Capítulo VI

Após o almoço sai para cavalgar um pouco, aquela era das coisas que eu mais sentia falta daquele lugar e deixei a sensação do vento na face e o aroma do campo inunda-me.

Estar ali era quase como recarregar a bateria, quando voltei minha mãe estava sentada nos degraus de entrada observando a Laila e meu pai brincarem. Eu sentei-me ao seu lado e encostei minha cabeça em seu ombro.

Ela acariciou o topo de minha cabeça e deu um beijo suave ali.

- ainda dói vir para casa? – ela olhou-me de relance preocupada.

Era impressionante como ela sempre sabia o que estava se passando comigo, mesmo quando eu não dizia ou quando eu jogava o incomodo para dentro.

- É complicado mãe! – disse respirando fundo.

- Não devia ser minha filha, já faz muito tempo!

- Eu sei mãe, mas a forma como tudo acabou sempre me incomodou, mesmo depois de tanto tempo. - olhei em volta. - E quando venho aqui sem o caio, eu o vejo em todos os cantos, quando o caio tá aqui eu nem lembro mãe, mas sem ele, é como se eu voltasse para tanto tempo atras e sentisse toda aquela dor em cada lugar que eu e ele passamos.

- Ah minha filha, me doí tanto ver que seu tio lhe causou tanta dor.

- Mãe... não culpe o tio John, eu não sei os motivos dele para afastar eu e o Ricardo – falar o nome dele era estranho e fiz uma careta. – mas ele só levou o filho embora, o que nos manteve afastados foi o nosso próprio orgulho.

Ela olhou-me e sorriu:

- Eu sinto tanto orgulho da mulher que se tornou Ellena!

- Ih mãe ainda tenho tanto a evoluir. – eu sorri quando ela acariciou minha mão.

- Todos sempre temos, mas você conseguiu tirar da dor que sentiu quando seu primo foi embora o melhor. – eu não concordava com aquilo, se ela soubesse como foram os anos posteriores a partida dele, ela também não iria, mas apenas sorri, ela olhou-me por mais tempo que o necessário, depois respirou fundo. – Você ainda o ama?

- É complicado mãe... - aquela pergunta me incomodou em níveis que eu não conseguia distinguir no momento. Não que eu nunca houvesse parado para pensar sobre aquilo eu havia, várias e várias vezes, mas ainda assim ninguém nunca havia me perguntado aquilo tão escancaradamente.

- Não Ellena, não é. Ele foi seu primeiro amor... e te marcou de formas que eu nem consigo imaginar.

- Não é só isso mãe, ele era meu melhor amigo.

- Então você o Ama?

- Por que isso agora mãe?

- Tsc, me responde menina!

- Acho que eu nunca deixarei de amá-lo, - fiz que não com a cabeça - isso seria impossível.

- E por que nunca foi atras dele? – eu ri com a pergunta.

- Não é obvio mãe? – ela nada disse e eu prossegui. – Eu amo o meu marido e a vida que construímos. Por que eu jogaria tudo fora por causa dos fantasmas do meu passado?

- Porque a vida é curta, alguns até tem a sorte de amar mais de uma pessoa durante toda ela, mas o amor de verdade, Ellena. – ela olhava-me atenta. – aquele que nos arrebata e nos tira o chão, ele só bate uma única vez em nossa porta e cabe apenas a nós mesmos agarrá-lo.

Depois daquilo fiquei em silencio, ela também nada disse, mas eu não conseguia parar de pensar naquelas palavras.

Eu sabia que ela estava certa, mas como ela poderia ter tanta certeza que o Ricardo havia sido esse amor se nem eu mesma tinha, não após conhecer o Caio ao menos.

Depois daquela conversa a tarde voou, quando me dei conta o sol começava a baixar, eu fui me preparar para pegar a estrada, despedi-me de todos, quando já estava no carro minha mãe encostou na janela.

- Sei que você tem evitado toda reunião de família que fazemos e entendo meus motivos. Mas sábado é aniversário da Anna, minha irmã, estamos programando uma semana inteira de festividades na casa de praia, encerraremos no próximo fim de semana com uma reunião sobre o inventário do seu avô. Acho que você deveria ir!

Desde o ocorrido eu sempre evitava aquelas reuniões. Não que eu tivesse me afastado de toda a família, eu não seria capaz de fazer isso. Sempre fui muito apegada a família, eu ainda mantinha contato com a maioria dos meus primos e sempre que tinha certeza que ele não estaria lá, eu ia. Ele nunca estava, então disse:

- Me manda todos os detalhes por mensagem mãe, vou ver com o Caio, eu te falo amanhã de manhã. Tem tempo que estou querendo ir pra lá, mas sempre algo dá errado!

Minha mãe assentiu deu um beijo em minha testa e eu finalmente peguei estrada. Já passava das vinte horas quando cheguei em casa.

O Caio ainda não havia chegado, abri uma garrafa do meu vinho preferido e fui preparar algo para comemos, fiz um risoto de cogumelos que sei que ele adora. Ele chegou já era quase dez horas, a mesa estava posta, eu havia acabado de sair do banho e encher uma nova taça de vinho.

Ele não voltou a reclamar sobre eu ter deixado a Laila, jantamos, eu mostrei as fotos que tiramos durante o dia, contei como foi a reação dela com o potrinho, ele falou sobre o trabalho, o projeto estava indo muito bem ele acreditava que entregaria até a sexta o que era ótimo já que tinham o prazo para segunda.

- Que ótimo amor... o que faz eu mudar de ideia sobre algo que mamãe falou. Ela e o papai vão viajar no fim de semana, é aniversario de 50 anos Tia Anna e como tem reunião de família sem ser esse sábado o outro, eles vão aproveitar e emendar. – sorri. – E é na praia! Podíamos ir.

Ele pareceu ponderar sobre o assunto, depois assentiu.

- Vamos sim vida. Estou te prometendo ir para a praia há algum tempo. Eu entrego o projeto sexta e pegamos a estrada em seguida. - Ele deu um beijo em minha testa. – Mas fiquei curioso, reunião Bianchi? – ele levantou a sobrancelha. – o que houve?

Eu ri. – Desde quando os Bianchi precisam de motivos para se reunir?

- É sério vida. – ele meio que riu e fez não. – vocês sempre transformam as reuniões em festa, mas nunca vi uma delas ocorrer sem motivo algum.

- Parece que querem falar do inventário e testamento do vovô!

Ele assentiu e me abraçou, depois colocamos nossa serie preferida para ver alguns episódios antes de dormir, ou melhor para tentar. Não costumamos ficar muito sozinhos, então após o primeiro episódio e mais uma garrafa de vinho já estávamos aos amassos no chão da sala.

Essa é uma das coisas que eu amo em nosso relacionamento, nós temos uma sintonia incrível na cama. Sempre nos arriscamos e tentamos de tudo um pouco, definitivamente não era algo morno e monótono, não, se tem uma coisa que aquele homem sabe fazer, é me fazer subir nas paredes.

Nós não somos a família perfeita, temos problemas, discussões e muitas vezes não concordamos. Mas nós temos os nossos momentos, temos uma vida financeiramente estabilizada, cada um tem seu próprio negócio, o seu próprio carro, temos uma ótima casa. Viajamos em família duas vezes ao ano, tudo bem, ambos trabalhamos demais e algumas vezes nos vemos poucas horas por dia. Mas quando estamos em casa, procuramos sempre estarmos um com outro e com nossa filha que com certeza foi o melhor acontecimento desde que estamos juntos.

                                                             ...

A quinta feira amanheceu como todos os outros dias de trabalho: acordei as 5:30 da manhã, fiz minha corrida matinal de uma hora pelo bairro. O carro dele já não estava na garagem quando retornei, os prazos não estavam apertados só para mim; liguei a cafeteira e fui para o banho, onde fiquei por cerca de quinze minutos, mais cinco minutos para entrar em minha camisa social, minha saia lápis e o blazer, outros dez minutos para uma maquiagem rápida, rímel, batom, blush e pó. Em trinta minutos eu estava enchendo minha caneca para viagem de café. Peguei trânsito e cheguei em cima da hora para minha reunião com o cliente das 8:30h.

O dia voou, em meio a papelada e reuniões com clientes, quando me dei conta minha assistente estava a porta perguntando se ainda precisaria dela.

- Que horas são Thaís???

- Já passam das 19:30.

- Só pede japonês para mim e para o caio, depois pode ir, assim que chegar vou embora também. Obrigada.

Já passava das nove horas quando cheguei em casa, o carro dele ainda não estava na garagem. Então liguei, no terceiro toque ele atendeu.

- Ei vida, desculpa estou agarrado, tivemos uma complicação parece que alguém fez algum cálculo errado, estou tendo que refazer um monte de coisa.

- Nossa amor. Você já comeu??? Eu pedi comida... quer que eu guarde para você ou peça algo para entregar aí?

- Não tudo bem vida. Mandei a Liz pedir comida, vamos ter que ficar aqui até mais tarde.

- Tudo bem... e amor... não se mate para terminar até amanhã, o prazo é até segunda.

- Mas tem a viagem com meus pais, sei que tem um tempo que você está querendo ir pra praia...

- Podemos ir para praia outra hora. Não se sobrecarregue.

Ele ficou quieto.

- Amor...

- Vida tudo bem... olha... vamos fazer assim... eu vou tentar terminar, o pessoal deve ir embora na próxima hora, mas vou ficar aqui, vou virar para ver se consigo entregar até amanhã, senão você vai com meus pais, eu encontro vocês lá assim que acabar. Tudo bem?

- Não... eu não quero você se esgotando... – respirei fundo - também não quero dormir sozinha, vem para casa... E tudo bem não irmos. Ok?

- Ok, vida. Te amo. Me espera pra comer?

- Claro, cheguei agora, vou tomar um banho e te espero.

Após comer ambos fomos dormir, exaustor pelo longo dia.

                                                             ...

A sexta-feira amanheceu chuvosa e gelada, acabei não indo correr e cheguei mais cedo no escritório. Tive três reuniões e dois casos para montar antes do meio-dia, o horário que meu Telefone tocou, era o caio.

- Vida me desculpe, não vou conseguir terminar a tempo...

- Querido, eu entendo no meu trabalho também tem horas que as coisas desandam, eu melhor que ninguém entendo os termos do seu contrato, sei que a multa para atraso é alta. Não se preocupe, saio do escritório daqui a pouco para buscar a Lai, passo aí com ela quando chegarmos, ok?

- Nossa estou morrendo de saudades dela. - Ele sorriu - ela deve estar cheia de histórias... quer saber... vou deixar o Luan responsável pela análise, vai pra casa arrumar as malas.

- Querido eu adoraria isso... mas, estou com seu contrato aberto na minha frente, o risco juridicamente falando é muito alto... como advogada da sua empresa não posso deixar você fazer isso...

Ele respirou fundo.

- Então vá as duas, prometo encontrar vocês lá assim que possível.

Com os planos de viajar arruinados, provavelmente eu passaria o fim de semana em casa, trabalhando e mandaria a minha assistente remarca a minha agenda da próxima semana... então aceitar a proposta dele não pareceu uma má ideia.

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