capítulo 5

Melinda de Sá

Acordei bem disposta pela manhã, acho que as risadas que dei com Joice foram suficientes para me fazer ficar bem. Comi um sanduíche e o restante do bolo de cenoura que ela havia feito e liguei para o Vicenzo pra avisar que ia buscar meu carro. Tomei banho e vesti um vestido preto simples.

Peguei um Uber até o apartamento dele. Na portaria o porteiro já me conhecia e permitiu que eu subisse direto.

Peguei a chave em baixo do tapete e abri a

porta. O local estava cheirando a perfume

feminino, revirei os olhos, deveria ser o de

Sara.

- Oi? - perguntei, mas não houve resposta - Ótimo - Adentrei no local e fui até o quarto, a cama estava toda bagunçada, no chão tinha uma calcinha preta e minúscula, que nojento.

Procurei as chaves do meu carro na mesa de cabeceira na segunda gaveta onde ele falou que estava, mas não achei. Fui para a cozinha e a vi sobre o balcão. Junto estavam algumas anotações.

Em uma letra de forma bem grande tinha números de telefone e em cima escrito bem grande "Clinicas de aborto". Meu coração quebrou, não podia acreditar que o Vicenzo tinha sido capaz de me deixar um bilhete dizendo que não queria nosso filho.

Meus joelhos vacilaram e eu caí no chão em

meio às lágrimas. Ele era meu melhor amigo, por que não tinha dito diretamente para mim que não queria o filho? Por que deixar apenas um bilhete jogando isso na minha cara? Ele parecia tão mais calmo que eu ele até já estava falando com o bebê como pode.

Estava chorando e soluçando.

Rasguei o papel ao meio e joguei no chão.

Peguei a chave do meu carro e deixei o

apartamento. Meus olhos estavam embaçados por conta das lágrimas, quase tropecei na porta do elevador.

Respirei fundo tentando me acalmar, não

podia chegar ao trabalho assim. Já dentro do meu carro soquei o volante inúmeras vezes enquanto xingava o Vicenzo.

Ele não queria o filho? Não precisava se

preocupar, pois não o veria. Iria acabar com a preocupação dele, iria me afastar, não queria nunca mais vê-lo na minha frente. E assim seria, pelo bem do meu filho eu vou cuida dele sozinha.

Dei partida e segui para o canteiro de obra onde trabalhava. Sequei as lágrimas dos meus olhos que me impediam de ver às vezes. Quando estacionei na minha vaga habitual meu telefone tocou. A música era a que sempre tocava quando Vicenzo ligava. Silenciei o celular e limpei meu rosto.

Era muita cara de pau a dele, deve está ligando para saber se eu vou tirar o meu filho. Só nos sonhos dele eu vou ter e cuida do meu bebê independente dele querer ou não.

Ergui a cabeça enquanto ia até o canteiro de obra. Hoje era dia de supervisionar a obra já estive muitos longe do canteiro eu odeio ficar longe do meu trabalho, mas compro direitinho porque tinha que pensar no meu serzinho eu nunca coloquei um atestado nos meus três anos de trabalho nesta construtora.

Meu coração doía ao lembrar do bilhete sobre a o balcão. Mas minha cabeça

dominava o meu corpo e me lembrava de que eu deveria ser racional. E ficar no meu trabalho coloquei meu capacete rosa ( sim eu uso um capacete rosa e o meu colete tem detalhes rosas eu amava porque a minha avó tinha me dado quando eu passei em engenharia.

- Bom dia - Falei para o pessoal.

- Olha ela, está melhor Melinda? - um dos pedreiros perguntou com cara de preocupado

- Está cara dela não diz nada disso - o Manoel falou se aproximando.

- Não estou muito bem, mas coisas da vida né, me conta como estão as coisas - falei pegando a planta.

- Tivemos só um pequeno problema com a fundação...

- Por que não me ligaram?

- Você nunca fica doente aí não quisemos incomoda - o Manoel falou.

- Mas vocês sabem que qual coisa era só falar, e me contem como vocês resolveram isso que já vou observar tudo para ver se está bem feito.

- A chefinha voltou - o José falou com um sorriso, ele tem idade para ser o meu pai e ele sempre me tratou com muito respeito desde que entrei na empresa.

- Bom saber que vocês sentiram a minha falta eu já estava quase pintando o teto do meu apartamento de tanto tédio. - falei  abrindo a planta.

- Imagino, então vamos trabalhar, tivemos um problema com a sustentação o cara que ficou no seu lugar mandou trocar a base - ele começou a me explica o que o idiota do Fabrício mandou fazer ele está doido para baratear a obra, mas não dá para fazer isso na sustentação.

Estou tentando manter a minha cabeça só no trabalho para manter a triste longe, tinha que deter meus hormônios também, estava me segurando para não chorar, era muito difícil. No meu horário de almoço todos foram almoça e me sentei no cantinho atrás do murro que estava sendo erguido só deixei as lágrimas rolarem.

- O que você está fazendo aqui? - o José perguntou já estava ali chorando por um tempo. - Está tudo bem Melinda, você está passando mal?

- Oi José eu só estou um pouco enjoada - falei e ele me deu um potinho com sala de fruta.

- Você nunca figio da comida achei estranho, está tudo bem mesmo?

- Vai ficar - falei mentalizando isso.

Ele saiu e fiquei tentando mentalizar que ia ficar tudo bem. Mas a decepção era o que mais me afligia. Pensei em ligar para ele e xinga-lo, mas não tinha nem estômago para isso. Limpei minhas lágrimas e olhei para a salada de fruta a minha mão, creio eu não ia comer isso

Respirei fundo abaixei minha cabeça abraçando o meu corpo e chorei mais um pouco. Quando deu minha hora de ir trabalhar novamente segui com a cabeça erguida, e como a fome bateu comi o potinho de salada de fruta.

Tive que ir na construtora para entregar umas coisas e justificar uns gastos, e enquanto eu descia as escadas, por conta da minha impaciência em esperar aquele elevador que estava demorando demais, meu celular começou a vibrar no meu bolso. Peguei e li escrito o nome do Vini com um número exagerado de corações depois do nome dele.

Fiquei olhando nossa foto que aparecia na tela, meus olhos se encheram de água. Bloqueei o celular e fui secar minhas lágrimas, devia estar dispersa, pois só senti meu corpo trombando em algo.

Braços seguraram os meus, levantei a cabeça e encontrei um dos estagiários. Não fazia a mínima ideia do nome dele, mas algo me dizia que eu deveria descobrir.

Seus olhos de esmeraldas sorriram junto com seus dentes brancos.

- Desculpa. - pedi.

Dei um passo para o lado e vi seu crachá na

altura da cintura. Apertei os olhos para tentar ver o nome dele. Diego ou Diogo?

- Diogo. - ele disse respondendo minha

pergunta mental.

Sorri envergonhada por ele ter notado que

eu procurava saber o nome dele. Uma gota

de suor escorria sobre sua pele morena, ele

passou a mão na testa e eu o olhei de cima a

baixo analisando todo o seu corpo, caramba, ele era bem gostoso.

- Melinda - estendi a mão.

Diogo riu e pegou minha mão.

- Sei quem você é, aliás, você quem me

coloca para trabalhar, sou o novo estagiário, comecei tem duas semanas.

Agora ferrou, ele deveria me odiar.

Semi encerrei os olhos e desviei o olhar.

- Desculpa? - perguntei subindo os ombros.

- Relaxa! - ele riu. - Você é minha chefe.

Aliás, acho que veio até aqui falar comigo.

Olhei na prancheta e realmente lá estava

o nome dele como estagiário do setor.  Quanta coincidência. Ele apontou para a porta que ficava no final da escada.

Caminhamos em silêncio até a grande área  de maquetes 3D dos projetos.

- Preciso da nova planta.com as alterações...

Diogo me lançou um olhar profundo, corei na mesma hora e olhei para a mesa

toda bagunçada. Aquele era um olhar de

desejo? Não, para de ser louca Melinda

Meus hormônios estavam me fazendo ter cada ideia viu.

- Vou pegar. - ele falou.

Sentei na cadeira, meus pés já doíam, pois

trabalhar na supervisão era pedir para ficar com os pés inchados. Apoiei minha cabeça no encosto e esfreguei minhas têmporas.

- Dia ruim? - Diogo perguntou colocando

uma pasta  e a planta sobre a mesaque deveria ser dele e eu estava folgadamente ocupando.

- Semana ruim. - respirei fundo e peguei

a pasta. - Por que não temos esses gráficos

digitalizados mesmo? - reclamei.

- Boa tese para um TCC. Aliás, estou

precisando de uma.

- Em que período você está? — perguntei a ele.

- No último.

Analisei os gráficos e notei o logo um erro nos gasto, neste período que eu não estava e vi a mudança nos materiais por inferiores, mas os preços estão maiores.

- Seus gráficos são bons para alguém que

ainda não terminou a faculdade, principalmente neste anos de pandemia - sorri, mas não sei se ele notou, mesmo com a liberação do uso de máscaras, resolve continua usando, tenho que pensar na segurança do meu filho.

- Está bom mesmo? - ele perguntou.

- Quando eu falo que não dá para me afastar é justamente por causa disso preciso resolver algumas coisas com o Fabrício destas mudanças, mas vocês está mandando bem nas planilhas e gostei da alteração, mas toma cuidado, porque um erro na fundação é um perigo com todo o edifício

- Obrigado pela dica!

- Que isso, sempre que precisar!

- Aliás, sei que é muita cara de pau da minha parte, mas iria me ajudar muito mais dicas como ess... — ele se apoiou na mesa.

Fiquei um tempo observando seu rosto de

traços firmes, ele era muito bonito, seus

cabelos cacheados e volumosos me deixavam morrendo de vontade de pular no pescoço dele. Hormônios se controlem. Limpei a baba.

- Claro, até porque você é meu estagiário... - olhei mais uma vez para os gráficos.  - Quero você na obra para aprender de verdade.

- Estarei lá.

Perfeito. Peguei a pasta que estava sobre

a mesa dele e levantei. Notei seu olhar

enquanto pegava minha prancheta também. Fiquei sem graça e apenas acenei indo embora.

Acelerei o passo quando cheguei às escadas.

Como nunca notei esse homem por aqui?

Abanei-me e fui subindo os degraus de dois

em dois. Senti meu celular vibrando no meu bolso, caramba tinha até esquecido disso.

Peguei o celular e lá estava Vicenzo me dando um beijo na bochecha e fazendo chifrinho em mim, senti vontade de atender e xinga-lo até não ter mais voz, ou de tacar o celular na parede, mas apenas respirei e subi até o andar de controle maquinário.

Conversei com o responsável por aquela área e expliquei que talvez houvesse um problema com a fundação e os materiais queria ver se ele sabia e deixei claro que eu não podia assinar aquilo, ele ficou de analizar melhor.

Meus pés já latejavam de ficar ajudando um dos engenheiros com uma obra que o cálculo do material, ele me fez ir na obra para analisar tudo, e ver a fundação que ele não estava aprontando a fundação do gás, o que me vês fica subindo e descendo 12 andares para ver o defeito.

Quando minhas costas reclamaram e o relógio anunciava o fim do expediente. Fui até o meu carro, peguei minha bolsa.

Antes de ligar o meu carro, meu celular começou a vibrar, novamente peguei e olhei a imagem.

Desliguei na mesma hora, eu ainda não consigo acreditar que ele deixou aquele bilhete, é o nosso filho, não melhor é o meu filho, mesmo ele não querendo eu já o amo, e sei que foi só um erro de uma noite, mas ele é o meu filho.

Fiz um caminho diferente dos diários, para a casa do meu irmão mais velho, só precisava de colo naquele momento.

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Continua...

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