ENCONTRO FATAL
ENCONTRO FATAL
Por: ANNE CABRAL
A VIAGEM

INGLATERRA 1988

Acordei com o barulho agitado do meu telefone, eram apenas 6:30 da manhã de sexta-feira, quando fui despertada por ele.

Abro os olhos irritada, quem em sã consciência me liga a esta hora… droga! Xingo em meus pensamentos.

Ligação on:

— Bom dia, senhorita Kimberly?

— Sim, sou, em que posso ajudá-lo?

— Desculpas por ligar assim tão cedo, sou o Peterson, liguei outras vezes, como não obtive susesso estou ligando mais cedo, sou advogado de seus tios, como você sabe eles faleceram o mês passado após ladrões entrarem, renderem e assassinarem o casal dentro de casa. Como eles não tinham filhos, deixaram a herança para você e seu irmão. Estou te ligando, para informar que preciso da presença de vocês dois aqui, para entregar os documentos e assinar os papéis para receber a herança.

Fiquei nervosa com aquela ligação. Como assim herança?

— É necessário a nossa presença? Será que posso enviar o meu advogado para resolver isso? —Bufo após falar.

Gostava muito dos meus tios, mas como nos mudamos há muito tempo, já não tínhamos mais a mesma intimidade. Não pude ir ao velório, pois estava doente na época, lembrar da morte trágica deles faz meu coração doer.

— Infelizmente será necessária a presença dos dois. — Ele diz, interrompendo meus pensamentos.

— Tudo bem, então, estarei aí na segunda-feira, pode ser? — Minha voz soa entristecida.

— Ok, aguardo vocês então. Anote o endereço: Avenida de Pablo Neruda, 581. 

— Combinado, tenha um bom dia.

— Obrigado, bom dia para você também.

Ligação Off

Esta ligação me deixa um pouco desconcertada, mas me preparo para mais um dia de trabalho, com a agenda cheia.

Sou médica aqui em Londres, amo essa profissão, sonhava em exercer a medicina desde criança, então com muito esforço consegui realizar meu sonho.

Passo na cafeteira, peço um café.

O cheiro delicioso invade as minhas narinas, realmente é um cheiro que amo.

Já no escritório, vou rapidamente até a minha sala ligar para o meu irmão, antes que caia no esquecimento, pois a minha agenda é tão lotada, que mal consigo respirar, não que eu seja exagerada, pois os consultórios médicos estão lotados mesmo.

Ligação on:

— Bom dia maninho, está dormindo ainda seu preguiçoso... — Gargalho, pois sei que é verdade. — Recebi uma ligação logo cedo do advogado do tio Francisco e da tia Margaret, nos avisando que eles deixaram uma herança para nós. Acredito que deva ser pouca coisa, porque sabemos muito bem que eles estavam falidos, só tinha aquela casa onde moravam. — Engoli em seco, pois eles viveram momentos felizes lá.

— Nossa Kimberly, não estou acreditando, porque logo para nós? — O telefone fica em silêncio, não quero quebrar o clima triste do meu irmão, pois eles além de tios, eram seus padrinhos, quando morávamos perto, mimavam demais meu irmão.

— Se prepare para o que vem agora! — Faço uma pausa, respiro fundo, e prossigo. — Pior que o advogado quer nossa presença lá quanto antes. Combinei de nos encontrarmos na segunda-feira. Mais um detalhe, se é que você não entendeu.

Temos que ir nós dois. — Respiro pesadamente.

— Sério isso? — Seu tom de voz parece indignado.

— Vou preparar tudo para viajarmos, depois conversamos, quanto antes nós resolvermos isso será melhor. — tive uma ideia e acho que ele vai gostar. — O que você acha de aproveitarmos a oportunidade e ir até lá de barco? Afinal era um passeio que sempre gostávamos de fazer quando criança, já nem lembro a última vez que fizemos esse passeio. Será tão bom termos esse momento juntos, quero aproveitar e matar a saudade de estar com ele, visto que pouco me visita, só pensa em cair na gandaia.

— Tudo bem, sua chata, podemos ir de barco, pois sei que se não aceitar por bem, você vai arrumar um jeitinho de me fazer ir por mal mesmo...

— Ótimo! Haha ainda bem que você me conhece irmãozinho. Até mais tarde... beijos.

— Até chata...

Ligação off

Meu nome é Kimberly Bonierski, tenho 26 anos, sou loira e tenho os olhos azuis, que herdei da minha mãe, possuo muita garra e determinação, aprendi dede cedo que para alcançar os nossos objetivos precisamos renunciar a algumas coisas na vida, então desde os meus 16 anos já sabia que carreira seguiria.

Meu sonho era ser médica, então desde os meus 18 anos comecei a seguir meu sonho, para ter uma carreira de sucesso, precisei abdicar das amizades, noitadas, festas, baladas e até mesmo de viver um romance. Namorei poucas vezes pois não tinha tempo para sair e isso afastava os rapazer.

Não vou negar que é meu sonho encontrar um príncipe encantado, porém ainda não sinto que seja a hora certa, espero que quando ela chegar, quero estar pronta para ser a outra metade de alguém.

Desejo viver ao lado de alguém que me ame e respeite a minha opinião, quando me casar será para sempre, assim como meus pais, que forma minha base, quero seguir o exemplo deles.

Se sou exigente? Talvez me considere assim, mas a minha profissão exige que não existam erros, pois eles podem ser irreversíveis, então o amor deve ser parecido.

Perdi meus pais em um acidente de carro a apenas 3 anos, até hoje sinto meu coração tremulo quando falo nesse assunto, falar disso é como passar sal na minha ferida. Desde então somos eu e meu irmão contra o mundo, ou quase isso.

Quando tive a ideia de fazer esta viagem de barco, lembranças vieram como uma avalanche, pois até os meus 14 anos meu pai tinha um pequeno barco, sempre que podia ele nos levava para velejar, meu irmão é quase 4 anos mais novo do que eu, então aproveitamos muito a nossa infância brincando juntos.

Nós quatro aproveitamos os passeios de barco para estar juntos, já que durante a semana era muito corrido para eles. Meu pai amava pescar e minha mãe cozinhar. Ela preparava com muito carinho os peixes que pescávamos. Ambos se completavam como um casal.

Assim que voltei ao trabalho, foi preciso muita paciência para comprar as passagens e organizar tudo a tempo de chegar a Madri na segunda-feira, se tudo correr bem podermos aproveitar bastante o passeio e reviver algumas lembranças de nossa infância.

Não confiei ao meu irmão essa tarefa, pois fiquei com medo dele não conseguir arrumar tudo como eu gostaria.

Com as passagens compradas, estou mais tranquila. Já em casa, fui preparar um banho de banheira para relaxar, estava cansada das correrias que tive que fazer. Coloquei as essências e sais de banho com aroma de morango, meu preferido.

Assim que descansei um pouco resolvo ligar para a peste do meu irmão:

Ligação on

— Oi, já comprei as passagens irmãozinho. Está tudo certo. - falo animada.

— Você sabe que eu nem quero ir... E sinto que estou um pouco gripado...

cof… cof

Tossiu fingido.

Ri ao perceber o fingimento do meu irmão.

Infelizmente ele é um cafajeste de primeira categoria. É do tipo badboy, não fica em emprego algum. Vive as custas da herança de nossos pais, o que me deixa muito chateada e frustrada.

Tentei diversas vezes ajudá-lo, inclusive arrumei alguns empregos para ele, sempre me garantia que iria se comportar, entretanto, a reclamação era sempre a mesma dos empregadores, ele dava em cima das mulheres descaradamente.

— Sei, acredito. Você me convenceu profundamente com essa sua tosse mixuruca.

— Ri com desdém. — Tenho certeza que poderemos aproveitar melhor essa viagem. Pois você ama passear. — Ele riu da situação.

— Ah, faça-me o favor Kimberly, me poupe das suas ideias malucas. Não se anime muito. — Agora fui eu que ri da ironia com que ele se direciona a mim, mas sei que está se divertindo, ele gosta de me ver brava.

— Por que não posso me divertir um pouco? Seu estraga prazeres.

— Está bem, não vou discordar, pois sempre perco mesmo. Vai ser divertido... droga! - ele xinga baixinho, entretanto ouvi seu descontentamento.

— Esteja pronto amanhã as 7:00 que passo aí te pegar. Lembre-se que está bem quente, use roupas leves. Boa noite maninho, até amanhã beijos.

— Até, beijos.

Ligação Off

Vou dormir com expectativas positivas de que nossa viagem seja divertida.

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