Quando finalmente cheguei em casa, a sensação de alívio foi esmagadora. O cheiro familiar do lar me envolveu, e a visão de Alice correndo na minha direção, com seus bracinhos abertos, foi o que me fez quase perder o controle. Eu a segurei forte, com medo de nunca mais a ver, e a apertava contra mim como se o mundo tivesse parado e ela fosse a única coisa que importava. O sorriso em seu rosto era como uma cura instantânea, algo que eu jamais poderia explicar em palavras.— Alby! Você voltou! — A voz dela, cheia de pureza e alegria, soou como uma melodia no meu coração partido. Eu a olhei, meus olhos se enchendo de lágrimas enquanto me ajoelhava para abraçá-la.A casa transbordava vida. As vozes misturavam-se em um burburinho animado, e os rostos familiares que me cercavam estavam radiantes, como se minha volta fosse o elo que faltava para restaurar a alegria. Luana, seu esposo, Charles, Sofi... todos sorriam com um brilho nos olhos, comemora
As semanas passaram como um borrão. Dias e noites se arrastaram em uma rotina que deveria me trazer conforto, mas que, na verdade, me deixava ainda mais inquieta. Isaías havia sumido, e com ele, todas as respostas que eu precisava. No entanto, o que mais me atormentava não era a ausência dele, mas as palavras não ditas que ficaram entre nós. Era como se houvesse um grito preso dentro de mim, e eu não sabia mais onde guardar tanta angústia.Foi então que procurei Luana. Se havia alguém que poderia ouvir meus temores sem me julgar, era ela. Sua sabedoria, sempre tão prática, era exatamente o que eu precisava, mesmo sabendo que ela não pegaria leve comigo. Luana me recebeu com aquele olhar tranquilo, como se soubesse exatamente por que eu estava ali antes mesmo de eu abrir a boca. — Sente-se, Alby e fique a vontade. Você está com aquela cara de quem carregou o mundo nas costas e ainda não se livrou dele.Suspirei e me sentei,
A ansiedade tomava conta de mim desde o momento em que marquei a consulta. Descobri que Isaías havia retornado a rotina do seu hospital. Usei o nome Helena Misk — meu segundo nome e o sobrenome de solteira da minha mãe — porque sabia que, caso usasse meu nome real, Isaías declinaria. Ele me conhecia bem o suficiente para evitar o confronto, mas eu também sabia como usar as ferramentas à minha disposição para conseguir o que precisava. Ao entrar no hospital, senti meu coração disparar. Parecia que cada passo que eu dava era mais pesado que o anterior. Meu peito doía com o nervosismo, minhas mãos estavam suadas, e eu tinha a sensação de que todos podiam ouvir o tumulto que acontecia dentro de mim. Mas eu precisava continuar. Era agora ou nunca. A tela na recepção disparou a chamada, anunciando que o Doutor Castellar me esperava no consultório cinco. Respire
O silêncio no carro era tão pesado que parecia ter forma. Ele se espalhava pelo espaço fechado como uma neblina densa, engolindo qualquer tentativa de conversa. Enquanto Isaías permanecia imóvel, com os olhos perdidos em algum ponto distante, minha mente era um caos. Mil pensamentos corriam ao mesmo tempo, todos focados no que eu estava prestes a fazer. As palavras se misturavam, minhas inseguranças gritavam, e o medo do desconhecido me apertava o peito como um peso insuportável. Isaías sinalizou para o motorista, que esperava instruções. Respirei fundo e passei o endereço com uma voz firme que eu nem sabia que possuía. Por fora, talvez eu parecesse firme, mas por dentro eu era um turbilhão de sentimentos. Não olhei para Isaías enquanto o carro partia; sabia que ele estava mergulhado em seus próprios pensamentos, tão inacessíveis quanto a lua no céu. O caminho até o ender
A vida é estranha algumas vezes. Por mais que você se dedique a ela, a tentar compreender. A verdade é que essa compreensão nunca te alcançará. E comigo não foi diferente. Estar diante do túmulo da minha filha, não era algo fácil, mas muitas vezes nosso passado é a cura para o presente de alguém. E nesse caso, poderia ser o de Isaías. Ouvi passos atrás de mim. Isaías se aproximava, mas parou a poucos metros de distância. Não disse nada. Não precisava. Eu me virei lentamente, encontrando seu olhar. Ele estava fixo na lápide, os olhos endurecidos, mas havia algo mais ali. Algo que ele não conseguia esconder. — Ela se foi poucos meses depois de ter descoberto a traição do seu irmão — comecei, minha voz quebrada. — Eu sempre me cuidei quanto a isso, mas o danado do destino quis levar mais uma com a minha cara. Além de ser traída pelo Den
Isaías ainda estava calado, observando a lápide à sua frente.— Enquanto lágrimas silenciosas escorriam pelo meu rosto, eu soube que estava diante de um milagre. Alice não era apenas minha filha. Ela era a prova viva de que, mesmo na adversidade, a força pode surgir, inesperada e transformadora. Desde aquele primeiro instante, ela mostrou ao mundo que era uma guerreira. E eu sabia que faria de tudo para honrar essa força, para lutar ao lado dela em cada batalha que ainda viesse. Naquele momento, soube que, mesmo diante do caos, nós duas lutaríamos juntas. Alice era minha força, minha razão, e eu faria qualquer coisa para vê-la crescer e brilhar, apesar de todas as dificuldades. Respiro fundo. Essa era a primeira vez desde o ocorrido que falava para alguém da minha perda. — Minha florzinha foi uma guerreira. Lutou com todas as forças por sua vida, incansavelmente, desde o primeiro instante. E enquanto ela lutava, eu também travava minha própria batal
— A dor de perder minha filha nunca deixou de ser uma sombra em meu coração. Acabei confessando. — Alice Leclerc Foster, minha pequena florzinha, se foi muito antes do que deveria, e com ela, uma parte de mim também desapareceu. Os dias que se seguiram à sua partida foram como um deserto sem fim, onde cada passo era um esforço e cada noite, um abismo. A ausência dela era algo que eu não sabia como preencher. Respirei fundo, tentando conter a emoção. — Mas a vida tem formas misteriosas de nos oferecer recomeços. Quando Denis e Ana confiaram Alice a mim, confesso que hesitei. Não sabia se teria forças para ser o que ela precisava. A dor da perda ainda era tão intensa, tão cravada dentro de mim, que eu temia que a mesma dor de perder alguém me atingisse novamente. A ideia de amar outra criança, de criar um vínculo que pudesse ser arrancado de mim, me paralisava. Mas então, a surpresa: ela tinha o mesmo nome da minha florzinha. Alice. Isso mexeu tão profun
Ficamos ali, imersos no silêncio, enquanto o vento suave brincava entre as árvores, sussurrando palavras que não dizíamos, mas que de alguma forma compreendíamos. O ambiente estava calmo, mas havia uma tensão palpável, como se o peso das nossas dores finalmente tivesse encontrado um espaço para descansar. Cada um preso em seus próprios pensamentos, mergulhado nas memórias de perdas que ainda nos consumiam, mas, ao mesmo tempo, compartilhando o fardo invisível que havia sido carregado sozinho por tanto tempo. Era estranho. Estranho e ao mesmo tempo reconfortante. Porque, mesmo sem palavras, algo havia mudado. O silêncio, em sua vastidão, se tornou a ponte que nos conectava, uma conexão sutil que transcendia qualquer comunicação verbal. Aquela quietude que antes parecia pesada agora trazia uma sensação de leveza, como se, por um momento, o mundo tivesse desacelerado, nos permitindo respirar, finalmente, depois de tanto tempo.Eu olhei p