― Fato chocante número um: ― Hanna apontou o lápis para cima, se pondo a rabiscar algo em sua agenda logo em seguida ― Tríade é a atual prisão das Almas Sombrias de todos os mundos Sombrios mais sombrios existentes. Puxa, só o primeiro item me faz ter uma vontade enfadonha de arrastar minha bunda até lá no próximo segundo. Só que não. Precisamos, realmente, de um segundo "fato chocante"?
Arbo olhava para ela como se três novas cabeças houvessem surgido de seus ombros, direcionando seu olhar azul e tempestuoso para mim logo em seguida.
― Quantos problemas mentais acha que ela tem?
VOCÊ SABE QUANDO ESTÁ MARCHANDO PARA O ABISMO.A sensação é horrível.Você caminha, e o chão treme. Instável e sem segurança. Você quer gritar. O medo vem como um soco no estômago. Mas não pode parar, ou a terra pode te engolir como areia movediça.Um passo após o outro.Medo. Passo. Tremor leve. Passo. Dor. Medo.Não existe como fugir.Eu calculava a base de autocontrole que iria precisar desenvolver mentalmente, enquanto o ritual de passagem para o mundo de Tríade era cria
O MUNDO ERA UM REDEMOINHO CONFUSO. Um ciclo vicioso cheio de ondulações errantes.Num momento, eu estava em pé, sobre o chão, sentindo o mundo tremer como se o planeta estivesse se deslocando de seu eixo natural. No outro, o mundo havia se aberto e eu caía na toca do coelho e rolava como um tatuzinho de quintal desgovernado.A sensação de ser puxada para baixo com tanta brutalidade era quase tão ruim quanto a de ser virada ao avesso depois de cruzar uma Passagem.A descida íngreme era apenas uma de minhas preocupações enquanto tentava entender onde eu começava, e consecutivamente, onde terminava. Minha cabeça parecia ter trocado de lugar com as pernas, e depois, meus ombros estavam a frente de tudo e mais adiante, meu quadril rodopiava. Cada pensamento sensato pulou para fora de minha mente. Não havia onde se segurar, n
HAVIAM MUITAS BIFURCAÇÕES, E AS PAREDES SE comportavam como se estivessem vivas. Vez ou outra, uma ondulação estranha nos cercava, ecoando pela terra, a fazendo com que raízes finas se desprendessem da mesma e agissem como braços pútridos e ressecados. Na última vez, uma raiz se prendeu teimosamente nos cabelos de Hanna, e ela gritou tanto, que o teto tremeu, ameaçando despencar sobre nossas cabeças.O lado bom, foi que saímos antes que ele despencasse.E a nova bifurcação possuía um ar interessante.Cheiro de azevinho e folhas secas nos recebeu em forma de brisa, e um brilho intenso e estranho se refletia no teto alto e cheio de depressões estranhas.Uma longa e íngreme ponte de pedras retorcidas se estendia a nossa frente, cujo outro lado, se agigantava dentro da cena na forma de um imenso portal escuro feito de vin
A VISTA POR DE TRÁS DO PORTAL RECOBERTO DE LIQUENS coloridos foi apenas mais uma surpresa.Depois de um longo túnel muito semelhante ao qual havíamos percorrido, a vegetação passou a mudar, de morta e aparentemente bipolar, para aceitavelmente mais viva, mas ainda não verde. Ao invés de verde, as folhagens apresentavam uma coloração semelhante ao vinho envelhecido. Algumas raízes chegavam a serem vermelhas, tão vivas quanto a pimenta. Quando a luz começou a verter em abundancia pela abertura a frente, um céu acinzentado, cujas cores escuras carregadas pintavam nuances como a tela de um pintor enlouquecido, nos saudou com sua dose de realismo.Quando apontamos abaixo da entrada, meu queixo voltou a cair. A paisagem parecia, de fato, um quadro não muito elaborado nos detalhes, cujas técnicas em pastel eram apreciáveis e
SE EM ALGUM MOMENTO DA VIDA, ALGUÉM TIVESSE ME DITO QUE antes mesmo dos dezoito, haveriam Estrelas Caídas se ajoelhando aos meus pés... bem, eu diria que este alguém precisava, com certa urgência, de uma consulta com algum psiquiatra Falange para possíveis tomadas de precauções. Sua saúde mental estaria totalmente prejudicada. Falida. Destroçada.No entanto, naquele momento, destroçada estava eu.Tão boquiaberta que nem mesmo fui capaz de expelir qualquer tipo de meia palavra.Haviam Estrelas.Caídas, mas ainda eram Estrelas.E elas se ajoelhavam como se eu fosse alguma... Nebulosa?Meus olhos procuram Arena em desespero, na ânsia de obter algum auxílio, mas ela parecia quase tão perdida e atônita quanto eu. Hanna parecia como se tivesse quebrado os pulmões, e Arbo parecia se decidir mentalmen
Desde o início de tudo, tal palavra cruel nos rondava.Maldição.Esteve nos lábios de Eron desde a primeira vez em que nos beijamos. Esteve em cada um dos poemas sombrios que acompanharam meus dias. Esteve nos olhos de tia Peg e Arena cada vez que um acontecimento desastroso se desenrolava, e esteve gravitando a história de Evangeline desde que eu descobrira sobre ela.A prenuncia esteve sempre ali, maldita sobre nossas cabeças. Pesada sobre nossos ombros. Real sobre nossos pesadelos.Um fantasma que enfim resolvera se materializar e dar as caras.“Não se esqueça que fui eu quem destruiu todas as suas Antecessoras! Fui eu quem observou a maldição destruir cada uma delas! ”_ Zórem havia dito, “ .... até... a... quarta... geração....”.Enquanto Meninges corriam para lá e para
P A R T E I _ M O N T E D E C I N Z A S“Você me acendeu, monte de cinzas que sou,E me transformou, em fogo.”_Charles Dickens. Um Conto de duas Cidades.F A G U L H A“Aqui, rasteje miserável, sob um conforto em um redemoinho: toda vida e morte se extingue, e todo dia morre com o sono.”—Gerald Manley Hopkins. “No Worse, There is None”. 
Miriad, Academia Elementar. Dias atuais. NÃO O SINTO EM MINHA MENTE.Era de propósito. Eu não queria que ninguém soubesse que eu havia corrido para a Academia Elementar assim que tive uma oportu