significava, a pequena multidão dividiu-se ao meio, criando uma passagem at
Dois dias depois, Connor e Amie embarcaram em um navio mercante chamado Ártemis.—O navio é lindo, Connor, mas ainda não me disse para onde vamos.—Não mesmo. – Sorriu inocente. – Bem, acho que vai continuar sem saber minha querida, pois não vou lhe dizer, nem ninguém da tripulação.—Ora essa! Isso não é justo milorde!—Encare como uma surpresa, milady. – Ele a abraçou e beijou-lhe a curva do pescoço. – Quero que relaxe e aproveite a brisa marinha e o sol, quando chegar o momento, você saberá.A condessa de Hallen suspirou resignada e pousou a cabeça no ombro do marido, enquanto observavam o porto tornar-se cada vez menor no horizonte. Fora mais difícil do que ela esperava despedir-se de Ethnee e da pequena Annabel.Após vários minutos de confortável silêncio
Inglaterra, 1886.A morte rondava os desventurados de Londres naquela noite de dezembro, mesmo os que tinham a sorte de contar com um teto sobre suas cabeças. Mas, apesar do frio, em uma das muitas pequenas vilas de imigrantes em White Chapel, um pequeno grupo de amigos reunia-se no pátio, próximo à janela da moribunda. Ali, onde tantas culturas se misturavam e nem sempre homogeneamente, senhoras idosas vestidas de preto, crianças, jovens e adultos rezavam, cada um em sua própria língua e religião, por aquela alma tão querida. Todos sabiam que aconteceria em breve, e a tristeza marcava os rostos amigos que faziam a vigília.O médico, por fim, saiu do pequeno cômodo, olhar contrito, o chapéu nas mãos.Anne Thèrese Templeton não mais estava neste mundo. As pessoas que moravam naquela vila, crianças e velhos, jovens e adultos, de
Londres, dois anos depois.Quando a Sra. Howard fora chamá-la em seu quarto, dizendo que alguém desejava vê-la, Ártemis Templeton franziu o nariz, já antecipando o que lhe esperava: um velho, pomposo e rabugento mordomo, cheirando à água de colônia, que viera em nome de seu senhor, o lorde qualquer-coisa, para contratá-la. Nunca era muito diferente disso! Mas, mesmo diante de tal perspectiva, ela tinha de receber a pessoa. Depois que os Stratkery haviam se mudado para Kent, ela ficara desempregada, e, em pouco tempo, também ficaria sem dinheiro. A Sra. Howard era muito boa, mas dependia dos aluguéis para viver. Também não podia voltar para a vila, pois lá, não a deixariam pagar por suas despesas, o que Amie não considerava justo.Seguida de perto pela dona da pensão, desceu a velha escada de madeira rumo à sala de visitas. Involuntariamen