Já passava muito de uma da manhã quando o coche de aluguel parou na rua paralela à mansão St. James Hall. Connor e Amie estavam exaustos, mas ficaram passeando pelo jardim por mais alguns minutos, admirando a lua e a noite tranquila.
—Meus pés estão me matando! – exclamou ela, sentando-se na grama e tirando as sapatilhas, sem se preocupar se mostrar seus pés ao homem ao seu lado era apropriado ou não.
—E meu estomago a mim! Acho que nunca comi tanto em toda a minha vida!
—O que diria a condessa diante de uma declaração como esta, não? – Rindo, Amie aconchegou-se a ele.
—Minha mãe ficaria tão chocada quando soubesse que fui a uma festa numa vila de imigrantes que nem me deixaria chegar nessa parte!
Os dois riram com vontade, mas ambos sabiam que se o fato chegasse aos ouvidos de lady Hallen, não seria nada engra&ccedi
Uma manhã de tons rosados recebeu Amie, quando abriu as cortinas da janela, no dia seguinte. O tipo de manhã que anunciava um dia maravilhoso! Cantarolando, trocou-se e fez sua toalete, passando para o quarto de Ethnee em seguida.—Bon jour, papillon! – sussurrou, beijando a menina no rosto – Vamos levantar?—Bom dia, Amie!—Vamos nos apressar, ou o sol ficará muito forte para nosso passeio, e o parque, muito cheio.—Será que tio Connor não gostaria de nos acompanhar?—Podemos perguntar-lhe. O que acha?O conde alegou estar muito atarefado para sair; portanto, Amie e Ethnee saíram sozinhas logo após o café. A jovem, no entanto, estava certa de que Connor não se sentia pronto para aparecer em público ainda. Pelo menos, não oficialmente. Lembranças da festa na vila assaltaram sua mente, seguidas pelas palavras
A visita de Seamus McDierly fora uma grata surpresa, mas saber que as coisas iam mal na clínica, deixou Connor preocupado. Tinha de encontrar uma forma de reerguer o sonho de sua vida... Uma doação, quem sabe, ou talvez pudesse voltar a trabalhar e levar de volta os amigos que costumavam ajudar.Era quinta-feira e Connor estava no jardim, logo após o almoço, pensando e tentando se distrair do fato de que Amie não estava em casa, quando viu a governanta, sempre discreta e reservada, correndo em sua direção.—Sra. Fitzwaring! O que houve? – perguntou, conduzindo a mulher idosa até um banco de pedra.—O cocheiro... de miss Templeton... está aqui, senhor...O coração de Connor parou com a possibilidade de Amie ter sofrido algo, mas forçou-se a respirar fundo e aconselhar a mulher a fazer o mesmo antes de continuar a falar.&mda
—Mon défaut! C'est tout mon défaut! – Amie o viu e correu até ele, jogando-se em seus braços, irrompeu em lágrimas. – Oh Connor! Il était si jeune! Tinha tanto a viver ainda!—Amie, acalme-se, por favor! Nada disso foi sua culpa!Ela demorou mais alguns minutos para se recompor, ainda abraçada firmemente ao seu amor, respirou fundo.—Não consigo acreditar que ele se foi! Oh, Connor! Benjie ficou tão feliz quando soube que teria uma família! – Soltando-se do conde, ela enxugou as lágrimas e o seguiu até um banco de madeira. – Ele se despediu de mim tão contente! Eles o maltrataram, Connor! Bateram na pobre criança que nada tinha a ver com seus crimes! Oh Deus! É tão horrível! E fui eu quem o mandou para lá!—Ei! – Ele ergueu o queixo trêmulo
Na quinta-feira seguinte, Amie estava no escritório do Sagrada Família, fazendo os cálculos da contabilidade quando Olívia, que crescera no orfanato e agora a ajudava, entrou sem bater. Além da moça e dela própria, o orfanato contava com a ajuda da cozinheira Holly Nickson e de Paula Newland, a dona do prédio. A instituição mantinha-se com doações de nobres que empregaram crianças crescidas ali. O Orfanato Sagrada Família tinha a reputação de formar excelentes pessoas e trabalhadores capacitados.—Desculpe incomodá-la, Amie, mas há um casal na sala de espera. Querem conhecer as crianças.—Está bem! – disse ela, levantando-se. – Vamos até eles.Embora reticente, Amie sabia que não podia privar as demais crianças da oportunidade de ter uma família porq
Mais tarde, naquele mesmo dia, na taverna Queen’s Garden, Jesus, Connor e mais quatro homens do almirante conversavam em voz baixa. Iriam invadir a casa dali a alguns minutos e Connor dava as instruções finais.—Patrick, você e Jones entrarão pela janela do segundo andar. Claude e Jarrod, pela porta dos fundos. Jesus e eu bateremos na da frente. Sem estardalhaço, sem tiroteio, estamos entendidos?—Certamente, senhor.—Ótimo, vamos então.Os homens saíram da taverna, dois de cada vez.Connor e Jesus caminharam pela Oak Street, conversando amenidades, rindo e flertando com algumas damas. Pararam em frente à casa indicada por Amie. Um assobio baixo soou da rua de trás. Era o sinal para entrarem.Ainda rindo, os dois homens subiram os poucos degraus que separavam a casa da rua e puxaram o sino da entrada.Uma mulher baixa e atarr
Vestida em azul real e celeste, Amie chamava a atenção por onde passava; um charmoso chapéu de plumas enfeitando a cabeça delicada.Disfarçado de vendedor de castanhas, Connor seguia-a com o olhar, enquanto ela caminhava pela praça em frente à catedral de St. Paul. A multidão começava a deixar a igreja, enchendo a praça de risos e vozes animadas.Jesus, vestido de mendigo, aproximou-se dela, pedindo uma moeda.—Casaco verde, chapéu coco e guarda-chuva. – sussurrou. – À sua esquerda.—Já vi.Ela aprumou os ombros e ajeitou o casquete delicado de volta no topo da cabeça.Pela primeira vez, encarou seu alvo. O cavalheiro era bem apessoado. Ainda que na casa dos sessenta anos, atraía olhares. Bem-vestido e sorridente.Ela respirou fundo. Não seria difícil, bastava lembrar-se dos velhos tempos
Sylvia Porter era uma mulher simples e sem atrativos, mas muito inteligente e perspicaz. Vivia em uma casa modesta, distante duas ruas do endereço que Grant dera a Amie.Outrora uma vendedora de flores ambulante e batedora de carteiras, a dona da casa fora convocada pelo Almirante Smith, quando este a flagrara com a mão dentro da bolsa de sua esposa, enquanto esta conversava calmamente com um dos comandados do marido em plena Picadilly Circus. A perícia da moça chamara a atenção do militar e a proposta de uma vida honesta e com sustento garantido haviam assegurado a concordância de Sylvia. Desde então, ela era a emissária do Almirante nos submundos de Londres. Trabalho que amava de coração.—Vamos entrando! – Acenava com a mão ossuda para os recém-chegados. – Está tudo pronto.—Amie, esta é Sylvia. Como já lhe expliquei, ela a aj
A carruagem cercada de barras sacolejava pelas ruas de Londres, e Amie fazia o que podia para se segurar e não cair do banco tosco. À sua frente, um calado Abraham Grant, já recuperado da bebedeira, fitava o chão.O veículo parou com um solavanco e imediatamente as portas foram abertas por dois guardas uniformizados. Estavam em um beco formado por três prédios novos, em alguma parte da capital inglesa.Um par de portas de ferro foi aberto e os prisioneiros conduzidos para dentro. Lá, uma mulher vestida de negro, a quem Amie reconheceu como sendo Sylvia Porter segurou-a pelo braço e a levou para a ala contraria à que Grant estava sendo conduzido.—Está tudo bem, Amie? – Sylvia perguntou baixinho, enquanto abria as algemas, ao que a moça assentiu. – Terá de esperar um pouco antes de ir para casa, temos de ter certeza de que seu depoimento não ser&aacu