Fizemos nossas tarefas em silêncio, Zafira me ensinou a fazer o Kafta e eu comparei com o livro de receitas. Percebi que ela tinha uma maneira de temperar diferente, então apenas anotei as mudanças.
Quando ficou tudo pronto, arrumamos tudo na bandeja.— Zafira, Said disse que amanhã terá um jantar, ele pediu para fazer carneiro assado.— Ele mudou de ideia. Veio agora falar comigo e pediu para a cozinheira fazer uma mesa com vários patês, frutas, pães pita, sucos, molho picante, salgados e doces.Suspiro aliviada.—Você sabe por que ele mudou de ideia?— Não sei.Eu dou de ombros, e carrego a bandeja para levar para a sala de jantar. Meu coração nessa hora dispara com a cara de poucos amigos que Said me olha enquanto eu caminho com passos vacilantes tomando cuidado para que nada derrame. Ele parece impaciente, pois tamborila os dedos na mesa.No dia seguinte, cinco e meia eu já estou pronta, antes mesmo de Zafira aparecer para me chamar.Eu a sigo até a cozinha e sou apresentada a Salma, a cozinheira. Ela é uma mulher de idade bem avançada. Dá dó de saber que ela ainda precisa trabalhar. Sim, esse é o destino das mulheres que não se casam, que não tem parentes, elas vivem para seus patrões, fiéis até o final de sua vida. Era o caso de Zafira e pelo visto, o futuro de Darla, que cuida da faxina e outras empregadas também que eu vejo pela casa e que ainda eu não entendo a rotina delas já que vivo trancada no quarto.Salma me observa por um tempo.— Eu vou preparar o café de Said. — Ela diz para meu alívio. —Mas hoje, temos muitas coisas para fazer. Haverá um jantar à noite. Sente-se que te passarei o que fazer.Logo Salma já me ocupa, me d&aa
Eu o sigo até o meu quarto, quando entramos ele não fecha a porta, isso me dá um certo alívio.— Não sei que tipo de educação você teve, mas pelas suas atitudes, creio que não foi uma das melhores. Por incrível que pareça, creio que pode mudar, pode ser uma pessoa melhor.Allah, ele falava comigo como seu eu fosse uma condenada.Ele continua:—Infelizmente, você não parece me ouvir.—Eu tenho me esforçado.—Vestir suas roupas importadas, fruto de roubo. Tê-las guardadas no seu guarda-roupa, e usá-las sem arrependimento. Usar maquiagem para sensualizar e a situação de hoje.... Isso é colaborar?— Está certo! Eu errei, não deveria ter usado maquiagem.— E quanto as roupas?Eu fico sem ação, por um momento.— É as únicas que t
No dia seguinte acordo tarde, onze horas. Lembro-me dos últimos acontecimentos e sou obrigada a admitir o meu fracasso. Said me tem em suas mãos.É detestável admitir, mas não sou imune a atração que ele exerce sobre mim. E o pior, ele está me afetando sentimentalmente. Eu estou pensando muito nele, e fico triste quando ele fica desapontado comigo e me sinto péssima mentindo a ele, demonstrando uma pessoa que não sou. Isso agora tem me preocupa.Triste coloco meu caftan branco e calço os chinelos. Zafira entra no meu quarto. —Said me disse ontem à noite que era sua folga, por isso não te chamei. Ele disse para eu pegar as roupas com você. Droga! Ele não se esqueceu! Eu tenho que me desfazer delas. Zafira fica me olhando enquanto eu, com raiva, retiro as roupas do guarda-roupa e jogo-as no chão. Toco com as mãos um vestido que me cust
Por um momento, eu fico sem saber o que dizer, meu coração se aperta no meu peito. Eu baixo a minha cabeça para fugir daqueles olhos hostis.— Com licença, não posso falar com os convidados da casa.— Você com essa aparência de pureza não me engana garota. Pau que nasce torto, morre torto. Você merece o encarceramento pelo resto da vida.Com a explosão de suas palavras eu sinto o sangue se esvair de meu rosto. Quando me afasto para me refugiar no meu quarto, ele segura o meu braço. Eu levanto os meus olhos, me sentindo impotente e horrorizada com seu gesto.Ouço a voz grave de Said:—Solte ela Rashid! — Eu volto meus olhos para Said, seus olhos são duros como aço para o homem. Contudo, ele ainda assim me fita com ódio e se demora em me soltar. Eu logo que me vejo livre sigo para o meu quarto me sentindo arrasada, nem tanto pelas
Andamos em uma parte que eu não conhecia na casa. Um corredor amplo em forma de arco muito bem iluminado pelos jardins de inverno que ficam dos dois lados dele. Lindo! Alcançamos então o lado de fora da casa. Nossa! Penso quando me deparo com o jardim magnífico mesmo numa região tão desértica. Há vários tipos de árvores, arbustos e flores. Um carro preto com um motorista uniformizado nos espera em frente à entrada.Said abre a porta para que eu entre. Ele se senta ao meu lado. Ele está tão perto que eu posso sentir o calor do corpo dele. Isso me perturba, então deslizo minha bunda para perto da janela, o mais distante possível dele. O veículo cheira seu perfume almiscarado. O ar condicionado está ligado a todo vapor.— Ela está no Al-Osrah?Eu o encaro séria.—Sim. Said dá as instruç&otild
SAIDQuando Adara some no corredor fico pensativo. Nada nela se encaixa. Ela mais que nunca me confunde. Agora a pouco, fiquei impressionado com seu gesto, sua espontaneidade de ir lá e ajudar a garotinha. Preciso investigá-la, o almoço que eu propus tem a finalidade de estreitarmos nossa relação. Eu quero mais que nunca entender quem é essa mulher de verdade, mas parece inútil isso. Nada bate, é como se eu estivesse com uma mulher completamente diferente. Parece que por mais que eu converse com ela, eu não jamais a conhecerei completamente. A sensação que tenho é que ela mente o tempo todo.Vou até a recepção do hospital. —Por favor, você pode verificar para mim quem está no quarto 6 da UTI? O recepcionista abre um livro e depois de um tempo me diz:— Adara Houssen Mahir—Não foi isso que perguntei
Abro meus olhos lutando contra a vontade de continuar dormindo e os fecho novamente.Não dormi bem à noite, e agora isso se reflete na minha disposição. Volto a abrir os olhos decidida a encarar a minha realidade. Um longo dia me espera... e o carneiro.Sinto meu corpo arrepiar ao pensar nisso.O que mais me deixa confusa é a profundidade dos meus sentimentos com relação a Said em contraste a tudo que a Europa representa para mim. É a minha razão lutando contra meu coração.Na minha lógica, o meu lugar é na Inglaterra. Eu amo poder dirigir meu carro, trabalhar para o meu sustento, participar de eventos sociais, me vestir sem me preocupar com o que pensariam de mim. Fora a ausência do véu....Allah! Mas só de pensar assim, de pensar em ficar longe dele, meu coração se afunda no peito me dizendo que eu não sou mais a mesma pessoa.
Eu não estou bem. Irritado, nervoso. Dou ordem ao meu motorista de me deixar na entrada e então ele estacionaria o carro. Não estou com paciência de esperar ele encontrar uma vaga.Caminho com passos firmes até a recepção.— Quero visitar a paciente, Adara Houssen Mahir, ela está no quarto 6 da UTI.O atendente abre o caderno e verifica para mim.— Ela saiu hoje da UTI está no quarto 18. Ainda é o horário de visita. Tome esse crachá e siga por esse corredor, depois vire à direita. — Obrigado.Allah! Eu preciso me acalmar! Passo a mão nos olhos.Não posso ser vítima do meu nervosismo. Mas não tem jeito, sinto-me irritado por .... Não me contar a verdade. Por eu ter que descobrir por outra pessoa. E a minha maior irritação é por eu estar tão mexido com essa história.