A noite estava perfeita, ou ao menos parecia estar.
O som da campainha ecoou na casa em meio ao silêncio acolhedor, onde Alice já dormia profundamente.Meu coração deu um salto inesperado com o som da companhia, pois não estava esperando ninguém.Caminhei até a porta com passos leves, a curiosidade apertando meu peito.Quando a abri, me deparei com Andrew.Ele estava ali, com aquele sorriso que sempre parecia saber mais de mim do que eu mesma.Em suas mãos, um buquê de flores delicadas, cada uma em tons suaves que, de alguma forma, refletiam meu estado de espírito.— Andrew? O que você está fazendo aqui? — Minha voz era um misto de surpresa e desconcerto, mas também de algo mais... algo que eu não queria admitir.Ele estendeu o buquê para mim, seus olhos presos aos meus, com uma intensidade que me desarmou por completo.— Eu senti que você precisava de uma noite especial. Está disponível essa noite? — Sua voz era calma, mas carregadaA campainha tocou pela manhã, e eu, ainda de pijama e com uma xícara de café nas mãos, fui atender, sem pressa. Quando abri a porta, deparei-me com um entregador segurando um enorme buquê de flores e uma caixa.O aroma era intenso e agradável, mas o cartão preso entre as flores foi o que realmente chamou minha atenção. — Alby Leclerc? — perguntou o homem com um sorriso. — Sim, sou eu. Recebi a entrega com certa hesitação, agradecendo rapidamente antes de fechar a porta. Não foi difícil adivinhar quem havia enviado. Junto às flores, havia também uma elegante caixa de bombons, tão perfeita que parecia um presente de cinema. Peguei o cartão e li devagar: "Querida Alby, Sinto muito por ter estragado nossa noite. Circunstâncias inesperadas me afastaram, mas espero que compreenda. Estarei ausente por alguns dias, mas mal posso esperar para te ver novamente. Com carinho, Andrew Lowen"Suspirei, sentindo um mis
O ateliê estava silencioso, exceto pelo som suave da música que vinha do rádio ao fundo. As janelas amplas deixavam a luz do fim de tarde entrar, refletindo nos pincéis e tintas espalhados sobre a bancada. Ali, no meio daquele espaço que costumava ser meu refúgio, eu me sentia inquieta. Caminhei devagar, analisando cada tela já pronta, cada detalhe das obras que, mais uma vez, seriam enviadas para exposições em outros lugares. Elas estavam lindas, eu sabia disso. As cores vivas, as texturas, os detalhes… Tudo transmitia um pouco de mim, como sempre. No entanto, não senti a mesma alegria de antes, aquela satisfação de saber que minhas criações alcançariam o mundo. Dessa vez, o pensamento que me consumia era outro: quanto tempo longe de Alice isso me custaria? Suspirei, cruzando os braços, e chamei Luana. Ela apareceu rápido, sempre organizada, com o caderno de anotações em mãos e um sorriso paciente. — Preciso que reorganize as exp
A ligação de Andrew foi uma surpresa. Era raro ele telefonar diretamente, considerando seu hábito de surgir e desaparecer quando bem entendia, sempre deixando um rastro de mistério. Mesmo assim, sua voz carregava um calor reconfortante. — Alby, pensei em reunir alguns amigos para um jantar — ele disse, com aquele tom casual, como se a ideia tivesse surgido no último minuto. — Luana e o marido estarão lá. Quero que você venha também. Hesitei por um instante, mas o convite era tentador. Estar com Luana e seu esposo era sempre bem agradável e eu estava desejosa por uma pausa com adultos.E Andrew tinha esse jeito de tornar sua companhia irresistível. — Tudo bem, eu vou — respondi, permitindo-me um raro momento de espontaneidade. — Ótimo. Passo para buscá-la às oito. Pontual como sempre, Andrew apareceu exatamente no horário. Quando abri a porta, seus olhos percorreram minha figura com um brilho que denunciava sua aprovação
A manhã seguinte ao jantar começou tranquila, mas minha mente ainda estava presa à figura de Rebecca e à expressão dura de Andrew enquanto cortava suas perguntas. A curiosidade sempre foi minha aliada e minha maldição, e dessa vez, ela me consumia como uma chama. Minha rotina com Alice ajudava a manter minha mente no presente. Suas risadas doces e perguntas inocentes eram o bálsamo que afastava qualquer inquietação. Contudo, no silêncio das horas em que ela dormia ou brincava sozinha, minha mente voltava para a cena no restaurante. Quem era aquela mulher? O que ela queria? E por que Andrew reagiu daquela forma? Decidi que um passeio no parque poderia aliviar a tensão. O dia estava claro, e o vento fresco trazia uma sensação de renovação. Alice corria entre as árvores com outras crianças, enquanto eu me sentava em um banco, tentando organizar meus pensamentos. Foi então que meu telefone vibrou. Olhei para a tela
O vazio das explicações de Andrew ecoava na minha mente como um buraco que ninguém se dava ao trabalho de preencher. Depois da noite quase mágica que ele orquestrou — uma noite que me fez acreditar, por um momento, que eu era importante, especial —, tudo desmoronou tão rapidamente que era como se eu tivesse sido arrancada de um sonho sem fim e atirada de volta à realidade fria. Ainda teve esse encontro com Rebecca e seu acompanhante, mesmo com suas explicações, tudo parecia fora de ordem. Eu deveria estar acostumada a essas interrupções, a ser um capítulo secundário na história de outra pessoa. Mas Andrew tinha uma maneira única de deixar sua ausência ainda mais ensurdecedora. Enquanto ele murmurava algo vago sobre um imprevisto e me assegurava que eu teria uma carona para casa, era impossível não sentir a barreira invisível entre nós crescer, novamente, impenetrável. De volta para minha casa, o relógio parecia zombar de mim. Cada segundo q
A tarde estava estranhamente silenciosa, como se o tempo houvesse parado. Alice brincava no jardim, a luz do sol transformando seu cabelo em uma coroa dourada. Eu a observava da varanda, sentindo um misto de paz e inquietação. O silêncio às vezes é traiçoeiro, um prelúdio para tempestades. Estava imersa nesses pensamentos quando o som de passos no cascalho chamou minha atenção. Olhei para o portão e vi Andrew caminhando em minha direção, com aquele passo decidido e o olhar que parecia carregar o peso do mundo. — Você realmente precisa parar de aparecer sem avisar — comentei, cruzando os braços enquanto ele se aproximava. Ele não respondeu imediatamente. Apenas me olhou, seus olhos cheios de algo que eu não conseguia decifrar. Finalmente, suspirou e falou: — Preciso de um momento de conversa com você. Meu coração deu um salto. As últimas conversas com Andrew haviam deixado mais perguntas do que respostas, e eu não tinha
O tempo parecia se arrastar como um rio calmo, mas com correntes profundas, puxando-me para pensamentos que eu preferiria ignorar. Alice estava na escola, e a casa estava mais vazia do que eu gostaria. O café esfriava em minha xícara enquanto eu olhava pela janela, absorta nas árvores que balançavam suavemente com o vento. As ruas tranquilas à minha frente contrastavam com o turbilhão de sentimentos que começavam a tomar conta de mim. Havia algo inusitado em Andrew, algo que eu não conseguia entender, mas que, de alguma forma, parecia me envolver cada vez mais. O mistério ao redor dele não se limitava apenas ao seu passado, mas a uma conexão inexplicável que parecia crescer. Mas, por mais que eu tentasse racionalizar, ele se tornava um peso crescente em minha vida, e eu não sabia se estava disposta a carregá-lo. Minha mente retornava ao jantar. Aos momentos em que nossas conversas se entrelaçaram, carregadas de não ditos, de olhares furtivos
A esquina do edifício onde Andrew mantinha seu escritório parecia o local ideal para clarear meus pensamentos. A cidade pulsava ao meu redor, mas minha mente estava presa à sensação incômoda de que algo não se encaixava. Andrew havia mudado. Ele estava mais reservado, com telefonemas interrompidos repentinamente e justificativas que não faziam sentido. Aquela inquietação me corroía e não dava trégua, mesmo em meio aos meus próprios compromissos, pois havia combinado de me encontrar com Luana e ela ainda não havia chegado.Foi quando o vi. Andrew. Ele caminhava calmamente, o terno impecável e a postura firme que lhe era tão comum. Mas o semblante carregado entregava algo que ele não queria que os outros percebessem, mas eu sabia que algo o estava incomodando. Dei um passo à frente, pronta para chamá-lo, mas a presença dela me deteve como um golpe no estômago. Rebecca. Rebecca surgiu de repente, como uma sombra indesejada.