VICENTE ..... ALGUNS DIAS DEPOIS ..... Deixo de lado o notebook onde eu estou verificando as planilhas financeiras da oficina mecânica, quando o meu celular começa a tocar. Desde o desentendimento com a Lana após a consulta médica, não tenho ido visitá-la — a euforia de pensar que é a Lana me ligando acontece todas as vezes e sempre acabo me frustrando por não ser ela. Quem está me ligando é a Maria Helena, minha ex-sogra. — Alô? — digo ao atender a ligação. — Vicente? É a Maria Helena. — ela diz do outro lado da linha. — Como vai? — pergunto, sem entusiasmo. — Estou dividida no sentimento de felicidade e inquietação. — Maria Helena responde — A Luna me contou sobre a gravidez recente da Lana. — Eu imaginei que fosse por este motivo a sua ligação. — afirmo. Levanto-me da cadeira e começo a caminhar pelo apartamento, ansioso. — Estou chateada que a Lana e você não tenham vindo me contar sobre a descoberta. — ela começa — Mas após a Luna me contar os dilemas que v
..... DIA SEGUINTE ..... Estou completamente imerso em minha tarefa, preparando um bouquet garni para o caldo de carne, o qual um cliente pediu. Meus dedos se movem com precisão, amarrando as ervas frescas com um barbante. O aroma do alecrim e do tomilho enchem o ar. De repente, uma voz firme e autoritária me interrompe. — Vicente, por que não me disse que a Lana está grávida? Levanto a cabeça, surpreso, e encontro o olhar penetrante da Chef Sophia. Seus olhos castanhos parecem ver além da superfície, como se buscassem uma resposta mais profunda. "Como a Chef Sophia sabia?" — penso, intrigado. Eu não contei a ninguém no bistrô sobre a gravidez, nem mesmo sobre o término com a Lana. A Chef Sophia arqueou uma sobrancelha, esperando uma explicação. — Lana está grávida. — falo com ironia, sem me importar em disfarçá-la. A Chef Sophia revira os olhos, claramente não impressionada com a minha resposta evasiva. — Encontrei Lana mais cedo e ela me contou a notícia. — ela
..... UM MÊS DEPOIS .... — Obrigado, pessoal — agradeço, após abraçar cada membro da equipe — Isso significa muito para mim. Sinto-me honrado em ter uma despedida feita pelos amigos que fiz durante os meus seis meses de mentoria do bistrô francês, com direito às garrafas de champanhe acompanhado de votos de saúde e sucesso. Despeço-me deles e vou encontrar a Chef Sophia, a qual desapareceu após a festa de despedida. Vou até o seu escritório no piso superior do salão do bistrô francês, bato na porta e adentro a sala. — Chef Sophia, eu vim me despedir — digo ao vê-la sentada em sua cadeira. A Chef Sophia olha-me com um sorriso caloroso. — Ah, Vicente, é hora de você seguir em frente — disse ela. — Eu estou muito orgulhosa de você e do que você conquistou aqui. Sorrio em gratidão pela oportunidade que a Chef Sophia havia lhe oferecido. — Obrigado, Chef Sophia. — agradeço — Eu nunca vou esquecer o que você fez por mim. — Você sabe que precisa agradecer outra pessoa. — ela dá uma
..... DIA SEGUINTE — SÁBADO ..... Quando a Lana me recebe em sua casa, sua expressão é neutra. — O que você quer? — perguntou ela. Admito que eu nutria esperança de que a reação de Lana seria de êxtase ao me ver, após semanas distantes. Mas a realidade é como um tapa na cara. — Eu vim te avisar que eu estou indo embora por um tempo. — conto. Lana levanta uma sobrancelha: — Onde você vai? — Eu vou para a minha cidade natal. Eu tenho alguns assuntos para resolver lá. — respondo. Lana olha-me com uma expressão de desinteresse. — E por que você está me contando isso? — perguntou ela. Creio que não consegui esconder a expressão de mágoa pela reação de Lana. — Eu queria que você soubesse — falo — Eu não sei quanto tempo eu vou ficar fora, mas eu queria que você soubesse que eu estou pensando em você e no... — hesito por um momento antes de continuar — ...no nosso filho. Os meus olhos descem para barriga que está começando a ficar visível apesar da camiseta larga que Lana usa. L
..... UM TEMPO DEPOIS .....VICENTEEnquanto eu tomo o café da manhã, estou emergido nos planos que tenho para hoje."Ainda há muito para se fazer." — penso, já me sentindo exausto.Minha atenção se volta para o celular que começa a vibrar, vejo no visor se tratar de uma ligação da Luna, minha ex cunhada.— Bom dia, Luna. Como vai? — falo ao atender a chamada.— Estou bem! E você? — Luna continua — Como vão as vendas? O motivo do meu retorno para a minha cidade natal é que estou vendendo minhas propriedades — casa e a oficina mecânica. Eu sabia que se tratava de um processo demorado, mas descobri ser burocrático.— Ainda não encontrei alguém interessado. — resmungo.— Então isso quer dizer que precisará de mais alguns meses por aí... — Luna murmura.— Exato. — concordo.Luna fica em silêncio por um momento, até que então conta:— Vamos ao que importa. — ela prossegue — Eu tenho uma notícia especial, Vicente.Sinto o meu coração bater mais rápido, sentindo-me ansioso.— O que é? Qual
LANARecebi o convite para visitar o meu pai, Fernando, e sua namorada, Gisela. Enquanto eles não param de tagarelar, estou perdida em meus pensamentos.Já fazem dois meses que o Vicente foi embora e não tenho ouvido falar dele desde então. Mas eu sei que ele está bem. Minha irmã Luna mantém contato com ele, e sempre que eu pergunto sobre Vicente — de forma indiferente, na tentativa de não demonstrar curiosidade — ela diz que ele está bem e feliz."Vicente está mesmo feliz?" — este é o meu questionamento interno.Será que Vicente conheceu alguém? Ou então, ele conseguiu um trabalho na área de gastronomia?Estar distante de mim remete a sentimentos bons para ele?Nas poucas tentativas que tentei fazer Luna me dizer mais sobre como Vicente está vivendo, ela me repreendeu e deu sermões por horas."— Você quer saber como Vicente está? Pois bem, ligue para ele. Mande mensagem ou sinal de fumaça, mas faça contato." — estas foram umas das palavras que Luna usou contra mim.Eu até tentei co
..... DOIS MESES DEPOIS .....VICENTEApós sair do cartório, caminho pelas ruas do centro da cidade, indo em direção a prefeitura para dar continuidade nas documentações de venda.— Finalmente te encontrei, Vicente!Olho para o lado, vendo um amigo de longa data, Damião, do outro lado da rua.— Estava a minha procura? — pergunto, quando atravesso a rua para poder cumprimentá-lo.— Eu ouvi dizer que você estava na cidade. — Damião fala.— Sim, já tem alguns meses. — afirmo.— Deve estar na correria pelo jeito, nunca mais apareceu no campo ou no barzinho. — Damião falo, descontraído.Por eu residir em uma pequena cidade do interior, é difícil não encontrar pessoas facilmente.— Estou mesmo, na verdade, estou contra o tempo para ir embora de vez. — conto.— Então não são boatos que você está vendendo a oficina... — Damião resmunga.— A casa também. — completo.Damião olha-me perplexo.— Mas Vicente, essa oficina... ela pertencia ao seu irmão, não é? Ao Leonardo?Respondo com um movimento
LANA (Naquele mesmo dia) Não é do meu feitio escutar conversas alheias, mas ao ouvir o meu nome sair da boca de Eduardo, na sala de recursos humanos, não me contive. — .... se Lana não consegue equilibrar sua gestação e sua carreira, deveria renunciar para que outra pessoa competente assuma a vaga. — Eduardo diz com um tom sério e preocupado. "Como se ele realmente se preocupasse com a empresa." — penso, revirando os olhos. — Creio que esta decisão não nos compete, Eduardo. — quem fala é Mauro, responsável pelo RH da empresa. — É claro que não. — Eduardo ri com ironia — Mas não acha que Lana irá reconhecer que não é capaz, certo? — Como chegamos a este assunto? — Mauro indaga. Bato na porta do escritório, a qual está entreaberta e adentro. — Com licença, boa tarde, senhores. — falo em um cumprimento. Mauro comprime os lábios na tentativa de disfarçar seu desconforto e Eduardo olha-me com um sorriso ardiloso. — Boa tarde, Lana. — Mauro responde ao cumprimento.