— PAI, O SENHOR está escrevendo qual livro agora?
Wendy perguntou tentando puxar um assunto qualquer com seu pai. Evan sabia que sua filha não gostava de ler, o que era muito estranho, por ela ser filha de um grande escritor como ele, mas Evan não se preocupava com isso, só a voz adocicada dela já o acalmava.
— Estou escrevendo um novo romance, meu anjo – responde Evan com um suave sorriso no rosto olhando para a sua filha de oito anos, gostando de vê-la interessada em seu trabalho.
Jullian estava emburrado no banco do passageiro.
— O livro fala de um homem que não dava muito valor à sua família, mas depois percebeu o seu erro e faz de tudo para que o aceitassem novamente, e nisso acontecem muitos episódios desconcertantes.
— Pai... o senhor vai estar livre na Sexta? – Perguntou Jullian interrompendo a conversa e aquele momento pai e filha que estava dando náuseas nele, tentando mostrar alguma animosidade para Evan, sem sucesso algum.
— Acho que não, filho, por quê? – Respondeu Evan tentando corresponder a animosidade aparente do filho, também sem sucesso.
— Nossa banda vai tocar na festa da Bia, gostaria muito que o senhor fosse me ver tocar, acho que seria bacana você aparecer.
Jullian se esforçava em continuar animado.
Evan bagunçou os cabeços multicoloridos e compridos do filho carinhosamente.
— Vou me esforçar para ir, filho – Disse sorrindo para ele –, é que tenho prazo para entregar esse livro para a editora, você me entende, não é?
Respondeu Evan percebendo que a animosidade do filho se fora de vez novamente.
— Claro pai, sempre entendo, é que você nunca foi me ver tocar, o pai da galera sempre vai.
Jullian respondeu voltando a ficar emburrado no banco ao lado do pai.
Evan ficou com peso no coração e tentou resolver a situação sem sucesso.
— Eu tinha o mesmo problema com meu pai, filho – começou Evan o seu discurso – mas, meu pai ficava em um bar bebendo com seus amigos, e hoje você sabe onde ele se encontra, tudo o que estou fazendo é para o seu bem, juro que não é por mal... Você sabe o quanto te amo, e todo esse trabalho que tenho, faço por vocês, é uma realização pessoal minha, mas minha grande inspiração são vocês.
Jullian ainda estava emburrado, afinal, sermão era tudo o que ele não queria no momento, Jullian já tinha ouvido aquela história, para não falar ladainha, outras mil vezes...
E em que seu pai era melhor do que seu avô? Ambos se afogaram em um abismo que não conseguiam sair, ambos não davam atenção para sua família, e ambos eram fracassados como pai...
Jullian decidiu começar uma pequena discussão, na verdade, para ele era mais um desabafo.
— Compreendo, pai. Mas seria bacana se o senhor fosse um dia pelo menos, seria muito bom, entende? Não estou pedindo muito...
Só um dia...
NESSE MOMENTO EVAN estaciona o carro em frente ao portão principal da escola dos filhos.
Evan força um sorriso afetuoso ao filho.
— Também gostaria, filho, tenho muito orgulho de você e de tudo que faz, agora vai lá, antes que a senhora Baxter já pegue no seu pé novamente.
Evan beija o filho e ele sai do carro batendo a porta feito uma porta de geladeira.
— Vai com Deus, filho... – a frase fica cortada.
Evan fingiu que não percebeu a irritação dele, olha para a filha no banco traseiro.
— Cadê o beijo do meu anjinho?
Wendy pula para o banco dianteiro.
— Te amo, papai – ela o abraça e o beija – o senhor vem buscar a gente?
Evan arrumou a roupa bagunçada da filha, deu um beijo em sua testa e abriu a porta do passageiro para ela sair.
— Claro, meu anjo, vai lá... senão você vai se atrasar ainda mais.
Evan sorriu carinhosamente para a filha.
— Olha lá, papai – Wendy aponta para a porta da escola – a senhora Baxter acenando para o senhor esperar.
Evan faz uma cara de impaciência enquanto a filha saía do carro, era a segunda vez que alguém tentava estragar seu dia.
Um minuto depois a velha Sr.ª Baxter chega.
— Olá, Sr. Spencer – disse ela carrancuda como sempre – gostaria de falar com o senhor por alguns minutos sobre o Jullian.
Parecia que ambos estavam em uma disputa de irritação e impaciência.
— É mesmo muito importante, Sr.ª Baxter? – Começou Evan tentando dar o golpe final antes mesmo de começar a batalha, nem mesmo sua interpretação favorita em olhar para o relógio fazendo cara de atrasado deu certo – porque tenho a agenda lotada hoje, sabe como é, não é mesmo?
Evan fingiu novamente um ar de preocupação com o horário, mas ela o ignorou como sempre fazia com todas as pessoas.
— É sim...
Começou ela com um ar de superioridade.
— Seu filho está impossível, anda faltando às aulas para sair com as garotas, e fica fumando escondido pelos cantos da escola, já cansei de adverti-lo, mas ele só pensa em sua bendita banda e de se divertir com seus amigos nada aconselháveis, diga-se de passagem, o senhor é o pai dele, deveria ter mais cuidado com quem seu filho anda.
A Sr.ª Baxter parecia querer dar uma lição de moral em Evan, ele apenas deu um sorriso sarcástico para ela e continuou a disputa.
— Entendo, Sr.ª Baxter – disse Evan mudando a tática, ele se mostrou contente com a presença dela – mas isso é normal na idade dele, vai me dizer que a senhora também não dava uns beijinhos pelos cantos do colégio?
Ela passou da irritação para a indignação em menos de um minuto com aquele comentário pérfido, parecia que Evan tinha tocado em seu ponto mais fraco.
— Mais respeito comigo, Sr. Spencer – ela apontou o dedo indicador da mão direita para Evan – não é porque o senhor é um grande escritor renomado que não posso tomar minhas medidas legais contra o senhor por desrespeito.
A Sr.ª Baxter tentou falar em um tom ameaçador, mas Evan novamente deu risada.
— Nada disso Sr.ª Baxter, só estou querendo dizer que enquanto a senhora o ficar vigiando, ele ficará longe da senhora, ignorando seus conselhos, só a senhora não está vendo que esse método não está dando certo, tenta mudar esse meio de chegar no Jullian, ele acha que a senhora está o perseguindo porque é meu filho, e por isso deveria ser o espelho da escola, a senhora entende...
Evan continuou na ofensiva, mas dessa vez colocou um tom de dramaticidade em sua voz para tentar comovê-la.
— Quando na verdade, ele tem a sua própria vida, indiferente de ser meu filho ou não, antes de ser o filho de Evan Spencer o escritor famoso, ele é o Jullian, ou "Boy Spencer", como todos o chamam, pega leve com o garoto, ele é muito inteligente e legal, tenho certeza que a senhora vai adorar fazer amizade com ele.
Ela ignorou o conselho e continuou tentando ser a dona da situação.
— Bom... era isso que gostaria que soubesse, mas se o senhor que é o pai dele, parece que não está nem aí, o que dirá eu, não é mesmo, Sr. Spencer? Tenha um bom dia.
A Sr.ª Baxter deu meia volta como se fosse um soldado militar e retorna para a escola andando rapidamente com o seu orgulho ferido – disso Evan tinha convicção. Evan ficou apenas chateado, pois ele sabia que depois dessa conversa, ela ficaria ainda mais no pé de seu filho.
— Ninguém merece mesmo...
Evan falou consigo mesmo dando uma pequena risada de alegria por se lembrar dos bons tempos de escola – entra ano e sai ano, e essas diretoras loucas permanecem, não sei qual critério que eles usam para contratar umas desvairadas como essa daí, no meu tempo era a Sr.ª Leilane, aquela também era demais.
JULLIAN TINHA PUXADO a carreira de cocaína e estava começando a sentir os efeitos que aquela substância proporcionava. A viagem (como chamavam) o tirava do olho do furacão que vivia com sua família, em especial, com seu pai famoso. Evan era tudo o que Jullian gostaria de ser, mas se sentia incapaz de alcançar os lugares altos que o pai alcançava aparentemente sem esforço, para ele, seu pai ficava sentado de madrugada escrevendo umas baboseiras que todos achavam legal... Ele poderia fazer isso sem problemas. Toda vez que Jullian usava drogas não conseguia tocar direito, o que gerava comentários de todos.CERTA VEZ ELE OUVIU: &mdash
CAMILA ESTAVA DEITADA AO LADO de seu cliente, ele adorava quando ela ficava deitada nua, roçando seu corpo macio no dele, era um de seus principais clientes, apesar de não poder pagar tudo quanto gostaria, com ele era mais relacionado com prazer do que puramente negócios. — Então? – Começou ele – já pensou em minha proposta? — Você sabe que não posso. — Porque não pode? — Já disse o porquê. — Não é suficiente, Camila. — Fazemos o que temos de fazer e é assim que seguimos a vid
O CELULAR DE EVAN TOCA e ele atende de uma maneira feliz por saber quem era do outro lado da linha – seu identificador de chamadas anunciou escandalosamente quem era a felizarda daquele privilégio único na vida dele. "Oi, meu amor, adivinha quem está falando?" – Disse uma voz sedutora ao telefone.CAMILA MACPHERSON era a mulher com quem Evan tinha um relacionamento extraconjugal havia três anos e meio. Evan a conheceu em uma festa para grandes empresários, patrocinada por Willian Johnson e Donald Dunhill, onde ele faria uma pequena apresentação sobre criatividade e dinâmica textual. Naquele dia em especial não cobrou nada, pois era um favor que estava devendo para um grande amigo de infância, exatamente apresentar o editor que publicou seu primeiro roman
CHEGANDO NA CASA de Camila poucos minutos depois de ter desligado o telefone. Camila estava na porta o esperando com o roupão que Evan tinha dado a ela de presente em seu último aniversário – junto com um colar de pérolas tão caro quanto o carro que Evan dirigia. Evan sabia que ela estava nua por debaixo dele, esse era um dos acordos que tinha feito ao dá-lo a ela, por pior que fosse um acordo entre eles, todos teciam conotações sexuais, e para ambos a única coisa que importava era estarem ligados sexualmente. Evan nunca havia visitado Camila para conversar, ou para passear no shopping para ter um momento agradável, seu único e exclusivo interesse era em seu corpo e o que ele poderia fazer em seu favor. Camila se jogou nos braços de Evan e o beijou calorosamente — de
TODA VEZ QUE EVAN SAÍA da casa de Camila, ficava um tanto quanto chateado consigo mesmo pela situação – afinal, ele não estava fazendo nada para melhorar seu casamento, muito pelo contrário, se Denise soubesse o que andava fazendo por aí à surdina, tudo estaria realmente acabado. E esse era o seu maior medo na vida... Evan amava demais Denise, só que sentia que algo o desviou de seu caminho, e seu orgulho não o fazia voltar com seus passos para recuperar o tempo perdido com a mulher da sua vida. O que ele sentia não era que seu casamento tivesse acabado... Mas agia como se tivesse realmente acabado... Denise sempre o fizera se sentir um homem de s
PARA EVAN, SEU CASAMENTO estava muito ruim – enquanto seus livros vendiam cada vez mais – mas era como se a felicidade paternal e realização profissional compensassem o fracasso em seu casamento. No fundo, Evan sabia que tudo estava mal por sua culpa. "Exclusivamente sua culpa..." Evan sempre foi uma pessoa sentimentalmente longe demais das pessoas, e a fama piorou ainda mais seu comportamento, ele acabou ficando acostumado a ter as pessoas ao seu redor oferecendo tudo o que quisesse. Evan sabia que tudo aquilo o estava levando a um imenso vazio sem fim, para não dizer, num verdadeiro inferno. Denise já era o contrário do que ele era, ela acreditava nele incondicionalmente, para Denis
EVAN FOI BUSCAR OS FILHOS na escola como se nada de ruim tivesse acontecido – mas ele sabia muito bem o porquê seu coração estava pesado em remorsos. Enquanto esperava as crianças, Evan chorou como nunca havia chorado antes em toda sua vida, sentiu saudades de sua mãe, e de tudo que ambos viveram no passado, chorou por estar fazendo tudo àquilo com sua esposa que amava tanto, mas, de repente, Wendy entra toda feliz no carro. — Oi, papai! – Gritou Wendy, parecendo felicíssima de emoção – Foi tão divertido a escola hoje... – ela para de falar por um momento para prestar atenção ao seu pai – o senhor estava chorando, papai? Evan enxugou as lágrimas do rosto e deu um sorriso cativ
— OI, MEU AMOR – disse Evan para Denise enquanto ela se levantava do sofá – como foi seu dia? — Foi bom, e o seu? – Ela respondeu num tom de decepção. — Foi bom também... – Evan ficou de frente para Denise – Aconteceu alguma coisa? Você está estranha hoje... Evan sentiu um clima tenso no ar. — Aconteceu sim, Senhor Evan Spencer, maior escritor e o maior falso moralista do mundo... – Denise tira umas fotos da gaveta e joga sobre ele. Ela continua o assunto mudando o tom de voz. — Nunca esperei isso