Isaías se foi sem olhar para trás, e, embora a ausência dele estivesse se tornando um eco doloroso em cada canto da minha vida, eu sabia que não poderia retê-lo. O amor, depois de tudo o que já havia acontecido entre nós, não era algo que pudesse ser forçado. No fundo, eu sabia que amor não se exige, não se cobra, e, pois se fosse assim, ele deixaria de ser amor e se transformaria em cobrança.A liberdade sempre foi uma parte essencial do que nos uniu, e agora, mais do que nunca, era o que ele precisava.No começo, foi difícil. O silêncio, que agora preenchia os dias, era como uma tempestade interna que tentava me consumir. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que, se quisesse que ele fosse feliz, se quisesse que esse sentimento que compartilhamos fosse verdadeiro e duradouro, precisava deixá-lo fazer a escolha que fosse melhor para ele.Amor não é controle; é a capacidade de aceitar a liberdade do outro, mesmo quando isso nos corta por dentro. E,
Eu sabia que o que estava prestes a fazer não seria fácil. Havia um peso em meu peito que carregava há tanto tempo, um fardo que me acostumei a suportar sozinho. Alby sempre teve essa habilidade de ser meu ponto de equilíbrio, alguém que me compreendia com um simples olhar, sem precisar que eu dissesse uma palavra sequer. Mas hoje, eu precisava mais do que sua compreensão silenciosa. Precisava abrir meu coração e deixar que ela soubesse o que realmente me consumia por dentro. Passei noites em claro, repassando cada lembrança, cada momento que me trouxe até aqui. Cada escolha, cada perda, cada dor que me mudou. Não foi fácil encarar essas sombras sozinho, mas cheguei à conclusão de que não poderia mais viver assim. Não podia continuar aprisionado pelos ecos do meu passado. Era hora de mudar, de virar a chavinha, de permitir que a luz entrasse novamente onde só havia escuridão.<
Parei por um momento, olhando para Alby, que me ouvia com atenção e delicadeza, como se cada palavra minha fosse sagrada. Continuei: — Eu quis acreditar que, com o tempo, à medida que a gravidez avançasse, ela poderia mudar. Que talvez, ao sentir o bebê crescendo dentro dela, algo mudasse em seu coração. Por isso, estive ao lado dela durante toda a gestação, acompanhando cada exame, cada ultrassom. Porque, desde o momento em que soube, já havia tomado minha decisão: seria pai do bebê, independentemente dela querer ou não.Respirei fundo, buscando forças para continuar. As lembranças eram como punhais, mas sabia que precisava enfrentá-las. — Em um dos exames de rotina, descobrimos que seria um menino. Gabriel. Foi ali que o nome dele tomou forma na minha mente, mesmo antes de vê-lo. Mas, junto com essa notícia, veio outra: os médicos encontraram algo estranho nos exames. Não puderam diagnosticar com precisão na época; disseram que só seria possível ter certeza ap
— Gabriel não apenas me deu a chance de ser pai. Ele me deu um propósito, uma força que eu nem sabia que tinha. Quando tudo parecia desmoronar, ele era o alicerce que me mantinha em pé. Minha voz tremeu, mas continuei: — E mesmo depois que ele partiu, ele ainda era isso. Ele ainda é. Porque o amor que ele me ensinou... — fiz uma pausa, tentando encontrar as palavras certas — é algo que nunca vai desaparecer. É a coisa mais real que já senti. O silêncio que se seguiu era pesado, mas ao mesmo tempo havia algo ali, uma conexão, um entendimento. Alby não falou nada, apenas apertou levemente minha mão, um gesto simples, mas que significava tudo. Eu sabia que nunca poderia retribuir o que Gabriel havia me dado. Mas talvez, ao compartilhar sua história, ao permitir que alguém entendesse a profundidade desse amor, eu pudesse manter viva a essência do que ele representava. E, de alguma forma, isso me dava paz.Os olhos de Alby estavam marejados, e eu sab
— Denis terminou a faculdade, seguiu sua vida longe de mim, e, sinceramente, eu nunca senti a necessidade de fazer parte da vida dele. Então, quando a notícia da morte trágica dele chegou, foi como um soco no estômago. De repente, eu era a única família que ele tinha deixado, e precisei cuidar de tudo. Olhei para Alby, que me escutava atentamente, seu rosto suave e compreensivo, como sempre. — Foi aí que descobri que ele havia tomado aquela maldita decisão de me deixar com a guarda da filha dele. Que merda, Alby! — deixei escapar, a frustração evidente em minha voz. — Como um homem quebrado de todas as maneiras poderia cuidar de uma criança? Hesitei, escolhendo as palavras com cuidado antes de continuar. — E, como se isso já não fosse o suficiente, soube que ele decidiu dividir essa responsabilidade com você, uma ex-namorada dele. Eu fiquei ainda mais puto. Como ele achou que uma ex-namorada seria a melhor pessoa para cuidar da filha dele? Alby aba
Passei a mão pelo rosto, tentando afastar a angústia que sempre vinha com essa lembrança. — E foi aí que percebi... que o amor que eu tinha por Gabriel era único. Insuperável. Não importa o que aconteça, ninguém jamais ocupará o lugar dele. Mas isso também me ensinou que preciso parar de procurar substituições, de tentar preencher aquele vazio com algo ou alguém. Alby me olhava com olhos marejados, mas não interrompeu. Ela sabia que eu precisava terminar, precisava expor aquilo para finalmente libertar um pouco do peso que carregava. — Essa situação com Fernanda... — continuei, a voz mais baixa — Foi o empurrão que eu precisava para encarar minha dor de frente. Para aceitar que Gabriel me deu tudo o que eu precisava enquanto esteve aqui, e que agora... agora cabe a mim viver por ele. O silêncio caiu sobre nós novamente, um silêncio leve.Como se, ao compartilhar aquilo, eu tivesse finalmente começado a soltar as correntes que me prendiam.
Estávamos ali, em algum lugar entre o passado e o futuro, tentando entender como lidar com o que nos restava.Ele me fez um gesto para que sentasse, e o silêncio se estendeu por alguns minutos, quase como uma conversa silenciosa, até que ele falou, sua voz baixa, mas firme.— Você não sabe... — ele começou, hesitante, como se quisesse encontrar as palavras certas, mas elas pareciam se perder no ar. — Não sabe como é viver com essa dúvida constante. Esse medo... de falhar. De não ser capaz de ser o homem que todos esperam. Não só para Alice, mas para mim mesmo.Eu o olhei, sem pressa de responder. Ele estava se abrindo, mais do que imaginara que fosse capaz. Eu sabia bem o que ele queria dizer, pois me vi refletido em suas palavras. O medo de ser insuficiente, de não corresponder ao que o mundo espera de você, é algo que consome a alma.— Eu entendo o que você está dizendo, Isaías — minha voz saiu mais suave do que eu esperava.— Eu t
O silêncio da casa parecia ser mais profundo do que o normal, como se o ar estivesse carregado de uma tensão que ninguém conseguia dissipar. Eu observava Isaías, sentindo o peso de seus passos ao lado de Alice, ainda mais agora, sabendo que aquele momento seria decisivo para ambos. Ele estava pronto, eu sabia disso. Mas será que Alice estaria? Será que, com seus cinco anos, ela compreenderia o que aquele reencontro significava?Ela estava brincando na sala, como sempre, espalhada no tapete com seus brinquedos. Alice parecia tranquila, mas o olhar atento dela me dizia que algo estava se passando em sua cabecinha. Ela sabia que algo estava diferente. Seu pequeno corpo parecia vibrar com a curiosidade, mas também com a ansiedade, como se fosse sensível a mudanças que estavam por vir.Isaías parou na porta e me olhou por um momento. Seus olhos estavam nublados, como se o peso do que ele sentia fosse algo difícil de carregar. Ele não m