003 Como Matar um Dragão
POV da Scarlett

— O transplante de medula óssea foi há três meses, boba.

A risada de Sebastian segue o pedido dela até o corredor vazio.

Coloco minha mão na maçaneta da porta, mas não consigo encontrar forças para girá-la. Já vi o quanto eles são carinhosos um com o outro, tantas vezes, por tanto tempo.

Como se fosse uma tortura, eu simplesmente fico ali parada, ouvindo.

— Hoje é só um check-up de rotina, e o resultado tem sido bom todas as outras vezes, não é? — Sebastian conforta.

Eu podia ver o sorriso carinhoso dele na minha cabeça enquanto ele acalma o amor de sua vida, sua mão poderosa acariciando a cabeça dela como se ela fosse a flor mais delicada do mundo.

Esse calor e esse amor são algo que eu só experimentei uma vez dele e, naquela única vez, eu pensei que tinha tocado o sol. Por aquele único momento de luz que vi na minha vida sombria, eu me joguei em direção ao sol, apostando com tudo o que tinha.

E, assim como o sol, ele me queimou.

Não importa o quanto eu o amasse, não importa o quanto eu fizesse por ele, nunca vou receber nada em troca. Porque ele já pagou o preço mais alto: ele se casou comigo, uma mulher que ele não ama. E isso torna tudo certo.

— E se falhar... de novo? — Ava diz com um tom de choro.

A doença de von Willebrand não tem cura... ainda. Sebastian basicamente comprou este quarto VIP para ela, e passou os últimos cinco anos elaborando um plano atrás do outro com o médico que ele conseguiu para ela, com um salário de sete dígitos, que se diz ter feito avanços no tratamento da doença de von Willebrand.

— Então vamos continuar tentando. — Sebastian responde com toda a ternura do mundo.

— Sabe que não vou deixar nada acontecer com você.

Não posso. Não consigo entrar. As palavras dele drenam toda a energia que eu consigo encontrar em meus membros, e quase me derreto.

Eu sabia que ele a amava. Isso me foi lembrado todos os dias, por tanto tempo quanto posso me lembrar. Você acharia que eu já deveria estar anestesiada para essa dor. Eu queria que fosse assim. Mas meu coração rebelde ainda dói por ele.

— Eu sei que você vai. É só que... — Ava murmura, hesitante, acrescentando:

— Não poderei estar com você se eu continuar sendo o recipiente imperfeito...

...aquele que se quebra com o toque mais leve.

Normalmente, palavras dela assim fazem todos correrem para consolá-la.

Desta vez, Sebastian não responde imediatamente.

Minha garganta está seca enquanto se aperta, doendo tanto que eu tenho que prender a respiração.

Ele vai contar a boa notícia para ela? Que ele será um homem livre hoje? Ele pode agora. Ele sabe que sua liberdade está a caminho, e pode prometer sua vida a ela.

Quero invadir e impedi-lo. Não quero ouvir ele dizendo isso em voz alta. Mas não me atrevo. Da última vez que deixei meus sentimentos tomarem conta de mim, acabei sendo punida por cinco longos anos.

— Ava, eu sou casado.

O que ele disse?

Pisco os olhos em choque. Ele realmente disse isso? Que é casado? Isso é uma rejeição? Estou segura para permitir que a torturante esperança brote, só um pouquinho?

— Desculpe por você ter que fazer isso por mim! Você não deveria...

Ava explode em lágrimas, seu tom tão triste que até eu senti a culpa crescendo dentro de mim.

Sim, ele não deveria. Mesmo que ele não tenha concordado, eu ainda salvaria Ava. Não é como se meus pais permitissem o contrário.

Ava e eu nascemos ambas com o tipo sanguíneo RH-. Uma bênção para ela, uma maldição para mim.

Só porque nasci saudável.

Ava precisava da minha ajuda, e eu pedi para Sebastian pagar o preço máximo para salvar seu amor. Ele pagou. Eu pensei que, pela primeira vez, estava conseguindo o que queria. Mas tudo o que fiz foi provar o amor dele por ela, e deixar uma cicatriz profunda no meu coração.

Roubei a chance dele com seu amor, e ele fez questão de arruinar a minha.

É justo.

— Eu te disse. — Sebastian a conforta com sua voz baixa: — Não vou deixar nada acontecer com você.

Ele me prometeu a mesma coisa uma vez. Acho que uma promessa não conta até o garoto que a fez crescer e se tornar um homem que possa cumpri-la.

Ava se joga nos braços dele. Ou é o que parece. Não sei. Não quero saber.

Eu me afasto, como a perdedora que sou nesse relacionamento.

"Estou no hospital, saia quando puder."

Mando uma mensagem para Sebastian. Pensei que tinha feito as pazes com isso. No final, eu ainda não consigo entrar.

No final, eu ainda perco para ela.

Eu sou a vilã na minha história, e os vilões não conseguem o que querem. Ponto final. É assim que uma boa história deve ser. O príncipe mata o dragão, e então a princesa vive feliz para sempre.

Claro, ele não me machucaria fisicamente. Ele é o cavaleiro branco. Ele apenas pisoteou meu coração na lama, torcendo o pé para infligir dor na torcida do reino dela.

Ele pôde pisotear meu coração porque eu deixei. Eu não posso mais permitir isso, quando não resta mais nem um pedaço de coração para ele pisar.
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