CAPÍTULO 4

Beatrice

Acordei cheia de dor de cabeça e quando enfim abri os olhos, me vi num quarto desconhecido, era luxuoso e neutro, não tinha nada que me ajudasse a saber de quem era, então presumi que fosse um quarto de hóspedes, olhei por baixo das cobertas olhando se ainda tinha algo cobrindo minhas partes íntimas, vai que eu dei a louca ontem e fiz algo que depois eu vá me arrepender, felizmente ainda estava com a minha lingerie, tentei reviver as minhas memórias de ontem, mas a noite passada parecia um branco,  o único resultado foi mais dor de cabeça, então desisti de tentar me lembrar me concentrando no agora.

Em cima da mesa de cabeceira tinha um copo de água com um remédio, presumi que aquilo era pra minha dor de cabeça então tomei sem água mesmo. Sai da cama, peguei o meu vestido na poltrona, vesti, peguei meus saltos e a minha bolsa. Com menor barulho possível sai andando no biquinho dos pés para tentar encontrar a saída. Caminhei por corredores e corredores, nada era familiar, então eu não deveria conhecer quem me ajudou a chegar aqui. A casa ou a mansão, não sei bem mas, aquilo parecia um labirinto, tive sorte de encontrar uma janela pra conseguir me localizar e quando enfim encontrei a saída corri como se não houvesse amanhã.

Já fora da mansão desconhecida, peguei meu celular e chamei um táxi. Agora eu teria um problema muito maior para cuidar e ainda que eu não estivesse totalmente acordada, sabia que papai estaria me esperando, só que eu não sabia que explicação ia dar ao meu pai, o que eu poderia dizer?

Hey pai, desculpa estar chegando agora é que eu acordei na casa de um desconhecido depois de ter me embebedado na casa da Julie que a propósito seus pais nem estavam lá.

Acho que não.

Meu pai surtaria só de saber que dormi na casa de um desconhecido. O que me intrigou mais, foi não saber quem seria o desconhecido e porque ele me levou pra sua casa? Bem... De qualquer das maneiras acho que nunca vou saber, era nessas horas que eu simplesmente pensava o que eu tinha na cabeça pra beber desse tanto, mas eu sabia que se houvesse uma festa amanhã, eu iria beber até esquecer do meu nome, como ontem. Encher a cara é a minha maneira de esquecer meus problemas o que não são poucos e eu sei que existe vários jeitos de esquecer dos problemas sem precisar do álcool, mas às vezes meus pés estão simplesmente cansados de procurar esse jeito, e é tão mais fácil quando pego um atalho, beber era como a minha válvula de escape.

Entrei em casa tentando não fazer barulho, pois ainda rezava para que meu pai nem tivesse dado por minha falta, mas em vão porque assim que pus os meus pés em casa ouvi a voz do meu pai, suave e preocupada.

— Onde estava Beatrice Connor? — perguntou ele vindo até mim.

— Dormi na casa de uma amiga — menti pedindo internamente que ele não insistisse nesse assunto.

— Está de ressaca não é? — disse meu pai que me fez pensar na hora.

Está tão na cara assim?

— Ahh Trice, sabe bem que odeio que faça isso — disse meu pai daquele modo mais amigável.

— Eu sei, desculpa pai — o abracei.

— O diretor ligou — avisou e eu me desvencilhei de seu abraço.

— Pai, por favor agora não, minha cabeça está explodindo — disse exagerando um pouco. O remédio já estava surtindo efeito, mas eu realmente não estava com vontade de falar da escola, ou das minhas notas, ou até mesmo do meu futuro que no momento eu ainda estava num impasse.

— Tabom, tabom, mas nós ainda vamos conversar sobre isso — avisou e eu apenas assenti — agora vai tomar um banho que a sua cara ta horrível.

Eu ri subindo as escadas, ao me olhar no espelho do banheiro vi logo porque meu pai tinha visto de primeira que eu estava de ressaca, minha maquiagem estava um horror digna de um prêmio de concurso de pintura do Halloween, agora sei o motivo do taxista me olhar pelo espelho a cada cinco minutos com uma cara de desaprovação.

[...]

Tic tac, tic tac

O relógio não parava de fazer esse barulho, era irritante, talvez porque eu não tivesse nada pra fazer ou, porque eu estava meio nervosa com a conversa que ia ter com o meu pai, se bem que meu pai era um poço de paciência, o único conflito que tive com ele, foi quando ele quis que eu usasse uma camisa dizendo "Eu sou o bebê do papai", como se eu fosse mesmo usar uma coisa daquelas, no ensino médio, acabou que chegamos num consenso, tirei uma foto com aquilo e ele até hoje guarda na sua carteira, mas obviamente, fi-lo prometer que nunca mostraria a ninguém.

— Tchau maninha, aproveita sua tarde bem entediante — disse Genevieve com aquela voz fininha que tanto me irritava.

Ela saiu toda contente e saltitante, se ela está assim aposto que sua tarde ia ser produtiva, se é que me entendem. Ouvi a porta abrir e logo vi meu pai.

— Oi filha — disse ele todo sorridente.

— Oi pai — minhas mãos tremiam de tanto nervosismo.

De repente a campainha tocou me fazendo respirar fundo, só não sei se foi de alívio ou nervosismo, de qualquer maneira, meu pai aproveitou essa pequena interrupção para bater uma boquinha na cozinha enquanto eu fui abrir a porta. Ao abrir a porta meu cérebro não soube acompanhar a ação de modo que eu congelei, minha expressão de surpresa era visível. Perguntas e mais perguntas rondavam a minha cabeça e eram tantas que eu nem sabia por qual devia começar, mas decidi tomar as rédeas do meu cérebro novamente e desfiz logo aquela cara.

— O que raio você faz aqui Zack Parker? — pra ser sincera nunca tinha ouvido sua voz com atenção, ele sempre foi tão... inútil na minha vida que eu nem mesmo prestava atenção no som da sua voz.

— Eu sou o seu novo tutor — explicou com sua voz grave e rouca. Acho que se ele tivesse só aquela voz já estava rodeado de garotas do tanto que sua voz soava sexy.

Mas então meu cérebro começou a trabalhar. Tutor? Mas que tutor? Eu havia deixado bem claro que eu não queria um. Eu não sei o que deu na cabeça do diretor para aprovar uma coisa dessas, mas eu e ele ainda vamos ter uma conversinha, me recuso a ter que ser obrigada a isso ainda que o meu tutor tenha cara de príncipe.

— Com certeza é algum engano, eu não preciso de um tutor, enfim, tchau Parker — eu ia fechar a porta na cara dele, mas o mesmo colocou a ponta do seu tênis entre a abertura da porta, me impedindo de fechá-la.

— Tenho a certeza que estou na casa certa — reafirmou e eu apenas continuei empurrando a porta com as minhas costas tentando fechar a porra da porta.

— Vai embora, Parker — disse enquanto usava toda a minha força, inutilmente que se diga de passagem tentando fechar a porta.

Com apenas um leve empurrão ele abriu a porta e ainda me deu um sorriso convencido. Desde quando ele sorri?! Ele estava me desafiando?! Uma coisa era ele desafiar Julie, outra bem diferente era ele ME desafiar.

— Que idiota — resmunguei cruzando os braços.

— Disse alguma coisa? — perguntou ele tentando me causar medo, azar o dele se ele julgava que conseguia me intimidar com esse jeito dele.

— Eu disse que você é um... — fui interrompida ao escutar o meu pai.

— Parker, vejo que é pontual — disse meu pai com um prato waffles na mão caminhando até nós, ele nem pareceu notar as más vibrações na sala entre mim e Zack.

— Pai, o que está acontecendo? — perguntei chamando a atenção dele.

— Filha, o Parker decidiu te ajudar com os estudos.

— É pai, mas fui bem clara ao falar com o professor que eu podia dar conta do recado.

— O diretor achou melhor você ter um acompanhamento, além do mais são só cinco vezes por semana — disse meu pai como se fosse pouco.

— Pai, tenho os meus treinos à tarde, lembra?

— Beatrice, da mesma maneira que você encontra tempo para as festas que você vai, tenho a certeza que consegue encaixar essas aulas nessa sua rotina louca — afirmou enquanto lambia os dedos depois de ter comido os waffles, no segundo seguinte ele olhou para o relógio e logo depois arregalou os olhos — tenho que ir, te amo — deu um beijo em minha testa, me entregou o prato e saiu com o paletó na mão.

— Espera até eu contar para a mamãe que você comeu demais no café da manhã ou que tal quando deixou o vestido do vosso primeiro encontro encolher — ameacei e meu pai arqueou a sobrancelha.

— Espera até eu pensar num ótimo castigo para a sua recente ressaca, ou talvez podemos adicionar o fato de ter estourado o cartão de crédito da sua mãe duas vezes — retrucou de volta.

— Touché — estalei a língua.

— Que bom que pudemos ter essa conversa — saiu porta a fora.

— Que bom... — resmunguei revirando-nos olhos.

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