capítulo 4

Vicenzo Fraga

Meu dia no escritório foi cheio, resolvi

uns problemas com uma papelada de um

processo familiar. Não gostava nem um pouco de pegar casos na área da família. Deixava esses casos para meu pai, sempre preferi a área criminalística.

Desde a faculdade me via trabalhando nisso, porém para defender pessoas inocentes, meus princípios nunca foram abalados por conta de dinheiro. Formei-me em direito não somente por ser uma profissão renomada ou porque meus pais queriam, e sim porque prezo a justiça.

Não gostava de atuar na área familiar porque não achava justo ser o motivo por

tirar um filho de um pai por exemplo. E era

por esse motivo também que se eu passasse

no concurso para juiz dali a alguns anos, eu

iria trabalhar apenas com criminalístico ou

direito trabalhista.

Respirei fundo colocando os papéis em

uma pasta, teria trabalho pra casa hoje.

Despedi-me do meu pai, e fui para casa da Melinda, eu precisava saber como ela é o meu filho estão, isso é tão louco ainda vou ser pai, eu não esperava que isso fosse acontecer tão cedo ainda mais com a Mel, imagino como deve está a cabecinha dela, ela sempre foi muito sensível, e sonhava em ter um casamento como o dos pais, e não um filho do melhor amigo, eu sempre fui o mais sensato de nós dois não deveria ter deixado isso acontece.

Depois de sair do apartamento dela fui para casa do Rick. Queria conversar com ele antes de contar para meus pais e para Sara.

Rick estava morando em uma casa no

mesmo bairro que eu, eu tinha comprado o

apartamento que ele morava antes. Dirigi

para lá desviando do trânsito e não demorei.muito para estacionar em frente o sobrado pintado na cor branca e janelas aparentes.

Antes de tocar a campainha, Maria abriu

a porta e cruzou os braços me encarando.

Sorri com a braveza dela, estava usando

o uniforme do colégio ainda, com o cabelo

cacheado amarrado em um rabo de cavalo

desgrenhado.

- Quando pretendia me contar que eu terei um primo? - Ela perguntou.

Comecei a rir, como ela descobriu? Entrei e

fui direto pra sala me jogando no sofá macio.

Ela veio atrás ainda de braços cruzados, e estava realmente chateada.

- E como a Senhorita descobriu isso? - perguntei sabendo que o meu irmão não contaria já que pedi discrição.

- Vocês subestimam demais minha

inteligência. revirou os olhos me arrancando gargalhadas. - Como pode engravidar a Sara, ela não gosta de mim, e ainda não me contar.

Maria era a menina mais sincera e

extrovertida que eu conhecia. Eu adorava

aquele gênio forte dela, era sempre muito

madura para a idade dela.

- Não engravidei a Sara. - cocei a cabeça. - Quem ta grávida é a Melinda.

- Que Melinda? - os olhos dela se arregalaram. - A sua Melinda? Sua melhor amiga? A que me leva para ver os filmes mais dahora no cinema? Essa MELINDA? Ai meu deus! a tia Melinda está grávida — ela

abriu um sorriso enorme. — E eu que quase

achei que essa não era uma boa notícia, mas é ótima.

Rick desceu as escadas enquanto vestia uma camiseta preta, não estava muito diferente de quando se mudou para São Paulo a quase 10 anos atrás, só o cabelo que mantinha cortado rente à cabeça, gostava

daquele estilo, quando ficasse mais velho

quem sabe não iria aderir.

Se a Mel ouvi isso vai começa uma palestra ela sempre recla quando corto demais.

Ele se jogou na poltrona preta de frente

para mim. Encarou Maria com os olhos

semicerrados, a menina como se entendesse o olhar fez uma cara de cachorro que caiu da mudança.

— É feio escutar a conversa dos outros viu

dona Maria.

— Eu só queria um copo de água. Ou você

queria que sua filhinha morresse de cede? — ela levantou com as mãos atrás do corpo.

— Aliás, querem uma aguinha? Me deu uma cede de repente.

Comecei a rir da forma fugitiva dela, Rick

encarou enquanto ela seguia em direçāo à

cozinha, quando ela já não estava mais a vista também abriu um sorriso.

— Ta vendo né? Ter filho não é fácil não.

— Não me assusta! — pedi colocando as mãos no rosto.

— Como isso aconteceu Vicenzo? Mano, se não fosse você eu não acreditava nessa história. — ele falou rindo.

— No ano novo lembra? Que te contei que

acordei na mesma cama com ela e nāo

lembrava nada? Então, ai quando foi orntem pá, ela me deu a notícia.

— A Melinda cara? Sua melhor amiga! — ele parecia tão chocado como eu.

— Pois é seu Ricardo, olha que noticia boa. — Maria voltou entregando um copo de água para o pai e um para mim. — Quando vai contar para a chata?

— Maria... — Rick lançouo mesmo olhar de

antes sobre ela e ela sorriu se encolhendo.

— Pretendo contar hoje quando chegar em

casa. Mas como eu conto?

— Conta a verdade, mas deixa a notícia para o final, tipo, conta o que houve no ano novo e só no final fala sobre a gravidez. — meu irmão ia falando e gesticulando.

— Ai ela vai ter um pequeno surto.

— Então você se abre pra ela e fala que não vai deixar seu filho e sua melhor amiga. A Sara parece ser ciumenta, mas acredito que ela vai entender. Problema mesmo vai ser a mamãe! Lembra quando contei da gravidez de Melissa? E olha que a estávamos casados quando ela engravidou.

— Você vai estar comigo né? — pedi.

— Vou estar, mas que vou amansar a fera não prometo não. — Começou a rir. — Sério

Vini, você ta ferrado. E a Melzinha? Como ta a gravidez?

— A gente não sabe muita coisa ainda. Tem que marcar médico e todas essas coisas ainda!

— Passa lá no hospital, pela manhã eu estou

sempre lá, aí eu levo vocês até a maternidade.

Rick trabalhava no Hospital Li, seu foco lá dentro era a pesquisa clínica.

— Vou ver com a Mel aí te falo. Mano ainda tem o pai dela, meu Deus, e o irmão mais velho! — minha cabeça rodou.

— Uma dica, não coloque todo mundo no

mesmo lugar para contar. — ele falou e deu outra risada.

Eu tinha um pouco mais que a idade da Maria quando Rick foi anunciar a gravidez lá em ilha Bela em uma das melhores pousadas.

Lembro da confusão que tinha sido entre

minha mãe e a mãe de Melissa.

— Vou anotar isso.

Nós rimos e Maria levantou indo até o

videogame

— Preparado pra perder? — perguntou pra mim.

— Vou preparar um lanche e vocês vão ver

quem vai ganhar dessa vez. - Rick foi para a

cozinha.

— Ele acha mesmo que pode ganhar da gente? —  ela riu. — Esse Ricardo é muito  ingênuo.

Comecei a rir e começamos a jogar uma

partida. Fiquei por lá até umas oito da noite

quando mandei uma mensagem para Mel

dizendo que não poderia passar lá porque ia enfrentar a Sara.

Passar um tempo com meu irmão e com

minha sobrinha me deu mais coragem para

enfrentar tudo. Ele tinha tido Maria bem mais novo do que eu, e ainda era pai solteiro e cursava a faculdade. Se ele conseguiu, eu iria conseguir, tinha uma pessoa incrível com mãe do meu filho, já era mais velho e tinha uma boa estabilidade financeira.

Pedi para Sara me encontrar no meu

apartamento e quando cheguei ela já estava sentada no sofá mexendo no celular.

Dei um beijo no topo da sua cabeça e sentei ao seu lado.

- Oi! - ela falou sorrindo. - Estava com a sua amiguinha?

- Estava na casa do Rick, fazia tempo que não ia lá.

- Ah! E devia ter um tempinho, você mal fica comigo.

- Que isso Sara, a gente se vê praticamente

todo dia.

Passei a mão pelo pescoço dela e a puxei para mais perto.

- Fala o que você me chamou para contar.

pediu.

Cocei a cabeça e olhei para ela. Era hora de

contar, lembrei-me das palavras da Mel e do meu irmão "seja sincero".

- Sara. No ano novo, antes da gente se

reencontrar. - limpei a garganta e alisei a

mão dela que estava sobre minha perna. - Eu bebi muito e a Mel também... - ela abaixou a cabeça como se soubesse o que eu ia dizer.. - Acabamos ficando muito bêbados e não sei direito o que aconteceu, só sei que transamos, o que nós deixou muito nervosos isso nunca tinha acontecido em 10 anos de amizade...

Ela se levantou e colocou a mão na cabeça

virando de costas para mim. Eu estava muito ferrado, respirei fundo e levantei também.

- Então quer dizer que o filho é seu.. - ela

falou com a voz ríspido, como se as palavras fosse um ácido.

- O que?

- E nítido na palidez do rosto dela, a barriga achatada, desejos noturnos e os enjoos então? - ela fala e para e da um risada sarcástica. - Da gravidez eu sabia, só não contava que era do meu namorado.

Coloquei a mão na cintura dela, ela se virou e começou a me empurrar.

— Sara, eu não estava com você.

— Agora o que eu faço? Vou viver vendo você mais perto o tempo todo? Já ficava antes desse bastardo, agora então.

Senti raiva quando ela se referiu ao meu

filho como "bastardo". Sabia que ela reagiria mal, mas não esperava palavras tão duras.

— Não chame o meu filho assim, ele não é um bastardo, sim não foi planejado, mas ele é o meu filho — falei deixando bem claro para ela.

Afastei-me um pouco e sentei no sofá, apoiei o queixo na mão.

Eu gosto muito de Sara, nossa química era

incrível. Não tínhamos gostos parecidos, mas mesmo assim havia uma sintonia.

Ela andava de um lado para o outro com se pensasse muito a respeito da gravidez.

Respirei fundo e fui até a geladeira buscar um copo de água. Enquanto colocava o líquido no copo senti mãos quentes envolverem meu tronco.

Eu não entendi, eu soltei aquela bomba em cima dela ai ela ia me abraçar?

— Não vou deixar a Melinda te roubar de mim. — falou beijando meu pescoço.

— Isso não é uma disputa, ela é a mãe do meu filho, minha melhor amiga, mas você é a minha mulher, eu preciso sim ficar perto deles vocês são a minha família...

Ela não me deixou responder mais, selou nossos lábios com desejo é foi me

empurrando para cama. Minhas mãos

seguravam sua cintura enquanto beijava seu pescoço.

— Eu não estou acostumada a perder e sabe

por quê? — ela deu uma risada enquanto

desabotoava minha calça. — Porque eu sempre ganho.

Um tempo depois Sara estava deitada sobre

meu peito, com a perna sobre meu corpo.

Acariciei o caminho do seu braço fazendo

círculos.

— O que acha de procuramos clínicas de

aborto? — ela  perguntou e a afastei de mim, me sentando.

— Que? —perguntei querendo realmente ter entendido errado.

— Não é uma criança desejada por vocês dois. Logo a solução é abortar. — ela falou voltando a se encosta no meu peito.

Tirei meu corpo de baixo do dela e levantei perplexo, não queria ouvir mais nenhuma

palavra dela. Fui para o banheiro e tranquei a porta, tomei um banho gelado.

Ela devia estar falando isso por estar nervosa. Não queria acreditar que a Sara, a mulher que eu cogito casar tinha acabado de dizer que eu deveria pedir para a Gabriela abortar.

Isso ia totalmente contra os meus princípios, se existem pessoas que faziam, certo, que façam, mas se eu fiz aquele filho, mesmo bêbado, eu iria assumir e criar.

Deixei a água gelada cair sobre meu pescoço, Sara devia estar nervosa, iria relevar isso, mas não estava nem um pouco a fim de ficar mais tempo com ela naquela noite. Em compensação queria tanto estar ao lado da minha loirinha.

Foram tantos anos juntos que a naturalidade que um agia perante o outro era incrível. Não podia deixar que essa gravidez separasse a gente pelo contrário deveria fortalecer ainda mais nossa amizade.

Fechei o chuveiro e envolvi a toalha na minha cintura. No quarto Sara estava sentada me olhando, enquanto eu colocava uma roupa esperava uma reconciliação sobre o que ela havia falado. Mas o silêncio era o que dominava o quarto.

- O que? Você não cogita isso? - ela perguntou.

- É o meu filho, meu filho - falei para ela sem paciência.

- Mas vocês não o planejaram, só foi um erro de uma noite qualquer...

- Sim foi um erro, mas é o meu filho, nem eu nem a Melinda queremos isso, eu já amo aquele serzinho, que está se desenvolvendo nela, eu sei que é difícil entender, mas aconteceu...

- Mas você acha justo comigo e os nossos filhos vão ter um meio irmão, e vai muito legal dizer para está criança que ele foi um erro de dois idiotas que acharam de beber...

Balancei a cabeça, não queria mais ficar ali,

peguei a minha pasta de processos e sai do

apartamento. Eu acho melhor ir para casa da Melinda, neste momento só ela entende o que eu nos dois estamos passando. No elevador dei de cara com o Francis, marido da sogra do meu irmão. Sorri torto para ele.

- E ai garotão? Você está bem? - perguntou apertando meu ombro.

Nossas famílias acabaram se agregando, natal, ano novo, todas as datas comemorativas passavam juntas, e claro com a família da Mel.

- Para ser sincero? Nem um pouco bem.

Francis arrumou sua bolsa no canto do seu

corpo, devia estar voltando de um plantão

cansativo, me senti mal por estar amolando

ele com conversa sobre mim.

-— Acho que você está precisando de uma boa bebida, também estou, tive um plantão

complicado.

Ele me convidou com a mão para seguir até

o 205. Entramos e ele pegou uma garrafa de

gim, serviu dois copos e me entregou um.

Dona Maria Elisa e o Yuri, filho deles, deviam estar dormindo.

- O que houve no seu plantão?

- Tantas coisas perdi uma paciente e hoje aparece outra paciente Lúpica. Estou pedindo a Deus todos os dias para que as pesquisas em humanos do medicamento do seu irmão comecem logo. - respirou fundo e deu um gole na bebida. - O nome dela era Solaria, nada comum, estava grávida de três meses, começou a abortar e acabou tendo uma parada cardiaca. A perdemos.

- Sinto muito. - bebi um gole do gim.

- Obrigado. Não sei se consigo mais ser

reumatologista. Quando aparecem casos

assim eu geralmente travo! Eu amo o

que eu faço, mas temo que a essa altura

do campeonato tenha que mudar de

especialidade.

- Você é um bom médico, sabe disso Francis. - respirei fundo. - Vejo isso no meu irmão também, a dificuldade quando aparecem casos parecidos com o de Melissa, mas vocês são bons médicos, boas pessoas e vão se dar bem seja nessa especialidade ou em outra.

- Obrigado Vicenzo. E sempre bom ouvir alguns conselhos! - segurou o copo por baixo e me encarou. - E você? o que está te deixando assim?

- Vou resumir. Minha melhor amiga está

grávida de mim, minha namorada acaba

se sugerir que ela aborte. - apertei minha

têmpora. - E eu em nenhum momento cogito isso, é o meu filho, minha cabeça está a mil.

- Oh! - ele sorri e colocou a mão no meu

ombro apertando. - É futuro papai, você está encrencado com sua namorada, mas ela deve ter sugerido isso porque está nervosa. E mesmo que esteja sugerindo pra valer, você é o pai e sua amiga é a mãe, e se vocês quiserem vão ter sim esse filho.

- Recomendo Obstetrícia para sua nova

especialização. Ou quem sabe psiquiatria.

Nós dois rimos.

- Não estarei formado a tempo de fazer o

parto. Mas depois que a criança nascer eu

posso ser o pediatra dela, esse diploma eu

tenho.

- Vou cobrar os seus serviços. - bebi o restante do gim e olhei a pasta, ainda tinha esse caso. - E pra compensar fui presenteado com um caso onde o pai quer a guarda compartilhada do filho recém-nascido e a mãe não está nem um pouco disposta a dar.

- Parece que as coisas se ligam né? - terminou de beber o gim dele. - Parece que nosso trabalho sempre traz coisas relacionadas ao momento que vivemos.

E realmente. apoiei a mão no joelho

e levantei.

- Agora tenho que ir Francis. Obrigado pela conversa e pelo gim. - apertei o ombro dele. - Lembre-se você é um ótimo

médico.

- Valeu Vicente.

Fui para casa, já estava tarde e não queria assustar a barrigudinha, no meu quarto Sara dormia tranquilamente como se não tivesse dito nada.

Coloquei o lençol sobre seu corpo é fui para sala. Não devia ser fácil para ela aceitar que outra mulher estava grávida do seu namorado. Deitei no sofá para estudar todo o caso que tinha naquela pasta.

Acabei pegando no sono enquanto lia.

Pela manhã meu celular despertou. Para

não me atrasar tomei um banho rápido e

deixei a Sara dormindo quando saí. Dirigi até o edifício onde ficava o escritório e voei para minha sala.

Por volta das dez da manhã a Mel me

ligou dizendo que estava indo até meu

apartamento buscar o carro dela. Orientei

sobre a chave embaixo do tapete e depois

liguei para Sara para saber se ela ainda

estava lá, por sorte não estava.

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Continua...

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