PARA EVAN, SEU CASAMENTO estava muito ruim – enquanto seus livros vendiam cada vez mais – mas era como se a felicidade paternal e realização profissional compensassem o fracasso em seu casamento.
No fundo, Evan sabia que tudo estava mal por sua culpa.
"Exclusivamente sua culpa..."
Evan sempre foi uma pessoa sentimentalmente longe demais das pessoas, e a fama piorou ainda mais seu comportamento, ele acabou ficando acostumado a ter as pessoas ao seu redor oferecendo tudo o que quisesse. Evan sabia que tudo aquilo o estava levando a um imenso vazio sem fim, para não dizer, num verdadeiro inferno.
Denise já era o contrário do que ele era, ela acreditava nele incondicionalmente, para Denis
EVAN FOI BUSCAR OS FILHOS na escola como se nada de ruim tivesse acontecido – mas ele sabia muito bem o porquê seu coração estava pesado em remorsos. Enquanto esperava as crianças, Evan chorou como nunca havia chorado antes em toda sua vida, sentiu saudades de sua mãe, e de tudo que ambos viveram no passado, chorou por estar fazendo tudo àquilo com sua esposa que amava tanto, mas, de repente, Wendy entra toda feliz no carro. — Oi, papai! – Gritou Wendy, parecendo felicíssima de emoção – Foi tão divertido a escola hoje... – ela para de falar por um momento para prestar atenção ao seu pai – o senhor estava chorando, papai? Evan enxugou as lágrimas do rosto e deu um sorriso cativ
— OI, MEU AMOR – disse Evan para Denise enquanto ela se levantava do sofá – como foi seu dia? — Foi bom, e o seu? – Ela respondeu num tom de decepção. — Foi bom também... – Evan ficou de frente para Denise – Aconteceu alguma coisa? Você está estranha hoje... Evan sentiu um clima tenso no ar. — Aconteceu sim, Senhor Evan Spencer, maior escritor e o maior falso moralista do mundo... – Denise tira umas fotos da gaveta e joga sobre ele. Ela continua o assunto mudando o tom de voz. — Nunca esperei isso
— O QUE É ISSO? – Perguntou ele. Evan pegou as fotos espalhadas pelo chão. — Veja você mesmo... veja... Denise falou enquanto as lágrimas lhe cobriam o rosto, sua voz tinha um tom calmo e desesperador ao mesmo tempo, e virou—se de costas para Evan. — Eu... eu... – Evan tentou em vão achar as palavras certas – olha, meu amor... Evan sentiu um nó na garganta, ele percebeu que pela primeira vez na vida não tinha resposta para um dilema, se sentia um menino com medo do escuro. — Não precisa fingir, Evan – disse ela
OLHANDO PARA A SUA FILHA chorando na escada, Evan decidiu subir e arrumar suas coisas no seu novo quarto. Os pensamentos — antes tão leves, cheios de ideias ousadas, repletos de histórias fantásticas para escrever, se tornaram tão pesados quanto o mundo inteiro, é verdade que o peso do remorso é difícil de suportar, nem mesmo os heróis lendários da fabulosa Grécia poderiam suportar tal peso. De repente, sua filha entra no seu quarto sem falar nada, dá um abraço nele, com seus olhinhos cheios de lágrimas, fica apenas alguns minutos que pareciam horas, sem falar uma palavra sequer, a atitude dela por si só já dizia tudo. É difícil de encontrar palavras em momentos assim, em que a
DESDE AQUELE DIA AMARGO em que todos da família Spencer gostariam de esquecer, muita coisa em sua rotina não havia mudado – Com os filhos nada mudara – Somente Evan e Denise que só se falavam o suficiente e ainda sobre os filhos, nada mais, nada menos. Evan continuou a trabalhar e a dormir na mesma casa – porém em um quarto diferente da que Denise dormia –, pois seria uma dor terrível para ambos se separarem de seus filhos. Os filhos sem sombra de dúvidas eram a desculpa perfeita para que aquele casamento continuasse – mesmo fadado ao fracasso como estava. Eles sabiam que uma família unida sempre prevalece. Os filhos precisavam dos pais tanto quanto os pais precisavam dos filhos para terem forças para vencerem na vida.&nb
JULLIAN TINHA FEITO seu melhor show de toda a sua até então, breve vida, e estava extremamente feliz com aquilo, era uma viagem motivadora que ele jamais tinha sentido na vida, enfim estava saindo da sombra do pai famoso, mas quando estava colocando a guitarra em seu case, sentiu um calafrio percorrer a espinha e aquilo sempre era um mau sinal para ele. — Está tudo bem, Boy? Ele fingiu bem daquela sensação estranha que havia-o dominado instantes antes. — Hã! Claro... só um pressentimento. — Bom ou ruim? — Acho que os dois. Eles riram.
PARA EVAN, A CASA ERA UM TÉDIO sem o barulho das crianças, ou as interrupções constantes de Denise – ou até mesmo de sua empregada toda hora lhe importunando, perguntando se ele queria alguma coisa – mas mesmo assim, a sensação era boa. Até ouvir certos barulhos pela residência – pois seu escritório tinha sido construído bem no centro da casa, um lugar estratégico para se ouvir tudo o que passava por ela. Evan tira cuidadosamente uma arma da gaveta – um revólver calibre .38. Ninguém naquela casa sabia sobre aquela arma, apenas ele. Evan foi em direção ao banheiro e ficou olhando para sua face, nem mesmo ele estava se reconhecendo, parecia que envelhecera mil anos em um mês.
DE REPENTE, EVAN ouve uma voz tão longe quanto seus pensamentos estavam enquanto escrevia seus livros, parecia que essa voz de anjo estava lhe sugando a alma para um novo mundo completamente desconhecido... Era tão conhecia essa voz em outros mundos quanto desconhecida naquele...Que coisa mais louca... Ele acorda assustado com um garoto com cabelos multicoloridos desesperado perguntando e o agitando: — Pai! O senhor está bem? Pai! O senhor está bem? Evan esfregou seus olhos como se estivesse acordando de um sono muito profundo e olhou com um ar estranho para Jullian. Pai?&