Hoje analisando aquela ocasião eu a vejo como um dia que tudo parece dar errado, mas já dizia o maior mago de todos, Alvo Dumbledore: “É possível encontrar a felicidade mesmo nas horas mais sombrias, se você se lembrar de acender a luz”.
E mesmo com tudo de ruim e errado que ocorreu naquele dia meu coração ainda se aqueceu ao final dele.
Lembro-me que estava no hospital, sentada na recepção chorando com a cabeça encostada no ombro do meu pai. Ele me envolvia com um único braço, meio sem saber como fazer aquilo, pois ele nunca foi o tipo de pessoa que sabe como demonstrar afeto ou consolar alguém. Na verdade contato em público costuma o deixa muito desconfortável.
Ficamos assim por um bom tempo até que o Ricardo chegou. Eu senti a sua presença antes mesmo de vê-lo, ele entrou correndo pelo corredor e caminhou apressado em minha direção. Quando o vi corri até ele me atirando em seus braços, que me envolveram assim que nossos corpos se encostaram:
- você veio. – eu disse entre soluços, que apenas aumentaram com o cerco de seus braços.
- Ah lena, onde mais eu estaria? – ele deu um beijo em minha testa. – tem alguma notícia? – fiz que não com e ele me abraçou mais apertado.
- ei, ela vai ficar bem, titia precisa de muito mais que isso para derrubá-la e ela ficaria muito brava se te visse assim. – mesmo entre todas as lagrimas um pequeno sorriso surgiu em meus lábios.
- precisa não é? – perguntei mais para tentar convencer a mim mesma daquilo, ele assentiu, secando minhas lagrimas com seu polegar.
Caminhamos de volta ao local que meu pai estava. O Ricardo com o braço jogado sobre meu ombro, de forma protetora mas sem que demonstrasse muito mais que isso.
Meu pai nos observava, sentei-me ao seu novamente, ele passou a mão suavemente sobre a minha e olhou para o Rick.
- Que bom que está aqui garoto, talvez consiga fazer essa teimosa ir para casa e parar de chorar. – ele olhou para mim esperançoso, porém fiz que não com a cabeça e disse:
- eu só saio daqui quando souber da mamãe pai. – Ele olhou para o Ricardo seu olhar implorando por ajuda.
Meu pai recorria ao Ricardo sempre que eu insistia em fazer algo que ele não concordava, esse estava sempre disposto a ajudar, desde que fosse o melhor para mim. Mas até ele sabia quais eram as batalhas que não adiantava travar comigo e aquela com certeza era uma delas, então ele disse:
- Desculpa tio, acho que nem eu consigo fazer ela arredar daqui. – por mais que ele tenha falado com meu pai seus olhos, desde que havia chegado permaneciam fixos em mim.
- Bom, então vou buscar um café para nós três, a noite será longa, cuida da sua prima pra mim? – disse dando uma tapinha em seu ombro.
- Sempre tio. – ele sorriu suavemente e se sentou no lugar do qual meu pai havia acabado de levantar.
Assim que se sentou passou os braços em torno de mim. Eu me aconcheguei em seu peito, respirei fundo sentindo o seu cheiro caloroso e aconchegante que àquela altura já era tão familiar. Relaxei um pouco, mas nem mesmo seu cheiro que sempre servia como calmante para mim, conseguiu fazer com que aquela dor e a sensação de incapacidade, que eu sentia sentada ali sem ter notícias e sem poder fazer nada além de aguardar, cessassem.
- O que faço se ela... – as lagrimas voltando a cair, ele não deixou que eu terminasse a fala.
- Shiii não fala isso princesa... Não vai acontecer nada mais sério e logo ela vai ta em casa. – ele abraçou-me apertado, deu um beijo em minha testa, sua expressão era torturada e seus olhos me diziam que ele pegaria a minha dor para ele se pudesse.
Eu assenti, mas para tentar tirar aquela expressão de seu rosto do que qualquer outra coisa, voltei a esconder o rosto em seu peito, ele virou meu rosto para si com delicadeza e abaixou-se um pouco para ficar na altura de meus olhos, mesmo ali sentando ele era mais de um palmo maior que eu.
- Ei... – ele passou o polegar em meu rosto, secando as lagrimas que caia. – eu estou aqui com você tá? – assenti e ele sorriu. - E sempre vou estar.
Sorri suavemente deixando que suas palavras me embalassem, eu queria poder beijá-lo, abraçá-lo e não ficar medindo nossos toques como fazíamos quando estávamos perto de outras pessoas o que acabava piorando o meu estado, mas no lugar de fazer qualquer uma daquelas coisas apenas disse:
- Eu sei e isso já ajuda muito. – Ele pareceu notar meu incomodo e deu-me um selinho, foi rápido, mas foi suficiente, não só para me acalmar e confortar, apesar da surpresa, mas também para que fossemos vistos.
- Ricardo? – eu nunca havia ouvido a voz de meu tio tão irritada. – O que você pensa que ta fazendo seu moleque? Quem vai me explicar o que eu acabei de ver aqui?
Quando o olhei vi sua expressão de fúria. Eu sempre soube que meu tio não nos apoiaria mas quando vi aquela expressão eu soube que teríamos bem mais problemas que já havíamos imaginado.
Meu coração estava disparado e a tranquilidade que eu havia acabado de adquirir foi tão breve que nem pareceu ter existido.
Olhei do meu tio para o Ricardo que estava com a expressão séria. Os dois se encaravam, então ele levantou e deu um passo na direção do pai:
- Pai, eu posso explicar. – pra minha surpresa a sua voz não falhou e meu coração se encheu de orgulho, tenho certeza que a minha voz teria saído péssima.
- Não me diga que eu não vi o que eu vi guri. – a cada fala ele ficava mais vermelho e exaltado.
Respirei fundo e levantei-me, sentindo uma irritação tremenda ao ver ele reagir daquela forma, mesmo que ele não gostasse de ter visto nos dois juntos a situação não era propicia para ele dar escândalo, parei ao lado do Ricardo e olhei para meu tio.
- Tio John, não é hora pra isso... – mesmo com todas as emoções afloradas e na verdade deve ter sido somente por isso, minha voz saiu firme. De canto de olho vi meu pai vindo pelo corredor, respirei fundo. – por favor podemos falar sobre isso quando a mamãe tiver melhor?
- Se você pensa que isso vai ficar esquecido por causa da sua mãe guria você está muito enganada. – suas palavras estavam acidas e amargas.
- O que está havendo aqui John? – perguntou meu pai entregando os cafés a mim e ao Ricardo.
- O que ta acontecendo? – ele riu com escarnio. – eu peguei...
- Pai! – O Ricardo falou em tom de advertência e ao mesmo tempo implorando para que o pai não continuasse com aquilo.
Naquele momento eu percebi que aquele simples beijo causaria muito alvoroço e temia que a única pessoa que pudesse apoiar o nosso relacionamento estava desacorda em algum lugar daquele hospital. Mas mesmo assim, vendo meu pai ali eu sabia que não queria que ninguém além de mim lhe contasse sobre meu namoro. Olhei para o Ricardo que olhou em meus olhos e como sempre fazia me entendeu sem que eu precisasse dizer nada. Ele assentiu, respirando com alívio e segurou minha mão.
- Pai... – olhei para meu tio, vi que ele fitava nossos dedos entrelaçados com uma expressão que eu só conseguia descrever como com nojo.
- O que foi Ellena? – meu pai demorou alguns segundos para entender o que se passava. Olhou para mim depois para o Ricardo, por fim para nossas mãos entrelaçadas. Para meu espanto ele começou, a gargalhar.
– Eu não posso acreditar que Todo esse estardalhaço seja por causa disso! – ele olhou para meu tio e apontou para nós dois. – pelo amor do santo Deus John vai dizer que você não sabia desses dois? Só um idiota ou um cego para não vê.
Eu não sabia se ficava em choque com a reação do meu pai, se ria ou se o abraçava, olhei par o Ricardo que parecia tão surpreso quanto eu. E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ele nos olhou com ternura e disse:
- Eu e Emma sempre soubemos de vocês...
Eu sempre amei meu pai, mas naquele momento eu sentia como se meu coração pudesse explodir de tanto amor, orgulho e alegria, atirei-me nele com os braços envolvendo seu pescoço, ele com uma mão acariciava minhas costas e sorri entre lagrimas.
- Ah pai... por que nunca falaram nada?
- Porque não cabia a nos dizer filha. – Ele deu um beijinho em minha testa e depois se afastou sem jeito.
Olhei para o Ricardo que nos observava com admiração nos olhos.
Aquela foi a minha luz em meio a tempestade. Ter o apoio dos meus pais deixou tudo aquilo mais simples para mim. Mas ao mesmo tempo fez eu querer lutar ainda mais pois eu sabia que meu namorado não tinha aquilo, ainda assim não conseguia evitar uma bolha de alegria que foi estourada pela irritação de meu tio:
- Como pode concordar com isso Thomas? Os dois são primos. – ele disse apontando para nós dois, que estávamos novamente lado a lado e de mãos dadas. – Isso não vai acontecer, vamos embora garoto! – ele ordenou ao Ricardo que estava pronto para responder, mas foi interrompido pelo meu pai.
- E daí John? Seus pais também são primos e nesse caso, podemos dizer que é bem pior já que são sangue do mesmo sangue! Deixa as crianças em paz, até parece que você nunca foi jovem. – Aquilo pareceu deixar meu tio ainda mais transtornado.
- Não venha me dizer como criar meu filho Thomas! – ele encarando meu pai, repetiu a ordem. - Vamos Ricardo!
- Eu não vou pai. – sua voz saiu extremamente calma. – Eu vou ficar aqui com Ellena e com o tio, - ele encarou o pai. - E você devia fazer o mesmo, sua irmã ta lá dentro. – ele apontou a sala de exames. – Você devia estar preocupado com ela e não com meu namoro com Ellena.
Depois daquilo os dois se encaram por mais tempo do que me deixava confortável e foi o Tio John que cedeu primeiro, afastando-se e indo sentar mais afastado, em sua expressão estava claro que ele não havia desistido apenas estava deixando para resolver aquilo depois, e aquele depois não tardou em nada para chegar.
...
Minha mãe teve uma recuperação bem rápida e sua alta foi uma semana depois da internação, porém como sua memória havia ficado um pouco bagunçada e ela estava com algumas instabilidades em seus movimentos, por recomendação do médico a colocamos em uma clínica de reabilitação onde ela passou mais quatro semanas.
Um mês após sua alta definitiva foi marcado uma das famosas reuniões de família, dos Bianchi. E quando digo famosa, é porque a família costuma transformar essas reuniões em um grande evento. Aparece Bianchi de todos os cantos e como toda boa família de descendência italiana, essas reuniões são sempre regadas a muita comida; bebidas, principalmente vinho; e muita gritaria.
Naquela reunião tínhamos muito o que comemorar: Tínhamos tido uma excelente safra de vinho; Meus avós estavam completando bordas de ouro e minha mãe estava recuperada. Mas tio John e Clarisse sua esposa, fizeram questão de dá foco ao meu namoro com Ricardo.
Acabou que a maioria da família nos apoiou, inclusive nossos avós que ficaram muito felizes, mas meu tio além de irredutível estava ainda mais irritado pela falta de apoio.
Após três meses que havia ocorrido a reunião, meu tio estava mais calmo e não nos incomodava mais. Nós começamos a acreditar que por não conseguir o apoio da família, ele havia desistido de nos atormentar. Mas na verdade não foi o que aconteceu, ele apenas estava esperando o melhor momento de dar o seu último e decisivo golpe. Embalados pela ideia de que tudo ficaria bem e poderíamos ficar juntos, começamos a planejar nosso futuro. E quando digo planejar, é porque planejamos mesmo, cada detalhe. Falamos de casamento, filhos e tudo mais que tínhamos direito. A ideia inicial era que: tiraríamos um ano para viajar, fizemos até uma lista dos locais que iriamos conhecer. Depois daquele período voltaríamos ao Brasil e iriamos para a faculdade, morariamos juntos em um apartamento que meus pais tinham na capital e ficava bem próximo a universidade que ambos pretendíamos ir. Eu cursaria artes plásticas como minha mãe e ele faria música, depois a logo prazo entraria o casament
Depois daquela triste despedida, ou não despedida, muita coisa mudou em minha vida. Passei um ano infernal após sua partida, não tinha vontade de fazer nada, eu me fechei dentro de mim, me isolei de todos. Parei de fazer tudo que me lembrava ele, exceto a escola, eu me agarrei a ela, pois a faculdade seria minha passagem só de ida para fora daquele lugar onde tudo tinha seu cheiro, suas cores, o som de sua risada. No mais, foi um ano completamente perdido, quando ele chegou ao fim, agradeci e me joguei de corpo e alma na única coisa que havia restado dele: a viagem, o ano sabático, a era da mochila, como costumávamos falar. Por mais que viajar o mundo sozinha, fizesse eu me sentir ainda mais solitária, era meu cartão de embarque para um mundo sem ele. Um mundo onde eu poderia olhar para o lado sem ter alguma lembrança de um dos nossos inúmeros momentos. Então viajei, fui a vários países, conheci diversas culturas e povos. Quanto mais me afastava de casa, mais fácil f
_________________________________AGORA_____________________________________ Ellena Exceto pelos planos de visitar meus pais aquele dia começou como outro qualquer: acordei as 5:30, o céu começava a clarear, fiz uma lista mental de tudo que teria que fazer, depois chequei meus emails. Virei na cama e escorei-me em meu cotovelo para vê-lo, sorri. Ele estava deitado de bruços com seu torso nu, o lençol cobrindo-o apenas da cintura para baixo, a barba por fazer contornando seu r
Passava pouco das dez horas quando chegamos. O aroma inconfundível da minha infância emanou de todos os cantos, com ele veio diversas lembranças, todos os cantos têm uma história a contar. Algumas das quais eu não quero ouvir e esse foi um dos motivos para eu ficar mais de seis meses sem ir até aquele lugar. Assim que estacionei o carro ela saiu correndo para se juntar ao meu pai que cuidava de alguns bichos próximo a casa, ainda de dentro do carro observei o lugar onde cresci: A casa estilo colonial, a ponte de dormentes sobre o rio que fica mais a frente Meu coração aqueceu e percebi o quanto sentia falta daquele lugar, mesmo que eu ame a vida movimentada da cidade, o tumulto de meu escritório e saiba que por inúmeros motivos e memorias eu jamais conseguiria viver ali. Aquele rancho ainda havia sido o lugar que vivi muitos dos melhores momentos de sua vida. Peguei as coisas da Lai no porta-malas e estava indo para dentro quando minha mãe saiu de sua oficina
Após o almoço sai para cavalgar um pouco, aquela era das coisas que eu mais sentia falta daquele lugar e deixei a sensação do vento na face e o aroma do campo inunda-me. Estar ali era quase como recarregar a bateria, quando voltei minha mãe estava sentada nos degraus de entrada observando a Laila e meu pai brincarem. Eu sentei-me ao seu lado e encostei minha cabeça em seu ombro. Ela acariciou o topo de minha cabeça e deu um beijo suave ali. - ainda dói vir para casa? – ela olhou-me de relance preocupada. Era impressionante como ela sempre sabia o que estava se passando comigo, mesmo quando eu não dizia ou quando eu jogava o incomodo para dentro. - É complicado mãe! – disse respirando fundo. - Não devia ser minha filha, já faz muito tempo! - Eu sei mãe, mas a forma como tudo acabou sempre me incomodou, mesmo depois de tanto tempo. - olhei em volta. - E quando venho aqui sem o caio, eu o vejo em todos os cantos, quando o caio tá
ElenaPassava pouco das quatorze horas quando encontrei meus pais para pegar Laila, que agora já está no banco de trás, contando cada uma de suas aventuras com os avós e como eu previ, ela havia entrado no chiqueiro dos porcos, não consegui não rir pensando na cena. O trajeto durou cerca de duas horas e meia como de costume, aquele não era um trajeto desconhecido para mim, naquelas praias passei vários de meus verões. Parei o carr
Ricardo Eu cheguei de uma viagem de trabalho a aproximadamente uma hora, já estou há quase trinta minutos parado em frente à casa da tia Anna.A recepção já havia começado, mas eu ainda não consegui juntar coragem suficiente para entrar. O motivo disso é bem obvio para mim. Ele tem nome e sobrenome, Ellena Bianchi, minha prima, ex melhor amiga e ex-namorada.Desde que Ellin mencionou que ela viria, tudo que eu conseg
Ellena Eu estava observando a Laila brincar quando senti um formigamento estranho, como se alguém me observasse, olhei para um lado depois para outro, porém não consegui achar o motivo de tal desconforto, bebi mais um gole de minha cerveja extremamente gelada, naquele momento, com o calor que fazia eu teria sido capaz de agradecer aos deuses por aquela bebida, meu corpo ainda estava quente de tanto dançar e aquele líquido gelado veio a calhar.Mexi-me