Pai e Filho

Pai e Filho

Daniel acordou cedo naquela manhã, o som do despertador invadindo o quarto silencioso. Ele se espreguiçou, sentindo o peso das responsabilidades sobre seus ombros. Desde a morte de sua esposa, a vida tinha sido uma série de desafios ininterruptos. Ser pai solteiro não era uma tarefa fácil, especialmente com um adolescente em casa.

Levantando-se da cama, Daniel foi direto para a cozinha preparar o café da manhã. Enquanto o café passava, ele olhou pela janela, perdido em pensamentos. A saudade de sua esposa ainda era uma presença constante, mas ele sabia que precisava ser forte por Lucas. O filho era sua prioridade, mesmo que, às vezes, fosse difícil entender o que se passava na mente dele.

"Lucas, hora de levantar!" Daniel chamou, batendo de leve na porta do quarto do filho.

Nenhuma resposta. Daniel suspirou, já antecipando a batalha matinal. Ele abriu a porta do quarto de Lucas, encontrando-o ainda deitado na cama, olhos semicerrados.

"Vamos, filho, você vai se atrasar para a escola."

"Já vou, pai," murmurou Lucas, virando-se para o outro lado.

Daniel sabia que insistir demais só pioraria a situação. Ele voltou para a cozinha, esperando que Lucas se levantasse por conta própria. Enquanto preparava as torradas, sua mente voltou ao trabalho. Como advogado, Daniel estava acostumado a resolver problemas, mas nada o preparara para os desafios emocionais de criar um filho sozinho.

Minutos depois, Lucas apareceu na cozinha, cabelo despenteado e olhar abatido. Daniel lhe entregou uma xícara de café e uma torrada.

"Temos que sair em 10 minutos. Está tudo bem na escola?" Daniel perguntou, tentando abrir um canal de comunicação.

"Tudo." respondeu Lucas, de maneira vaga.

No caminho para a escola, o silêncio no carro era palpável. Daniel desejava poder encontrar as palavras certas para alcançar o filho, mas cada tentativa parecia apenas criar mais distância entre eles. Quando finalmente chegaram, Lucas saiu do carro sem se despedir.

"Tenha um bom dia, Lucas," disse Daniel, embora soubesse que o filho provavelmente não responderia.

Lucas entrou na escola, já planejando como escaparia das aulas chatas. Desde a morte de sua mãe, ele se sentia perdido e incompreendido. O isolamento era sua forma de lidar com a dor e a confusão.

Naquela manhã, ele decidiu faltar às primeiras aulas, escondendo-se na biblioteca. Sentado em um canto isolado, ele colocou os fones de ouvido e deixou a música alta abafar seus pensamentos. As palavras dos professores pareciam irrelevantes diante da tempestade emocional que ele enfrentava diariamente.

Enquanto isso, no escritório, Daniel tentava se concentrar em seus casos, mas a preocupação com Lucas estava sempre presente. Ele sabia que o filho estava tendo dificuldades na escola e que seu comportamento rebelde era um grito por ajuda, mas sentia-se impotente para resolver a situação.

Durante o almoço, Daniel recebeu uma ligação da escola. O coração disparou ao ver o número no identificador de chamadas.

"Senhor Daniel, aqui é o diretor da escola. Precisamos conversar sobre o comportamento de Lucas."

Daniel marcou uma reunião para aquela tarde. O restante do dia foi um borrão de tarefas incompletas, sua mente presa na preocupação com o filho.

Na escola, a reunião com o diretor foi uma mistura de frustração e decepção. Lucas tinha faltado várias aulas nas últimas semanas e seu desempenho acadêmico estava despencando. O diretor sugeriu que Lucas precisasse de orientação psicológica, talvez até mesmo terapia, para lidar com a perda da mãe.

"Eu sei que ele está passando por um momento difícil," disse Daniel. "Mas, por favor, dê-me mais algum tempo. Vou tentar resolver isso."

De volta para casa, Daniel esperou por Lucas na sala de estar. Quando o filho finalmente chegou, a expressão no rosto de Daniel deixou claro que a conversa seria séria.

"Lucas, precisamos conversar sobre a escola," começou Daniel, tentando manter a calma.

"Não quero falar sobre isso," respondeu Lucas, a frustração evidente em sua voz.

"Sei que está difícil para você, mas faltar às aulas e tirar notas baixas não vai ajudar."

"Você não entende, pai! Você acha que pode resolver tudo, mas não pode trazer a mamãe de volta!"

As palavras de Lucas cortaram como uma faca. Daniel respirou fundo, tentando manter a compostura.

"Eu sei que a dor é imensa, filho. Também sinto a falta dela todos os dias. Mas precisamos enfrentar isso juntos. Fugir não vai fazer a dor desaparecer."

Lucas olhou para o pai, os olhos cheios de lágrimas que ele lutava para segurar. "Eu só quero que tudo volte ao normal."

Daniel aproximou-se do filho, puxando-o para um abraço apertado. "Eu também, Lucas. Mas vamos passar por isso juntos. Você não está sozinho."

A conversa continuou por mais algum tempo, com Daniel tentando convencer Lucas a aceitar a ideia de terapia. Embora relutante, Lucas finalmente concordou em pelo menos tentar. Era um pequeno passo, mas um passo na direção certa.

Naquela noite, enquanto Lucas dormia, Daniel sentou-se na varanda, olhando para o céu estrelado. A jornada era difícil e cheia de obstáculos, mas ele sabia que, com paciência e amor, eles conseguiriam encontrar um novo caminho juntos.

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