A lembrança ainda era amarga, latejava em algum canto da minha mente como uma cicatriz que nunca deixava de doer. Aqueles dias ao lado de Fernanda… a sensação de ser enganado, traído de forma tão vil e inesperada. Eu, que tinha me entregado, que confiava nela como em ninguém, havia me tornado alvo da mais desprezível das humilhações. Era como se fosse ontem. Lembro-me do sorriso dela ao lado dele, aquele maldito sorriso que antes me pertencia. Ela estava tão à vontade, rindo e trocando olhares com um dos nossos amigos mais próximos, um médico que frequentava minha casa, alguém que eu considerava como família. O choque me paralisou. Ver Fernanda nos braços de outro homem, um homem que eu pensava ser meu amigo, destruiu qualquer noção de realidade que eu tinha. Eles riam juntos, íntimos, envoltos em uma atmosfera de cumplicidade que eu nunca imaginaria presenciar.A princípio, achei que estava sonhando, que meus olhos estavam me pregando uma peça cruel. Mas não… Era real. A r
Nunca pensei que fosse o tipo de pessoa que sentiria ciúmes – ou, pelo menos, era o que eu acreditava. Sempre tive a certeza de que a confiança era a base de qualquer relação, que, onde há confiança, não há espaço para inseguranças. Me orgulhava de ser alguém que dominava suas emoções, que não se deixava consumir por medos infundados. Mas então Alby apareceu e, com ela, tudo o que eu sabia sobre mim desmoronou. Já a fiz suportar humilhações que nenhum ser humano deveria enfrentar, testei minha sorte ao extrapolar limites e tive a arrogância de presumir o que jamais deveria. Agora, nesse momento, sinto que tudo o que eu defendia foi por terra, e encaro o abismo das consequências que criei.Eu estava ali, mais uma vez, observando Alby de longe. A única forma que encontrei de estar perto, sem invadir o espaço dela, sem ultrapassar os limites que ela havia estabelecido. Ela e Alice haviam se mudado para buscar um pouco de paz, um refúgio da confusão que havia sido a vida nos último
Enquanto me entregava ao momento, ao consolo de um abraço simples, algo desconfortante se arrastou pelo meu peito. O abraço de Charles, com sua força tranquila e familiar, não deveria ser interrompido, não deveria ser manchado por algo que eu temia ver. Mas ali, no meio de uma risada abafada, algo fez meu corpo se congelar, meu coração acelerar. No meio do movimento, entre um passo e outro, algo me fez parar. Algo no ar, no ambiente, no som que me cercava, me fez virar a cabeça, como se meu corpo estivesse reagindo antes mesmo da minha mente entender o que estava acontecendo. E lá, entre a multidão, com a rua se espalhando ao redor de mim, eu vi uma figura que, a princípio, me parecia familiar. O olhar penetrante, aquela postura rígida que me era tão conhecida… Era Isaías. Não podia ser. Não poderia ser. Mas, mesmo assim, o mundo ao meu redor parecia diminuir enquanto meus olhos fixavam naquele vulto.A sensação foi como um soco no estômago. Eu não sabia o que estava acontec
Fui chamada para ir até o escritório do doutor Moon para tratar de assuntos pertinentes à herança de Alice. Ele teve o cuidado de me avisar que Isaías também estaria presente. Eu não sabia o que esperar.Desde o dia que deixei a antiga casa de Alice, não havia nos visto mais.E a verdade era que Isaías não era uma pessoa de fácil leitura, você nunca sabia o que esperar. Eu sabia que a reunião com o Dr. Moon seria complicada, mas nada me preparou para o caos que aconteceu. A tensão já estava no ar antes mesmo de entrarmos na sala, e quando olhei para Isaías, não consegui evitar a sensação de que algo estava prestes a estourar. Ele estava ali, de cara fechada, com o olhar frio e calculista que sempre me fazia questionar onde ele estava realmente, o que pensava e o que esperava de mim. Eu não sabia mais como lidar com isso, com ele.Dr. Moon nos olhou com uma expressão profissional, tentando manter a calma. Ele nos cumprimentou, mas logo percebeu que o clima estava longe de ser am
Ele me olhou, os olhos agora cheios de algo que eu não consegui decifrar. — Eu não estou falando só de Alice, Alby — ele disse, a voz baixa, mas cortante. — Estou falando de nós. Das escolhas que você fez. Das escolhas que eu nunca tive a chance de fazer porque você decidiu por mim. Eu abri a boca para responder, mas as palavras ficaram presas. Por um segundo, eu quis gritar, quis dizer a ele que estava errado, mas parte de mim sabia que havia verdade no que ele dizia. Isaías me encarou com aquele maldito olhar duro e cruel. — Você ainda acha que não tem algo a me dizer? — ele questiona, seu olhar afiado como uma lâmina. — Não me faça perder meu tempo com esse teatro, Alby. Porque tudo isso aqui é a merda de uma peça mal ensaiada. Eu senti a dor de suas palavras como se fossem facadas. A vontade de responder à altura era forte, mas tentei me controlar. Eu sabia sobre o que, ou melhor, sobre quem ele estava me questionando. Não queria, por mais difícil que fosse, dar
Eu sabia que tinha que resolver tudo com Isaías. Não dava mais para viver nessa incerteza, nessa bagunça emocional que ele havia criado. Eu precisava colocar os pingos nos “is”, acabar com as dúvidas e as acusações, e, acima de tudo, colocar um fim nesse ciclo de frustração que parecia não ter fim. Então, tomei a decisão: iria até o hospital, procurá-lo, e, finalmente, ter uma conversa civilizada, ou pelo menos tentar. Mas como a vida sempre tem o dom de transformar qualquer boa intenção em um pesadelo, mal saí do carro e comecei a caminhar em direção à entrada do hospital, fui surpreendida por alguém que eu preferia nunca mais ver. Fernanda. Ela estava lá, parada, com aquele sorriso falso no rosto e aquele olhar tão venenoso que me fez imediatamente sentir um arrepio na espinha. Eu sabia o que ela queria, sabia exatamente do que ela era capaz. E não estava errada. — Olha quem temos aqui, a queridinha da vez. — A voz dela foi como uma lâmina afiada, e eu me preparei para
Eu estava furiosa, mas havia algo dentro de mim que me impulsionava a seguir em frente. O confronto com Fernanda me deu uma dose de raiva, mas também me fez perceber que não podia mais ficar fugindo. Eu precisava resolver as coisas com Isaías.Não importava o quão difícil fosse, não importava o quanto eu estivesse sendo arrastada de volta para um passado que eu queria enterrar. Eu precisava encarar a realidade, finalmente.O hospital parecia mais frio do que o habitual, e a tensão no ar era palpável. A caminhada até a sala de Isaías parecia interminável, como se o caminho fosse projetado para me fazer desistir. Mas eu não ia ceder. Eu não podia.Quando finalmente entrei, o vi sentado atrás de sua mesa, parecendo uma sombra do homem que eu conhecia. O olhar dele estava vazio, distante, e ele sequer se deu ao trabalho de me cumprimentar. Eu sabia que as coisas entre nós estavam quebradas, mas ainda assim, uma parte de mim acreditava que, talvez, pudéssemos conversar como pessoas
Fiquei ali parada, sentindo o caos do hospital começar a se dissipar. O ritmo frenético cedia espaço a uma rotina que, para os profissionais, parecia ensaiada. Eu queria continuar, observar mais do que Isaías faria, mas sabia que ele, com certeza, não ficaria nada satisfeito em me ver ali depois de resolver aquele caso urgente. Estava voltando para o elevador quando algo prendeu meu olhar na sala de espera. Meu coração deu um salto. Luana. Ela estava ali, junto com o marido e... Charles. Meus pés se moveram automaticamente na direção deles, e conforme me aproximei, percebi os olhos de Luana vermelhos, as mãos trêmulas agarradas ao marido. Algo estava errado, terrivelmente errado. — Luana? O que aconteceu? — perguntei, minha voz mal saindo. Ela levantou os olhos para mim, e naquele instante, vi o desespero de uma mãe em pedaços. — Sophi... — sua voz quebrou. — É minha filha. Ela... Ela estava brincando na piscina... e... O mundo ao meu redor pareceu parar quando Lua