Dando um pulo sentou na cama assustada. Tudo não passara de um pesadelo, tinha que ser um pesadelo!Respirou fundo e afastou com as mãos as mechas do longo cabelo dourado que lhe caíam em cima dos olhos.Olhou para um lado, depois para o outro, não tinha a menor idéia de onde estava. As lembranças vinham aos turbilhões em sua mente, deixando-a ainda mais confusa.Quando a realidade de tudo que acontecera desabou sobre ela, sentiu um nó enorme se formar em sua garganta e seus olhos se encheram de lágrimas.Jogou o corpo para trás com violência. O colchão de plumas afundou com o peso do seu corpo que caía.Colchão de plumas? Que cativeiro era aquele que tinha colchão de plumas?Suspirou mais uma vez e resolveu que não iria adiantar nada, ficar enterrada naquela cama chorando e sentindo pena de si mesma.Olhou para o teto e viu que este era forrado de madeira de boa qualidade, inclusive os detalhes de acabamento mostravam que o artesão se esmerara no trabalho
Beatrice tentou acompanhar os passos largos do homem a sua frente, sem demonstrar a dor que sentia em seus pés machucados. Quando pisou em uma pedra pontiaguda, não suportou mais, soltou um grito estridente. Tentou manter-se em pé mas foi inútil, caiu de joelhos e ficou ali de cabeça baixa até que sentiu braços fortes a enlaçarem. Foi aconchegada ao peito largo e carregada no colo até a casa. Não falou nada e nem resistiu a intimidade do gesto. Seus pés latejavam como se estivessem em carne viva.Gabriel entrou pela porta da cozinha e chamou a criada negra .– Anastácia! Traga água quente e unguentos para o quarto da hóspede, ela machucou o pé.– Sim, sinhôzinho. Vai precisá de bandagê tamém? – falou no português próprio dos escravos.– Acho que sim. Leve tudo para lá, enquanto eu vejo
Beatrice rolava de um lado para outro na cama, negava-se a acordar. Queria dormir e sonhar, não queria acordar para a realidade que tanto a oprimia. Não queria continuar cativa, queria se libertar de tudo, esquecer seu passado e viver livre das humilhações e indignações que sofrera no passado e das que voltara a sofrer nos últimos dias.Mas seu estômago roncou alto, reclamando a falta de comida. Devia ter dormido o dia inteiro, se esquecera até do almoço. Abriu os olhos e percebeu que já estava bem escuro, a noite já caíra por completo. Com todas as atribulações que passara, acabara dormindo demais e agora estava morta de fome.Afastou os lençóis, sentou na cama e lembrou-se que estava nua. Tinha dormido enrolada apenas na toalha, teria que arrumar alguma coisa para vestir se quisesse sair do quarto para comer.Apalpou a mesinha do lado da cama e achou o castiçal, tateou mais um pouco e encontrou os fósforos. Acendeu as três velas do castiçal e começou a procura
Durante dois longos dias, Beatrice manteve-se isolada. Quando se atrevia a sair do quarto por alguma necessidade premente, voltava rapidamente quando ouvia a voz do “safado” ou de suas mulheres. Seu sangue chegava a ferver cada vez que o via, odiava-o com tanta intensidade que seu corpo tremia de raiva.No entanto, era prisioneira dele e estava impotente diante da situação. As vezes, temia continuar com as provocações e tentativas de fuga, pois não sabia até onde aquele canalha poderia chegar em sua crueldade. Receava ser castigada ou mesmo trancafiada em algum cubículo escuro, como costumavam fazer com os prisioneiros. Só em pensar nisso, um arrepio lhe percorreu a espinha e suas pernas ficaram bambas de pavor.Desde criança tinha medo de lugares fechados e escuros, onde se escondiam insetos asquerosos e ratos horripilantes.Até o momento estava sendo bem tratada, comida não lhe faltava. Mesmo que ela não saísse do quarto, a criada negra lhe trazia todas as refeições
Beatrice se trancou no quarto pelo resto do dia. Aproveitou para terminar a costura que estava fazendo. Como suas anáguas eram amplas e volumosas, resolveu usar todo aquele tecido para fazer um vestido mais simples e fresco, para usar nos dias de intenso calor.O crepe chinês e as rendas de suas anáguas, acabaram por dar um charme todo especial ao vestido que cosia. Com a ajuda de Anastácia e os conhecimentos de bordado que adquirira graças a persistência de sua mãe, a qual, vivia repetindo que uma verdadeira dama tinha obrigação de saber bordar. Cortaram e montaram o vestido, agora Beatrice estava terminando os enfeites de renda no decote.Tomou um banho demorado e refrescante, saiu da banheira e começou a se enxugar. Passou a estudar o reflexo de seu corpo nu, no espelho. O olhar foi atraído para os seios redondos e firmes, para a pele muito branca e sedosa, para os contornos suaves dos quadris... Uma estranha sensação nasceu em seu ventre, ao se lembrar do beijo
Quando chegou a hora do jantar, Beatrice resolveu que iria até a sala, pois se não fosse, era bem possível que esquecessem a sua presença na casa. Os homens deviam estar muito ocupados com as duas espanholas, para se lembrarem dela.Ela é que não iria passar fome, por causa daquelas pessoas. Ah, mas não iria mesmo. Como era obrigada a suportá-los, eles que aturassem a sua presença também.Quando entrou na sala de jantar, notou que Sanchez estava sentado entre as duas mulheres e conversavam muito a vontade. Gabriel estava parado em pé, de frente para a janela e dava as costas ao trio animado. Sua postura ereta, com as mãos entrelaçadas nas costas, sugeria que estava sério e pensativo.Beatrice entrou e só quando chegou ao lado da mesa e puxou a cadeira, foi notada pelo trio que imediatamente parou de falar. Sanchez se levantou e fez uma reverência educada cumprimentando Beatrice, as mulheres a olharam com extrema má vontade e desdém e não lhe deram mais atenção.Mesmo
Ao acordar, Beatrice ficou paralisada na cama. Não era verdade – pensou – não podia ser verdade! Aquilo era um pesadelo! Como ela pudera se submeter àquele homem? Um reles ladrão de estradas, um homem sem eira nem beira, um ser desclassificado, vil!Coberta de vergonha e cheia de indignação, sentou-se na cama. Estava indignada consigo mesma e envergonhada por ter correspondido daquela forma. Agira como um ser faminto diante de um banquete.Inadmissível! Suas ações haviam sido inaceitáveis. Como que ela, uma mulher que aprendera a controlar suas emoções e a duras penas se tornara discreta e ajuizada, podia ter agido como uma vagabunda qualquer, se entregando a um homem que mal conhecia? Um homem totalmente inadequado, para dizer pouco!Quando recordava os momentos passados com ele, não podia se reconhecer. Aquela mulher alucinada de paixão, não era ela. Seu ex-marido sempre dissera que era frígida, incapaz de sentir prazer algum com um homem.E no entanto, “aq
Os dias que se sucederam, foram repletos de sol e de um calor excessivo. Beatrice sentia lhe faltar o ar e no meio da tarde, era tomada por uma sonolência incontrolável que muitas vezes a fazia dormir até o entardecer.Gabriel sempre muito ativo, não acompanhava-a durante a sesta. A não ser que pudesse mantê-la acordada durante a maior parte do tempo.Os dias passavam e Beatrice sentia-se cada vez mais satisfeita com a vida que levava ali. Já não se importava mais com a inconveniência e desfaçatez daquele relacionamento. O pequeno mundo em que vivia atualmente, era tudo para ela.Gabriel preenchia todos os seus anseios. Era alegre, despreocupado, com ele a vida parecia uma eterna brincadeira.Pela manhã costumavam cavalgar, na maioria das vezes, iam tomar banho de rio e se divertiam feito crianças, até que as brincadeiras tomassem um rumo mais p