capítulo 3

“Agora quando escuto meu coração, acho que nós seremos melhores como amigos e nós sempre seremos amigos.”

- Supergirl

Melinda de Sá

Um barulho de panela caindo no chão me acordou. Deveria ser muito cedo, já que o sol da manhã ainda não invadiu eu quarto e as minhas pálpebras insistiam em querer fechar. Mais uma vez o choque de uma panela com o chão fez meus olhos se abrirem de vez.

Bati minha mão na mesinha de cabeceira em busca dos meus óculos que coloquei no meu rosto. Estiquei os braços, saltei da cama e me espreguiçando fui ver que destruição era aquela na minha cozinha.

- Vicenzo, o que diabos você ta fazendo? - perguntei ao vê-lo com uma bagunça enorme na minha cozinha.

- Preparando um café.

- Você está destruindo minha cozinha, Vicenzo - tinha algumas panelas no chão, o liquidificador todo sujo em cima da pia que estava repleta de bandas de laranjas abertas.

No fogão um ovo mexido era preparado, só

que tinha mais ingredientes no fogão do que na panela.

Corri para mexer o ovo que já ia queimar

no fogo. Desliguei e virei cruzando os braços para encarar o senhor Vicenzo que ria mostrando duas covinhas na bochecha.

- Estou preparando um café da manhã ué.

- Não precisa quebrar tudo! - bati o pé no chão enquanto colocava as bandas de laranja no lixo.

- Só caíram umas panelas no chão, eu estava tentando me localizar na cozinha você trocou tudo de lugar outra vez né achei a lixeira.

Eu sou muito apaixonada pela DC, minha mãe sempre fica impressionada como o meu apartamento pode ser tão personalizado, eu fico muito feliz em ter conseguido deixar tudo do jeitinho que eu sempre quis, minha cozinha é com armários pretos mas todos os eletrodomésticos e utensílios são dos meus personagens minhas panelas da mulher maravilha estão quase todas no chão.

Recolhi as panelas do chão e organizei no

armário. Eu podia ser bagunceira, mas na

cozinha gostava de tudo pelo menos no lugar delas. Lucas ligou o rádio de pilha que eu tinha em cima da geladeira e começou a rolar um sertanejo, da quela moda vem antiga. enquanto colocava o líquido do liquidificador no copo.

- Você vai arrumar toda essa cozinha. - falei pegando o copo com suco e indo sentar no sofá. - Que horas são?

- Horas de eu ir para o escritório. Só preciso arrumar isso tudo já que a senhorita mandona, mandou.

- Gosto assim. - sorri e ele retribuiu.

Vicenzo realmente arrumou a cozinha. Fui

tomar banho e quando voltei ele estava terminando de passar pano no cômodo. Olhei a bancada brilhando e a louça bem lavada.

Em cima da mesa além dos ovos mexidos, uma grande variedade de pāes e frios. Inspirei o cheiro gostoso de café recém passado e me sentei a mesa. Vicenzo se sentou ao meu lado e pegou uma xícaras, serviu com café puro e bebeu. Fiz o mesmo.

Olhei para minha blusa com um gatinho

estampado e minha calça de moletom velha.

Encarei-o novamente e senti meus olhos se

encherem de lágrimas e parei de beber meu café.

- Eu gosto do meu pijama.

- Gabi! - ele começou a rir. - Não chora, seu pijama é lindo, calma. - pegou minha mão sobre a mesa e continuou rindo.

- Você ta rindo de que?

- De você.

- Por que eu estou grávida, sozinha,

descabelada, de pijama e nunca vou ter ninguém, e vou continuar assim para o resto da minha vida? - limpei uma lágrima que escorreu.

- A gravidez só vai durar nove meses! -

zombou antes de levantar e me envolver em um abraço. - Você não está sozinha!

- Você entendeu!

Queria me referir a ter alguém ao meu lado

igual ele tinha Sara, e se não tinha antes,

agora grávida que não teria mesmo. Sequei

minhas lágrimas e voltei a comer.

Fiz um sanduiche com peito de peru queijo branco, comi mais alguns pão de queijo e um pão francês com ovo mexido. Enquanto comia o Vini se arrumava para ir trabalhar.

Guardei todas as coisas na cozinha brilhando que o garoto tinha arrumado e fui para o sofá. Na Televisão estava passando desenho.

Aconcheguei-me segurando os joelhos e fiquei assistindo.

- Parece uma criança. - ele falou parou na minha frente de joelhos.

- Da onde você tirou essa blusa? - disse pegando na gola da camiseta polo branca que ele usava. Ele estava com a bermuda jeans que estava na noite passada. E você vai trabalhar de bermuda?

- Não sei, encontrei dentro do seu guarda

roupa. E não vou passar em casa, só queria

adiantar o banho.

- Não me lembro dessa blusa ter ficado aqui! - apertei os olhos. - Leva meu carro, amanhã quando eu for trabalhar eu pego.

- Você vai voltar a trabalhar numa sexta

feira? Por que não pega mais um dia de folga?

- Preciso colocar comida na geladeira.- sorri e passei a mão no cabelo molhado dele jogando para o lado.

- Do jeito que você anda comendo seu salário não vai dar pra comprar comida nem para uma semana.

- Acho que agora eu engordo. -Passei a mão na minha barriga arredonda.

Vicenzo colocou sua mão sobre a minha e

acariciou meus dedos.

- A gravidez não faz você deixar de ser ruim.

- Vicenzo! - reclamei rindo.

- Agora tenho que ir - ele deu um beijo sobre a mão que estava na minha barriga, ebejou a minha testa - Vou marcar médico pra você. E acho que vou contar da gravidez para Sara amanhã. - respirou fundo.

- Vou trancar bem as portas. -Sorri.

- Tchau meio metro de gente. - ele falou e deu um beijo na minha testa. - O papai vai trabalhar mais tarde eu venho ver vocês - ele falou beijando a minha barriga.

Revirei os olhos pelo apelido, mas tive que sorrir quando ele falou com o nosso filho e  levantei para ir trancar a porta. Vicenzo passou pela porta e eu dei um tapa na sua bunda, antes que pudesse reclamar fechei a porta rindo.

- Este seu pai meu bebê fala assim mais se podesse estaria aqui com a mamãe assistindo desenho. - falei alisando a minha barriguinha.

Voltei para meu sofá para assistir desenhos.

Sim, 25 anos, prenha e assistindo desenhos.

Dane-se sempre gostei e pagava TV a cabo

para isso.

Meu ócio começou a me incomodar por volta do meio dia quando minha barriga roncou.

Tive que levantar e ir preparar um macarrão instantâneo, pensei em pedir comida, mas demoraria muito e eu não estava a fim de ficar mais tempo com fome.

Acessei a N*****x e coloquei uma série para assistir. Minhas pálpebras pesaram e não demorei a cair no sono. Um cheiro esquisito começou a invadir meu nariz e meu subconsciente me obrigou a acordar.

Abri os olhos e encontrei o apartamento todo esfumaçado. Ai meu Deus, o macarrão instantâneo. Corri para o fogão e desligue a válvula do gás. Cobri meu nariz enquanto tentava jogar água na panela que já mostrava as cinzas no seu interior.

O telefone tocou e corri para atender enquanto tossia por causa da fumaça adentrando no meu sistema respiratório.

- Mel? - um Vini animado chamou meu nome.

Como esse garoto podia estar animado? A

vida dele vira de cabeça para baixo em um

dia e ele conseguia ficar animado. Tossi um

pouco antes de responder.

- Costuma ser eu. - Sorri voltando para minha panela torrada. Agitei o pano de prato contra a fumaça.

- Como você está? - ele perguntou

Abri um pouco a janela para toda fumaça se dispersar.

- Com fome. - sorri. - E querendo voltar a trabalhar. Não tem nada para fazer aqui em casa!

Vicenzo começou a rir do outro lado da linha.

- Você ainda não almoçou? Já são quase três da tarde.

- Coloquei um macarrão instantâneo no fogo e acabei dormindo, acordei com o apartamento todo esfumaçado. - revirei os olhos.

Comecei a esfregar a panela, mas aquilo ali

parecia que não ia sair tão cedo.

- E ainda quer questionar minhas habilidades culinárias dona Melinda? Estou indo para ir agora, não vou deixa as duas pessoas que mais amo assim - ele falou me fazendo sorrir gosto que ele sempre coloca o nosso filho no meio, acho que ele aceitou nossa situação bem melhor que eu, mas ele sempre foi muito calmo.

- Bem que eu gostaria das suas habilidades culinárias agindo nesse momento. - falei voltando a torce.

- Então abra a porta - ele falou e assim o fiz e lá estava ele todo lindo de terno todo arrumado. - Meu Deus Mel o que aconteceu?

- Eu já disse eu dormi e queimou o macarrão...

- Eu só vim ver como vocês estão porque marquei com a Maria, e preciso conversar, mas não dá para deixa você sozinha - ele falou abrindo o restante das janelas do apartamento e me levou até a varanda.

- Pode ir que eu vou ficar bem, a nossa pequena deve está morrendo de saudades, e eu só vou limpar e ver a comida - falei e ele pegou o celular.

- Vou pedir uma sopinha de câmarão que você tanto gosta, e falei com a Joice ela vai vim te visitar.

Joice era nossa amiga desde a faculdade, era um doce de pessoa com quem gostava, porém não queira estar na mira de ódio dessa menina. Sorri lembrando-se da minha amiga, fazia tempo que não a via.

Por conta do meu trabalho e do dela nos

víamos apenas uma vez no mês e olhe lá, por causa da pandemia neste dois anos só falávamos por celular em chamada de vídeo, mas depois da vacina voltamos a nós ver.

Ela tinha cursado engenharia civil também e trabalhava em uma grande obra no interior de São Paulo. Dos meus amigos o que eu via com mais frequência, tipo toda semana, era o Vicenzo, antes dele começa a namorar com a Sara eu o via todos os dias afinal ele até quatro meses atrás morava no mesmo condomínio que eu só que em outro bloco, aí em dezembro ele se mudou para onde ele mora, e no começo via ele sempre, tipo ele estava aqui dia sim dia não até começa a namorar e aí acabamos só nos vendendo um ou dois dias na semana.

Mas eu espero que a Joice venha, e faça um estrogonofe.

- Espero que ela venha, e faça um estrogonofe de carne daqueles deliciosos que só ela sabe fazer. salivei só de pensar.

- Estou vendo você babando. - brincou. - Gabi, como eu devo contar para a Sara? - Sorri, era tão bom ver ele me tratando como amiga, querendo saber minha opinião sobre as coisas, pedindo conselhos.

Espero que isso não se perca por causa dessa gravidez, eu realmente espero.

Me sentei na rede e ele também e ele começou a fazer carinho em mim era bom ter ele ali.

- Ah Lucas, acho que você tem que ser o mais sincero possível, contar que nós estávamos bêbados e que você nem estava com ela ainda. Diga a verdade né? A gente não planejou esse filho, não foi algo que sentamos a mesa para discutir. -suspirei. - Aí se fala aquelas coisas de amorzinho, do tipo que ama ela e tal. Ai vocês casam e ficam felizes para sempre.

Um nó se formou em minha garganta. Ele se casaria, teria filhinhos e eu ficaria sozinha com o meu filho. Coloquei a mão sobre minha barriga e já ia começar a chorar quando o Vini fazia carinho na minha barriga também.

- Sua analogia das coisas sempre é a melhor. - sorri. - Não sei você, mas essa coisa de ser pai está me assustando pra caramba. Tipo, eu não sei ser pai, será que você ser um bom pai será que você consegue cuidar de vocês dois.

Comecei a rir, mas isso também era algo que me assustava, eu não fazia ideia de como ser mãe.

- Sabe quando você tenta não ficar triste

com uma coisa, porque ela deveria te deixar feliz, mas te deixa triste? Então, eu estou feliz porque tem uma criança dentro de mim, sabe o que é isso? Não você não sabe, mas é uma sensação indescritível. - falei olhando nos olhos dele e ele carícia calmamente a minha barriga e beijou a minha testa - Mas ao mesmo tempo estou muito triste, cara eu to grávida, sozinha, sei lá, minha cabeça é uma confusão pura.

- Barrigudinha, você não está sozinha.

- Barrigudinha Vini? Depois dessa vou até te mandar embora . - falei mais não segurei e comecei a rir.

- Você agora é a barrigudinha, bom barriguinha você já tomou banho? É bom. - ele falou rindo e nos dois acabamos caindo na gargalhada, por causa do novo apelido.

- Ei, mas eu vou tomar um banho, e você vai ver a Maria eu vou ficar bem.

- Então eu vou porque se não a Maria vai ficar chateada ela reclama que quando estou com a Sara eu não tenho tempo para ela.

- E é verdade, a Sara consome todo o seu tempo.

- Mas agora eu tenho que me organizar melhor, tenho que dá atenção as pessoas que amo igualmente, agora eu já vou, toma a sopinha toma um banho e se cuida qualquer coisa você me liga certo - ele falou me abraçando apertando

- Tchau Vini. Não se precupe vamos ficar bem - falei e ele beijou a minha testa.

O levei até a porta, e fui terminar de limpar minha panela, . O porteiro interfonou, me avisando que a minha sopinha chegou e pedi para ele deixa o entregador subir, o Vicenzo pediu a sopa uma porção de camarão e um suco de laranja

Fui sentar no sofá e coloque um filme da Barbie e comecei a comer muito animada estava muito gostoso.

Ao fim do meu lanchinho, sentei no sofá e

olhei para o teto. Não tinha graça alguma

ficar ali sem nada pra fazer. Dois dias

em casa e eu já estava ficando louca.

Então tive a brilhante ideia de limpar o

apartamento, todos vivem dizendo que eu sou desorganizada, então resolvi arrumar tudo.

Tirei meus livros das prateleiras, limpei

um por um, limpei a estante e os organizei

por autor. Tinha muitos objetos daqueles

pequenos, relacionado a séries, desenhos,

livros e filmes. Limpei um a um, mas quando cheguei à segunda prateleira da estante, já estava cansada, eu amo ler e tenho mais de 500 livros.

Olhei para meu apartamento de pernas para o ar. Tinha erguido tudo para limpar e agora estava morrendo para limpar a estante.

A campainha tocou e eu dei um pulo indo

correndo atender. Encontrei os olhos pretos brilhantes me encarando com um sorriso nos seus lábios rosados. Joice abriu os braços e eu a envolvi em um abraço apertado.

- Foi aqui que solicitaram meus dotes

culinários?

- Exatamente aqui!

Ela entrou olhando para a bagunça que

estava o apartamento, seus olhos se

arregalaram, mas preferiu nāo perguntar, e foi direto pra cozinha para preparar algo para eu comer.

- Como você está? Julgando pelo apartamento bem disposta.

- Estava entediada, tipo, muito entediada.

Voltei minha atenção para a estante, tinha

que terminar aquela bagunça.

- Achei que grávidas ficavam sempre

dormindo e essas coisas.

Virei para ela, devia estar vermelha, pois

sentia minhas bochechas queimando.

Abri um sorrisinho torto e virei de costas

novamente passando o pano na minha

miniatura do Batman.

- Eu descobri ontem, não tinha como ter te

contado. - expliquei.

- Vivemos em 2022, não em mil e bolinhas,

existe celular pra que? - ela colocou algo

numa panela e começou a fritar. - Ai o Vicenzo, que por sinal é o pai do seu filho, me liga contando isso.

- Desculpa Joice! - passei o pano nas laterais

da estante. - Eu ia te contar, mas tudo ta

acontecendo tão rápido. E o Vicenzo não tinha nada que colocar o carro na frente dos bois.

- Melinda, tudo bem em relação a isso. Eu

entendo que sua cabeça estava cheia e tudo

mais. Mas agora me conta. - ela começou a

rir e parou de falar.

- O que? - perguntei.

- Quem diria que aconteceu causaria tudo

isso. - ela falou e riu.

- Não tem graça. - revirei os olhos segurando o riso.

- Ah tem graça sim. Lembro-me de você

desesperada porque tinha acordado pelada

do lado do Vicenzo.

Comecei a rir enquanto mudava minha

limpeza para a mesa de centro.

Pela primeira vez desde 2019, resolvemos fazer uma festinha para celebrar eu não estava muito animada, mas o Vicenzo me convenceu que seria bom, era só umas 25 pessoas na casa dos meus pais em Santos, a casa é bem perto a praia, depois de quase duas da manha eu comecei a chorar e queria vim para casa que eu não conseguia ficar ali e não pensar na minha avó, eu na tinha bebido até muito e o Vicenzo disse que vinha comigo pegamos o aplicativo ele foi me levar em casa e antes compramos muitas bebidas, bebemos ainda mais quando chegamos, bebemos literalmente tudo que eu tinha com álcool na minha casa, e só sei porque de manhã a casa estava um lixo cheia de lata e garrafas por todo lado e o meu sofá revirado paguei até uma multa pelo barulho que fizemos.

Lembro pouca coisa, muita pouca coisa

mesmo. Como ele tirando meu vestido branco e a forma com que me olhava.

Tentava a todo tempo lembrar mais que isso, mas depois só me vinha os dois acordando às duas da tarde. Nós estávamos de conchinha.

Nossa reação foi de susto, lembro-me de

sentir muita dor de cabeça por conta da

bebida e de questionar ao Vicenzo sobre o que tinha acontecido. Só que ele também estava muito mal, a resseca estava terrível para os dois. Depois conversamos e decidimos esquecer para não estragar nossa amizade.

Então, cá estou eu, três meses depois com

uma criança na barriga, fruto de uma das

noites mais doidas da minha vida, o fruto do erro de uma noite.

- E agora eu to grávida! - comecei a rir

também.

Mas que droga, Joice tinha esse poder, de

fazer a gente rir nas piores situações. Olhei

para ela mexendo na panela e gargalhando.

- Uma pena você não se lembrar daquela

noite..

- Joice! - a repreendi rindo. - Que isso menina!

- Ué, você deveria pelo menos saber se gostou da noite em que seu filho foi concebido.

Revirei os olhos e comecei a passar o pano

sofá. Essa Joice não prestava mesmo. Ela fez o melhor estrogonofe que já comi, eu terminei de limpar toda a casa que ficou um brilho.

©©©©©©©©©©©©©©

Continua...

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