Mariana ficou em pé por alguns minutos após Gabriel fechar a porta. O apartamento parecia subitamente maior e mais vazio. Ela suspirou, colocando a caneca vazia na pia e começando a recolher suas coisas. Embora a recuperação estivesse sendo mais lenta do que ela gostaria, sentia que precisava voltar à sua rotina. Talvez, com o tempo, as coisas ficassem mais claras em sua mente. Depois de organizar suas roupas e outros pertences, Mariana deu uma última olhada ao redor do apartamento. Algo parecia estranho ao deixá-lo, algo que ela não esperava sentir. Mesmo com a relação entre ela e Gabriel sendo puramente casual, o tempo que passou ali foi reconfortante de uma forma que ela não queria admitir. Antes de sair, ela enviou uma mensagem rápida para Matheus, avisando que estava melhor e que em breve voltaria à casa dele para cuidar de Dona Elisa. Em vez de responder com uma mensagem, Matheus apareceu na porta de seu apartamento no início da noite, segurando um buquê de flores.
Enquanto esperava o colega de trabalho no restaurante, Gabriel manteve-se aparentemente focado, mas seus olhos, quase involuntariamente, voltavam para a mesa de Mariana e Matheus. O brilho no olhar dela enquanto sorria e conversava com Matheus causava um desconforto que ele tentava esconder por trás de sua postura controlada. Ele levou o copo de água aos lábios, permitindo que o líquido gelado descesse pela garganta, mas não conseguia se concentrar no que seu colega estava dizendo. Seus pensamentos estavam fixos em Mariana. Havia algo nos pequenos gestos de proximidade entre ela e Matheus que despertava uma inquietação que ele não sabia como processar. Ela parecia diferente — mais leve, quase despreocupada. Era algo que Gabriel raramente via. Ele sempre soubera que sua relação com Mariana era baseada em algo mais físico, mais casual, sem grandes expectativas emocionais. No entanto, ver Matheus, um cara bom e acessível, ao lado dela, e como ela parecia relaxada, o incomodava mais do
Quando Mariana chegou em casa, depois do jantar com Matheus, sentiu o peso dos últimos dias recair sobre seus ombros como uma carga invisível, mas sufocante. O silêncio do apartamento parecia aumentar sua angústia. Pegou o telefone, olhou para o número do pai e hesitou, o dedo pairando sobre a tela. "Será que ele está bem?", pensou, sentindo uma pressão no peito. Fazia dias que ela não conseguia falar com ele, e a preocupação crescia, a cada tentativa frustrada de contato.Mariana respirou fundo antes de discar, o som dos toques soando alto no silêncio da sala. O telefone chamou... chamou... até que foi direto para a caixa postal. Mais uma vez. Ela fechou os olhos, tentando controlar a frustração crescente, o maxilar tensionando-se enquanto abaixava o telefone. "Pai, o que está acontecendo?", murmurou, jogando o aparelho de lado sobre o sofá.Trocando de roupa para dormir, a preocupação não desaparecia. Seu pai sempre teve problemas com dívidas de jogo, e agora o risco parecia maior.
Mariana estava no posto de enfermagem, revisando os prontuários do turno da manhã. O hospital seguia o ritmo habitual, com o movimento constante de médicos, enfermeiros e pacientes pelos corredores. Ela tentava se concentrar nos detalhes das fichas, mas os pensamentos sobre seu pai ainda ecoavam em sua mente. Era difícil se livrar da preocupação, que se infiltrava entre os números e os relatórios médicos.De repente, Clara apareceu ao seu lado, trazendo uma pasta de registros. Seu perfume fresco chegou primeiro, anunciando a presença dela.— Mari, você tá sabendo da cirurgia à tarde? — perguntou Clara, interrompendo o fluxo de pensamentos de Mariana, que voltou à realidade com um leve sobressalto. — O dr. Alencar vai liderar o procedimento. Você pode revisar esses relatórios e confirmar com ele se tudo tá certo? Acho que alguém mencionou que faltava verificar um material.Mariana ergueu o olhar, sentindo uma leve tensão ao ouvir o nome de Gabriel. O coração dela deu uma leve batida a
— O que você viu... não foi o que pareceu — Gabriel disse, a voz controlada, mas carregada de uma urgência que Mariana não esperava.Ela se virou lentamente, cruzando os braços defensivamente. Seus olhos, embora firmes, revelavam o turbilhão interno que tentava conter.— Eu não vi nada, Gabriel — disse ela, um pouco mais fria do que pretendia. — E, de qualquer forma, você não me deve explicações.Gabriel franziu o cenho, percebendo a frieza e o desconforto nas palavras dela. O maxilar dele se apertou ligeiramente, como se estivesse tentando processar a situação de uma forma lógica, mas falhando em disfarçar a emoção.— Mariana, você sabe que o que temos... — ele hesitou, os olhos buscando os dela com uma mistura de ansiedade e cautela. — Eu só quero que entenda que não foi nada. Alicia só estava tentando...Ele parou, a incerteza tomando conta de suas palavras. Ele respirou fundo, mas a tensão em seu corpo era evidente, com os ombros rígidos e os olhos atentos a cada movimento dela.M
Mariana tentava se concentrar no trabalho enquanto organizava os prontuários e lia os relatórios no posto de enfermagem. Seus dedos deslizavam pelas páginas, mas sua mente parecia distante, ainda presa nas palavras e no olhar de Gabriel. A tensão emocional fazia com que seu coração acelerasse de tempos em tempos, e a tentativa de manter o foco era frustrante. O ambiente familiar do hospital, o som dos monitores e o movimento dos colegas passavam despercebidos enquanto ela tentava, sem sucesso, suprimir os pensamentos. Clara se aproximou novamente, segurando uma bandeja de materiais, e parou ao lado de Mariana, observando-a por alguns segundos. Clara franziu a testa ao ver o olhar distante da amiga, a respiração pesada e o ligeiro tremor em suas mãos enquanto organizava os papéis. — Ei, você parece um pouco fora do ar. Aconteceu alguma coisa? — perguntou Clara, sua voz suave, mas com um tom de preocupação evidente. Mariana disfarçou, ajeitando os relatórios e tentando parecer ma
Mais tarde, após o turno, Mariana chegou ao apartamento de Gabriel. As luzes da cidade piscavam ao fundo quando ela estacionou em frente ao prédio. A noite estava fria, e o vento soprava levemente, fazendo com que seu cabelo balançasse suavemente enquanto ela caminhava em direção à entrada.Ela hesitou por um momento antes de tocar a campainha, sentindo o peso da conversa que estava prestes a acontecer. O estômago se apertava, e as mãos estavam suadas. Era a segunda vez que estava ali, e a lembrança da primeira visita, quando tudo parecia mais simples entre eles, fez o nervosismo aumentar.Gabriel abriu a porta rapidamente, vestindo roupas casuais, mas sua expressão era séria. Ele a observou por um segundo antes de dar espaço para que ela entrasse.— Já pedi comida. Achei que a gente pudesse comer e conversar com calma — disse Gabriel, fechando a porta e caminhando até a cozinha.Mariana entrou, olhando em volta. O apartamento era organizado, com um ar aconchegante, mas a atmosfera en
Mariana e Gabriel permaneceram em silêncio por alguns instantes após o fim da conversa. O peso das palavras trocadas ainda pairava entre eles, e ambos precisavam de tempo para processar tudo o que havia sido dito. Gabriel, percebendo o clima tenso, olhou para a comida que já estava na mesa e tentou aliviar um pouco o ambiente.— Vamos comer? — sugeriu ele, a voz suave, mas com a tensão ainda evidente em seu tom. — Pedi algo leve, achei que você poderia gostar.Mariana assentiu levemente, tentando relaxar, mas sentia o corpo tenso. Cada movimento parecia carregado de uma energia contida, e mesmo as ações mais simples, como sentar à mesa, estavam cheias de peso emocional. Ela se acomodou no sofá, tentando disfarçar o nervosismo que ainda a consumia.Gabriel se juntou a ela, servindo o vinho com gestos meticulosos, seus olhos brevemente pousando nos dela antes de se afastarem. O aroma da comida preencheu o ar, mas o ambiente entre os dois permanecia denso.— Isso parece ótimo — disse Mar