Ele me estuda por um momento com aquela máscara de arrogância e deboche.
— Se arrumou assim para conseguir a ligação?Senti meu rosto queimar e instintivamente cobri meu colo.— Não me vendo tão baixo, se é isso que pensou. E você já tinha me liberado a ligação.Ele gargalha, jogando a cabeça para trás e isso me deixa mais irritada. Depois ele fica sério e um brilho diferente passa nos seus olhos negros.— Sabe como te vejo? Uma mulher fútil, que deve ter passado a vida lendo essas revistas do exterior e ficava admirando essas artistas Hollywoodianas e então surgiu aquela vontade de se vestir igual a elas. Isso deve ter crescido em seu coração. Mas como uma faxineira pobre compraria roupas como as que estão em sua mala? Então, pegou o dinheiro de uma pobre viúva para satisfazer suas vontades.Enquanto ele falava, mais e mais eu me afetava. É bem lógico o raciocínio dele. Eu sou mais europeia do que oriental, estou nesse país e ele viu minha mala.Você quer que ele pense o quê?Estremeço com seus olhos passeando pelo meu corpo. Ele tem traços de um povo que, com certeza, fazia justiça com as próprias mãos. É melhor ele me odiar. Assim me mantém distante dele.— Você é muito inteligente. Podemos ir, meu amo? — Perguntei sarcástica.Ele cruza os braços no peito e agora parece o profeta Maomé.— Você é uma pessoa tranquila — ele comenta. — Outra em seu lugar já estaria tremendo com a ideia de estar em minhas mãos.Eu respiro fundo.— É que aceitei o meu destino.Ele sorri friamente e diz com calma estudada.— Isso no fundo é muito bom, pois terá bastante tempo para se arrepender das bobagens que fez.— Quem disse que não me arrependo?— Pois não parece. Se tivesse se arrependido, jamais usaria essas roupas que são fruto de um roubo.Ele se aproxima de mim com a arrogância de um bárbaro do deserto, assustada dou um passo para trás até tocar com as costas na janela. Ele pega meu queixo e levanta meu rosto. Furiosa, tento me desvencilhar dele, mas isso é inútil. Said sorri antes de sua boca colar na minha de modo violento, seus lábios quentes se movendo sobre os meus. Eu não consigo reagir, fico ali, como uma boneca de pano, completamente atordoada, ao mesmo tempo isso me incendeia. Allah, ele tem gosto de frutas e tabaco. Suas mãos parecem queimar as minhas costas, quando elas me puxam mais para si. Ele aprofunda o beijo, parece louco por mim, sua língua visita a minha boca, me fazendo estremecer nos braços dele, isso parece que aumenta seu prazer e ele estremece também. Então da mesma forma inesperada como tudo começou, ele também terminou, e ele me afasta de modo bruto.Ofegante, demonstro um desagrado que não sinto. E passo as costas das mãos nos meus lábios. Negando que meu coração esteja a mil por hora e o quanto me senti bem em seus braços. Ele vê meu gesto e na hora seus olhos adquirirem um brilho perigoso. Isso me assusta.Ele ergue meu queixo com o polegar e o indicador.— Gostou? Não? Duvido. As mulheres geralmente gostam...Eu me encho de raiva.— Seu estúpido arrogante! —Eu tiro as mãos dele, e me afasto. O meço, passando meus olhos por ele, de cima a baixo. — Quem está pensando que é?— Sou o homem que pensou em te entregar para a polícia, isso antes de ter o gostinho de te fazer pagar por todos os teus pecados.Com a lembrança disso, eu estremeço. Respiro fundo. Mesmo sentindo meu sangue ferver, sei que o melhor é manter minha cabeça no lugar, e o fito nos olhos e então digo:—Vou pagar meus pecados com trabalho, não desse jeito.Ele não diz nada, vejo o quanto ele está nervoso, pois sua respiração é pesada.— O senhor poderia me conceder a ligação? —Pergunto cuidadosa.—Me acompanhe. — Ele diz de um jeito atravessado.— Vou pegar o número.Depois que decoro o número que eu marquei num pequeno bloco de anotações, o sigo.O sentimento é o mesmo. Sinto-me enlaçada pelo pescoço, como uma presa seguindo o seu caçador. Ele me leva a uma linda biblioteca, repleta de livros, um lustre maravilhoso no alto, uma escrivaninha de madeira maciça, sofás nos tons branco e dourado, vasos espalhados em cada canto.Quando nossos olhos se encontram ele aponta o telefone para mim, e cruza os braços no peito. Passo por ele e pegando o telefone, relanceio meus olhos para ele. Faço a ligação.Enquanto ouço o som da chamda, pergunto:—Você ficará aí?Ele sorri friamente.— Sim.Eu, com raiva, dou as costas para ele.—Nadir?— Quem fala? — Ela me pergunta.Eu não posso falar meu nome. Não posso perguntar da minha irmã sem dar bandeira.— Sua vizinha, Adara!Ela pergunta sem entender:— Adara?Eu aproveito para dar a entender que eu pergunto da minha irmã:— Como ela está?—Maysa, é você?Allah! Ela me reconheceu.— Sim!— Na mesma! Não saiu da UTI ainda.—Quando for visitá-la, diga a ela que não posso vê-la, mas que eu a amo muito e explica que o motivo é que eu estou resolvendo aquele problema.—Como assim?—Eu fui pega, entendeu? Estou trabalhando para Said Hallan Sihan para pagar as dívidas, ele é amigo da viúva que eu trabalhei, entendeu?— Ele te confundiu!Eu dou um sorriso por ela ter entendido!— Exatamente!—Você disse Said Hallan Sihan? O filho do falecido Sheik Kaleb Hallan Sihan?— Isso, por quê?—Allah! Não queria estar em sua pele.Meu coração se aperta, e eu enxugo as lágrimas. Acho que Nadir percebe que eu estou chorando.— Nem sei o que dizer.Eu digo emocionada:— Diga a Maysa que ficará tudo bem.— Está certo Maysa. Que loucura!— Obrigada.Desligo fungando. Ao meu lado Said acende um cigarro, parece tranquilo, gostando talvez do meu sofrimento.— É pelo visto foi sincera. Essa moça, a que está internada? É grave?—Eu te disse que não tinha homem nenhum! E sim, ela está na UTI.Ele depois de dar uma tragada no cigarro, ele o apaga no cinzeiro da escrivaninha. Tomo coragem e digo:— Eu gostaria, antes de irmos, te pedir algumas coisas.Um sorrisinho insolente surge nos lábios dele e ele caminha em minha direção como uma pantera negra, se colocando ao meu lado.— Exigências, agora?Eu estremeço, nervosa.— Não, claro que não. Eu preciso de algumas coisas, só o básico.Ele me fita impaciente.— Fala logo.Ele está muito próximo agora, quase não consigo pensar, mas por fim, cito minha listinha:— Eu preciso de um condicionador de cabelos, uma tesoura e absorventes.Ele me encara com o rosto inexpressivo. Fico com raiva de mim, pois estar mais abalada que ele. Tudo nele mexe comigo, seu perfume caro, sua presença marcante, seus olhos lindos e expressivos e a boca! Uma perdição! Ao contrário dele, que me vê como um brinquedinho, que ele está louco para destruir.— Por que a tesoura? Não vai cortar os pulsos vai? — Ele pergunta debochado.— Não, vou cortar meus cabelos.Essas palavras parecem afetá-lo.— Por que vai cortar os cabelos?Eu uso de ironia:— Para não te dar o gostinho de me puxar como o homem das cavernas.Ele fecha a cara.—Por que vai cortar os cabelos? — Ele parece bem intrigado.— Estão muito compridos e me atrapalharão no meu dia-dia.Ele se aproximo de mim, e ficamos um palmo de distância. Sinto sua respiração no meu rosto, e seu cheiro.— Para uma mulher fútil como você, estou admirado que pense assim. Ou isso é para me impressionar?Allah, esse homem mexe comigo!Sem dúvida nenhuma, ele quer me desestabilizar. Tentando confundir meus pensamentos para que eu baixe a guarda e fique vulnerável novamente. Não posso deixar isso acontecer, ele está jogando comigo e eu não cairei em sua armadilha.— O mundo não gira em torno de você.Ele gargalha na minha cara, aos poucos ele vai parando de rir e fica me olhando.— Você tem medo de mim. Tem medo daquilo que posso provocar em você.—Não. —Menti.Os olhos dele brilham e ele me observa em silêncio.—Não? Por outro lado, não deveria se vestir como se veste. Por que se veste de modo tão provocante? Se não for para chamar atenção dos olhares masculinos? Nenhuma mulher age dessa forma se não tiver um interesse sexual nisso.Eu não consigo responder, em Londres, em outros países é natural nos vestirmos assim. Aqui eu sei que passo uma imagem errada.— Olha, eu estou aqui para trabalhar. Minha vida sexual acho que não te interessa, não é mesmo? E eu estou cansada.Ele dá de ombros.—Isso é verdade. Então vamos! —Ele diz seco, sinto agora um certo mau-humor nele.Eu caminho na sua frente, em direção ao meu quarto.Said Hallan SihanNunca senti esse aperto no peito, essa sensação estranha.Enquanto ela caminha com um andar gracioso, eu estou me consumindo por dentro porque eu não consigo tirar meus olhos dela. Eu estou sendo vítima de meu desejo. Enquanto a sigo, só penso em tê-la nos meus braços, a vontade é despi-la. O vestido que ela usa me provoca, a deixa tão espetacular e isso me dá raiva por sentir o sangue correr rápido nas veias e por estar tão excitado. Meus olhos descem para olhar suas pernas perfeitas e bem torneadas. Esguia, mas com curvas nos lugares certos. Cintura fina, seios pequenos, empinados e que devem caber certinho na palma da minha mão. Os cabelos compridos, castanhos reluzentes se espalham como seda ondulada por seus ombros e seguem até a altura dos cotovelos.Cortá-los? Allah! Eu não podia obrigá-la a deixá-los do jeito que est&
Lavo toda a louça com cuidado. Depois começo a fuçar na cozinha, acabo encontrando a frigideira que eu precisava para ter feito a omelete. Em um armário, temperos de todos os tipos. Na dispensa uma porção de laticínios, grãos, farináceos, pimentas, massas...Allah! Agora é esperar o livro de receitas e segui-lo. Zafira entra na cozinha. —Já tomou café?Assenti.Allah! Preciso tentar me aproximar dela e tê-la como minha aliada.—Zafirinha, não gostaria de voltar para o meu quarto, eu poderia ficar aqui, quietinha.Ela fecha a cara.—Nada disso, são ordens. Said disse que não quer te ver solta na casa. Um dia o profeta riscou no chão: “O homem é o único culpado da sua própria perdição”Eu conheço esse verso. Só que não se aplica a mim, quem se
Fizemos nossas tarefas em silêncio, Zafira me ensinou a fazer o Kafta e eu comparei com o livro de receitas. Percebi que ela tinha uma maneira de temperar diferente, então apenas anotei as mudanças.Quando ficou tudo pronto, arrumamos tudo na bandeja. — Zafira, Said disse que amanhã terá um jantar, ele pediu para fazer carneiro assado. — Ele mudou de ideia. Veio agora falar comigo e pediu para a cozinheira fazer uma mesa com vários patês, frutas, pães pita, sucos, molho picante, salgados e doces.Suspiro aliviada.—Você sabe por que ele mudou de ideia?— Não sei. Eu dou de ombros, e carrego a bandeja para levar para a sala de jantar. Meu coração nessa hora dispara com a cara de poucos amigos que Said me olha enquanto eu caminho com passos vacilantes tomando cuidado para que nada derrame. Ele parece impaciente, pois tamborila os dedos na mesa.
No dia seguinte, cinco e meia eu já estou pronta, antes mesmo de Zafira aparecer para me chamar.Eu a sigo até a cozinha e sou apresentada a Salma, a cozinheira. Ela é uma mulher de idade bem avançada. Dá dó de saber que ela ainda precisa trabalhar. Sim, esse é o destino das mulheres que não se casam, que não tem parentes, elas vivem para seus patrões, fiéis até o final de sua vida. Era o caso de Zafira e pelo visto, o futuro de Darla, que cuida da faxina e outras empregadas também que eu vejo pela casa e que ainda eu não entendo a rotina delas já que vivo trancada no quarto.Salma me observa por um tempo.— Eu vou preparar o café de Said. — Ela diz para meu alívio. —Mas hoje, temos muitas coisas para fazer. Haverá um jantar à noite. Sente-se que te passarei o que fazer.Logo Salma já me ocupa, me d&aa
Eu o sigo até o meu quarto, quando entramos ele não fecha a porta, isso me dá um certo alívio.— Não sei que tipo de educação você teve, mas pelas suas atitudes, creio que não foi uma das melhores. Por incrível que pareça, creio que pode mudar, pode ser uma pessoa melhor.Allah, ele falava comigo como seu eu fosse uma condenada.Ele continua:—Infelizmente, você não parece me ouvir.—Eu tenho me esforçado.—Vestir suas roupas importadas, fruto de roubo. Tê-las guardadas no seu guarda-roupa, e usá-las sem arrependimento. Usar maquiagem para sensualizar e a situação de hoje.... Isso é colaborar?— Está certo! Eu errei, não deveria ter usado maquiagem.— E quanto as roupas?Eu fico sem ação, por um momento.— É as únicas que t
No dia seguinte acordo tarde, onze horas. Lembro-me dos últimos acontecimentos e sou obrigada a admitir o meu fracasso. Said me tem em suas mãos.É detestável admitir, mas não sou imune a atração que ele exerce sobre mim. E o pior, ele está me afetando sentimentalmente. Eu estou pensando muito nele, e fico triste quando ele fica desapontado comigo e me sinto péssima mentindo a ele, demonstrando uma pessoa que não sou. Isso agora tem me preocupa.Triste coloco meu caftan branco e calço os chinelos. Zafira entra no meu quarto. —Said me disse ontem à noite que era sua folga, por isso não te chamei. Ele disse para eu pegar as roupas com você. Droga! Ele não se esqueceu! Eu tenho que me desfazer delas. Zafira fica me olhando enquanto eu, com raiva, retiro as roupas do guarda-roupa e jogo-as no chão. Toco com as mãos um vestido que me cust
Por um momento, eu fico sem saber o que dizer, meu coração se aperta no meu peito. Eu baixo a minha cabeça para fugir daqueles olhos hostis.— Com licença, não posso falar com os convidados da casa.— Você com essa aparência de pureza não me engana garota. Pau que nasce torto, morre torto. Você merece o encarceramento pelo resto da vida.Com a explosão de suas palavras eu sinto o sangue se esvair de meu rosto. Quando me afasto para me refugiar no meu quarto, ele segura o meu braço. Eu levanto os meus olhos, me sentindo impotente e horrorizada com seu gesto.Ouço a voz grave de Said:—Solte ela Rashid! — Eu volto meus olhos para Said, seus olhos são duros como aço para o homem. Contudo, ele ainda assim me fita com ódio e se demora em me soltar. Eu logo que me vejo livre sigo para o meu quarto me sentindo arrasada, nem tanto pelas
Andamos em uma parte que eu não conhecia na casa. Um corredor amplo em forma de arco muito bem iluminado pelos jardins de inverno que ficam dos dois lados dele. Lindo! Alcançamos então o lado de fora da casa. Nossa! Penso quando me deparo com o jardim magnífico mesmo numa região tão desértica. Há vários tipos de árvores, arbustos e flores. Um carro preto com um motorista uniformizado nos espera em frente à entrada.Said abre a porta para que eu entre. Ele se senta ao meu lado. Ele está tão perto que eu posso sentir o calor do corpo dele. Isso me perturba, então deslizo minha bunda para perto da janela, o mais distante possível dele. O veículo cheira seu perfume almiscarado. O ar condicionado está ligado a todo vapor.— Ela está no Al-Osrah?Eu o encaro séria.—Sim. Said dá as instruç&otild