ANTES___________________________________
Essa história se inicia a mais de quinze anos atras.Na época eu era apenas uma criança e estava aprendendo sobre o mundo, ainda sabia bem pouco sobre o que era amar: eu amava correr, amava a chuva e amava chocolate. Mas sobre o que era o amor romanticamente falando, eu só sabia o que via em filmes e lia em meus livros. Isso me fazia desejar por um amor daqueles, dignos de contos de fadas.
Porém ao desejar um amor de conto de fadas me esqueci que até os contos de fadas tem momentos obscuros.
Em minha infância eu era uma menina que queria desbravar o mundo e ir além dos limites do rancho de meus pais. Mas, não se enganem, não é que eu não gostasse de viver lá. Pelo contrário: eu adorava cavalgar, alimentar os bichos com meu pai todas as manhãs, ver o sol poente sentada na ponte sobre o rio, ajudar na vinícola da família e principalmente amava ter todos os meus primos por perto.
E falando em primos, eles sempre foram muito presentes em minha vida, mas um deles acabou vindo a ter um peso ainda maior na mulher que sou hoje.
Eu o conheci quando meu tio John, o irmão mais velho de minha mãe, se casou e adotou Ricardo o filho de sua nova esposa.
Nós tínhamos quase a mesma idade e gostávamos das mesmas coisas então nos demos bem de imediato. Em pouquíssimo tempo ele veio a se tornar meu melhor amigo, ocupando esse lugar ao lado de Ellin, que também é minha prima. Juntos formamos um trio que ninguém conseguia conter.
Nós dois estávamos sempre juntos e com o tempo se tornamos inseparáveis, não havia uma viagem que seus pais fizessem que eu não estivesse e o mesmo ocorria quando meus pais resolviam viajar.
Porém conforme crescíamos aquela amizade até então inocente foi mudando, mas permanecemos fiéis aquele laço e nós mantivemos um ao lado do outro.
Quando nossa adolescência chegou, logo começaram as piadinhas sobre nossa amizade, que vinham sempre seguidas por aquela frase irritante que todo mundo que já teve um amigo do sexo oposto, deve ter ouvido: “ah, aqueles dois ainda vão acabar juntos!”. No início aquilo me pareceu um verdadeiro absurdo, ainda mais com a reação dos pais dele, que sempre que ouviam aquela fala ficava super irritados.
O tempo continuou passando e eu não percebi em que momento as coisas começaram a mudar. No entando quando eu estava com pouco mais de quatorze anos, ele com quinze. Durante uma brincadeira de verdade ou consequência com nossos primos, ele foi desafiado a me beijar, aquilo me deixou extremamente envergonhada e fiquei muito irritada com aquela situação. Ele como o cavalheiro que era recusou-se a cumprir tal desafio, tendo que beber no lugar um vidro de molho de pimenta.
E eu juro para vocês que até aquele momento eu não havia se quer pensado na hipótese de beijá-lo.
No entanto quando a semente foi plantada em minha mente, nada conseguiu impedi-la de germinar e crescer. Eu me pegava pensando em seus lábios, diversas vezes durante o dia.
Naquela época quando a minha imaginação era solta, tornava-se praticamente impossível prende-la. Depois de algum tempo começaram os olhares, aquilo me despertou de formas que se quer eu podia imaginar e já não havia mais volta.
Os dias foram passando, certa tarde marcamos uma cessão de cinema com todos nossos primos, quando ele chegou, eu estava jogada na poltrona, a mesma que nós sempre dividiamos. Ele sentou-se a meu lado e me puxou para seu abraço. Foi a primeira vez que notei como seu perfume era maravilhoso, tinha cheiro de sândalo e era levemente amadeirado, aquele cheiro me deixou nervosa. Me faltou o ar quando ele me pegou o encarando e sorriu de lado. Quando as luzes se apagaram, senti uma corrente quase como eletricidade percorrer todo meu corpo. Nunca havia estado tão ciente de sua presença como naquele dia. Meu coração estava galopante como um alazão e minhas mãos frias como gelo.
Então não foi algo de repente, não foi como um simples virar de chaves, mas eu me apaixonei por ele. Aquele sentimento foi crescendo aos poucos, mas depois daquele dia já era tarde demais para negar. Afinal quando você tem alguém ao seu lado que sempre estar ali para tudo, sejam momentos alegres ou tristes, se apaixonar acaba sendo algo muito fácil e até inevitável.
Desde que nos conhecemos, tínhamos combinado que não importava qual fosse a verdade, nunca, em hipótese alguma mentiríamos um para o outro. Até aquele momento aquilo havia funcionado muito bem para mim, mas me faltou coragem de contar o que estava sentindo, ao menos de imediato.
Isso porque eu tive medo,e por vários motivos: tinha medo de contar, não ser correspondida e acabar estragando a nossa amizade; tive medo de contar, ser correspondida e ainda assim estragar a nossa amizade; mas acima de tudo eu tive medo de que qualquer coisa que pudesse a vir ocorrer nos separassem;
Afinal, eu poderia estar apaixonada, mas eu sabia que teria sido mais fácil suportar nunca o ter tocado ao suportar a dor de perdê-lo. Então talvez nos nunca deveríamos ter nos entregue aquele sentimento. Talvez isso tivesse evitado que nossos corações fossem despedaçados.
Mas eu contei. Me lembro do dia e da sensação como se fosse hoje, havíamos combinado de nos encontrar no vinhedo da família, estava em época de colheita e amávamos nos esconder por ali.
Já estávamos caminhando a algum tempo quando eu disse:
- a gente pode conversar? – eu estava nervosa e apreensiva.
Ele riu, mas franziu a testa ao ver minha expressão de cautela, não costumávamos ser muito cautelosos um com o outro.
- Pela sua expressão parece algo sério! – ele me olhou alerta.
- Talvez seja, não sei ao certo. – olhei para ele. – verdade sempre né?
- Verdade sempre Lena! Esse é o lema certo? – assenti e parei de andar jogando-me aos pés de uma videira.
– Diz, o que houve? – ele indagou ao sentar ao meu lado.
Eu sentia como se meu coração fosse sair pela boca, mesmo aos meus quatorze anos eu não era uma garota muito insegura, mas naquele momento a insegurança tomou conta de mim,. Pensei em recuar e dizer qualquer baboseira, mas olhei em seus olhos, ele me transmitiu toda a segurança que eu precisava para ter coragem então eu disse:
- Eu não sei ao certo como ou quando aconteceu Rick, mas de um tempo para cá eu tenho pensado muito em você... – ele me observava com um olhar atento, cheio de carinho e um pequeno sorriso se formou em seus lábios, ele assentiu me estimulando a continuar. – Eu sei que isso pode complicar tudo, mas prometemos ser honestos um com o outro. Então não posso continuar escondendo como me sinto de você!
- E como você se sente Lena? – sua voz saiu delicada e ao mesmo tempo em um tom completamente novo, um tom que ele passou a usar só comigo e estava cheio de desejo.
Eu sentia como se meu estomago estivesse cheio de borboletas, olhar em seus olhos foi como se tudo finalmente estivesse se encaixando no seu lugar.
- Eu gosto de você Ricardo, há um bom tempo e não é só como meu melhor amigo. – sorri de leve ao notar que ele tinha um sorriso lindo nos lábios. – eu vou dormir pensando em você. Acordo pensando em você e no meio do dia enquanto estamos juntos eu me pego pensando qual a textura e o sabor de seus lábios.
- Ah Ellena. – ele passou a mão em meu rosto. – você não faz ideia de quanto tempo eu queria ouvir você dizer isso!
Suas palavras me embalaram e me aqueceram como se eu estivesse sendo abraçada pelo próprio sol. Senti uma de suas mãos em minha cintura, puxando-me mais para perto de si, depois senti a outra em minha nuca e então nossos lábios se chocaram.
Aquele foi meu primeiro beijo e até hoje não sei quem beijou quem. Mas lembro-me da sensação de completude que me atingiu quando ele me perguntou se eu queria namorá-lo assim que nos afastamos.
Apenas alguns de nossos primos, dois deles para ser mais exata: a Ellin e o Oliver, ficaram sabendo de nosso namoro. Escondemos de todo o resto, principalmente de nossos pais, por pouco mais de dois anos, nós achávamos que escondíamos muito bem, mas não fomos tão bons assim.
Eu estava quase completando dezessete anos quando minha mãe sofreu um derrame e como se aquilo já não fosse coisa suficiente, foi ali que as coisas começaram a complicar verdadeiramente para nós dois.
Hoje analisando aquela ocasião eu a vejo como um dia que tudo parece dar errado, mas já dizia o maior mago de todos, Alvo Dumbledore: “É possível encontrara felicidademesmonas horasmais sombrias, se você se lembrar de acender aluz”. E mesmo com tudo de ruim e errado que ocorreu naquele dia meu coração ainda se aqueceu ao final dele. Lembro-me que estava no hospital, sentada na recepção chorando com a cabeça encostada no ombro do meu pai. Ele me envolvia com um único braço, meio sem saber como fazer aquilo, pois ele nunca foi o tipo de pessoa que sabe como demonstrar afeto ou consolar alguém. Na verdade contato em público costuma o deixa muito desconfortável. Ficamos assim por um bom tempo até que o Ricardo chegou. Eu senti a sua presença antes mesmo de vê-lo, ele entrou correndo pelo corredor e caminhou apressado em minha direção. Quando o vi corri até ele me atirando em seus braços, que me envolveram assim que nossos corpos se e
Após três meses que havia ocorrido a reunião, meu tio estava mais calmo e não nos incomodava mais. Nós começamos a acreditar que por não conseguir o apoio da família, ele havia desistido de nos atormentar. Mas na verdade não foi o que aconteceu, ele apenas estava esperando o melhor momento de dar o seu último e decisivo golpe. Embalados pela ideia de que tudo ficaria bem e poderíamos ficar juntos, começamos a planejar nosso futuro. E quando digo planejar, é porque planejamos mesmo, cada detalhe. Falamos de casamento, filhos e tudo mais que tínhamos direito. A ideia inicial era que: tiraríamos um ano para viajar, fizemos até uma lista dos locais que iriamos conhecer. Depois daquele período voltaríamos ao Brasil e iriamos para a faculdade, morariamos juntos em um apartamento que meus pais tinham na capital e ficava bem próximo a universidade que ambos pretendíamos ir. Eu cursaria artes plásticas como minha mãe e ele faria música, depois a logo prazo entraria o casament
Depois daquela triste despedida, ou não despedida, muita coisa mudou em minha vida. Passei um ano infernal após sua partida, não tinha vontade de fazer nada, eu me fechei dentro de mim, me isolei de todos. Parei de fazer tudo que me lembrava ele, exceto a escola, eu me agarrei a ela, pois a faculdade seria minha passagem só de ida para fora daquele lugar onde tudo tinha seu cheiro, suas cores, o som de sua risada. No mais, foi um ano completamente perdido, quando ele chegou ao fim, agradeci e me joguei de corpo e alma na única coisa que havia restado dele: a viagem, o ano sabático, a era da mochila, como costumávamos falar. Por mais que viajar o mundo sozinha, fizesse eu me sentir ainda mais solitária, era meu cartão de embarque para um mundo sem ele. Um mundo onde eu poderia olhar para o lado sem ter alguma lembrança de um dos nossos inúmeros momentos. Então viajei, fui a vários países, conheci diversas culturas e povos. Quanto mais me afastava de casa, mais fácil f
_________________________________AGORA_____________________________________ Ellena Exceto pelos planos de visitar meus pais aquele dia começou como outro qualquer: acordei as 5:30, o céu começava a clarear, fiz uma lista mental de tudo que teria que fazer, depois chequei meus emails. Virei na cama e escorei-me em meu cotovelo para vê-lo, sorri. Ele estava deitado de bruços com seu torso nu, o lençol cobrindo-o apenas da cintura para baixo, a barba por fazer contornando seu r
Passava pouco das dez horas quando chegamos. O aroma inconfundível da minha infância emanou de todos os cantos, com ele veio diversas lembranças, todos os cantos têm uma história a contar. Algumas das quais eu não quero ouvir e esse foi um dos motivos para eu ficar mais de seis meses sem ir até aquele lugar. Assim que estacionei o carro ela saiu correndo para se juntar ao meu pai que cuidava de alguns bichos próximo a casa, ainda de dentro do carro observei o lugar onde cresci: A casa estilo colonial, a ponte de dormentes sobre o rio que fica mais a frente Meu coração aqueceu e percebi o quanto sentia falta daquele lugar, mesmo que eu ame a vida movimentada da cidade, o tumulto de meu escritório e saiba que por inúmeros motivos e memorias eu jamais conseguiria viver ali. Aquele rancho ainda havia sido o lugar que vivi muitos dos melhores momentos de sua vida. Peguei as coisas da Lai no porta-malas e estava indo para dentro quando minha mãe saiu de sua oficina
Após o almoço sai para cavalgar um pouco, aquela era das coisas que eu mais sentia falta daquele lugar e deixei a sensação do vento na face e o aroma do campo inunda-me. Estar ali era quase como recarregar a bateria, quando voltei minha mãe estava sentada nos degraus de entrada observando a Laila e meu pai brincarem. Eu sentei-me ao seu lado e encostei minha cabeça em seu ombro. Ela acariciou o topo de minha cabeça e deu um beijo suave ali. - ainda dói vir para casa? – ela olhou-me de relance preocupada. Era impressionante como ela sempre sabia o que estava se passando comigo, mesmo quando eu não dizia ou quando eu jogava o incomodo para dentro. - É complicado mãe! – disse respirando fundo. - Não devia ser minha filha, já faz muito tempo! - Eu sei mãe, mas a forma como tudo acabou sempre me incomodou, mesmo depois de tanto tempo. - olhei em volta. - E quando venho aqui sem o caio, eu o vejo em todos os cantos, quando o caio tá
ElenaPassava pouco das quatorze horas quando encontrei meus pais para pegar Laila, que agora já está no banco de trás, contando cada uma de suas aventuras com os avós e como eu previ, ela havia entrado no chiqueiro dos porcos, não consegui não rir pensando na cena. O trajeto durou cerca de duas horas e meia como de costume, aquele não era um trajeto desconhecido para mim, naquelas praias passei vários de meus verões. Parei o carr
Ricardo Eu cheguei de uma viagem de trabalho a aproximadamente uma hora, já estou há quase trinta minutos parado em frente à casa da tia Anna.A recepção já havia começado, mas eu ainda não consegui juntar coragem suficiente para entrar. O motivo disso é bem obvio para mim. Ele tem nome e sobrenome, Ellena Bianchi, minha prima, ex melhor amiga e ex-namorada.Desde que Ellin mencionou que ela viria, tudo que eu conseg